• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 7. Turismo e desenvolvimento: que relação?

8.1 Conclusões

A revisão da literatura permitiu concluir que têm sido discutidas na literatura várias abordagens para delimitar o conceito de turismo. Destas abordagens a que mais se adequa a este projecto de investigação é a apresentada na Conta Satélite do Turismo. Este quadro metodológico foi criado a partir de esforços conjuntos da OMT e de outras organizações internacionais, nomeadamente a OCDE e a ONU. Também foi possível verificar que existe uma relação complexa entre o turismo e o desenvolvimento, podendo esta relação ser analisada recorrendo a duas perspectivas: turismo como processo de desenvolvimento, um factor ou um instrumento de desenvolvimento e o turismo como causa ou consequência do desenvolvimento. Devido à natureza deste projecto de investigação o estudo da relação entre turismo e desenvolvimento centrou-se na segunda perspectiva - turismo como causa e consequência do desenvolvimento.

Vários autores (Sharpley e Telfer, 2002; Lee e Chien, 2008; Lee e Chang, 2008; Kim et al, 2006) afirmam que o turismo influencia o desenvolvimento económico de um país. Da revisão da literatura observou-se que os impactos económicos são categorizados em benefícios e custos de acordo com a natureza do efeito do turismo na economia do destino. Verificou-se, também, que a maioria dos

Turismo e Desenvolvimento: o caso do continente africano 107

estudos realça mais os benéficos económicos do turismo do que os prejuízos e que existe poucos estudos que avaliem as duas vertentes em simultâneo. Em relação aos impactos socioculturais, os autores categorizam esses impactos em positivos e negativos e também podemos observar que existe uma lacuna em termos de projectos de investigação que avaliem esses impactos, principalmente em destinos em desenvolvimento. Nestes destinos existem já vários estudos que analisam do ponto de vista teórico as implicações económicas, sociais e culturais do turismo, no entanto ainda existem muitas lacunas na quantificação desses impactes.

No que concerne à caracterização em termos do nível de desenvolvimento económico e social do continente africano, os resultados obtidos vieram confirmar as características já atribuídas no enquadramento teórico aos países em desenvolvimento. Neste sentido, observou-se que a maiorias dos países do continente africano possui uma população elevada, com elevada taxa de natalidade, mortalidade, mortalidade infantil, com baixo PIB, PIB per-capita e IDH. No entanto, é de realçar que no período que foi objecto de análise neste projecto de investigação (1990-2009) ocorreram melhorias consideráveis na maioria dos indicadores.

Relativamente à taxa de natalidade e mortalidade infantil, verificou-se que em 1990, a maioria dos países apresentavam uma taxa natalidade (superior a 40 nascimento/ mil habitantes) e mortalidade infantil (superior 100 mortes/mil nascidos vivos) elevada. No entanto, nas duas últimas décadas estes indicadores diminuíram consideravelmente e, em 2009, a maioria dos países passaram a registar uma taxa de natalidade (entre 20 a 40 nascimento/ mil habitantes) e mortalidade infantil (entre 50 a 100 mortes/mil nascidos vivos) média. Por outro lado, houve um aumento, apesar de pouco significativo, da esperança média de vida à nascença.

Em termos económicos observou-se que nas duas últimas décadas ocorreu um aumentou significativo do PIB total e do PIB per-capita na maior parte dos países do continente africano. Países como África do Sul, Egipto, Argélia, Marrocos e a Nigéria apresentaram os maiores valores do PIB em 2009. Por outro lado, o saldo da balança comercial tem tido uma tendência negativa crescente e possuem um divida externa elevada.

Em relação aos indicadores de desenvolvimento humano, foi possível verificar que o IDH aumentou significativamente em todos os países. Das conclusões tiradas do quinto capítulo podemos demonstrar que em 1997, a maioria dos países (85%) possuíam um IDH baixo e nenhum país Africano tinha um IDH elevado. Em 2007, houve uma aumento significativo do IDH e a maioria dos

Turismo e Desenvolvimento: o caso do continente africano 108

países passaram a ter um IDH médio (50% dos países) e três países (Ilhas Maurícias, Líbia e Seychelles) passaram a fazer parte do grupo de países com IDH elevado. No que respeita ao IPH observou-se uma diminuição deste indicador. Em 1997, a maioria dos países tinham um IPH elevado, e muitos deles com valores superiores a 40%. Passado uma década o IPH diminuiu significativamente na maioria dos países Africanos, fazendo com que haja vários países com valores abaixo dos 20%. Associado a elevados índices de pobreza existe ainda uma elevada desigualdade da distribuição da riqueza, facto que foi possível constatar através dos elevados valores do Coeficiente de Gini da maioria dos países Africanos.

Da caracterização feita do turismo internacional, concluiu-se que o continente africano tem crescido muito nos últimos tempos, com uma taxa de crescimento anual (das chegadas (9%) e receitas (11%)) superior à média do mundo e a superior à verificada nas principais regiões turísticas (Europa e Américas). Ao nível dos países, constatou-se que são os países mais desenvolvidos do continente (África do Sul, Tunísia, Egipto e Marrocos) que acolheram um maior número de visitantes e obtiveram um maior valor das receitas. Em relação às despesas e à balança turística o cenário é semelhante, são os países mais desenvolvidos (África do Sul, Egipto, Marrocos e ilhas Maurícias) os que registaram maiores despesas do turismo internacional e saldos da balança turística mais elevados.

Por fim, a análise da relação, o nível dos países que integram o continente africano, entre os indicadores que foram utilizados para quantificar o turismo internacional (turismo emissor e turismo receptor) e os indicadores que foram utilizados para avaliar o nível de desenvolvimento social, económico e humano, permitiu concluir que existe uma relação estatisticamente significativa directa entre o nível de desenvolvimento económico e o crescimento do turismo emissor e do turismo receptor. Também se verificou a existência de relações estatisticamente significativas entre indicadores do contexto social (ex: taxa de natalidade, taxa de mortalidade, taxa de mortalidade infantil, esperança média de vida e taxa de alfabetização) e indicadores do turismo internacional. Em relação aos indicadores de desenvolvimento humano, observou-se uma relação positiva estatisticamente significativa entre o IDH e os indicadores turísticos e uma relação negativa entre o IPH e os indicadores do turismo internacional. Estes resultados evidenciam claramente que são os países mais desenvolvidos (com elevado IDH e baixo IPH), os que captam um maior número de visitantes internacionais, que mais receitas obtém do turismo internacional e que apresentam maiores despesas do turismo internacional.

Turismo e Desenvolvimento: o caso do continente africano 109