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OS PRIMEIROS CONCURSOS PARA PROFESSOR DO ENSINO SECUNDÁRIO DO ATHENEU SERGIPENSE

2 OS CONCURSOS NOS TEMPOS DE SERGIPE D’EL REY: O PRELÚDIO DE UMA HISTÓRIA

2.2 OS PRIMEIROS CONCURSOS PARA PROFESSOR DO ENSINO SECUNDÁRIO DO ATHENEU SERGIPENSE

A mudança da Capital de Sergipe, no dia 17 de março de 1855, para os terrenos arenosos e de manguezais do povoado de Santo Antônio do Aracaju se deu por motivos econômicos e políticos. Seus dirigentes ponderavam que a antiga capital, São Cristóvão, “[...] não oferecia mais condições para sede, que necessitava de um porto para escoar melhor seus produtos” (ALVES, 2005a, p. 30), a uma prática de comércio atrelada aos interesses da lavoura, principalmente do açúcar. No dia 1º de março do mesmo ano, em discurso dirigido aos deputados da Assembleia Legislativa da Província, o Presidente Inácio Joaquim Barbosa de Araújo falou sobre a importância desta transferência.

Para mim é incontestável que a capital deve ser do lado em que está situado o povoado do Aracajú [margem direita], quer porque tem muito boas aguas, e é muito salubre e ventilado, tendo nos fundos o fértil município de Socorro, ao passo que o dos Coqueiros [margem esquerda] tem nos fundos o município de Santo Amaro que é esteril e decadente, quer porque tem uma mais curta comunicação por terra com a cidade de Laranjeiras e outros ricos povoamentos sem lhe faltar a communicação fluvial (SANTIAGO, 1916, p. 65).

O Presidente Ignácio Joaquim Barbosa visualizava o futuro da Capital, analisando a sua melhor localização geográfica. Epifânio Dória também relatou os motivos da transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju foi a sua aproximação com o mar, que viabilizava sua expansão comercial “[...] com os demais núcleos urbanos do país e do estrangeiro” (DÓRIA, 1945, p. 73), libertando “[...] Sergipe do isolamento atrofiante em que

vivia, sem poder desenvolver o seu comércio nem alargar a sua cultura espiritual” (DÓRIA, 1945, p. 73).

Quanto à educação pública da Província de Sergipe, no mesmo ano da mudança da capital, o Presidente Inácio Joaquim Barbosa planejava extinguir o Liceu Sergipense e fundar outro estabelecimento de ensino em Aracaju, o que não ocorreu. Com a sua morte, o Vice- Presidente João Gomes de Melo, também conhecido como Barão de Maruim preferiu construir uma cadeia pública ao invés de uma nova instituição, afirmando ter na Província mais presos do que alunos. Mesmo com este fato, as crianças e os jovens sergipanos não podiam ficar sem instrução e as aulas ocorreram “em espaços improvisados, nas casas dos próprios professores, reconhecidos ou nomeados como tais pelo Governo, que além do salário recebiam um pequeno valor para o pagamento do aluguel” (ALVES, 2005a, p. 37), tanto para as cadeiras de primeiras Letras como para a escolarização doméstica.

Nessa perspectiva, a capital Aracaju possuía duas cadeiras de primeiras Letras (masculina e feminina), assim como cadeiras de Filosofia e Gramática e Língua Latina. As aulas de primeiras Letras do sexo masculino foram instaladas em 1855, na casa do engenheiro Sebastião Pirro e eram ministradas por Inácio de Souza Valadão. Já as aulas da cadeira de Filosofia, ministradas pelo Padre José Gonçalves Barroso foram tardias. Este professor era contrário à mudança da capital e como estratégia de atraso alegou dificuldades para alugar uma residência na nova sede do governo, o que não surtiu efeito. O Presidente João Gomes de Melo ordenou que as aulas começassem no dia 21 de janeiro de 1856, mas não havendo candidatos ao estudo desta cadeira, o Padre Barroso permaneceu em São Cristóvão até ser jubilado no ano de 1858 (ALVES, 2005a).

A cadeira de Gramática Latina foi criada na nova capital, por não haver candidatos a concurso foi provida pelo professor Braz Diniz Vilas Boas54, no dia 24 de novembro de 1857, numa casa localizada na rua São Cristóvão. Com a sua jubilação, o professor Tomaz Diogo Leopoldo vagou as aulas de Latim e em janeiro de 1867 pediu exoneração. A cadeira passou a ser provida no ano 1868 pelo professor Antônio Diniz Barreto, removido de Laranjeiras para Aracaju.

