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OS CONCURSOS PARA PROFESSOR DO ENSINO SECUNDÁRIO DO ATHENEU SERGIPENSE: A REFORMA BENJAMIM CONSTANT E SUAS ALTERAÇÕES

3 ENTRE PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS: OS PROCESSOS SELETIVOS PARA PROFESSORES SECUNDÁRIOS SERGIPANOS NO PERÍODO DE 1890 A

3.1 OS CONCURSOS PARA PROFESSOR DO ENSINO SECUNDÁRIO DO ATHENEU SERGIPENSE: A REFORMA BENJAMIM CONSTANT E SUAS ALTERAÇÕES

No ano de 1890, o Decreto nº. 30, de 15 de março regulou a instrução pública de Sergipe para atender as necessidades locais, reformando de “modo radical” a educação do estado. Neste documento o governador Felisbello Firmo de Olivera Freire afirmou que as últimas leis educacionais não produziram “na prática resultado algum”, nem compensaram os “enormes sacrifícios” para manter o ensino público, mas “desorganizaram” e proporcionaram “desproveito” até mesmo para as classes populares (DECRETO Nº. 30, 1890, p. 80). Entendia que para alcançar a tão desejada prosperidade educativa era preciso cuidar dos interesses populares, preparar o futuro, sobretudo metodizar e encaminhar essas ações por idênticos princípios das nações cultas. Assim, os estabelecimentos de ensino sergipanos passavam a ser regidos pelas atribuições da Reforma Benjamim Constant, o Decreto nº. 981, de 8 de novembro de 1890.

O ensino secundário era ministrado, exclusivamente, no Atheneu Sergipense por 6 anos. As cadeiras de Latim e Francês das cidades de Laranjeiras e Estância foram suprimidas, sendo seus professores “aproveitados, segundo suas aptidões, na regência das cadeiras do Atheneu ou da Eschola Normal” (ART. 3º, DECRETO Nº. 30, 1890, p. 81). Para tanto, o Art. 186, do Decreto de 14 de março de 1890, apresentava as matérias preparatórias destinadas aos cursos superiores, distribuídas nas seguintes cadeiras:

I- Lingua e litteratura nacional; II- Lingua e litteratura latina; III- Lingua e litteratura franceza; IV- Lingua e litteratura ingleza; V- Lingua e litteratura allemã; VI- Arithmetica e algebra VII- Geometria e trigonometria; VIII- Sciencias physicas e naturaes; IX- Geographia e comosgraphia; X- Historia geral;

XI- Chorographia e historia do Brazil; XII- Rethorica e poética;

XIII- Philosophia e sua historia (DECRETO, 14 de mar., 1890, p. 113).

As cadeiras do Atheneu Sergipense eram providas por concurso, anunciado com três meses de antecedência nos jornais de maior circulação, a partir da data do edital. A inscrição permanecia por trinta dias, podendo ser prorrogada quando necessário. Durante as atribuições da Reforma Benjamim Constant, o Atheneu Sergipense organizou dois concursos para professores do ensino secundário nas cadeiras de Corografia e História do Brasil (1890) e Ciências Físicas e Naturais (1897). O primeiro abriu inscrição no dia 5 de junho de 1890, conforme os registros do jornal “O Republicano”.

De ordem do cidadão dr. director geral da instrução publica, faço sciente que, de accordo com o art. 213 do regulamento em vigor, á contar da presente data até 7 de junho próximo vindouro, acha-se aberta a inscripção para o concurso á cadeira de Chorographia e História do Brazil do Atheneu Sergipense.

Secretaria da Instrução Publica, 7 de maio de 1890. O secretario,

Manoel F. de Carvalho (O REPUBLICANO, 5 de jun., 1890).

No edital deste concurso o Diretor Geral da Instrução Pública, Galdino Telles de Menezes78, mandava declarar os ônus e vantagens do cargo para demonstrar que a profissão docente estava se consolidado, alertando aos candidatos quanto às comprovações das condições exigidas no Art. 88 do Regulamento da Instrução Pública, de 14 de março de 1890.

