• Nenhum resultado encontrado

O termo formação não é utilizado apenas na ambiência escolar e está, segundo Garcia (1999, p. 11) “na boca de todos”. No campo da educação, podemos entendê-la como “um

conjunto de condutas, de interações entre formadores e formandos, que pode ter múltiplas finalidades explícitas ou não, e em relação às quais existe uma intencionalidade de mudança”. (GARCIA, 1999, p. 21).

Atribuímos a formação do professor a um processo multidimensional, que ocorre em todas as instâncias da sua existência. Assim, reveste-se de importância o fato de processos de formação contínua serem essenciais para configurar nova modalidade para tornar permanente a prática do diálogo, da pesquisa e das trocas de experiências nos contextos escolares.

A formação de professores pode ser compreendida como um processo de desenvolvimento profissional que abrange as experiências iniciais dos professores na escola e continuamente em ascensão pela vida toda. A continuidade desse desenvolvimento, como indica o autor, depende do modo como os professores são valorizados em sua profissão, amparados por melhores condições de trabalho, salário e apoio permanente para a formação contínua em serviço. (IMBERNÓN, 2000b).

A relação do sujeito com o mundo do trabalho mudou e, consequentemente, também mudaram as exigências formativas dos indivíduos. A formação de modo contínuo se tornou uma exigência do mundo hodierno, tem repercussão nas diversas esferas sociais e impacta na vida de todos: da comunidade, do empresário, do político, do trabalhador. Uma nova ordem mundial vem sendo proposta desde os anos 1970, a partir de termos como informática, competitividade, desregulamentação e estado mínimo. Para Freitas (1992, p. 4-5), o padrão de exploração da classe trabalhadora foi modificado para facilitar a geração de riqueza:

Nos anos 70, o padrão de exploração implicava ampla fragmentação das tarefas de produção, acompanhada por rotatividade do trabalhador de forma a baixar seus salários. Neste processo, a formação do trabalhador era bastante limitada e rapidamente conduzida no posto de trabalho por observação direta ou por cursinhos rápidos no interior da fábrica. O que importava era o domínio de um conjunto limitado de tarefas realizadas dentro de um certo ritmo. O nível educacional da força de trabalho é, nesta perspectiva, apenas um elemento complementar e a pouca qualidade da escola não incomoda.

Freitas ressalta que o neoliberalismo avançou pelo mundo a partir dos anos 1980 e acentua que “o velho padrão de exploração é superado e novas exigências são feitas para a organização do Estado, para o trabalhador, para a escola e para a formação dos professores”. (FREITAS, 1992, p. 5).

Na opinião do autor, é importante que façamos, ao falarmos sobre processos formativos, um exame crítico das propostas nesse âmbito, pois precisamos “desvelar os projetos políticos que estão nelas embutidos, já que estes são elementos importantes na escolha das ideias que

chegam ou não até a escola”. (FREITAS, 1992, p. 5). Tal escolha não é feita de forma alheia aos interesses do capital e está incrustrada nas instituições formadoras.

As universidades e os institutos de ensino superior responsáveis pela formação dos futuros professores estudam a base para a docência e não fogem da ideologia dominante, por isso, a “excelência desse profissional está atrelada principalmente às suas condições de trabalho e a sua formação inicial e contínua”. (DI GIORGI et al, 2011, p. 15). É importante, então que se debata a importância da formação dos professores e a qualidade do que se articula no âmbito dessa formação, das disciplinas que compõem os cursos de formação e o compromisso para com as necessidades formativas dos docentes.

Sobre o papel das universidades públicas na formação dos educadores, Freitas (1992, p. 7) afirma que carece de atualização, pois:

A estrutura da nossa universidade responde a exigências econômico-sociais de mais de 20 anos atrás [...] não bastassem questões estruturais, os cursos de graduação encarregados da profissionalização encontram-se com graves problemas: asfixia de recursos, falta de motivação por parte de alunos e professores, infraestrutura deficiente, bibliotecas defasadas.

