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4 CONVERSANDDO COM AS FLORES DO MEU JARDIM: OS

4.1 Conhecendo os sujeitos participantes

4.2.3 Formação inicial: impactos da graduação na vida docente

significativamente. Há um processo de aceitação plena de si como pessoa e profissional”.

Na última fase, de desinvestimento, recuo e interiorização (35 a 40 anos de carreira), está um professor com mais de 60 anos de idade. Souza e Magalhães (2016) destacam que, nesse estágio, o professor se dedica mais a si mesmo, com valoração do aspecto social, familiar e em outros aspectos da convivência humana. Isso nos leva a inferir que esse docente mantém uma postura positiva face ao desinvestimento profissional, libertando-se progressivamente do trabalho, sem lamentações, para dedicar mais tempo a si próprio e a outros interesses extraescolares.

4.2.3 Formação inicial: impactos da graduação na vida docente

A totalidade dos professores participantes da pesquisa cursou graduação, sendo que 70% estudaram em instituições públicas, como mostra o Quadro 10.

Quadro 10 – Formação acadêmica inicial

Área

INSTITUIÇÃO PÚBLICA INSTITUIÇÃO PARTICULAR

TIPO DE GRADUAÇÃO TIPO DE GRADUAÇÃO

Licenciatura/

Bacharelado Pedagogia Licenciatura/ Bacharelado Pedagogia

Humanas 12 2 1 5

TOTAL 14 6

Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de 20 questionários respondidos por professores do Ensino Fundamental I e II. Período: setembro-novembro de 2018.

Os dados do quadro revelam que 12 docentes são formados em cursos de licenciatura e bacharelado e dois em pedagogia. Dos 30% que cursaram em instituição particular, 25% são do curso de pedagogia, que representam o dobro dos que concluíram no ensino público.

Os professores consideram importante a formação inicial porque lhes propiciou conhecimentos básicos para a docência, contribuiu para o desenvolvimento profissional, ofereceu subsídios para articular teoria e prática e despertou o interesse pela pesquisa, no entanto, fazem uma série de críticas à graduação: “As aulas não eram muito produtivas e não apresentavam discussões interessantes, além de não contemplar a educação do campo, contexto em que estou atuando” (Flor-de-leopardo). Na opinião da flor Beijinho, a formação inicial: “Forneceu-me condições básicas para o exercício da profissão, mas não o suficiente para lidar com as diferentes situações vividas nos contextos em que estamos vivendo”.

Para Kalanchoe Laranja, “a formação inicial que realmente impactou em meu trabalho foi aquela voltada para as práticas reais de sala de aula. A formação foi bastante teórica e sem conexão com as dificuldades que eu encontraria em minha profissão”.

Avaliação semelhante faz Glória-da-manhã, ao comentar que percebeu divergências entre o que aprendeu na graduação e o que encontrou na escola quando começou a lecionar. Para ela, a formação inicial “trazida da graduação, foi incipiente, uma vez que as práticas docentes e estágios são de poucas horas e não contribuíram com o meu cotidiano escolar. Foi possível perceber o descompasso entre a prática (sala de aula) e as aulas na graduação (teoria)”. A realidade é que, como analisam Pimenta e Lima (2006, p. 6), “os currículos de formação têm-se constituído em um aglomerado de disciplinas, isoladas entre si, sem qualquer explicitação de seus nexos com a realidade que lhes deu origem” e as teorias são consideradas tão somente como saberes disciplinares nos cursos responsáveis pela formação docente que segundo as mesmas autoras “em geral, estão completamente desvinculados do campo de atuação profissional dos futuros formandos”. (PIMENTA E LIMA, 2006, p. 6).

O problema é que “a política educacional brasileira faz alusão à profissionalização de professores baseada no desenvolvimento de competências, destacando o saber prático docente, o ‘saber fazer’, e, por conseguinte estabelecendo estreitas relações com o sistema produtivo mundial”. (ROCHA; POZZEBON, 2013, p. 78).

Exatamente por isso, o desafio maior das instituições formadoras de docentes, segundo os autores, “continua sendo a formação do professor, sem cair no marasmo de formar simplesmente para ‘saber fazer’, mas para ‘saber explicar o que faz’, em um processo dialético entre teoria-prática”. (ROCHA; POZZEBON, 2013, p. 78-79).

Embora as críticas sejam pertinentes e necessárias, expressiva parcela dos participantes concorda que a formação inicial é fundamental, a exemplo de Zínia Laranja, para quem “a apropriação dos conteúdos na formação inicial é importante para a atuação profissional”. Para Cravo Laranja na sua formação inicial, adquiriu “conhecimento e hábito para a pesquisa em função de estudos relacionados à formação e, consequentemente, aplicação no trabalho que se efetiva no dia-a-dia”. Já Kalanchoe Amarelo afirma que “Foi a partir da formação que eu tive um interesse em conhecer o aluno como um todo, tentando identificar suas necessidades”. Outros docentes também declaram que a formação inicial é importante porque:

Oportuniza a troca de experiências, a socialização de conhecimento e o contato com os colegas de profissão [...] possibilita o aperfeiçoamento de metodologias, a reflexão teórica e a assimilação de novas ideias e conceitos”. (Vinca Rosa)

Contribuiu para a inserção no espaço escolar e despertou o interesse em desenvolver a pesquisa e o conhecimento pelas diversas áreas da educação. O trabalho docente foi sendo estimulado pelos desafios que a prática pedagógica exige”. (Olho-de-boneca).

Os resultados de nossa investigação se aproximam dos achados da pesquisa “Profissão Docente”, cujos dados mostram que não há consenso sobre o papel da formação inicial: um terço dos participantes (33%) discorda que essa formação preparou para os desafios da docência, enquanto quase um terço (29%) concorda. Essa concordância é maior para os professores de etapas iniciais, que cursaram pedagogia e também com mais tempo de carreira. Não há diferença entre quem se formou em curso da rede pública e da privada. (ITAÚ; TPE, 2018).

De acordo com a pesquisa Itaú/TPE, os professores consideram relevantes os temas relativos a formação docente, sendo a menor importância dada aos teóricos da educação que, coincidentemente, estão inseridos no tema apontado pelos entrevistados como o mais bem trabalhado nos cursos de graduação. Honorato (2018) destaca que para os docentes não basta a presença física de um professor munido de um lápis, um livro, por melhor que ele seja, não são suficientes para fazer a educação tornar-se pontual, mas é preciso considerar um conjunto de condições materiais, profissionais e de direito para efetivar a aprendizagem dos alunos de modo real, significativa e promotora de mudanças.

Por considerar tais condições de trabalho como essenciais para a formação contínua dos professores é que a flor Bananeirinha-de-Jardim tem consciência disso e enfatiza que “a formação é um dos pilares para garantir o bom desenvolvimento profissional, porém, ela sozinha não consegue esse feito. É preciso aliar a formação ao contexto escolar”. Ele sustenta que “deveria ser obrigatório a todo aluno das licenciaturas passar mais tempo dentro das escolas públicas.

O estágio deveria acontecer em todos os períodos nos cursos de licenciatura”. Pimenta e Lima (2006, p. 6) entendem que o estágio se constitui como um campo de conhecimento que necessita atrelar-se a:

Um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental. [...] o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas”, podendo, segundo as autoras, constituir-se em atividade de pesquisa.

Nesse sentido, o estágio como atividade curricular é considerado pelas autoras como uma “atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade,

este sim objeto da práxis. [...] é no trabalho docente do contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá”. (PIMENTA; LIMA, 2006, p. 14).