• Nenhum resultado encontrado

6 DISCUSSÃO

6.3 CONDIÇÃO DE SAÚDE BUCAL

6.3.1 Cárie dentária

Pacientes em tratamento para o câncer podem apresentar lesões de cárie dentária com maior frequência, visto que são indivíduos com risco de hipossalivação e alteração na consistência salivar (HUTTON et al., 2010), portanto são mais propensos a desenvolver a doença (LIMA et al., 2004; FEIO; SAPETA, 2005; HUTTON et al., 2010).

O ceo-d e CPO-D médio foram de 1,8 e 3,3, respectivamente (Tabela 5), sendo interessante destacar que o número de dentes com cárie não tratada nos dois índices foi o de maior peso, 85% para elementos decíduos e 63% para permanentes (Tabela 6). No que concerne aos elementos dentários permanentes perdidos devido à cárie, obteve-se um percentual de 8%, e os elementos decíduos perdidos precocemente ou com extração indicada por motivo de lesões cariosas correspondeu a 9%. Cárie não tratada em dentes permanentes ou decíduos, no momento da coleta dos dados, foi encontrada em 56% da amostra.

O percentual maior de dentes decíduos cariados em comparação aos dentes permanentes pode ter relação com o pensamento errôneo de que os dentes decíduos não necessitam de tratamento uma vez que são temporários. Há, portanto, a necessidade de programas educativos voltados para essa temática. Analisando os conhecimentos maternos sobre saúde bucal, Coelho et al. (2005) realizaram um estudo e constataram uma desvalorização marcante da dentadura decídua em relação à permanente, em torno de 85% das mães pesquisadas. Embora o desenvolvimento da cárie precoce na infância esteja associado a diversos fatores etiológicos, o perfil materno influencia a condição bucal da criança (GUIOTOKU; GUIOTOKU, 2010).

Dos participantes em que se avaliou o ceo-d, 42% apresentaram experiência de cárie, para o CPO-D, esse percentual foi mais expressivo, 59% (Tabela 5). Todos esses dados mostram a necessidade de acesso a tratamento odontológico nos pacientes desta pesquisa já na dentadura decídua, onde o percentual de elementos não tratados é ainda mais preocupante.

Figueiredo e Nogueira (2013) verificaram que em ambos os grupos - crianças portadoras de câncer e crianças saudáveis- o número de dentes cariados obteve a maior porcentagem. Porém, os autores observaram que no grupo de pacientes oncológicos a média de dentes cariados aumentou no segundo exame realizado após 6 meses, verificando que a média dos índices de cárie no grupo de pacientes oncológicos se elevou, mostrando-se estatisticamente significante quando comparada com a do grupo controle. No estudo de Hsieh et al. (2011) não foi registrada associação significativa entre baixo fluxo salivar e maiores valores no CPO-D.

Percebe-se que embora o hospital em que foi realizada a presente pesquisa possua em sua ala pediátrica um consultório odontológico, a necessidade de tratamento dentário desses pacientes é expressiva. Uma das possíveis razões para este quadro poderia ser a necessidade de urgência em dar início à terapia oncológica, permanecendo a atenção em saúde bucal em um plano secundário. É necessário reforçar aqui a importância do serviço de Odontologia no Hospital, tendo em vista as dificuldades de deslocamento dos pacientes e de seus cuidadores, pois a maioria deles não reside em João Pessoa. Uma vez que as crianças e adolescentes necessitam permanecer grande parte do tempo no hospital, seja para a realização de consultas, exames, ou internações, que podem se tornar mais prolongadas a depender do estado de saúde geral dos pacientes e das exigências dos protocolos quimioterápicos, é estratégico oportunizar que durante este período eles sejam assistidos quanto às suas demandas odontológicas.

Sabe-se que a cárie dentária é uma doença multifatorial, e como sugeriu Peres et al. (2003b), além do enfoque às causas biológicas da doença, como dieta e higiene, o combate à cárie deve ser na melhoria das condições de vida da população, diminuir as desigualdades sociais, aumentar a renda familiar, maior escolaridade das mães, garantir escolas paras as crianças. Além da estratégia preventiva populacional, deve haver serviços de saúde voltados para o alívio da dor e sofrimento, o que melhora a QV das pessoas. Neste estudo o nível de escolaridade da maioria dos cuidadores (73%) está entre não alfabetizado e o nível de ensino fundamental completo, podendo ser um dos fatores para essa alta prevalência de cárie, principalmente a não tratada. Lisbôa e Abegg (2006), em um estudo que investigou os hábitos de higiene bucal, observaram que as pessoas com maior escolaridade praticam a escovação dentária mais frequentemente.

O monitoramento contínuo da experiência de cárie possibilita o direcionamento de recursos adicionais para as áreas com maiores necessidades (ANTUNES, PERES, MELO, 2006), verificando-se a importância da cárie ser prevenida e tratada, tendo em vista seu

potencial efeito doloroso e mutilador, podendo causar danos biopsicossociais que interferem negativamente na QV dos indivíduos (COSTA; VASCONSELOS; ABREU, 2013).

6.3.2 Alterações na saliva e mucosa bucal

Pacientes em tratamento quimioterápico estão sujeitos a apresentar xerostomia, sensação de boca seca, consequente ou não da diminuição/interrupção da função das glândulas salivares, com alterações na quantidade e/ou na qualidade da saliva (TEJADA DOMÍNGUEZ; RUIZ DOMÍNGUEZ, 2010). Morais et al. (2014) realizaram uma revisão sistemática e constataram que a condição de saúde bucal dos portadores de Leucemia Linfocítica Aguda varia de acordo com vários fatores, os resultados dos estudos pesquisados identificaram que grande parte dos pacientes com essa neoplasia apresentam alguma lesão na cavidade bucal durante ou após o início da quimioterapia.

Nos pacientes em tratamento, foram avaliadas alterações salivares na mucosa, onde, em 55% deles a saliva se apresentou espessa ou viscosa, sendo também encontradas alterações indicativas de mucosite oral nos seguintes sítios: lábio (16,7%), língua (6,7%), gengiva (6,7%), mucosa jugal e/ou palato (3,3%), mucosa labial (3,3%), problema na deglutição (3,3%), alteração na voz (1,7%) (Tabela 10). Em 39,4% dos pacientes foi observado algum grau de mucosite nos diversos sítios bucais. Percentual semelhante foi registrado por Figliola (2006) que verificou uma frequência de 46% de mucosite em pacientes pediátricos portadores de Leucemia Linfóide Aguda em algum momento do tratamento quimioterápico.

Em outra pesquisa, as manifestações bucais mais frequentes entre os pacientes em tratamento oncológico relatadas por seus cuidadores foram: mucosite (75%) e xerostomia (25%) (BARBOSA; RIBEIRO, CALDO-TEIXEIRA, 2010). Neste estudo, a manifestação mais observada foi a alteração na qualidade da saliva (55,0%), seguida de mucosite (39,4%), ressaltando-se que ambas não foram relatadas, mas avaliadas mediante exame clínico.

O hospital de tratamento do câncer possuindo um consultório odontológico com uma equipe atuante em odontologia, tanto na prevenção quanto na vigilância à saúde bucal dos pacientes, as chances de ocorrência de transtornos e complicações no tratamento por infecções odontogênicas ou por mucosite severas é reduzida significativamente(HESPANHOL et al., 2010).

A mucosite oral grave devida à toxicidade das drogas usadas na quimioterapia requer maiores períodos de internações em razão da impossibilidade de alimentação por via oral e

ainda por causa do risco de infecções sistêmicas (FIGLIOLA, 2006). Dentre as alterações bucais decorrentes da terapêutica do câncer, a mucosite afeta negativamente a QV dos portadores, por dificultar a alimentação, a fala, a nutrição e a higienização (CARVALHO; PEREIRA JÚNIOR; NEGREIROS, 2009).