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possibilidade da realização do interrogatório do acusado por videoconferência, o § 2º abre a possibilidade apenas para o réu que encontrar-se preso, e tal medida será excepcional, devendo respeitar os incisos do referido parágrafo.

Quanto à constitucionalidade do interrogatório por videoconferência, muitos divergem a respeito, mas a doutrina e jurisprudência aceitam a sua realização, Renato Brasileiro de Lima (2016, p. 676) pontifica

De fato, se considerarmos que há anos doutrina e jurisprudência já admitem a realização do interrogatório por carta precatória, rogatória ou de ordem, o que já reflete a ideia de ausência de obrigatoriedade do contato físico direto entre o juiz da causa e o acusado para realização do interrogatório, não se pode negar que a utilização da videoconferência incrementa sensivelmente a possibilidade de o juiz da causa verificar, por si só, as características relativas à personalidade, condição socioeconômica, estado psíquico do acusado, etc.

Por fim, cabe salientar que alguns tratados internacionais já fazem referência ao instituto da videoconferência, como a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (arts. 32, § 2º, alínea “a” e 46, § 18) dentre outras.

Para que a confissão seja válida é necessário que ela preencha alguns requisitos, podendo ser intrínsecos ou extrínsecos. Os requisitos intrínsecos estão ligados ao conteúdo da confissão, sendo basicamente as alegações do réu aos fatos imputados, a clareza do réu na declaração dos motivos, a coincidência com o que apontam os outros meios de prova, etc.

Por outro lado, os requisitos extrínsecos são a pessoalidade (não podendo ser feito por procurador), o caráter expresso (não se admite confissão tácita, devendo ser reduzida a termo), o oferecimento perante o juiz competente, a espontaneidade (não pode haver coação) e a capacidade do acusado para confessar (deve o acusado estar em pleno gozo das faculdades mentais).

Conforme o art. 197 do CPP, “o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância”, nota-se que a confissão não tem valor absoluto, ela será valorada pelo magistrado da maneira que reputar pertinente.

A confissão pode ser classificada segundo Renato Brasileiro de Lima (2016, p. 677) da seguinte forma:

a) Quanto ao momento - pode ser extrajudicial, feita fora do processo penal, geralmente perante a autoridade policial, esta por não ser cumprida sob o exame do contraditório terá pouco valor probatório, não poderá ela, unicamente, fundamentar um decreto condenatório, quando no âmbito judicial, se produzida perante a autoridade judiciária competente, será esta a chamada confissão judicial própria;

b) Quanto à natureza – pode ser real, aquela efetivamente realizada pelo réu, ante a autoridade, ou ficta, que é aquela que não foi realizada pelo réu, sendo presumida pela Lei em razão de alguma inércia no processo a título de exemplo, no entanto, a confissão ficta não é aceita no processo penal, é aceita pelo processo civil, mas em âmbito penal é exclusa;

c) Quanto à forma – segundo leciona Marcos Antonio Marques e Jayme Walmer (2012, p. 326) a confissão deverá ser prestada no próprio

processo, perante juiz competente, mediante forma prevista em lei e sem vícios.

Ainda, a confissão poderá ser escrita, quando o réu proceder por meio de cartas, bilhetes ou qualquer outro meio escrito, ou poderá ocorrer de forma oral, que é a forma tradicional, realizada verbalmente perante o juízo competente;

d) Quanto ao conteúdo – leciona Renato Brasileiro (2016, p. 677) que a confissão será simples quando o réu se limita a reconhecer o crime que lhe é imputado, ou será qualificada, quando o réu além de reconhecer os fatos, alega também tê-los praticado sob determinadas circunstâncias que podem excluir o crime ou até mesmo o isentarem de pena, a exemplo, quando o réu alega ter matado alguém (homicídio), mas confessa tê-lo feito em legítima defesa (excludente de ilicitude);

A confissão pode ser, ainda, retratável ou divisível, conforme expõe o art. 200 do CPP, “a confissão será divisível e retratável sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto”.

