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4 CONVERSANDDO COM AS FLORES DO MEU JARDIM: OS

4.1 Conhecendo os sujeitos participantes

4.4.1 Dificuldades e necessidades na docência

4.4.1.1 Condições de trabalho

As informações organizadas no Quadro 13 evidenciam as situações relacionadas às condições de trabalho que podem ser traduzidas como dificuldades enfrentadas pelos professores e seu grau de influência na rotina docente que varia entre extremamente importante à de modo algum (expressa o menor grau de interesse).

Quadro 13 – Condições de trabalho

Situações

Grau de influência Extrema-

mente Muito Mais ou menos muito Não De modo algum

Acúmulo de atividades burocráticas 7 10 1 1 -

Realização de funções para as quais não teve

qualificação profissional 2 10 4 2 1

Falta de recursos tecnológicos e midiáticos 6 7 3 3 -

Ausência da família na educação dos filhos 13 3 3 - -

Situação salarial 4 4 7 4 -

Perda de tempo no trajeto de ida e volta para a escola - 2 4 6 7 Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de 20 questionários respondidos por professores do Ensino Fundamental I e II. Período: setembro-novembro de 2018.

A partir da interpretação dos dados, observamos que o acúmulo de atividades burocráticas na escola é apontado pelos professores como um dos fatores que mais dificultam o trabalho por eles realizado, tanto que 89% indicaram que esse aspecto afeta extremamente ou muito sua rotina na escola.

Ao analisarem o processo de intensificação do trabalho docente, Oliveira et al. (2012, p. 6) afirmam que “as reformas educacionais têm atuado fortemente sobre a organização escolar [...] repercutem diretamente sobre a organização do trabalho escolar, pois exigem mais tempo de trabalho do professor”, sem contar as exigências burocráticas relacionadas à docência: registros diários, planejamento, articulação do currículo comum e a parte diversificada com a presença de projetos institucionais que, na maioria das vezes, vem de cima para baixo, sem contar com a participação dos professores, que se veem submetidos à executá-los na prática educativa.

Para responderem as múltiplas demandas, como atender ao aluno individualmente e controlar a turma coletivamente, preencher vários instrumentos e formulários de controle, os professores, segundo Assunção e Oliveira (2009, p. 361), “elaboram estratégias operatórias que resultam em hipersolicitação do corpo” e constituem aspectos da “intensificação do trabalho”. Esses são dados reais observados na escola que tem fragilizado os professores, obrigando-os a realizar nos módulos II- momento destinado à formação, muito mais do que suportam para o tempo disponível.

Análise realizada pelo Ministério da Educação em 2015, a partir dos resultados de pesquisa que envolveu milhares de professores e estudantes do ensino fundamental, cujos dados foram divulgados na plataforma QEdu19, em 2018, revelam que expressivo número de professores (66%), trabalha 40 horas ou mais e que 40% deles lecionavam em duas ou mais escolas. A remuneração de um terço (34%) dos professores, era menor do que o piso salarial da categoria em 2015, que era de R$ 1.917,78. Trinta por cento dos professores acreditavam que a sobrecarga, que dificultava o planejamento da aula, atrapalhava a aprendizagem dos alunos, e 29% opinaram que a insatisfação e o desestímulo com a profissão impactavam também no aprendizado dos estudantes.

O trabalho docente não se caracterizaem entrar na sala de aula e “dar aulas”, pois, conforme Oliveira (2004, p. 1132), “o trabalho docente não é definido mais apenas como atividade em sala de aula, ele agora compreende a gestão da escola no que se refere à dedicação dos professores ao planejamento, à discussão coletiva do currículo e da avaliação”. O módulo OMC é o tempo em que o professore desenvolve a formação e agrega ainda mais qualidade ao trabalho educativo.

Apesar de incorporar à rotina de trabalho do professor os elementos citados, outros, referentes às questões administrativas e organizacional da instituição também, de modo recorrente, são acrescidas às atribuições afins dessa categoria. Del Pino et al (2009, p. 130) salientam que:

Há uma redução da qualidade do tempo e uma sensível diminuição do tempo de lazer e de descanso. A intensificação é um processo que gera uma sensação crônica de sobrecarga de trabalho. O controle foge das mãos dos trabalhadores.

19 A plataforma Qedu é um portal na internet desenvolvido pela Meritt e Fundação Lemann, para permitir que a

sociedade brasileira saiba e acompanhe como está a qualidade do aprendizado dos alunos nas escolas públicas e cidades brasileiras.

Outra dificuldade apresentada pelos professores no Quadro 13, que afeta extremamente ou muito a atividade docente e à dedicação aos processos formativos, aparece na primeira opção do quadro: Acúmulo de atividades burocráticas, que representou 68% dos votos dos docentes da E.M. José Marra da Fonseca. Segundo declaração dos professores, essa opção está relacionada à realização de funções para as quais não tiveram qualificação profissional. Em consequência das diversas atribuições que a escola pública assume, o professor “tem de responder a exigências que estão além de sua formação. Muitas vezes esses profissionais são obrigados a desempenhar funções de agente público, assistente social, enfermeiro, psicólogo. (OLIVEIRA, 2004, p. 1132). Essas ações improvisados e por vezes desvinculadas das atribuições dos professores causam-lhes frustração e descontentamento.

