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6.1 Considerações sobre o modelo e o SSD desenvolvidos

O modelo desenvolvido incorpora a análise Top-down com a análise Bottom-up, não podendo ser comparado com modelos que só utilizem uma das análises e obtenham os dados da outra análise por saída de um modelo externo ou por dados publicados.

O modelo desenvolvido pode ser utilizado para simulação ou para construção de cenários, sendo mais completo do que a maioria dos modelos utilizados para o planeamento energético. O SSD desenvolvido foi utilizado como uma ferramenta de simulação e não para ser utilizado como ferramenta de optimização.

Foi assumido que, além do consumo variar com o PIB, também varia com o preço de venda da electricidade. Foi assumido que os consumidores têm ao seu dispor novas tecnologias e que tomam decisões de investimento em medidas de eficiência energética. Nalguns cenários, também foi assumido que os consumidores tomam decisões de investimento em autoconsumo. O modelo foi explorado com vários cenários de políticas energéticas sob duas formas de apoio: o Estado pode introduzir incentivos ao investimento em medidas de eficiência energética e o Estado pode subsidiar o preço da tarifa de venda da electricidade.

O modelo conceptual abrange todos os agentes do sector eléctrico, mas o modelo implementado apresenta uma modelação superficial no subsector da produção. Optou-se por dar mais importância à modelação no lado do consumo e no papel do Estado como legislador porque a influência destes agentes tem sido menos explorada e porque já existem diversos modelos desenvolvidos e com credibilidade no estudo do sector eléctrico no lado da produção. O modelo desenvolvido prevê que o sector da produção possa interagir com os modelos de gestão de oferta existentes.

O Sistema de Suporte à Decisão (SSD) desenvolvido na presente tese faz a modelação do sector eléctrico na componente tecnológica, ambiental e económica. Pode ser utilizado em modo jogo ou em modo de simulação.

O principal objectivo da presente tese foi modelar o multifacetado sector eléctrico e construir uma ferramenta de suporte à decisão para os agentes e de análise para diversos utilizadores. O modelo conceptual teórico e a ferramenta de apoio à decisão desenvolvida fornecem resultados quantitativos (indicadores-chave) do impacte de medidas permitindo efectuar uma análise comparativa para a definição de estratégias.para alcanar objectivos definidos. Os modelos de análise de baixo para cima (bottom-up) são adequados para investigar os impactes da política energética, para identificar oportunidades de substituição tecnológica (do lado da oferta e da procura) e definir padrões de emissão. A sua principal fraqueza é negligenciar o impacte macroeconómico dos diferentes sistemas energéticos. Assim, na presente tese optou- se também por introduzir o problema de cima para baixo (top-down) para estudar a influência da evolução actividade económica (tendo sido utilizado o indicador PIB). Assim, o modelo desenvolvido na presente tese consegue replicar o sector eléctrico Português.

O SSD desenvolvido apresenta um interface claro com o utilizador apesar de conter muita informação. A organização dos dados e a sua segmentação permite introduzir mais

complexidade no estudo do sistema sem excluir, da utilização do SSD, os utilizadores menos familiarizados com todas as áreas de conhecimento do sector eléctrico. Com este SSD é possível quantificar e comparar medidas de política, permitindo testá-las antes de as implementar de modo a efectuar uma selecção, a prever-se o resultado de algumas opções, definir estratégias de introdução de medidas e mitigar os impactes nos grupos de risco identificados. Assim, o sistema de suporte à decisão é simples de manipular e tem utilidade para diversos utilizadores, conforme era pretendido. Em conclusão, a tese cumpriu os objectivos propostos.

6.2 Síntese de resultados

O cenário BAU representa a continuação das actuais medidas de política, verificando-se que apresenta indicadores fracos na vertente energética, económica, ambiental e social. Além disso, a evolução do consumo no cenário BAU obriga à antecipação de investimentos em reforço do parque electroprodutor e em redes.

Sem intervenção do Estado, verificou-se que, se os consumidores conhecerem o seu potencial de poupança, há uma tomada de decisão em investimentos para melhoria da eficiência energética, reduzindo-se o consumo e a procura à rede. Existe, assim, um potencial de redução de consumo rentável que não está a ser implementado. Este cenário base foi denominado por cenário Sem ApoioEE.

Nos cenários de apoio à eficiência verifica-se que a procura à rede diminui ainda mais do que no cenário Sem ApoioEE. Nestes cenários foi assumido que o custo do incentivo do Estado é acrescentado ao custo da electricidade porque se reconhece a vantagem transversal destes investimentos.

Com a tomada de decisão em investimentos em eficiência energética com Apoio do Estado, o custo total da electricidade incorpora duas tendências opostas: aumenta porque é introduzido o custo dos incentivos do Estado e diminui porque há uma redução da procura à rede. Nos cenários testados verificou-se que o saldo é positivo, i.e., a curto prazo o custo total da electricidade é menor nos cenários de apoio à eficiência do que no cenário Sem ApoioEE, verificando-se o retorno do investimento.

No cenário PreçoFalso Sem ApoioEE, o Estado subsidia o preço de venda da electricidade aos consumidores, de forma a aliviar o esforço económico na tarifa dos consumidores. Nestes cenários, o consumo de electricidade é maior, sendo uma consequência da decisão de adiar o investimento em medidas de eficiência energética (porque o período de retorno do capital aumenta) e da reacção do consumo a um preço aparente mais baixo do que no cenário Sem ApoioEE. No cenário PreçoFalso, verifica-se que o custo ao cidadão é maior do que o custo total ao consumidor. Assim, a subsidiação do preço introduz um défice tarifário.