Entre 10 de junho de 1861 e 13 de junho de 1863, na administração de Joaquim Jacinto de Mendonça, o quadro da instrução pública era desanimador, principalmente o magistério primário. Para este Presidente o ensino devia ser obrigatório e todo indivíduo tinha

54 “Professor jubilado, mas lecionou em Santo Amaro das Brotas e Laranjeiras. Pai do Secretário do Governo Manoel Diniz Vilas Boas” (ALVES, 2005a, p. 39).

direito à educação. No dia 5 de outubro de 1862, ocorreu mais uma tentativa de instalação de um Liceu, denominado de Liceu Sergipano ou Liceu Gratuito, ofertando inicialmente aulas de Latim, Francês, Inglês e Aritmética, conforme um Plano de Estudos baseado no Imperial Colégio de Pedro II. Além destas cadeiras a instituição pretendia ministrar aulas de:

Italiano, Filosofia, Gramática Filosófica, Retórica, História e Geografia, Álgebra, Geometria e Trigonometria, Partidas Dobradas e Aritmética Comercial, Noções Gerais de Botânica e Agricultura, Noções Gerais de Química, Noções Gerais de Física, Direito Mercantil, Desenho, Moral e Instrução Religiosa (ALVES, 2005a, p. 40).

A proposta deste plano de estudos era ambiciosa, o que talvez tenha sido uma das razões do Liceu Sergipano não prosperar. Assim, mais uma iniciativa de organização dos estudos secundários em Sergipe teve vida efêmera. No ano de 1864, o quadro educacional deste ensino possuía cinco aulas de Latim providas em Aracaju, Itabaiana, Propriá, Estância e Laranjeiras, sendo que nas duas últimas cidades haviam aulas de Francês e Geometria. No ano de 1865 ocorreu um crescimento de colégios particulares em detrimento “ao pequeno número de escolas públicas ou da má qualidade dos mestres [...]. As aulas públicas de Francês e Geometria, no ano de 1868, estavam a cargo de Tito Augusto Souto de Andrade” (ALVES, 2005a, p. 40).

O projeto modernizador da mudança da capital a partir do ano 1855 ergueu gradativamente a situação econômica sergipana. Nos anos de 1870 o setor açucareiro cresceu devido o elevado índice de exportação e o algodão pelo agreste se expandiu, “fazendo brotar prósperos núcleos de povoamento” (NUNES, 2008, p. 109). Este novo espaço urbano também anunciava que as práticas culturais e educacionais se tornariam sucedidas e mais duradoura à vida intelectual da Província de Sergipe nas últimas décadas do século XIX.

Esse retrato reporta ao evento cultural mais importante de Sergipe nos anos de 1870, a criação do Atheneu Sergipense. A instituição foi idealizada no governo do Tenente Coronel Francisco José Cardoso Júnior, que apropriado de pensamentos reformistas inovou o sistema da instrução pública e resolveu dois desafios travados entre os dirigentes da Província de Sergipe desde os anos de 1830: a centralização das aulas de Humanidades e a criação do Curso Normal (ALVES, 2005a). Para tanto, o ensino público sergipano foi organizado por meio do Regulamento Orgânico da Instrução Pública da Província de Sergipe, assinado em 24

de outubro de 1870, tendo a frente da direção o Inspetor Geral da Instrução Manuel Luiz Azevedo d’Araújo55.

Com o novo Regulamento Orgânico da Instrução Pública, o Atheneu Sergipense ofereceu o curso de Humanidades de 4 anos e o curso Normal de 2 anos de duração, ambos de forma seriada e francos para “[...] todos os ouvintes de qualquer cathegoria que sejam, observadas devidamente as Leis da decencia” (ART. 72, ESTATUTO DO ATHENEU SERGIPENSE, 1871) e dependentes de subvenções pagas a título de matrícula56. O curso de Humanidades oferecia ao estudante um maior alicerce cultural preparando-o para a vida, além de servir como via de ingresso aos estudos superiores. O curso Normal habilitava os alunos para exercer o magistério público primário. No dia 3 de fevereiro de 1871 ocorreu a instalação, inauguração e abertura deste estabelecimento mediante uma cuidadosa programação planejada pela sua Congregação. Assim, a partir desta data a instituição ministrou aulas nas seguintes cadeiras.

Art. 18. O curso de Humanidades comprehenderá as seguintes aulas: 1º. De Grammatica philosophica da língua nacional e analyse de classicos. 2º. De Grammatica e traducção da língua latina.

3º. De Grammatica e traducção da língua franceza. 4º. De Grammatica e traducção da língua ingleza. 5º. De Arithmetica, Algebra e Geometria. 6º. De Geographia e Historia.

7º. De Philosophia racional e moral

8º. De Rhetorica, Poetica e analyse de clássicos [...]

Art. 19. O curso de eschola normal será de dous anos e se comporá:

No primeiro anno- da aula de Pedagogia; Grammatica Philosophica da lingua nacional com analyse de classicos;

No segundo- de aula de Arithmetica e Geometria e História, principalmente do Brazil (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 3).

Concordo com Alves (2005a), ao dizer que o Atheneu Sergipense ao ministrar esses dois cursos possuía uma dupla finalidade, uma vez que o curso de Humanidades oferecia “[...] a instrução necessária para acesso aos cursos superiores, ministrando as cadeiras exigidas nos

55 Nasceu em Estância/SE, no dia 24 de novembro de 1838, “onde iniciou seus estudos, completando-os depois no Liceu de São Cristóvão [...]. Recebeu o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1860, pela Faculdade de Direito do Recife. De volta a Sergipe, ligou-se ao Partido Conservador, liderado pelo Barão de Maruim e iniciou sua carreira como promotor. Foi Deputado Estadual de 1862 a 1863. Desligando-se da política, passou a dedicar-se ao jornalismo e à advocacia em Laranjeiras. Fundou o Jornal do Aracaju em 1870, dirigindo-o até 1874. Em maio de 1870 foi nomeado Diretor Geral da Instrução Pública, função na qual organizou o novo Regulamento” (ALVES, 2005a, p. 42). Para saber mais, consultar Santos (2016).

56 Nas palavras de Santos, o ensino secundário foi “[...] um tipo de ensino, dentre outros existentes no século XIX, que não estava ao alcance de todos, nem a todos era destinado, mas que não era exclusivo de uma elite econômica, uma vez que recebeu em seus bancos escolares indivíduos oriundos, não das camadas sociais mais desvalidas obviamente, mas de estratos intermediários, que a ele tiveram acesso, em muitos casos, por meio da rede de sociabilidade na qual estavam inseridos” (SANTOS, 2013, p. 58).

Exames de Preparatórios, bem como formar indivíduos que pudessem desempenhar funções variadas na sociedade” (ALVES, 2005a, p. 68). Para tanto, a presença do curso Normal na intituição retirava o seu caráter propedêutico ao formar professores para o quadro do magistério primário. Para alcançar tais finalidades, o Atheneu Sergipense continha um quadro de professores selecionados pelo Governo ou por concursos.

Nas palavras de Alves (2014), os professores das primeiras cadeiras do Atheneu Sergipense foram eleitos pelo Governo entre as pessoas mais habilitadas para o cargo a quem foram confiados. Desse modo, o governo selecionou lentes “[...] que traziam em suas vidas anteriores experiências de magistério, conhecidos e respeitados pela sociedade” (ALVES, 2014, p. 288). Ainda nos diz que, “[...] nesse tipo de seleção deve ter havido a imposição do poder, uma vez que, para o primeiro quadro de docentes do Atheneu Sergipense, não houve concurso, e os ‘mais aptos’ foram indicados” (ALVES, 2014, p. 288). Com essa compreensão, quais as condições necessárias para assumir o magistério público? Como eram realizadas os exames, nomeações e substituição dos professores?

Para tratar das questões que regimentavam os concursos para professores do ensino secundáro do Atheneu Sergipense é preciso se deter aos minuciosos detalhes dos seus “rituais” por meio dos documentos legais, conforme as interpretações de Foucault (2014a). As condições necessárias para assumir o cargo docente desta instituição giram em torno da maioridade legal de 21 anos, moralidade e capacidade profissional, conforme o Art. 79 do Regulamento Orgânico da Instrução Pública. A primeira condição era provada com certidão de batismo e justificação de idade. Para comprovar a segunda, o concorrente devia apresentar folhas corridas dos lugares em que residiu nos últimos 3 anos, além de atestado de virtude conferido pelo Pároco, pela Câmara Municipal e demais autoridades judiciárias ou policiais das referidas localidades. A capacidade profissional justificada pelo exame de habilitação preliminares, sendo dispensados aqueles que cumprissem as exigências dos incisos do Art. 84.

§1.º Os Bachareis em Direito, em Mathematica, em Bellas Lettras pelo Collegio de Pedro II, os Doutores em Medicina e quaesquer outros graduados por qualquer Estabelecimento scientifico do Imperio ou estrangeiro.

§2.º Os clerigos de Ordens Sacras.

