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2 CONCEITOS DE POBREZA: DA POBREZA UNIDIMENSIONAL À

4.3 Condições de saneamento

O tratamento de esgoto dos domicílios brasileiros e gaúchos ainda não era adequado. As informações coletadas demonstraram que, no Brasil, em 2010, pouco mais da metade (55,45%) do total de domicílios possuía dejetos coletados por rede geral, enquanto no Rio Grande do Sul esse total não chegava à metade das habitações (48,10%).

Se se considerasse como tratamento adequado, além da ligação na rede geral, a utilização de fossa séptica para o recebimento dos dejetos e das águas servidas, a situação melhoraria, mas, mesmo assim, não atingiria 75% em nenhum dos territórios, ainda que o Rio Grande do Sul tenha se aproximado desse percentual. Essa melhor condição do estado foi alcançada devido a uma utilização bem mais ampla de fossas sépticas em relação ao país (26,46% e 11,61%, respectivamente). Trata-se de um percentual, sem qualquer dúvida, longe do ideal.

Gráfico 14 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do esgoto – total dos domicílios

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

Nas áreas urbanas, como se esperava, o percentual dos domicílios ligados à rede geral ultrapassou os 50%. Porém, tanto no Rio Grande Sul como no Brasil, não alcançou 70%. As ligações realizadas com fossa séptica representaram, também nessas áreas, importante complemento para um tratamento adequado dos dejetos, pois permitiram que, no caso do estado, mais de 80% das moradias atingissem essa condição e que o país ultrapasse os 75%.

Nas zonas rurais, a utilização de fossa rudimentar foi o procedimento que teve o percentual mais elevado, ultrapassando 50% dos domicílios tanto no Brasil (53,94%) como no Rio Grande do Sul (54,65%). Ao verificarem-se os domicílios que despejavam seus dejetos em valas, rios, lagos ou mar, os que davam outro destino ou que simplesmente não possuíam qualquer tipo de tratamento de esgoto, foi possível perceber a profundidade do problema sanitário das zonas rurais, uma vez que essas moradias correspondiam a quase 30% das habitações rurais do país e ultrapassavam 11% no estado no período em análise.

Figura 9 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do esgoto – urbanos e rurais

Gráfico 15 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do esgoto – urbanos

Gráfico 16 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do esgoto – rurais

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

Outra indicação das condições de saneamento dos domicílios é a existência ou não de banheiros de uso exclusivo ou de sanitários. Nas três condições sob análise (existência de banheiro exclusivo, existência de sanitário, inexistência de banheiro ou sanitário), o Rio Grande do Sul apresentou percentuais superiores aos do Brasil. Ao verificar-se o total dos domicílios, observou-se uma diferença percentual de menos de 3 pontos entre os dois territórios quanto às moradias que possuíam banheiro de uso exclusivo. Diferenças ainda menores foram observadas nos casos de existência de sanitários (2,69 pontos percentuais) e de inexistência de banheiros ou sanitários (1,98 pontos).

Gráfico 17 – Percentual de domicílios por existência de banheiro de uso exclusivo ou sanitário – total dos domicílios

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

Nas zonas urbanas, conformando as expectativas, foram encontrados percentuais de mais de 90% de domicílios com banheiro de uso exclusivo tanto no país como no estado, tendo sido a diferença entre os territórios gaúcho e brasileiro inferior a 2 pontos percentuais. Diferença similar foi verificada nas moradias que possuíam sanitários, e índices menores que 1% de domicílios que não tinham nenhum dos dois cômodos foram apurados tanto no Brasil como no Rio Grande do Sul.

Foi nas zonas rurais que o Rio Grande do Sul apresentou um desempenho amplamente favorável quando comparado com o Brasil. Nessas regiões, o percentual de domicílios gaúchos com banheiro de uso exclusivo ultrapassou os 90%, superando os domicílios brasileiros em mais de 20 pontos percentuais. Nas situações de habitações sem banheiro exclusivo ou mesmo sem banheiro ou sanitário, foi o país que superou o estado, sendo que a maior diferença estava, justamente, na pior das condições. Os domicílios brasileiros que não possuíam banheiro ou sanitário eram, percentualmente, 12 pontos superiores aos gaúchos.

Figura 10 – Percentual de domicílios por existência de banheiro de uso exclusivo ou sanitário – urbanos e rurais

Gráfico 18 – Percentual de domicílios por existência de banheiro de uso exclusivo ou sanitário – urbanos

Gráfico 19 – Percentual de domicílios por existência de banheiro de uso exclusivo ou sanitário – rurais

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

Com relação à existência ou não de água potável21, o Rio Grande do Sul também apresentou condições mais favoráveis que o Brasil. No total de domicílios, nas zonas urbanas e nas zonas rurais, o contingente de domicílios que possuíam água potável no estado superou o país.

A grande maioria dos domicílios brasileiros e gaúchos (mais de 80%) era abastecida por água oriunda da rede geral, com o percentual do estado superando o do país em 2,48 pontos percentuais quando analisado o total dos domicílios. As habitações que eram abastecidas pelas duas outras fontes de água potável (poço ou nascente) pertencentes à propriedade contribuíram para elevar a qualidade do abastecimento com percentuais baixos se comparados com os da rede geral (10,03% e 11,26%, no país e no estado, respectivamente).

O total dos domicílios não abastecidos22 com água potável não atingiu os 10% em nenhum dos dois territórios. Mesmo assim, esse percentual representa uma parcela significativa de brasileiros sem acesso direto a uma fonte de água, o que é um fator preocupante quando se discutem as privações a que estão submetidos os habitantes.

21 Origem na rede geral, em poço ou nascente.

22 Incluem-se nesta categoria os domicílios cujas fontes de água são: poço ou nascente fora da

propriedade; carro-pipa ou água da chuva; rio, lago ou açude; poço ou nascente na aldeia; poço ou nascente fora da aldeia; outra fonte de água.

Nos domicílios localizados em áreas urbanas, quase a totalidade era abastecida de água através da rede geral. Em ambos os casos, país e estado, os percentuais relativos a essas moradias foram maiores do que 90%. Quando somados a esses domicílios os que utilizavam água oriunda de poços ou nascentes pertencentes à propriedade, observou-se que menos de 3% das habitações do Brasil não possuíam acesso à água potável, percentual este que foi inferior a 2% no Rio Grande do Sul.

Gráfico 20 – Percentual de domicílios com/sem água potável – total dos domicílios

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

Quando realizada a análise das zonas urbanas e rurais separadamente, evidenciou-se o fato de que foram estas que puxaram para baixo o índice geral. Nas áreas rurais, as principais fontes de abastecimento de água eram os poços e nascentes existentes dentro das propriedades onde se localizavam os domicílios. No caso do Rio Grande do Sul, a segunda fonte de água era a rede geral, com um percentual de aproximadamente 37%, contra 46,65% de poços e nascentes localizados na propriedade. Já no Brasil, a situação apresentou-se de forma diferente. Mesmo que as principais fontes fossem, como no estado, os poços e as nascentes na propriedade, os domicílios brasileiros sem abastecimento de água potável ultrapassaram os 25% e superaram os abastecidos através da rede geral em 6,91 pontos, demonstrando, dessa forma, uma situação mais frágil do que a dos domicílios gaúchos.

Figura 11 – Percentual de domicílios com/sem água potável – urbanos e rurais

Gráfico 21 – Percentual de domicílios com/sem água potável – urbanos

Gráfico 22 – Percentual de domicílios com/sem água potável – rurais

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010).

O tratamento do lixo produzido pelos moradores de um domicílio é outro aspecto a ser considerado quando se avalia as condições de saneamento. Nesse item, o Rio Grande do Sul também apresentou condições sanitárias mais elevadas que o Brasil.

Mesmo que ambos os territórios apresentassem percentuais superiores a 85% dos domicílios com lixo coletado23 – o que é um índice elevado –, no estado, o percentual superou os 92%, enquanto o país não atingiu 90% dos domicílios nessa categoria. A diferença de 4,67 pontos percentuais a mais para o Rio Grande do Sul, em domicílios com lixo coletado, era praticamente a mesma (4,83) existente entre os percentuais, do país e do estado, no caso dos domicílios onde não havia coleta. Mas, nesse caso, o percentual do Brasil foi maior que o do Rio Grande do Sul 24. Já os domicílios nos quais o lixo tinha destino diferente dos acima representaram menos de 1% no país e no estado.

23 Considerou-se, nesta categoria, o lixo coletado por serviço de limpeza ou em caçamba de serviço de

limpeza.

24

Domicílios sem coleta são aqueles em que o lixo é queimado ou enterrado na propriedade ou então jogado em terreno baldio, em logradouro, rio, lago ou mar.

Gráfico 23 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do lixo – total dos domicílios

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IBGE (Censo 2010)

A diferença, próxima a cinco pontos percentuais, a favor do Rio Grande do Sul no total dos domicílios pode ser explicada por um percentual de quase 50% de lixo coletado na área rural gaúcha, contra um percentual de pouco mais de 26,92% nas zonas rurais brasileiras, já que a diferença entre as áreas urbanas entre os dois territórios foi inferior a 2%. Os demais destinos praticamente não existiam nas zonas urbanizadas e eram baixos nas zonas rurais no período em análise.

Figura 12 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do lixo – urbanos e rurais

Gráfico 24 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do lixo – urbanos

Gráfico 25 – Percentual de domicílios por tipo de tratamento do lixo – rurais