• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II ESTUDO DE CASO

5 ANÁLISE DO JOGO DE ATORES

5.2 Dinâmica de Evolução do Conflito: Análise dos Padrões de

5.2.3 O conflito no âmbito da Justiça Federal

O descontentamento com o resultado das ações empreendidas com o apoio do promotor do MPE levou as associações envolvidas no caso a entrar com uma Ação Civil Pública na esfera Federal. Nesta esfera, existem duas maneiras de se ingressar com ações civis, a saber: uma com um advogado particular, e outra com apoio da promotoria do MPF que, conforme supracitado foi negada de antemão permanecendo na lide Estadual. Neste caso, o grupo se mobilizou na busca por apoio técnico e jurídico, vindo a firmar contratos junto aos membros vinculados ao Movimento de Advocacia Neo-Humanista e ao Observatório do Litoral Catarinense48. Além disso, para que as ações fossem julgadas, deveriam ser apresentados os requesitos necessários à caracterização do envolvimento de órgãos e também os interesses relacionados a tal esfera.

Mas no dia 04 de maio de 2010, a Associação Comunitária Amigos do Meio Ambiente para a Ecologia, o Desenvolvimento e o Turismo Sustentáveis [AMA], a Associação Comunitária Areias de Palhocinha [ACAP], a Associação de Moradores do Ambrósio [AMAM], o Centro de Orientação Ambiental da Praia da Ferrugem [FERRUGEM VIVA], e a Associação de Pescadores da Praia de Ibiraquera [ASPECI] - todas elas devidamente inscritas no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - de posse de um Laudo técnico-científico específico sobre a área (PIMENTA, 2010), encaminharam uma Ação Civil Pública solicitando a anulação do acordo, além do restabelecimento da área. Os três níveis de atuação do Setor Público foram assim denunciados (ADVOCACIA NEO-HUMANISTA, 2010).

Como resposta, as intimações que daí surgiram e foram encaminhadas via MPF, em 28 de maio de 2010 o IBAMA admitiu que julgava que as licenças concedidas pela FATMA ainda estavam canceladas e que, uma vez informado do andamento do processo, passava a apoiar os autores da ACP “em razão desta Autarquia possuir

47

Cf. informação eletrônica (emails) de 24/03/2010 e 22/04/2010. 48

Criado com a intenção de alimentar um processo de apoio técnico-cientifico, vinculando núcleos de pesquisas e acadêmicos (UFSC, UNIVALI), visando dinamizar as interfaces com o MP e os processos participativos previstos nas políticas públicas incidentes na zona costeira.

interesse ambiental no feito, nos termos expostos no memorando n° 166/2010 da lavra do Sr. Superintendente Estadual Substituto, requer a inclusão como assistente do autor” (BRASIL, 2010a, p.5).

Todos os órgãos intimados responderam no prazo determinado, exceto o Ministério Público Federal (que se retratou alegando não ter recebido a intimação). Uma vez de posse de todas as respostas, a Justiça Federal acabou negando o pedido dos autores da ACP e, além disso, contestou que o IBAMA não dispunha da prerrogativa de representar um réu nessa ação, assim à ação não teria o por quêde ser ali julgada. Desta forma, foi mantido o que já havia sido acordado e homologado no âmbito estadual e, mesmo após as entidades contrárias à construção do condomínio terem recorrido o pedido continuou indeferido.

Os recorrentes alegam que a decisão de 1º grau apresenta nulidades. Nesse sentido, aduzem que o IBAMA seria réu da ação e assim, ao contrário do afirmado pela magistrada, o pedido direcionado ao órgão ambiental não se restringiria à emissão de Laudo técnico (...). Tais alegações não merecem guarida (BRASIL, 2011c, p.2).

Os representantes da sociedade civil organizada passam então a recorrer à segunda Instância do TRF4 na qual foi julgada a apelação e o Juiz Federal relator do processo, no dia 15 de junho de 2011 publica a sentença que manteve a posição assumida em primeiro grau, acreditando que a mesma não estaria interferindo na atuação do IBAMA.

Em face desta decisão que negou provimento ao recurso, em 21 de junho de 2011 uma apelação cível foi encaminhada pelos autores ao Juiz Federal, requerendo a observação dos seguintes pontos:

1. A presente ação judicial possui como objeto a proteção de área de preservação permanente, assim considerada pelo IBAMA (laudo), pelo Ministério Público Federal (Ora, efetivamente, a área em questão é de relevante interesse ambiental. […]

2. Tal acordo judicial culminou com a proteção de área vizinha à área objeto da ação, sendo que esta foi liberada para construção de loteamento de casas.