É pertinente salientar que a falta de uma visão governamental que priorize o ensino no país, leva à queda de qualidade não só nas escolas básicas, mas também, nas de nível superior. Desta forma, as práticas formativas são prejudicadas, com conteúdo curricular organizado sem a preocupação em articular teoria e prática educativa. Trata-se, inegavelmente, de uma formação desvinculada das intenções dos futuros professores. Seria um equívoco, porém, afirmar que é na formação inicial que o professor conseguirá qualificar-se plenamente. Assim, reveste-se de particular importância que, após o término da formação inicial, o professor procure qualificar-se em serviço a partir de suas necessidades.

A participação dos educadores na planificação de ações de formação poderia levar a um exercício da docência com mais qualidade, mas, geralmente, a formação ignora o que pensam, sentem e necessitam. Di Giorgi et al. (2011) lembram que o protagonismo dos professores na organização de melhores condições de estudo e qualificação é negado pelas instituições formadoras.

Conforme Garcia (1999), a formação de professores é um processo contínuo, organizado e também sistemático, ou seja, ela engloba toda a carreira profissional. O autor evidencia que tanto a formação inicial como a contínua – seja em serviço ou não –, são ininterruptas.

Segundo a opinião de Torres (1999), a formação inicial é vista pelos organismos internacionais como desqualificada e insuficiente. Desse modo, a formação contínua, torna-se

pontual na agenda dos investimentos públicos para a capacitação em serviço. O Banco Mundial, um desses organismos, considera problemática a formação inicial e, ao invés de fomentar investimentos para o ensino superior, incentiva a capacitação em serviço para baratear os custos. Conforme mencionado pela autora (1999, p. 103), “os professores e suas organizações são vistos como obstáculo e como insumo caro”.

Independentemente da clareza que temos de que o processo de formação é contínuo, uma vez que somos inacabados, entendemos que a formação inicial é essencial para que, a partir dela, os docentes tenham, inclusive, criticidade suficiente para escolher suas próprias maneiras de continuar sua formação. Freire (1996a, p. 55) afirma que somos seres inconclusos: “Onde há vida, há inacabamento”, contudo, esse inacabamento não é sinônimo de adaptação passiva, ao contrário, porque o autor reafirma, em toda a sua obra, que o professor tem que andar de mãos dadas com princípios de educação emancipatória e rebelar-se contra qualquer fórmula educacional que seja planejada sem a participação de seus principais atores: os educadores. Freire é radicalmente contra pacotes de formação que chegam às mãos dos professores como caixas de surpresa:

Percebe-se como uma tal prática transpira autoritarismo. De um lado, nenhum respeito à capacidade crítica dos professores, a seu conhecimento, à sua prática; de outro, na arrogância com que meia dúzia de especialistas que se julgam iluminados elabora ou produz o “pacote” a ser docilmente seguido pelos professores que, para fazê-lo, devem recorrer aos guias. (FREIRE, 2001b, p. 71).

As instituições de ensino, responsáveis pela formação inicial dos docentes, devem contribuir para sua qualificação, mas eles também devem avançar em seus esforços para encontrarem, no serviço, espaços para continuarem se qualificando, como por exemplo, fazendo com que a análise das necessidades formativas seja o ponto inicial da formação contínua. Nesse sentido, Melo (1999, p. 26) descreve que a formação é um processo:

Inicial e continuado, que deve dar respostas aos desafios do cotidiano escolar, da contemporaneidade e do avanço tecnológico. O professor é um dos profissionais que mais necessidades tem de se manter atualizado, aliando à tarefa de ensinar a tarefa de estudar e transformar essas necessidades em direito fundamental para o alcance de sua valorização profissional e desempenho em patamares de competência exigidos pela sua própria função social.

Parece evidente que a formação inicial é um dos primeiros movimentos na vida profissional dos futuros docentes, no entanto, não é somente nela que os professores conseguem

a plenitude dos saberes, o domínio de todos os conteúdos inerentes à sua prática. Logo, é de suma importância o fato de que a formação contínua em serviço deve ser levada em consideração para proporcionar aos professores a condição de permanente aprendizado, seja nos aspectos pedagógicos ou específicos - ações necessárias à educação contemporânea.