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Da análise que fizemos com os trinta e dois (32) informantes selecionados, resultaram três mil e duzentas (3200) amostras de fala que foram submetidas à quantificação, através do programa Varbrul. Desse total, a regra de concordância explícita em P6 foi aplicada em 1639 dos casos, número esse que corresponde a 51% do total analisado o que indicaria, em princípio, uma situação de variação estável na comunidade estudada, já que a não aplicação da regra ocorreu em 1561, totalizando um percentual de 49%. Contudo, a análise feita sob o ângulo da variável faixa etária permite que se fale numa mudança em progresso.

A saliência fônica é, entre os lingüísticos, o grupo que muito favorece tanto um quanto o outro uso, sendo importante para os resultados gerais obtidos. O Nível 1 atua na tendência do uso de / Ø /, por englobar formas verbais com baixa saliência, contribuindo, indiscutivelmente, para os 49% das marcas zero; o Nível 2, mais saliente, é a contrapartida

para o índice de 51% de marcas explícitas de concordância. Dessa maneira, a saliência, como muitos trabalhos têm atestado, é um fator importante para a análise da concordância verbal.

Em relação à posição do sujeito na oração, podemos dizer que a concordância é maior quando, na estrutura, a ordem SV é mantida e também quando a distância entre um e outro elementos não existe ou é pequena. Quando essa posição é alterada para VS, a tendência é a de que o falante não marque a concordância, entendendoesse sujeito como objeto, já que ele se encontra à esquerda do verbo. Este é, portanto, um ambiente favorável à variação. É possível separar tal grupo em dois subgrupos, um que favorece a variante explícita / N /, constituído pelos fatores S3 e IP; e outro que engloba os fatores que mais influem na propagação de um sistema flexional sem marca de plural em P6, identificados no subgrupo 2: os fatores OA, NR, EN, S4, E Ø e PP.

Também pudemos comprovar a influência da Constituição do Sintagma Nominal, no que se refere à manutenção ou cancelamento do plural no verbo. Aqui também foi possível detectar três grupos atuantes, um, a que denominamos neutro, com pesos que não dizem muito em termos de tendência, o segundo que favorece a marca explicita, e outro que atua em favor da ausência da marca.

No quesito traço semântico do sujeito, o resultado indica que quando o SN apresenta traços do tipo HA, existe uma probabilidade maior de marcas de concordância nos verbos; quando esse traço é CONC essa probabilidade cai, sendo maior a ocorrência de não concordância. Ressalte-se também que testando a hipótese do traço ABS isso também se mostrou verdadeiro, mas este apresenta um índice menor em relação concreto.

Os três últimos grupos lingüísticos, Tempo, Tipo e Conjugações Verbais não se mostraram tão importantes quanto os demais, embora também tenha sido possível detectar algumas tendências.

Através dessa rápida apresentação dos números obtidos nas variáveis propostas, foi possível traçar o perfil do comportamento lingüístico dos falantes conquistenses, no que concerne à variação da concordância verbal de terceira pessoa do plural. De todos os grupos considerados, ficou claro que cada um, a seu modo, está contribuindo para a situação de variação aqui encontrada, o que confirma as pesquisas aqui citadas. Todavia, nossa tarefa nessa conclusão ainda não está concluída, por isso vamos, nos próximos parágrafos, trazer as conclusões acerca das variáveis sociais.

A se notar pelos pesos, a escolaridade é uma ferramenta importante para que a norma padrão se consolide. É a escola a responsável direta pela manutenção de um status quo, muitas vezes ligado à concepção do certo e do errado. É ela quem dita o que se deve falar EX

a: eles fazeM e não EX b: eles fazØ, criando com isso estereótipos e discriminação na

própria sala de aula. Atitude esta que, paradoxalmente, é o que tem gerado o grande índice de evasão escolar.

Considerando a situação sócio-educacional em nosso país, diremos que se há um fator que pode reverter o quadro de 51% de marca explícita, para 49% de marca zero de concordância, é o fator escolaridade. Isso fica ainda mais contundente, considerando que, do imenso contingente de habitantes em nosso país, apenas 2% conseguem atingir aquele nível escolar mais condicionador da norma de prestígio – o NU —, que, ao que se pode notar, pela história educacional do país, é privilégio de poucos, razão porque analfabetos e pessoas com pouca escolaridade abarcam um montante muito mais expressivo em nossa sociedade.

