• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO 4. QUALIDADE E SEGURANÇA DO PACIENTE ODONTOLOGICO

5.3 POLÍTICA DE SALUD ORAL DE BOGOTÁ, D C

5.3.1 Conformação e conteúdo

A iniciativa de criar uma Política de Saúde Bucal na cidade surgiu em 2001, ano em que foi formulado o primeiro documento, mas sua materialização foi efetivada em 2004, postulando metas para o ano 2010 (26). Com base neste texto foi formulada a “Política de Saúde Oral com participação social para o decênio 2011- 2021”, objeto de análise desta tese.

Cumpre ressaltar que em Bogotá, tem construído o conceito de saúde oral. A referência à saúde oral e não à saúde bucal, busca transcender as questões fisiopatológicas e visibilizar não só a boca como componente do corpo, senão, como parte do desenvolvimento humano, considerando-se como indicador do bem-estar e da qualidade de vida. A alusão ao termo saúde oral, reconhece ao ser humano individual e coletivo desde sua integralidade.

A Política de Saúde Oral de Bogotá, foi promulgada pela prefeitura que governou no período de janeiro de 2008 até maio de 2011. Apesar disto, as estratégias formuladas englobam dez anos, com o objeto de que as propostas tenham continuidade, sem importar a mudança de governo. A Secretaria Distrital de Saúde73 é a instituição encarregada de formular, executar e liderar a adequação da Política de Saúde Bucal ao novo contexto de práticas institucionais neste campo na cidade de Bogotá. Cabe assinalar que, a Secretaria Distrital de Saúde, por se constituir em corpo regulamentário em saúde, de caráter regional, está incorporada no processo para alcançar a qualidade em saúde.

73 Entidade coordenadora da saúde em Bogotá, responsável de garantir “o exercício efetivo do direito a saúde de toda a população, a través de um modelo de atenção integral, equitativa, universal, participativa, centrada no ser humano (...)” (p.1) (22).

O exame dos sentidos desta Política sob a perspectiva do referencial teórico- normativo do direito humano à saúde, revelará si este documento é coerente com as necessidades da população, especialmente, no ponto relativo à qualidade e à segurança do paciente na prática odontológica. Assim, a análise das questões bioéticas relacionadas à vida e à saúde, deve transcender além do âmbito biomédico, espraiando-se no campo social, econômico e cultural das pessoas. Isto implica abordar o conteúdo das políticas públicas de saúde, que são essenciais no estabelecimento de mecanismos e procedimentos para materializar o direito à saúde, em concordância, com as necessidades das populações e com as normativas dos sistemas de saúde.

Cabe lembrar que, a formação e implementação das políticas públicas são resultado da interação de uma rede dinâmica de diferentes atores que dispõem de informações e percepções diversas sobre determinada problemática social e que nem sempre compartilham um interesse comum (232). Uma política pública constitui-se em uma “ação intencional com objetivos a serem alcançados (...) e envolve processos de implantação, execução e avaliação” (p. 343) (233).

A Política de Saúde Oral de Bogotá se divide em duas grandes partes; a primeira denomina-se, marco de referência, conformada pelos âmbitos normativo, político, situacional e conceitual associados à realidade da saúde bucal na cidade. A segunda parte versa sobre a estrutura da política, constituída por quatro eixos: gestão da política de saúde bucal; modelos de gestão e atenção dos serviços em saúde bucal; fortalecimento da gestão do talento humano odontológico e por fim, produção e circulação do conhecimento (26). Nesta tese, a Política será apresentada seguindo esta mesma subdivisão.

5.3.1.1 Marco de referência

Esta seção demarca o contexto político, normativo, situacional e conceitual da Política.

O marco político do documento se refere ao direito à saúde, entendido como um compromisso das nações destacado em conferências mundiais e declarações internacionais, por exemplo, a Conferencia da População do Cairo de 1994 e a Declaração Alma Ata de 1978 (26). Na sequência, apresenta várias definições de saúde; afirma-se que “a saúde é um bem ao qual se pode ter acesso ou não” (p.11) (26) e que se constitui em um indicador de desenvolvimento social e humano. Ademais, alude à definição de saúde adotada pela OMS e, enfatiza que esta concepção, está ligada a aspectos subjetivos como a cultura, crenças e identidade.

Em relação ao direito à saúde, estabelece que está associado “com a distribuição do ingresso, com a seguridade social e com a proteção social, bem como, com a disposição dos serviços (...), programas e ações em saúde pública (...)” (p.-12) (26). Deste modo, a Política registra que este direito requer normas, Leis, instituições e políticas para o seu disfrute e os seus elementos são referidos como “critérios para avaliar o respeito ao direito a saúde” (p.12) (26).

O marco político apresenta algumas assertivas sobre as inequidades em saúde e reforça que os determinantes sociais da saúde indicam diferenças substanciais entre os diversos grupos populacionais, destacando-os como fatores determinantes das desigualdades em saúde entre países e dentro deles. Neste sentido, sublinha que a melhora da saúde dos povos vulneráveis, depende de estratégias de ação que considerem os determinantes sociais. Assim, alude os determinantes sociais da saúde bucal, tais como, a pobreza, o baixo nível educativo, a falta de crenças, tradições e cultura neste âmbito (26).

Outra ideia que cabe destacar no marco político da Política em exame, é que os serviços de saúde bucal são considerados referência para avaliar o desempenho do sistema de saúde, especialmente, no tocante à equidade. Esta concepção, se fundamenta no entendimento de que as patologias buco- dentárias são de caráter

crónico, fato que exige a aderência prolongada aos serviços; adicionalmente, são condições que afetam principalmente grupos sociais desfavorecidos econômica e socialmente e finalmente, assenta que a saúde bucal não é reconhecida como um bem social desejável (26).

O marco político também apresenta noções sobre participação social em saúde, e estabelece a necessidade de ampliar dita participação no campo da saúde bucal, garantindo a vinculação mais ativa da população, incluindo-a em tarefas de desenho, planejamento, implementação e seguimento da Política. Nessa linha, afirma-se que “a ação coletiva orientadora da Política deve ser capaz de garantir o direito a saúde bucal” (p.13) (26).

Um tópico aludido no marco político é a saúde, diversidade e o enfoque diferencial. Este último se materializa no campo da saúde bucal em “ações afirmativas adequadas às particularidades dos grupos populacionais” (p.14) (26). Assim, os serviços de saúde deverão responder às necessidades diferenciais e assevera que “esta Política deverá considerar particularmente as pessoas com deficiência, povos indígenas e pessoa refugiada” (p.14) (26).

Ademais dos tópicos mencionados, o marco político apresenta noções sobre saúde e territorialidade, sustentabilidade dos sistemas de saúde e, reflexões críticas sobre as reformas em saúde na Colômbia.

No que tange ao marco situacional, a Política apresenta o crescimento populacional da cidade de Bogotá desde o ano 2005, as projeções até 2020 e a transição demográfica entre os anos 2000 e 2010, demonstrando tendência ao aumento progressivo da população adulta maior, fato que exige o fortalecimento de programas e serviços dirigidos a este grupo. Igualmente se expõem os bairros com crescimento rápido e aqueles de menor crescimento. Nesta seção, a Política em exame alude à migração forçada pelo conflito armado e declara que esta cidade continua sendo a principal receptora de deslocados do país (26).

A Política dedica um item ao desenvolvimento teórico dos determinantes sociais da saúde bucal em Bogotá, especificamente, trata da pobreza, educação,

saúde e moradia. No tocante à pobreza, são referidos indicadores, tais como o índice de desenvolvimento humano, esperança de vida e o inquérito de qualidade de vida74, que revelam melhoria do bem estar da população nos últimos dez anos. No entanto, 24% das famílias revelam não ter ingressos suficientes para seus gastos mínimos, 56% expressam que seus ingressos são apenas suficientes para cobrir seus gastos e 19% referem contar com recursos suficientes para satisfazer mais do que as necessidades mínimas. Do mesmo modo, com respeito à educação, se apresentam dados do inquérito de qualidade de vida do ano 2007, relacionados com as taxas de assistência escolar, nos diferentes níveis educativos. No que tange à saúde, no ano em menção, se demostrou que a cobertura de afiliação ao Sistema General de Seguridad Social em Saúde, foi de 86% e ademais, foi revelado descenso da afiliação ao regime contributivo75 e aumento no regime subsidiado76 (26).

No marco situacional, se menciona a análise da saúde bucal em Bogotá, formulada a partir de fontes tais como o ENSAB e os dados do SISVESO. Esta análise foi orientada em três eixos, representações sociais, problemas de saúde bucal e suas consequências. Nas patologias se incorpora descrição de dados sobre a carie, doença periodontal, fluorose e fissura labiopalatal. Adicionalmente, se apresentam as características dos serviços de saúde da cidade, explanando os tipos de contratação em saúde bucal e a oferta dos serviços odontológicos.

Em relação ao marco conceitual da Política de Saúde Bucal de Bogotá, se referem a conceitos associados ao enfoque de direitos; assim, assenta-se que esta Política assume este enfoque para “enfrentar (...) e resolver os problemas de

74 Dados de 2007 e 2008.

75 Conjunto de normas que coordenam a vinculação de indivíduos e famílias ao Sistema General de Seguridad Social en Salud, caso esta vinculação seja efetivada a través do pagamento de uma cotização ou aporte econômico. Neste regime se devem afiliar as pessoas com capacidade de pagamento, por exemplo trabalhadores formais, independentes, aposentados e suas famílias (205). 76 Mecanismo dirigido às pessoas mais pobres sem capacidade de pago para que acessem os serviços de saúde a través de um subsidio oferecido pelo Estado (205).

exclusão, inequidade e pobreza extrema” (p.44) (26). Na mesma linha, aferem-se noções sobre a saúde bucal, promoção da saúde e qualidade de vida. Finalmente expõe os princípios orientadores da Política, nomeadamente, equidade, integralidade e participação social.