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CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES

5.1 CONCLUSÕES

5.1.4 Confirmação dos pressupostos

Os dados analisados sinalizam que todos os quatro pressupostos levantados por este estudo podem estar corretos; cada um com um determinado grau de contribuição para explicar o que está acontecendo, conforme exposto no capítulo 1. A partir dos dados coletados e analisados, avaliou-se a quantidade em que cada um dos pressupostos contribui para explicar a situação estudada. Chegou-se às deduções relatadas a seguir:

O pressuposto 1: “o percentual médio mensal, informado pelas empresas, de empregados expostos a agentes nocivos com direito a perceber aposentadoria especial (enquadrados nas condições previstas para concessão desse benefício) vem diminuindo porque essas empresas estão investindo em prevenção e melhoria dos ambientes de trabalho e expondo cada vez menos os seus segurados a riscos ocupacionais” contribui pouco para explicar o problema lançado por esta pesquisa. Esta explicação só apareceu evidenciada em uma indústria de transformação (empresa M). Ocorreu uma redução gradual no número de trabalhadores enquadrados com direito ao benefício, e a empresa foi fiscalizada em 2003, não havendo contestação das informações notificadas, durante a ação fiscal.

Para o pressuposto 2: “o percentual médio de empregados expostos a agentes nocivos com direito a perceber aposentadoria especial informado pelas empresas cujas atividades expõem seus trabalhadores a agentes nocivos em condições que permitam a concessão da aposentadoria especial vem diminuindo porque, depois da implementação da cobrança dos adicionais para financiar o custeio do benefício, por não desejarem recolher o adicional de 6, 9 ou 12 %, elas podem estar sonegando essas informações” há indícios de ter acontecido em cinco empresas (F, J, K, L, e N). Essas empresas reduziram drasticamente as informações relacionadas aos trabalhadores com direito ao benefício sem uma explicação aparente (três delas passaram a informar inexistência de expostos), em três empresas fiscalizadas houve lançamento fiscal por falta de enquadramento de trabalhadores em situação de risco ocupacional.

O pressuposto 3 “o percentual médio mensal de empregados com direito a perceber aposentadoria especial informado pelas empresas cujas atividades expõem seus trabalhadores a agentes nocivos nas condições previstas para a concessão da aposentadoria especial vem diminuindo porque, antes da referida cobrança, as empresas

informavam uma quantidade de trabalhadores superior àquela realmente existente nessa situação” parece ser o primeiro em importância, podendo responder pela maior parte das situações, sendo encontrado em onze empresas (A, B, D, E, F, G, H, I, J, K, e N ).

Nas quatro empresas filantrópicas, verificou-se que em quatro houve informações de uma quantidade bastante elevada de expostos (A, B, E, e F), e em dado momento uma redução abrupta dessa informação; em uma a quantidade informada não sofreu variação brusca, mas esse quantitativo é superior ao esperado (D). Como as empresas filantrópicas não recolhem contribuição previdenciária, não podem ter sido motivadas pelo motivo apresentado no pressuposto 2.

As empresas G, H e I informavam uma quantidade muito elevada de trabalhadores expostos, e reduziram o percentual de trabalhadores enquadrados, mantendo, porém um patamar de informação bem superior à média nacional.

As empresas J, K, e N notificavam a grande maioria de seus trabalhadores com direito à aposentadoria especial, e a partir de determinado mês passaram a informar inexistência desse enquadramento.

As alterações introduzidas pela lei 9.032/95 (BRASIL, 1995), que foram detalhadas no item 2.1 do capítulo 2, na folha 33, podem ter contribuído, significativamente, para essa situação. Parte das empresas pode ter mantido o enquadramento para os trabalhadores terem direito à aposentadoria especial, utilizando os critérios anteriores à vigência dessa lei, até que com a implementação dos adicionais financiadores da aposentadoria especial, fossem induzidas a avaliarem os riscos ocupacionais existentes nos seus ambientes de trabalho.

O pressuposto 4: “o percentual médio de empregados expostos a agentes nocivos com direito a perceber aposentadoria especial informado pelas empresas cujas atividades expõem seus trabalhadores a agentes nocivos em condições que permitam a concessão da aposentadoria especial vem diminuindo devido à terceirização de serviços”, contribui como explicação parcial em três empresas ( J, K e L). Essas indústrias de transformação passaram a adotar, com bastante ênfase, a terceirização de parte de suas atividades, principalmente nas áreas de produção, e parte das atividades desenvolvidas em ambientes insalubres passaram a ser executadas por empresas de menor porte.

Registre-se que nas empresas J e K, há indícios de estar havendo o contido no pressuposto 2, no pressuposto 3, e no pressuposto 4).

No caso das empresas F e N, pode estar ocorrendo o contido nos pressupostos 2 e 3.

Uma empresa vinculada à atividade de saúde não se enquadrou em nenhuma das situações avaliadas, com seus dados indicando parecerem inalteradas as suas condições de trabalho durante o período avaliado, e não se detectando indícios de confirmação de nenhuma dessas situações ( C ).

Os dados pertinentes à empresa mineradora O, também não se encaixam em nenhuma das situações elencadas, pois essa empresa informa e recolhe o adicional para uma quantidade de trabalhadores bastante acima do normal, e há um aumento gradual no quantitativo informado.

A partir desses dados, confirma-se a suposição de que, na maioria dos casos, as empresas informavam uma quantidade de expostos a agentes nocivos em condições de percepção de aposentadoria especial, sem que todos esses empregados informados pareçam estar efetivamente nessa situação. Pôde-se também constatar que, a partir de um determinado momento, elas passaram a não mais informar essa exposição por razões diversas.

A análise feita por este estudo mostra nitidamente duas situações. Na primeira, a empresa informa uma quantidade maior de trabalhadores expostos que o efetivamente existente. Neste caso, é como se a empresa estivesse comprando o direito à aposentadoria especial para o seu empregado, o que não é possível admitir, mesmo porque os custos para a Previdência Social com a aposentadoria especial são bem maiores que o valor do adicional arrecadado com seu financiamento. Na segunda, a empresa deixa de informar uma quantidade de trabalhadores que estão expostos em situação que permite a concessão do benefício. Neste caso, cria um problema social, porque o trabalhador está sendo claramente prejudicado, podendo estar expondo a sua vida e a sua saúde a agente(s) de risco ocupacional por um tempo excessivo. Além disso, a empresa está deixando de recolher o correspondente adicional financiador.

As empresas que investirem em tecnologias limpas, eliminando, ou reduzindo a quantidade de resíduos e emissões produzidos, reduzirá os ambientes insalubres no trabalho, e como os agentes insalubres são os que proporcionam a existência da aposentadoria especial, a eliminação, ou atenuação desses agentes propiciará a conseqüente redução da concessão desse benefício.

A partir desse estudo, algumas sugestões para que se proceda a alterações na legislação vigente, serão abordadas no capítulo 6, e essas mudanças, caso sejam feitas,

deverão induzir nas empresas uma maior preocupação no gerenciamento dos seus ambientes de trabalho.

Estas conclusões, ainda que embrionárias, já estão sendo utilizadas como subsídio, não só no planejamento de ações fiscais que serão executadas, mas também na própria execução das que estão em curso. Porém, para que se tenha respostas mais conclusivas, é necessário que se façam estudos futuros, que possam colher dados primários suficientes para validar os pressupostos limitados por essa dissertação.

Entende-se também que é recomendável a execução de um monitoramento e de ações fiscais nos hospitais e similares, visando a inibir a prática evidenciada em parte das empresas desse setor (tanto as que gozam, como as que não gozam, de isenção do pagamento da cota patronal) de informar uma quantidade excessiva de empregados enquadrados como se laborassem em condições de ter direito à aposentadoria especial.

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