A redução da procura à rede apresenta ainda outras vantagens: diminui o custo total da electricidade, o preço da tarifa, os impactes ambientais, o desperdício energético e a dependência energética. Além disso, adia a necessidade de investimento em reforço de capacidade instalada no sector da produção e nas redes. O aumento da procura à rede tem o

efeito oposto. Além disso, no cenário PreçoFalso Sem ApoioEE, tendo em conta que a tarifa é subsidiada, o custo aparente ao consumidor é menor, comprometendo a sustentabilidade económica do sector eléctrico e criando um défice tarifário que terá de ser pago pelos consumidores (como foi decidido em Portugal, por exemplo) ou pelos contribuintes (como foi decidido em Espanha, por exemplo). De acordo com os cenários simulados verifica-se que o apoio à tarifa faz aumentar o custo total da electricidade, logo o preço da tarifa para todos os sectores do consumo. Por isso, as famílias têm um maior aumento do preço esperado da electricidade, tornando os seus investimentos em eficiência energética ainda mais aliciantes e diminuindo mais a procura de electricidade à rede. Esta maior redução da procura pelas famílias evita que a procura total (i.e., a procura agregada de todos os consumidores) seja ainda maior do que se verifica.

Os consumidores podem também tomar decisão de serem produtores descentralizados de electricidade, efectuando investimento em autoconsumo para reduzir a procura de electricidade à rede. Na presente tese foram analisados cenários com produção solar. Nestes cenários de autoconsumo, designados por Solar, foi assumido que os custos totais de investimento são suportados pelo consumidor. Nos cenários Solar, há uma redução de procura de electricidade à rede. O custo ao consumidor incorpora duas tendências: aumenta porque existem custos de investimento em autoconsumo solar e diminui porque diminui o custo da tarifa. Nos cenários simulados verifica-se a vantagem para os consumidores dos investimentos efectuados. Existem também as vantagens já referidas atribuídas à redução da procura à rede.

De acordo com os cenários simulados, verifica-se que uma estratégia de Apoio à eficiência é melhor do que uma estratégia de Apoio à tarifa. Verifica-se também que a tomada de decisão em autoconsumo reduz os investimentos em eficiência energética, obtendo-se menor redução do desperdício energético. A análise desenvolvida leva à seguinte reflexão: O desenvolvimento tecnológico, o ambiente e a economia não são rivais. Para haver um ganho num lado não é necessário existir uma perda nos restantes. O papel dos consumidores é importante e um sinal de preço claro pode ajudar a consumir, a preservar e a investir.

6.3 Desenvolvimentos futuros

Pese embora o modelo desenvolvido e o sistema de suporte à decisão tenham cumprido os objectivos propostos na presente tese, esta linha de investigação ainda é um trabalho em progresso. Assim, existem algumas melhorias que podem enriquecer o presente estudo:

- São diversos os modelos utilizados por diversos autores. Carece efectuar uma comparação entre os resultados produzidos por cada um desses modelos para os mesmos cenários da presente tese e comentar as características do modelo e as simplificações assumidas;

- Embora os sectores económicos estejam desagregados (estudo multi-sectorial: famílias, indústria e serviços), falta a identificação das necessidades básicas de consumo de electricidade e de energia para determinação dos cosnumos mínimos;

- Embora sejam consideradas as elasticidades de substituição entre as tecnologias de produção (influenciando a quota das energias primárias), faltam as de substituição da energia no consumo (não se considerando os aparelhos não eléctricos);

- A construção de grandes centrais apenas para satisfazer o pico de consumo sazonal e diária é uma gestão ineficaz do sector eléctrico. O modelo da presente tese pode ser enriquecido com a análise de mercado diário;

- Decisões baseadas em mercados liberalizados não são tecnologicamente neutras. As decisões em mercados liberalizados baseiam-se em lucros a curto prazo e aposta na construção de centrais de energia com baixos custos de capital e de elevados custos marginais. Na ausência de incentivos, isso significa uma aposta em centrais a gás. Carece um estudo dos incentivos baseados na tecnologia para alterar esta decisão; - Portugal está actualmente a assistir um crescente processo de electrificação na

mobilidade, com a introdução do veículo eléctrico, devido à incerteza económica, vontade politica, insegurança do petróleo e preocupações ambientais. Por outro lado, apesar do desenvolvimento tecnológico das baterias, a flexibilidade e autonomia são menores com o veículo eléctrico do que com os actuais veículos;

- O sistema de incentivos aos automóveis empresariais pode conduzir a uma massificação dos carros eléctricos de empresa para uso particular. Tendo em conta que o abastecimento nocturno é da responsabilidade do utilizador e o abastecimento diurno é da responsabilidade da empresa, esta massificação pode agravar os impactes no diagrama de carga diário;

- Com a produção descentralizada, as redes de distribuição em baixa tensão estão a sentir os efeitos que as redes de media tensão sentiram com a introdução da E-RES, nomeadamente a nível de bidireccionalidade. Assim, o planeamento da expansão e da protecção das redes é um estudo mais complexo.

Considerando o âmbito e os conhecimentos envolvidos, qualquer desenvolvimento futuro pode ter o foco nas perguntas seguintes:

- Quem vai investir em quê?

- Qual é a verdadeira eficácia ambiental das medidas de eficiência energética? - Qual o efeito do autoconsumo nas medidas de política?

- Qual é o efeito dos instrumentos de política de energia e de ambiente? - Qual o faseamento da introdução ou da retirada de uma medida?

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Quais as medidas de substituição para uma determinada melhoria de um conjunto de indicadores?