Segundo denotam Marcos Antonio Marques e Jayme Walmer (2012, p. 327) ela é retratável, pois o réu poderá, a qualquer momento, voltar atrás e retrair (desdizer-se, voltar atrás) a confissão. Ocorre que, caberá ao magistrado considerar a confissão sem valor algum ou considerá-la como digna de valor, não perdendo a confissão o seu valor frente à retratação.

Ainda, lecionam os autores (2012, p. 327) que a confissão pode ser aceita parcialmente, ou seja, o magistrado poderá, ainda, considerar válida apenas algumas partes da confissão, e considerar falsa outras partes, ou seja, dividindo-se a confissão.

Noutro giro, quando o réu se retrata em Juízo da confissão feita em sede policial, entende o STJ que não será aplicada a atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea “d” do CP (confissão), salvo se, mesmo perante a retratação, a confissão em cerne policial foi usada para a condenação do acusado.

Por fim, a respeito da circunstância atenuante da confissão, a jurisprudência entendia que a confissão qualificada não gerava a emprego da atenuante genérica do art. 65, inciso III, alínea “d” do Código Penal. No

entanto, na atualidade, este entendimento foi superado. Hoje, o STJ passou a adotar que mesmo a confissão qualificada gera a atenuante de pena prevista no Código Penal, conforme AgRg no REsp 1.198.354/ES, Rel. Min. Jorge Mussi:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART.

168-A DO CÓDIGO PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. QUEBRA DE SIGILO FISCAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. 1. Os dados obtidos mediante quebra de sigilo fiscal não foram utilizados como o fundamento exclusivo para a procedência da pretensão acusatória, servindo como reforço de argumentação para afastar a tese defensiva de que o agravante teria atuado amparado pela causa supralegal de exclusão da culpabilidade relativa à inexigibilidade de conduta diversa. 2. Foram declinados argumentos independentes para afastar a mencionada dirimente, como a não comprovação da suscitada dificuldade financeira ou ainda o fato de a ausência de repasse das contribuições ter perdurado por muitos meses. 3. Assim, ausente o prejuízo na consideração das declarações de imposto de renda do agravante, não há que se pronunciar a defendida nulidade decorrente da ausência de fundamentação suficiente da decisão judicial que autorizou a quebra do sigilo. 4. Conforme orientação jurisprudencial atual, o reconhecimento de mácula que implique a anulação de ato processual exige a demonstração do prejuízo mesmo quando se tratar de nulidade absoluta. Precedentes. DOSIMETRIA. PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO EM RAZÃO DA VALORAÇÃO NEGATIVA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. FUNDAMENTOS CONCRETOS. ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA.

POSSIBILIDADE. 1. A ponderação das circunstâncias judiciais não constitui mera operação aritmética, em que se atribui pesos absolutos a cada uma delas, mas sim exercício de discricionariedade vinculada.

2. O Tribunal a quo fixou a pena-base em 1 ano e 1 mês acima do mínimo legal diante da desfavorabilidade dos antecedentes, das consequências e da culpabilidade do agravante. 3. Logo, valendo-se de motivação concreta e dentro do critério de discricionariedade juridicamente vinculada, não se verifica a afronta ao art. 59 do Código Penal ou desproporcionalidade na fixação da pena básica. 4. A jurisprudência do STJ admite que mesmo a confissão dita qualificada enseje a aplicação da atenuante do art. 65, III, d, do Código Penal. 5.

Agravo regimental provido em parte somente para adequar a reprimenda do agravante em virtude da aplicação da atenuante da confissão espontânea.

(STJ - AgRg no REsp: 1198354 ES 2010/0107573-4, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 16/10/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/10/2014)

Isto posto, não resta dúvidas sobre a aplicação da atenuante do art. 65 inciso III, alínea “d” do CP. Vejamos agora o regimento da declaração do ofendido.