3. Área que, além de ser de preservação permanente, está localizada na zona costeira, com a presença de Mata Atlântica. [...]

4. Tanto na sentença, quanto na decisão ora embargada há presente um erro ostensivo, já que a premissa de que o IBAMA não seria réu na ação principal está EQUIVOCADA (BRASIL, 2011a, p.3).

Em 27 de julho de 2011 foi expedida a decisão de três desembargadores, que julgaram o recurso dos autores no TRF4. Deste texto pode ser extraída a constatação do erro que persistiu desde o início da ação em maio de 2010, bem como o reconhecimento de que, não obstante, nada mudaria no que diz respeito à decisão que havia sido tomada:

o Ministério Público Federal em primeiro grau tomou ciência da ação e manifestou-se nos autos. A Procuradoria Regional da República ratificou o parecer de primeiro grau. Fundamentadamente, o órgão competente para analisar a questão afastou qualquer vício ou prejuízo às partes ou aos interesses guerreados, sempre enfatizada a competência Estadual e a existência de coisa julgada na Justiça Estadual acerca da qual somente ela se pode pronunciar, entendimento que se vê a parte autora não concorda, vindo reafirmar a regularidade e legitimidade da ação proposta. [...]

Ao contrário do que aduz a parte embargante, a incompetência não foi declarada por supostamente o IBAMA não constar no polo passivo. O Instituto é, sim, réu. Entretanto, o feito não se presta para realizar a pretensão final buscada.

[...]

Destaco que os esclarecimentos supra são suficientes para sanar qualquer erro, mantida a decisão final do acórdão proferido de forma unânime pela Turma.

Destaco, por fim, que a sentença extinguiu o feito sem exame de mérito, integralmente mantida por esta Corte, tendo como fundamento primordial a coisa julgada Estadual, forte no art. 267, V, do

CPC. Motivação suficiente para extinção sem mérito (BRASIL, 2011d, p.3). (grifos meus) No recurso extraordinário impetrado pelas associações civis em 22 de agosto de 2011, argumenta-se que os fundamentos da decisão que o TRF estariam violando o artigo 109, I da CF (1988), implicando assim que a causa deveria ser julgada nas instâncias federais – pois não há “coisa julgada” na esfera Estadual, “na Ação Cautelar Ambiental as entidades recorrentes não integraram o polo ativo da demanda, nem sequer o órgão ambiental licenciador foi ouvido nos autos”. Além disso, no rol das várias atribuições do IBAMA, entendido como órgão executor do SISNAMA, estaria incluída a fiscalização de ações que possam vir a contrariar as determinações da Política Ambiental (BRASIL, 2011b).

Conforme o parecer do Ministério Público Federal, acatado pelo relator, diante da alegação de que o IBAMA não deveria ser caracterizado como réu da ação reafirmou-se que o pedido direcionado ao IBAMA limitar-se-ia, na verdade, ao reconhecimento de que tal órgão deveria proceder uma vistoria no local, emitindo em seguida o respectivo Laudo técnico. Portanto, não seria pertinente exigir sua condenação, nos termos do artigo 109, I, da CF (BRASIL, 1988) (BRASIL, 2011c).

Ou seja, o pedido que foi negado de Laudo que supostamente serviria para auxiliar na comprovação das denúncias, ainda atendendo à demanda da esfera anterior frente à Juíza de Garopaba, serviu para que as ONGs acusassem o IBAMA ante a sua omissão como réu na esfera Federal, bem como, subterfúgio para que nesta lide fosse alegado que o mesmo não estava sendo acusado. Erro já constatado e que agora será apreciado junto ao Supremo Tribunal Federal em Brasília uma vez que “possui relevância social, ambiental, política e jurídica, e, certamente, ultrapassa os interesses das partes” (BRASIL, 2011b, p.12). A perspectiva que se descortina atualmente é a de que o julgamento deste caso deverá permanecer inconclusivo no decorrer dos próximos 2 anos, podendo a ação voltar, inclusive, a ser julgada no Fórum da Comarca de Garopaba, cabendo ainda recursos adicionais que poderão ser encaminhados por ambas as partes.

6 OBSTÁCULOS À APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO