• Nenhum resultado encontrado

A 15ª Conferência Nacional de Saúde foi realizada em Brasília, entre os dias 01 e 04 de dezembro de 2015, com o tema: Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas: direito do povo brasileiro. A etapa final da 15ª CNS aglutinou o trabalho realizado em mais de 4.700 conferências municipais e estaduais com a participação de mais de um milhão de pessoas. Na etapa nacional, como as demais, os delegados foram distribuídos da seguinte forma: 50% de usuários do SUS, 25% de trabalhadores do SUS e 25% entre gestores e prestadores de serviços. Segundo o manual do participante da 15ª CNS, para a etapa nacional

eram esperados 3.260 delegados, 980 convidados e 98 participantes livres. Aos delegados

caberia analisar e deliberar sobre 625 proposições advindas das conferências estaduais e distrital.

A conferência iniciou com o credenciamento dos participantes, a cerimônia de abertura e um ato simbólico, a Marcha em Defesa do SUS, que levou centenas de pessoas até a frente do Congresso Nacional. No dia primeiro foram previstas ainda a realização de onze atividades, denominadas autogestionadas, organizadas pelos próprios participantes para discutir e articular estratégias de atuação na etapa nacional. Na manhã do segundo dia, ocorreu a mesa de abertura da conferência, com o tema “Reformas Democráticas e Defesa do SUS”, seguida de seis amplas mesas de debates, chamados de Diálogos Temáticos. À tarde

iniciaram os grupos de trabalho (GT) – quatro para cada eixo23 – que tiveram por finalidade

debater e votar as proposições encaminhadas pelas etapas estaduais, conforme definido no Regulamento da Etapa Nacional.

O Regimento da 15ª estabeleceu critérios para a aprovação das proposições nos GTs e na Plenária Final. Segundo matéria veiculada dia 04/12/2016, no site da 15ª CNS, 80% das

proposições foram aprovadas definitivamente ainda nos GTs e 13% do total foram

23 I- Direito à Saúde, Garantia de Acesso e Atenção de Qualidade; II - Participação e Controle Social; III - Valorização do Trabalho e da Educação em Saúde; IV - Financiamento do SUS e Relação Público-Privado; V - Gestão do SUS e Modelos de Atenção à Saúde; VI - Informação, Educação e Política de Comunicação do SUS; VII - Ciência, Tecnologia e Inovação no SUS; VIII - Reformas Democráticas e Populares do Estado. O eixo VIII foi um eixo transversal a todos os demais eixos da conferência.

descartadas. Nesse sentido, apenas 7% restaram para apreciação da Plenária Final, a qual ocorreu ao longo de todo o dia 04 de dezembro e foi seguida pelo encerramento da 15ª CNS.

A comissão organizadora da conferência publicou e publicizou o Documento Orientador de apoio aos debates da 15ª CNS, para apresentar e explicar o temário do evento, as expectativas quanto a sua realização da etapa nacional e algumas propostas encaminhadas pelo CNS.

O ambiente político-social em que acontecerão essas conferências é desafiador. O país enfrenta uma crise econômica e política que favorece propostas conservadoras e antidemocráticas, as quais colocam em risco os pilares do Estado de Direito e os avanços políticos e sociais das últimas décadas. O momento exige o compromisso efetivo do Estado, dos governos e da sociedade na defesa da democracia e da cidadania. (CNS, 2015, p.02)

Da organização do temário, foi apresentado o eixo 08 – Reformas Democráticas e Populares do Estado – como transversal aos demais eixos, por transpor a área da saúde e discutir entre outros assuntos as reformas políticas, tributárias e do poder judiciário.

Sabemos que o país ainda não alcançou o patamar de qualidade de vida desejável para toda sua população, muito menos foram superadas todas as questões sociais que historicamente deram origem e mantêm as mais diversas e diferentes formas de desigualdade, discriminação e injustiça social. Além disso, algumas das recentes conquistas encontram-se sob forte ameaça devido à crise econômica mundial, agravada por crises políticas. Essa conjuntura favorece a imposição de interesses externos com a intenção de manter a ordem hegemônica do capitalismo globalizado. (CNAs, 2015, p.05)

Por meio da nossa participação na etapa nacional tivemos acesso a matérias de

entidades e de coletivos organizados sobre a conjuntura que aconteceu nessa conferência24. O

ano de 2015 foi marcado, como seus antecedentes, pela mobilização de vários segmentos organizados da sociedade civil através manifestações que expressaram diferentes posições sobre o ambiente político e institucional do país. Nas várias posições assumidas, destaca-se a desconfiança com relação à institucionalidade política, legitimidade e competência dos gestores públicos. De forma diferenciada, este ano será lembrado pela sua grande instabilidade política, com repercussões nos mais variados setores da sociedade, inclusive na política de saúde.

Em outubro de 2015 foi realizada uma ampla reforma política, integração de alguns ministérios e mudanças de ministros de estado. No tocante à política de saúde, a responsabilidade sobre o Ministério da Saúde deixou de ser de um representante do partido do

24 Entre os materiais destacamos o material entregue aos delegados da conferência Em Defesa do SUS Universal e Igualitário, formado por um conjunto de textos de atores reconhecidos no SUS e organizado pela revista Le Monde Diplomatique Brasil, em parceria com o Governo Federal, Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde e Organização Pan americana de Saúde (OPAS).

governo (PT) e passou a ser ocupado pelo principal partido da base aliada (PMDB). Este episódio gerou grande repercussão, inclusive com a manifestação de duas importantes

entidades reconhecidas pela militância da reforma sanitária. Na nota “Dilma, preserve os

interesses públicos na saúde! Saúde é política de Estado”, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES) se manifestaram:

Repudiamos veementemente que a gestão do Ministério da Saúde seja exercida por grupos e gestores que nunca demonstraram compromisso efetivo com o SUS único, universal e que, ao contrário, compõe as forças cada vez mais hegemônicas da mercantilização do setor. Sempre defendemos e lutamos pelo direito universal à saúde a partir de um lugar central no projeto de desenvolvimento, assim como pelo caráter público e universal do SUS como Política de Estado e, para isso, o Ministério da Saúde tem papel estratégico nos governos na construção da justiça social, dos direitos sociais e da cidadania. É por isso que a Saúde não pode servir como moeda política tal como ocorre nesse momento em que estão em jogo a governabilidade de uma coalizão inviável historicamente, assim como as eleições municipais de 2016 (CEBES; ABRASCO, 2015).

A instabilidade política do ano de 2015 chegou ao ponto máximo com a abertura do processo que resultaria no Impeachment da presidente da República. No dia 02 de dezembro de 2015, a abertura desse processo foi autorizada pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), por suposta edição, no ano de 2015, de decretos de créditos suplementares sem a autorização do Congresso Nacional. Conforme pudemos observar na conferência, este fato gerou manifestações de apoio à presidente, possibilitando inclusive, sua participação na manhã do dia 04 de dezembro, quebrando o protocolo da conferência. Em meio à conferência surgiu a expressão “Saúde da Democracia!”, utilizada pela presidente para indicar que era preciso defender o país e também o Sistema Único de Saúde, de um golpe que começava a ser implementado. “Não vamos nos enganar, o que está em jogo agora são as escolhas políticas que nós fizemos nos últimos 13 anos. São 13 anos em favor da soberania do Brasil em defesa sistemática do povo brasileiro, do emprego da renda de oferta de serviços de qualidade”. (PORTAL BRASIL, 2015).

Resta-nos indicar que no contexto daquela conferência os desdobramentos e motivações da abertura do processo de impeachment não eram de todo conhecidos, as reações destoavam, alguns manifestavam indignação e preocupação com o processo, outros demonstravam indiferença e até certo mesmo incômodo com o conteúdo político-partidário, presente ao longo da 15ª CNS. Diante de um contexto político instável, a conferência seguiu posicionando-se sobre os grandes acontecimentos da política nacional. Em 2015, certamente o posicionamento mais contundente foi sobre a retomada da mobilização popular pela manutenção dos direitos constitucionais.

Documentos relacionados