§3.º Os que exhibirem attestados de exames da materia sobre que se exige a prova de sufficiencia feitos nos Estabelecimentos geraes de Instrucção do Imperio [...] (ART. 84, REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 11).

Não se admitia como professor do ensino secundário o candidato privado de emprego público por processo disciplinar que tenha dado causa, falta de conduta moral e civil e desobediência. Tampouco àquele condenado homicídio, roubo, estelionato, furto, peculato, falso testemunho, rapto, adultério, estupro, ou por crimes contra a moral pública e a religião. Também a quem sofreu moléstias contagiosas ou mortais, salvo as exceções dos Arts. 87 e 88.

Art. 87. Quanto aos indivíduos de que tratam os paragraphos 2º e 3º do art. antecedente, si se monstrarem, depois de cumprida a respectiva pena, ou sendo perdoados pelo Poder Moderador, reformados ou rehabilitados, poderão ser admittidos ao professorato, precedendo permissão da Presidencia da Provincia e informação do Director da Instrucção.

Art. 88. No caso de reforma ou rehabilitação, deverá esta ser justificada perante a Directoria da Instrucção por testemunhas fidedignas, que deponham contestamente sobre a existencia d’ella por boa côpia de annos que indusam a convicção a seu respeito (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 12).

Nessa perspectiva, as cadeiras do ensino secundário do Atheneu Sergipense deviam ser providas por concurso. Na véspera da data marcada para realização do concurso, o Diretor da Instrucção remetia ao Presidente da Província, Francisco José Cardoso Junior, a lista de inscritos e os seus respectivos títulos de capacidade. O prazo para o processo de habilitação das cadeiras era de sessenta dias, anunciado por editais na imprensa da Capital e demais Províncias circunvizinhas. Assim, os exames das aulas de Latim ou de qualquer língua se dava por escrito e oral, sendo que para as duas provas o candidato prestava as seguintes atribuições:

A prova escripta versará: 1º Da versão para o Portuguez.

2º Da composição na língua de que se trata de um trecho de Portuguez dictado ao examinando.

A prova oral versará: 1º sobre leitura e traducção 2º sobre a grammatica da língua

3º Quanto ao Latim, sobre a medição de versos (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 13).

O exame de História e Geografia consistia no desenvolvimento escrito e na exposição oral de algum dos mais importantes períodos históricos, sendo o candidato interrogado também sobre os fatos que tenham relação com os mesmos períodos, posição geográfica do país ou países de que se tratar, assim como quaisquer pontos da Geografia terrestre,

astronômica e cronologia (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870).

No exame de Gramática Filosófica se exigia uma dissertação sobre algumas das questões importantes da ciência, onde oralmente o candidato versava um trecho de algum clássico para ser arguido nas questões ou perguntas sobre a matéria. No de Aritmética e Geometria o concorrente prestava prova escrita da solução ou demonstração de determinado problema ou teorema, além de oralmente tratar de qualquer parte da mesma ciência. Nos concursos de Filosofia Racional e Moral, assim como para Retórica e Póetica, as provas escrita e oral eram feitas a partir de quaisquer itens ou questões dessas cadeiras, procedendo também verbalmente na análise de clássicos para a última delas (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870).

Na ocorrência de mais de um inscrito aos concursos, a prova escrita de todos recaia sobre o mesmo ponto a ser arguidos pelos examinadores, como também reciprocamente entre os opositores. Para tanto, os nomes dos candidatos eram reservados em uma urna, cujo sorteio do primeiro dava o direito de avaliar o segundo por 30 minutos e assim successivamente até o último, que arguia ao primeiro. Não havia votação sobre a argumentação e a prova oral, mas a comissão examinadora ao graduar o merecimento dos concorrentes na prova escrita, atendia ao mérito da prova oral (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870).

O rito dos exames eram iniciados com a prova escrita, cuja duração nunca excedia a 2 horas. Em seguida o candidato prestava a prova oral por um tempo de 1 hora. Com o término deste processo, a comissão examinadora se reunia em uma sala reservada para analisar e julgar as referidas provas, conferindo aos opositores o grau de aprovação ou reprovação. Em seguida, o diretor do Atheneu Sergipense levava ao Presidente da Província a proposta eleita pela Congreção para ser aceita ou não, conforme o Art. 105.

Art. 105. Reunidas as provas escriptas, os documentos de habilitação dos candidatos e o termo do concurso, entregues ao presidente da Provincia, mandará este ao Director da Instrucção interpor o seu parecer sobre a capacidade intellectual e moral d’aquelles e fazer a precisa proposta. Satisfeito isto, o Presidente acceitará ou não a proposta feita, ordenando, no caso de acquiescencia, a expedição do respectivo titulo pela sua secretaria ao escolhido; caso, porém, resolva o contrario, mandará que se proceda a novo concurso (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 14).