A faixa etária também confirmou o que vem sendo a tendência geral: os mais idosos tendem mais à norma não-padrão, enquanto os mais jovens tendem ao padrão. Contudo, considerando que esse é um grupo, normalmente, usado para testar a hipótese de mudança em tempo aparente, é necessário que se reflita que se os mais velhos apresentam pesos altos para zero e, em contrapartida, os mais jovens pesos baixíssimos para essa mesma marca, é possível dizer que, se existe uma tendência na comunidade lingüística pesquisada, essa tendência seria a de no futuro termos uma situação de mudança para um paradigma flexional verbal que resgata essa marca SNP, o que contraria um número significativo de pesquisas realizadas no Brasil. Ou seja, se os percentuais gerais, já expostos em vários momentos e retomados no início dessa conclusão, indicam uma estabilidade na variação encontrada, os pesos evidenciados nas faixas etárias F1 e F3 denotam uma mudança em curso para a variável em estudo na comunidade.

Em princípio, a variável sexo poderia ser avaliada como aquela que apresentou um desempenho pouco importante para a análise. Entretanto, se compararmos os dados com o que diz a literatura, quanto à idéia de que sistemas inteiros de paradigmas gramaticais podem variar baseados nos sexos dos falantes, indicando que o sexo interage com outras variáveis ao serem considerados alguns aspectos da diferenciação dialetal; que as mulheres são mais sensíveis às formas de prestígio do que os homens na situação da variável estável, devendo-se interpretar o seu comportamento como índice de mudança ou de variação plena; que elas

manteriam viva a forma de prestígio, enquanto eles, os homens, tenderiam à inovação, percebemos que tais hipóteses não se aplicam, em tudo, para o que foi encontrado em Conquista, pois notou-se um comportamento atípico entre elas, como também entre eles.

Embora o grupo feminino tenha apresentado um percentual de 47% de aplicação da marca / Ø /, em contrapartida aos 53% dos homens, a questão que se coloca é: são os homens ou as mulheres as responsáveis para o quadro de variação encontrado na comunidade, ou seja é possível dizer que existe uma diferença acentuada nestes números? Em relação a isso, uma, entre muitas questões, fica para ser respondida, no futuro, por outros pesquisadores, ou mesmo por nós: foram as mulheres que mudaram, deixando impressa em seus registros essa mudança de comportamento lingüístico? Ou foram os homens que mudaram e já não são tão “despreocupados” com o modo de falar como algumas pesquisas propõem?

É necessário que se considere que nem a mulher, nem o homem de hoje podem ser tomados sob a ótica de dez ou vinte anos atrás. É preciso que se avalie a atitude lingüística do falante de hoje, pelas características da sociedade atual e assim se questione quem é a mulher do mundo atual e qual é o seu papel na sociedade em que está imersa e, do mesmo modo, também se analise o homem.

Fechamos, portanto, a conclusão desse estudo, sobre a concordância verbal de terceira pessoa do plural em Vitória da Conquista, com muitos questionamentos e poucas respostas: 1) nesta comunidade, o que se tem é um caso de variação estável ou de mudança em progresso?; 1.1) em caso de variação estável, qual seria o grupo de fatores responsável pela situação encontrada?; 1.2) em caso de mudança em progresso, qual seria a atuação do homem e a da mulher?; e, 2) considerando os caminhos opostos que mulheres e homens estão seguindo, quais sejam: mulheres aproximando-se mais do não-padrão, pelo menos, mais do que se supunha, em oposição aos homens que, ao que parece, caminham em direção ao padrão, qual seria a direção dessa mudança em progresso: a um sistema que recupera a marca explícita de terceira pessoa do plural, ou a um sistema mais simplificado que exclui tal marca? Estas são algumas das questões que, embora formuladas, ficaram sem respostas. De certo, muitas outras ainda são possíveis e também ficarão por serem respondidas em outros trabalhos.

Pelo exposto, podemos afirmar que a regra aqui estudada encontra-se em pleno processo de variação. Isto é, em relação à nossa variável, confirma-se a hipótese de que a concordância verbal em P6 ora se aplica ora deixa de se aplicar. Quanto à tendência que tal regra estaria tomando, achamos mais prudente deixar um questionamento do que fazer uma

afirmação categórica. Dessa forma, fica em por se responder a seguinte questão: a

concordância verbal de terceira pessoa do plural em Vitória da Conquista é um caso de variação estável ou de mudança em progresso?

Esperamos que o nosso trabalho de alguma maneira venha a contribuir para o avanço dos estudos sociolingüísticos no país, uma vez que, ele traz, além de mais um dado sobre o PB, também aponta algumas novas tendências no que se refere à concordância verbal em P6, bem como no que tange ao comportamento das variáveis sociais.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS