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No tocante as condições a ser fixadas no ANPP, tem-se o investigado/acusado, para fins de propositura do benefício processual, deve se comprometer a: I) reparar o dano ou restituir a coisa a vítima; II) renunciar a bens e direitos vinculados a prática de delitiva; III) prestar serviços à comunidade no prazo da pena mínima cominada do delito em questão, com redução de 1/3 a 2/3; IV) pagar prestação pecuniária; e V) cumprir com outra obrigação que o MP entenda ser necessária, adequada e aplicável ao caso concreto.

90 DE BEM, Leonardo Schmitt et al. Acordo de não Persecução Penal. Belo Horizonte/São Paulo:

Editora D´Plácido, 2020. p. 207.

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do Código Penal;

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do Código Penal, a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. [...]92

Sublinha-se que a impossibilidade econômica do investigado/acusado promover a reparação do dano ou restituição da coisa a vítima, quando demonstrada, não impede a proposta de ANPP, sob pena de se estabelecer odioso tratamento diferenciado entre réus pobres e ricos no processo penal brasileiro.93

Ao que se refere o inciso II do art. 28-A CPP, o Ministério Público deve indicar o rol de bens e direitos anteriormente de exigir a confissão do investigado/acusado, quais bens ele perderá para justamente que afira as vantagens e desvantagens da celebração do ANPP.

Neste sentido Nucci destaca:

Quanto a renúncia de bens e direitos, envolve, basicamente a voluntariedade (atividade realizada livremente, sem qualquer coação) em renunciar (desistir da propriedade ou posse de algo) a bens e direitos, que consistam, conforme indicados pelo MP, instrumentos (mecanismos usados para prática do delito), produto (objeto ou direito resultante diretamente do cometimento do crime) ou proveito (tudo o que se resulta de lucro advindo do delito, de maneira indireta) do crime. Como quem indica quais são os bens e direitos a serem renunciados é o MP, pode ser que não haja acordo. Portanto, segundo cremos, antes de estabelecer qualquer confissão expressa e por escrito (mesmo que o investigado tenha concordado com isso), é preciso que o

Parquet aponte quais são os bens e direitos a serem perdidos. Não

92 BRASIL. Decreto n. 3.689 de 3 de outubro de 1.941. Código de Processo Penal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm . Acesso em 13 nov. 2020.

93 JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime Comentada: artigo por artigo. São Paulo: Saraiva

compensando ao agente, é melhor não confessar (o que para nós é facultativo) e não realizar o acordo de não persecução penal.94

O pagamento de prestação pecuniária como medida a ser fixada no ANPP, apresenta consonância com a pena restritiva de direito contida no art. 5º, inciso XLVI da CF/1988; e art. 43 inciso I e art. 45 § 1º, §2º do CP um e dois do Código Penal. Todavia, pode ser destacada uma salutar diferença quanto a destinação da prestação ($).

Diversamente da prestação pecuniária estabelecida no art. 45 pra parágrafo §1º do CP (em que o pagamento em dinheiro pode beneficiar do ofendido, seus dependentes ou entidade pública ou privada com destinação social), o pagamento da prestação pecuniária ajustada no acordo de não percepção penal pode beneficiar apenas entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito.95

O cumprimento por prazo determinado, de outra condição indicada pelo Ministério Público, (desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada), o qual disciplina o inciso V, vez que possibilita aplicação de condições específicas para o caso concreto, a serem indicadas pelo MP, observando-se as exigências do prazo determinado, proporcionalidade e compatibilidade o crime imputado.96

Portanto, as pretensões punitivas do Estado não possuem peso superior que as do investigado, e que a Administração Pública deve procurar afastar a lacuna que separa o réu das possibilidades de garantias legais, devendo apresentar o máximo de benefícios possíveis para ambas as partes. Vez que, fundamental para a busca pela paridade de armas no processo penal negocial.

4 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS DO ANPP

O procedimento do ANPP pode ser dividido em três fases: I) preliminar; que compreende a negociação e formalização do acordo; II) de homologação judicial; e III) de execução do ANPP (cumprimento das condições celebradas).

94 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17ª ed. – São Paulo. Editora

Forense, 2020. p. 221.

95 JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime Comentada: artigo por artigo. São Paulo: Saraiva

Educação, 2020. p.167.

A redação do art. 28-A do Código de Processo Penal não disciplina acerca do procedimento de negociação do ANPP, assim, vislumbrando o cabimento da proposta entende-se que o MP deve notificar o investigado para comparecimento na sede administrativa do órgão de execução ministerial, acompanhado de seu defensor, para negociação e formalização do ANPP, sendo que a ausência injustificada do investigado a audiência aprazada, estaria este manifestando-se pelo desinteresse do acordo. 97

Bem como, das linhas legais (art. 28-A, §3º, do CPP), extrai-se que o ANPP dever ser formalizado por escrito, sendo celebrado pelo membro do MP, investigado e seu defensor, decorrendo da ausência de advogado a nulidade integral do acordo. Ademais, recusando-se o Ministério Público em propor acordo de não persecução penal, possibilita-se que o investigado, interponha recurso administrativo perante o órgão colegiado do MP (art. 28-A §14 do CPP), com prazo 30 dias, a contar da data da intimação (art.28-A §1 do CPP).

No entanto, caso haja o oferecimento de denúncia, e nada obstante ser caso de acordo, restará ao magistrado receber a peça acusatória (se estiverem presentes os pressupostos processuais e condições para o exercício da ação), neste caso, o réu poderá impetrar Habeas Corpus visando o trancamento da ação penal, afinal, trata-se de exercício abusivo do poder de acusar.98

Vez que, o inadequado oferecimento de denúncia, quando cabível a proposta de ANPP, configura abuso do direito-poder de acusação, pois o MP deixa de promover seu direito de ação penal pública na forma da lei (art. 129 inciso I, in fine da CF/1988).

De igual maneira, salienta-se que atuação ministerial deve ser pautada pela discricionariedade regrada (oportunidade regrada), pois presentes os requisitos legais estabelecidos no art. 28-A, caput, §2º do Código de Processo Penal, o órgão de execução do Ministério Público tem o poder-dever de propor acordo de não persecução penal, em favor do investigado, condicionado este ao cumprimento das condições alternativas ou cumulativas dos incisos I a V do caput.99

97 JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime Comentada: artigo por artigo. São Paulo: Saraiva

Educação, 2020. p.169.

98 DE BEM, Leonardo Schmitt et al. Acordo de não Persecução Penal. Belo Horizonte/São Paulo:

Editora D´Plácido, 2020. p. 167.

99 JUNQUEIRA, Gustavo et al. Lei Anticrime Comentada: artigo por artigo. São Paulo: Saraiva

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