Haviam algumas semelhanças entre as normas que regiam os concursos para professores do ensino secundário pelo Regulamento Orgânico da Instrução Pública e as

determinações do Estatuto do Liceu Sergipense, do ano de 1847. Contudo, essas regras se diferenciavam por meio das atribuições do Art. 106, que desempatavam os resultados dos candidatos na medida em que traçavam um perfil destinado a escolher o concorrente apto para prover as cadeiras do Atheneu Sergipense.

§1.º Os individuos que tiverem diplomas das Faculdades estrangeiras congeneris do Imperio.

§2.º Os que exihibirem diplomas de Faculdades estrangeiras competentemente legalisados.

§3.º Os que apresentarem documentos de approvação plena nos estudos ministrados pelos Estabelecimentos públicos de humanidades do Imperio ou estrangeiros. §4.º Os Professores adjunctos que houverem praticado satisfatoriamente por dous ou mais annos.[...] (ART. 106, REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 14).

Essas determinações representavam um poder produtor de uma individualidade, cujos os corpos são colocados em espaços esquadrinhados, hierarquizados e classificatórios para desempenhar funções segundo os objetivos específicos que deles se exigem, conforme as acepções de Foucault (2015). Assim, o professor que possuía mais diplomas e maior tempo de experiência na docência gerava um saber que o tornava apto para reger a cadeira vaga. Os candidatos que não preenchiam tais prerrogativas eram reprovados, sujeitos a prestar novos exames decorridos seis meses e a segunda tentativa só depois de 2 anos.

Os professores do Atheneu Sergipense pertenciam a duas categorias: catedráticos e adjuntos. Os primeiros também eram conhecidos como lentes. Os segundos auxiliavam o ensino sob a direção do respectivo regente da cadeira, além de fazer substituições quando haviam cátedras vagas e impedimentos dos regentes.

Art. 129. Quando se derem faltas ou impedimentos nas cadeiras de Instrucção elementar, complementar ou secundária avulsas, serão ellas substituídas pelo adjunctos, e na falta d’estes por pessoas idôneas de nomeação do Director e approvação do Governo (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870, p. 18).

Desse modo, os adjuntos eram nomeados pelo Governo sob proposta do Diretor da Instrução, entre os titulados pelo curso Normal, distintos pelo seu talento, aplicação e boa conduta, assim como os menos favorecidos de fortuna. Para tanto, os substitutos deviam comprovar moralidade, saúde e idade de 16 anos completos. O Governo também removia estes professores para outra escola e até os demitiam por conveniência do serviço público (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870).

Nestas substituições os candidatos provavam capacidade intelectual, moral e civil por meio da apresentação documentos, exame de suficiência perante o Diretor da Instrução e dois examinadores. A cadeira ficava vaga por sessenta dias e não havendo concorrentes o Governo promovia o seu provimento a uma pessoa habilitada ao cargo. Os profesores podiam permutar as cadeiras, independente de categorias e cursos, desde que suas aptidões fossem reconhecidas e esse movimento não trouxesse prejuízos para o ensino do Atheneu Sergipense (REGULAMENTO ORGÂNICO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA, 1870).

Os curso Normal e de Humanidades funcionaram regularmente no Atheneu Sergipense entre os anos de 1872 e 1874, respectivamente. Com a Resolução nº. 969, de 21 de abril de 1874, o Governo da Província autorizava a separação das cadeiras de História e Geografia, Geometria e Aritmética, e criar a de Retórica e Poética.

[...]materias complexas e amplisseimas [sic], em um anno, quer umas quer outras, são invenciveis, doutrinadas por um mesmo professor, que ou se occupará exclusivamente de um dos ramos das sciencias, objeto de sua cadeira, deixando incompleto o respectivo curso, ou passará por todos elles de um modo imperfeito e sem proveito procurado na respectiva instituição (JORNAL DO ARACAJU, 14 de jan., 1874).

Os dirigentes estavam preocupados com o andamento dos estudos realizados no Atheneu Sergipense, defendendo que a divisão das cadeiras era medida essencial para uma melhor aprendizagem dos alunos, pois “[...] os processos de instauração e de funcionamento de uma disciplina” também se prevalecia dos “sucessos alcançados” por estes agentes (CHERVEL, 1990, p. 198). Dessa maneira, os anos dos cursos de Humanidades e Normal permaneciam os mesmos, embora as aulas do primeiro tenham sido distribuídas em 12