78 “Filho do coronel João Nepomuceno Teles de Menezes e D. Eulália Maria de Jesus, nasceu no dia 12 de maio de 1857, no município de Japaratuba e faleceu a 25 de julho de 1915, na cidade de Brotas/São Paulo. Estudou os preparatórios no colégio do padre Firmino Brant da Rocha na Capela e os terminou na Bahia, onde se doutorou em Medicina no ano de 1880. Iniciou suas atividades de médico em uma clínica de Laranjeiras, onde também lecionou no “Liceu Laranjeirense”, fundado pelo professor Baltazar Góes. Transferiu sua residência para Aracaju medicando no Asilo de N. S. da Pureza em 1885 e assumindo outras funções, a saber: secretário do Governo da Província, 1885-1886, diretor da Instrução Pública e da Escola Normal e inspetor de higiene pública, nomeado a 2 de agosto de 1892. No ano de 1893 trabalhou numa clínica de S. João de Bocaina, no Estado de São Paulo” (GUARANÁ, 1925, p. 193).

1. Maioridade legal, com certidão ou justificação de idade; 2. Isenção de crime, mediante folha corrida;

3. Bôa conducta civil e moral, por meio de attestado das authoridades locaes; 4. Não sofrer moléstia contagiosa ou repugnante a juízo medico;

5. Ter sido vaccinado a menos de quatro annos, mediante attestado de facultativo; 6. Ter praticado o ensino secundário um anno pelo menos em eschola publica, com atttestado do professor ou certidão da Secretaria da Instrucção;

7. Licença do marido, sendo senhora casada;

8. Capacidade profissional, mediante exame nas matérias, que constituem o ensino secundário (DECRETO, 14 de mar., 1890, p. 95).

Após a divulgação e encerramento do prazo de inscrição do concurso, o Diretor Geral da Instrução Pública reuniu a Congregação do Atheneu Sergipense para formular a lista de pontos, dentre os quais cada candidato escolhia um para apresentar no prazo de vinte dias uma dissertação escrita, podendo ela ser impressa ou não para os examinadores. Os concorrentes deviam entregar, pelo menos, três exemplares na diretoria do ensino, sendo um para o seu arquivo, outro para o Atheneu Sergipense, e o terceiro para a respectiva Congregação. A relação de pontos aprovados nesta seleção também foi divulgada nas páginas dos jornais, mas os assuntos não foram apresentados na nota do jornal, porém descritos no livro de atas da Congregação.

De ordem do dr. director geral da instrucção publica, faço publico a quem interessar possa, que a congregação approvou os pontos apresentados para o concurso á cadeira de chorografia e historia do Brazil, os quaes se achão transcriptos na acta da sessão extraordinária da mesma congregação realisada hoje.

Sala da congregação do Atheneu Sergipense, em 4 de julho de 1890. O secretario, Candido Campos (O REPUBLICANO, 6 de jul., 1890).

Na sessão extraordinária da Congregação dos lentes do Atheneu Sergipense, no dia 4 de julho de 1890, estavam presentes o Diretor Geral da Instrução Pública Galdino Telles de Menezes e os lentes Joaquim do Prado Sampaio Leite79, Daniel Campos80, Geminiano Paes de

79 “Nascido em Aracaju no dia 3 de junho de 1865, filho do farmacêutico Joaquim do Prado de Araújo Leite e D. Lídia Carolina Alves Sampaio. Estudou primeiras letras na cidade do seu nascimento [...], fazendo o curso secundário no Atheneu Sergipense. Em 1884 matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde fez o tirocínio acadêmico, recebendo o grau de bacharel a 8 de março de 1889. [...] Em 1905 regressou ao Estado natal, [...] lente catedrático de Literatura e Lógica do ‘Atheneu Sergipense’, em janeiro de 1907. [...] designado por ato de 4 de setembro de 1911 para reger a cadeira de Psicologia e Lógica do mesmo “Atheneu”, passando a lente de Lógica e direito público por ato de 27 de setembro de 1912 [...]”. Para saber mais, consultar Guaraná (1925, p. 288-292).