A terceira opção do Quadro 13 faz alusão: A falta de recursos tecnológicos e midiáticos, indicada também por 68% dos participantes da pesquisa – mesmo percentual de educadores insatisfeitos com o item “acesso à internet na escola e recursos tecnológicos digitais”, no levantamento Itaú/TPE (2018), também revelou que 52% estão descontentes com recursos e materiais pedagógicos. Fatores que interferem para o aumento das dificuldades enfrentadas pelos professores quanto à pesquisa, a formação e à divulgação dos conhecimentos nos espaços escolares.

Ferreira, (2014, p. 15) ressalta que as “novas tecnologias trouxeram grande impacto sobre a educação, criando novas formas de aprendizado, disseminação do conhecimento e especialmente, novas relações entre professor e aluno” e, exatamente por isso, continua o autor, “as escolas não podem permanecer alheias ao processo de desenvolvimento tecnológico ou à nova realidade, sob pena de perder-se em meio a todo este processo de reestruturação educacional”.

De acordo o Censo Escolar 2018, realizado pelo MEC, menos da metade (40,1%) das escolas da rede municipal têm espaços pedagógicos como biblioteca ou sala de leitura no ensino fundamental. A discrepância na disponibilidade de laboratórios de ciências é grande entre as redes de ensino. Enquanto 95,7% das escolas federais dispõem de laboratório de ciências, esse recurso é encontrado em apenas 3,4% das escolas da rede municipal. (INEP, 2019).

A situação da escola pesquisada, no período analisado, era semelhante ao que demonstrava o percentual das escolas da rede municipal apontada pela pesquisa do INEP (2019), pois a falta desses recursos midiáticos e tecnológicos dificultava a qualidade do ensino, a articulação do currículo aos projetos desenvolvidos pela equipe de trabalho e torna o ensino empobrecido e precário.

A ausência da família na educação dos filhos foi considerada um dos fatores que interfere extremamente ou muito na opinião de 84% dos professores. Os resultados de pesquisa realizada pelo MEC (2017) apontavam que os docentes também não viam as famílias dos estudantes como aliadas e os problemas de aprendizagem seriam causados, entre outros fatores, pelo meio social em que viviam os alunos e pela fragilidade do acompanhamento pelos familiares responsáveis.

A falta de participação das famílias na vida escolar de seus filhos é criticada por Colello apud Palhares (2018), em razão de que os docentes raramente contam com a ajuda da família, que em geral negligenciam sua responsabilidade com a escola no que diz respeito ao rendimento, ao baixo desempenho da aprendizagem, porque acreditam que são os professores os causadores dos problemas. Dessa forma, as atribuições dos professores além de ensinar o que lhes competem, ampliam para as ações de educar – responsabilidade das famílias.

A pesquisa “Atitudes pela Educação”, divulgada em 2014 pelo movimento Todos pela Educação, revelou que 19% dos pais de estudantes são considerados distantes do ambiente escolar e da própria relação com os filhos. Ao analisar esse dado, podemos afirmar de que os familiares, especificamente no papel de mães e pais, são responsáveis pela educação dos filhos e a aproximação com a escola estreita os laços de afetividade tanto da família com os filhos, quanto com a comunidade escolar. Novamente o diálogo aparece como um contributo à melhoria das relações humanas, da qualidade da educação e sucesso no desenvolvimento das habilidades das crianças, contribuindo para o melhor desempenho na vida escolar. (VELASCO apud TOKARNIA, 2014).

No que diz respeito a questão salarial, os professores da Escola Municipal José Marra da Fonseca declararam que, em 42% das respostas, interfere extremamente ou muito em suas vidas e com grau de interferência pouco menor para 37% deles. Segundo o levantamento Itaú/TPE (2018), 73% dos entrevistados apontavam insatisfação com esse aspecto da carreira, considerando que a remuneração média atual de um professor do ensino fundamental I e II no Brasil, na rede municipal é de R$ 4.610,98. Esses dados foram coletados pela pesquisa Itaú/TPE (2018) que identificou as informações a partir da participação dos profissionais da educação, muito preocupados com as condições de trabalho e salarial da categoria docente.

Em relação à perda de tempo no trajeto de ida e volta para a escola, apenas 10% dos docentes dizem que isso se traduz em dificuldade, enquanto 68% consideram que interfere “não muito” ou “de modo algum”. É uma situação bem diferente da vivenciada por 30% dos entrevistados na pesquisa Itaú/TPE (2018), que precisam cruzar municípios todos os dias, já que moram e trabalham em cidades diferentes. Isso porque, apesar de 90% dos

participantes de nossa investigação não residirem no distrito de Cruzeiro dos Peixotos, a maioria não considera o deslocamento de suas residências até a escola como uma dificuldade.