80 “Filho de Daniel Caetano da Silva Campos e D. Antonia Pinto da Silva Campos, nasceu a 25 de maio de 1855 no engenho Feiticeira, município da Capela, e faleceu em Aracaju, a 8 de fevereiro de 1922. [...] preparou-se em humanidades no colégio S. João, antigo estabelecimento de ensino secundário na capital da Bahia, em cuja Faculdade de Medicina fez todo o curso acadêmico, recebendo grau de doutor a 17 de dezembro de 1882 [...]. Foi lente de elementos de Ciências Físicas e Naturais do Atheneu Sergipense [...] por ato de 17 de abril de 1882, removido em 28 de julho do ano seguinte para a cadeira de Filosofia. Supressa esta, voltou para a primitiva

Azevedo Andrade, Alfredo de Siqueira Montes, Felix Diniz Barreto81, Luiz Carlos da Silva Lisboa82, Brício Mauricio de Azevedo Cardoso, Ignácio de Souza Valladão, Narcizo da Silva Marques, Olyntho Rodrigues Dantas83 e Candido Campos84. O fim desta reunião era tomar conhecimento dos pontos do concurso da cadeira de Corografia e História do Brasil, os quais depois de lidos pela Congregação foram aprovados os seguintes tópicos:

Quadro 5 - Lista de pontos do concurso de Corografia (1890)

Números Pontos

1º Area posição e limites do Brazil

2º Configuração horisontal, portos, ilhas e sua natureza 3º Configuração vertical, rochas e fosseis do Brazil 4º Grandes bacias hydrograficas do Brazil

5º Climatologia do Brazil; determinação de suas isothermas e distribuição das chuvas 6º Productos minerais, florestas e agriculas; aviticutura e sericultura

7º Geographia physica, politica e economica do Estado de Sergipe 8º Imigração, colonisação e acclimatação das diversas raças no Brazil 9º Instrução publica

10º População, commercio, associações, finanças do Brazil e suas estatisticas 11º Vias de comunicação terrestre, ferrea, fluvial, maritimas e telegraphicas

Fonte: Elaborado pela autora por meio das atas da Congregação do Atheneu Sergipense do ano de 1890.

Os pontos de Corografia era composto de onze assuntos, sendo dez sobre o Brasil e um tratava-se de Sergipe quanto à Geografia física, política e econômica. Os tópicos possuíam uma abordagem ampla, indefinida e sem delimitação, fazendo com que o candidato aplicasse o tema sorteado em toda sua extensão. Na perspectiva brasileira, a Corografia apresentava-se por meio de elementos cartográficos (localização e dimensões territoriais), rede hidrográfica, tipos climáticos, aspectos biogeográficos, processos migratórios, meios de transportes e comunicação, entre outros.

Neste processo seletivo o candidato devia possuir conhecimentos amplos dos aspectos corográficos “[...] de cunho, prioritariamente, físico, político, demográfico e econômico, revelando, dessa forma, que a sociedade recém republicana apresentava novas perspectivas de

cadeira de Ciências Físicas e Naturais a 16 de março de 1893[...]”. Para saber mais, consultar Guaraná (1925, p.

109-110).

81 “Filho do professor Antonio Diniz Barreto e D. Mariana Joaquina de S. José Barreto, nasceu a 21 de junho de 1846 em Itabaiana e faleceu no Aracaju a 18 de dezembro de 1904. Fez todo o curso de humanidades em Pernambuco [...].lente da cadeira pública de português, aritmética e francês na Estância e catedrático de Latim do Atheneu Sergipense [...]”. Para saber mais consultar, Guaraná (1925, p. 163).

82 “Lente da cadeira de Pedagogia Teoria (1882) e Prática Geografia e Astronomia (1903) do Atheneu Sergipense” (ALVES, 2005a, p. 217).

83 “Filho do Major Geminiano Rodrigues Dantas e D. Josefa Maria Dantas, nasceu a 23 de agosto de 1861 em Itabaiana. Feitos os estudos de humanidades, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde recebeu o grau doutor em 30 de dezembro de 1885. Em 1887 [...] exerceu os cargos de Professor de latim do Ateneu Sergipense da Escola Normal [...]”. Para saber mais, consultar Guaraná (1925, p. 446-447).

enxergar não apenas a política, mas também o ensino” (ALVES, 2014, p. 52). O autor ainda nos diz que, a Corografia não representava “[...] uma matéria, consoante a conceituação explicitada por Goodson (1995) sobre disciplina escolar”, tampouco “se constituiu enquanto disciplina e, consequentemente, não se firmou academicamente, mantendo-se de forma isolada” (ALVES, 2014, p. 55).

No ano de 1890, a Corografia referia-se “[...] à parte da Geografia clássica dedicada aos estudos históricos de um país, ou, mais especificamente, de uma de suas regiões, além de seus aspectos da demografia e antropologia” (ALVES, 2014, p. 55). Nesta época, o seu ensino deixava de ser clássico e vertia-se, paulatinamente, para concepção Moderna, pois os assuntos mnemônicos aos poucos cediam espaço aos conhecimentos pátrios, necessários à formação do cidadão brasileiro. A percepção mnemônica visava o acesso ao ensino superior, possibilitando o aluno enxergar o mundo, assim como vê-lo por meio dos livros e das salas de aula (ALVES, 2014).

Os pontos de Corografia dialogavam com os conteúdos expressos no programa oficial, do Colégio Pedro II, como aquilo que ensinava e “ponto final” (CHERVEL, 1990). Tais assuntos faziam parte da Geografia, cujo debate estava pautado no ensino científico e humanístico do final do século XIX, destinado a formar integralmente o cidadão e prepará-lo para o ingresso ao ensino superior frente à nova situação brasileira.

Os pontos de História do Brasil estavam dispostos na lista por meio de nove perguntas direcionadas, estabelecendo de que maneira deviam ser aplicados pelos candidatos e exigindo deles um posicionamento crítico.

Quadro 6 - Lista de pontos do concurso de História do Brasil (1890)

Números Pontos

Christovão Colombo apportando as Lucarias e Pedro Cabral a Porto Seguro encontraram essas duas porções da América povoada por selvagens de caracteres physicos differentes: donde provierão esses individuos, como se acharão no novo Continente ao tempo das descobertas e quaes as raças que pertenciam?

Foram racionais as medidas empregadas por D. João II para colonisar o Brazil? Surtiram d’ellas o desejado effeito, a ordem, o progresso, a segurança, a prosperidade da colônia ou a embarcaram exigindo prompto remedio?

Que acção directa ou indirecta exerce a Companhia de Jesus nos negocios internos e externos da colonia portugueza e os meios de que se serviram os Jesuitas para tornarem-se uma potencia na terra conquistada aos primitivos habitantes?

As primeiras tentativas de mineração que influencia na sorte da lavoura colonial, sob o ponto de vista ethico e scientifico. O velho Caramuru concorreu para o engrandecimento da terra descoberta. Roberio Dias será um ente imaginário? E as Minas de Prata?

Quais as causas que determinaram a introdução africana na colonia portuguesa? Como instituiu-se nella a escravidão? Quaes os malles ella acarretou á Patria? Donde partiram as primeiras ideas de redempção, quem as propagou no tempo do imperio e que attitude tomaram no ultimo decennio?

Os patriotas de 1822 proclamando a independencia do Brazil e entregando a coroa imperial a D. Pedro I procederam corretamente, ou serviram de cegos instrumentos a ambição do filho de D. João VI? Que juízo se pode formar do grito do Ipyranga? O principe estrangeiro, que fundou o imperio, era sincero em relação aos negocios da corte portugueza e especialmente ao Brazil?

Que juizo formar dos liberais de 1831, promotores da revolução de 7 de abril, provocando a abdicação e estabeleceu a regencia provisoria no imperio? Este acto impolitico concoreria para o atraso da pátria brasileira, oppondo-se ás tendencias do espirito americano?

Qual a politica adotada por Pedro II desde 1840 á 1889? O seu reinado terá sido um reinado constitucional, ou o pacto fundamental brasileiro limitou-se a ser uma mera formula, predominando-se poder pessoal? Que papel o parlamentarismo desempenhou em meio seculo de reinado?

Qual o estado das finanças, das lettras, da industria, das artes do Brazil no segundo reinado? Que vantagens auferia a lavoura dos braços escravos? Quaes os effeitos immediatos da lei N0 335 de 13 maio de 1888? A Abolição teria concorrido para resolução de 15 de novembro de 1889? Quais as relações que esta revolução tem com o passado do Brazil?

Concordo com Teles (2009), quando diz que o posicionamento crítico a ser cobrados dos candidatos do concurso de Corografia e História do Brasil do Atheneu Sergipense podiam ser visualizados nos pontos 6 , 8 e 9 desta listagem. Para ele, o sexto tópico abria uma discussão sobre a decisão de entregar a coroa do Imperador a D. Pedro I, a fim de saber se os patriotas agiram corretamente ou “serviram de cegos instrumentos a ambição do filho de D. João VI?”. No de número oito, o autor afirma que o assunto solicitava dos concorrentes uma análise da política adotada por D. Pedro II de 1840 a 1889, formulados um ano depois do término do período abordado. Na sua concepção, se fazia necessário avaliar um período em que se viveu, uma vez que no ano de 1889 ocorreu a Proclamação da República e o ano de 1890 representava uma “[...] fase de consolidação e de disputas entre os monarquistas e republicanos” (TELES, 2009, p. 30).

O último ponto, o número 9, contemplava uma pergunta sobre a abolição da escravidão, fato ocorrido no ano de 1888, onde se interrogava as vantagens oferecidas para lavoura através dos braços escravos e se havia alguma relação entre abolição e Proclamação da República. Assim, os conteúdos dispostos em forma de questionamentos representavam um esclarecimento prévio de como eram abordados os temas, mas também geravam dúvidas nos candidatos quanto à avaliação individual dos examinadores. Ademais, demonstrava duas formas diferentes de propor uma lista de pontos para concursos de uma mesma instituição, em um mesmo ano.

Ainda Teles (2009) afirma que, esses pontos apresentavam uma tentativa de promover no candidato um pensamento crítico, além de solicitar do futuro lente de História conhecimentos históricos tradicionais e aspectos recentes da sociedade. O autor também revela que os temas abordados traziam detalhes do conteúdo programático a ser ministrados nas aulas, já que no Atheneu Sergipense alguns programas eram emitidos pelos professores vagamente e amplamente, a exemplo do planos de estudo dos 4º, 5º e 6º Anos de História, do curso de Humanidades, anunciados nos registros da ata da Congregação no dia 8 de fevereiro de 1893, conforme o Decreto n°. 45, de 19 de janeiro do mesmo ano (TELES, 2009).

Os temas sobre abolição da escravidão e Proclamação da República contemplavam os pontos do concurso de 1890, mas possivelmente tenham sido abordados nos planos de estudos de 1893 por meio das aulas de História Geral do 4º Ano (estudo completo), na cadeira de Historia do 5º Ano (Historia do Brazil) e no 6º Ano de História (História de Sergipe, desde sua colonização). As matérias em questão propunham o estudo amplo desses tópicos, sendo elas supostamente lecionadas pelos seus docentes. Fazendo um paralelo com o Colégio Pedro

II, o ensino da Proclamação da República começava a fazer parte dos seus programas a partir do ano de 1898, quando o número de pontos aumentou e implantou-se o conteúdo “40. Continuação do Reinado de D. Pedro II até a Proclamação da República” (VECHIA; LORENZ, 1998, p. 180).

Essas reflexões possibilitam o entendimento de quais os assuntos de Corografia e História do Brasil eram ensinados aos jovens sergipanos no início da República, já que durante o concurso os futuros professores analisavam os períodos próximos a este evento e, provavelmente, tais conteúdos fiziam parte dos programas de ensino do Atheneu Sergipense, como a cultura pela qual se banha (CHERVEL, 1990).

Dando sequência ao concurso de 1890, a banca examinadora também devia ser eleita pela Congregação no mesmo dia em que foram escolhidos os pontos para os exames, mas os nomes dos possíveis membros não foram localizados. Talvez o motivo da omissão seja devido o adiamento da seleção, sem data prevista para sua realização.

De ordem do cidadão Director Geral interino da Instrução Publica, faço publico que fica adiado o concurso para preenchimento da cadeira de Chorographia e Historia do Brazil do Atheneu Sergipense, até ulterior deliberação do Governo deste Estado. Secretaria da Instrucção Publica, 8 de Agosto de 1890. O secretario, Manoel F. de Carvalho (O REPUBLICANO, 12 de ago., 1890).

Com o concurso adiado e sem previsão de continuidade, a Congregação do Atheneu Sergipense se reuniu no dia 1º de abril de 1892 para nomear Narcizo da Silva Marques como lente de História. Este professor fazia parte do corpo docente da instituição desde 14 de março do mesmo ano, quando foi convocado por ato do Governo para lecionar Geografia.

Deferir juramento e posse ao Cidadão Doutorando, Narcizo da Silva Marquês, o qual por acto do Governo de 14 do corrente foi nomeado Lente de Geographia do Atheneu Sergipense; e, tendo o referido cidadão promettido que cumpriria conscienciosamente os deveres inherentes a seu cargo, foi convidado a tomar assento entre os Membros da Congregação (ATA DA CONGREGAÇÃO DO ATHENEU SERGIPENSE, 17 de mar., 1890, p. 55v Ref. 481FASS01).

Tal “indício” apontava que o referido lente assumiu a cadeira Geografia do Atheneu Sergipense sem ter prestado concurso público, mesmo havendo um regulamento para organizar os processo seletivos. Os professores, ainda, assumiam cadeiras por ato e/ou indicação do governo. As mudanças de cadeiras pelos docentes era comum na escola, por algum motivo, havia a necessidade de renovar a taxa de ocupação desses profissores quando vagava uma cadeira.

Caso o concurso de Corografia e História do Brasil proseguisse, os trabalhos tinham início depois de dez dias, da data do sorteio do ponto de tese. Para tanto, as provas dos exames deviam ser avaliadas pela Congregação do Atheneu Sergipense e pelo Diretor Geral do ensino, sendo a primeira delas a sustentação de uma dissertação diante de três lentes eleitos como membros da banca examinadora. Findo este ato, teriam lugar, por 2 horas, as provas escritas sobre um ponto formulado pelos examinadores, versando a respeito da Língua Nacional, Aritimética e História da Pedagogia (ciência ou gramática). Havendo mais de um candidato, o ponto selecionado era o mesmo. Para prova oral o assunto abordava todas as partes da cadeira vaga. Os examinadores arguiam os opositores, que também arguiam-se reciprocamente em todos os exames.

Na ocorrência de mais de um candidato, cada prova era realizada pela ordem da inscrição dos concorrentes. Depois dessa fase, a Congregação votava sobre o merecimentos absoluto e relativo dos pretendentes. A votação se dava por escrutínio secreto e nenhum concorrente entrava na classificação sem obter dos examinadores o maior número de votos favoráveis. Em seguida, o Governo recebia os dados referente ao número de votos obtidos por cada opositor, assim como os esclarecimentos e as informações necessárias sobre sua aprovação para escolher o lente habilitado. O Diretor Geral tinha que nomeá-lo a cadeira vaga