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CONFORTO AMBIENTAL

No documento palomaalmeidaromanosferreira (páginas 43-47)

2 CONFORTO, PERCEPÇÃO AMBIENTAL E OS SENTIDOS HUMANOS

2.4 CONFORTO AMBIENTAL

A ideia de conforto em arquitetura e urbanismo, segundo Freitas Filho, Guizzo e Martins (2018, p. 54), sempre permeou os estudos dos projetos e vários autores demonstraram sob o ponto de vista físico/técnico em casos pontuais, preocupações com o conforto ambiental, a saúde e o bem-estar dos ocupantes de edificações e cidades, principalmente nos desenhos de novos assentamentos urbanos. A história conta que desde a pré-história o homem procurou abrigo nas cavernas para fugir das estações frias, por conveniência e, com energia restrita ou inexistente, otimizou recursos disponíveis, produzindo uma arquitetura harmoniosa com o clima e sua cultura (RHEINGANTZ, 2001, p. 35-58 apud FREITAS FILHO, GUIZZO; MARTINS, 2018, p. 55).

Rheingantz (2001, p. 35-58 apud FREITAS FILHO, GUIZZO; MARTINS, 2018, p. 55) continua seu caminho histórico declarando que o desenvolvimento tecnológico e científico do pós-guerra fez o homem acreditar que poderia controlar o planeta e com isso surgiram novas edificações com recursos criados artificialmente buscando temperatura agradável, iluminação adequada, focando no conforto dos habitantes dos edifícios. Com o passar dos anos, os recursos usados para manter esse conforto artificialmente foram se esgotando e hou e a necessidade de repensar na utilização de recursos naturais integrados à arquitetura, e valorizar a antiga forma de construção de edifícios e ambientes integrados à geografia, ao clima e às suas exigências culturais (RHEINGANTZ, 1995, p 28). Em suma, o conforto ambiental se resume à satisfação do usuário

do espaço em relação à qualidade do ambiente (KOWALTOWSKI, 2011, p. 111). Conforme Schmid (2005),

o conforto ambiental surge num esforço de se resgatar a arquitetura enquanto abrigo diante de outras intenções como a monumental, a produtiva ou a representativa. (...) O desempenho da casa enquanto abrigo é restrito à soma de algumas funções objetivo: temperatura, umidade, nível de intensidade sonora. (SCHMID, 2005, p. 14),

Dentro do conforto ambiental, existe uma dicotomia entre uma visão mecanicista, restrita do conforto, que considera o homem como um elemento neutro, aquém de normas e legisla es, ou seja, o usu rio como sujeito passi o no ambiente, haja ista que os ajustes no ambiente promovidos por soluções técnicas darão conta de resolver os possíveis incômodos gerados por condi es clim ticas di ersas (CORBELLA; YANNAS, 2003 apud FREITAS FILHO, GUIZZO; MARTINS, 2018, p. 55). Schmid (2005) completa essa dimensão restrita mostrando a visão parametrizada do conforto:

Na expressão máquina de morar incomoda a ideia de um sentir mecânico do corpo como se fosse instrumentado por termômetros, manômetros e conta- giros. Acabaram se absolutizando aspectos parciais como do conforto térmico ou da acústica. Conforto não se explica, pois, com itens estanques, precisamente definidos. Tampouco se revela um jogo onde vença a neutralidade (eliminação do desconforto). Os próprios cultores da arquitetura como arte priorizam a expressividade visual do espaço visível em detrimento de outras formas de expressividade. (SCHMID, 2005, p. 21).

O outro lado da dicotomia é um olhar mais ampliado sobre a questão do conforto que a partir da década de 1970, veio substituir a f sica aplicada às edifica es por conforto ambiental neste ponto o homem deixa de ser passivo e passa a ser considerado como protagonista do meio ambiente, quando todos os seus sentidos são levados em conta na percepção do conforto.

O termo conforto ambiental passou a ser usado como título de disciplina oficial nos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil (SCHMID, 2005, p. 12). O autor apresenta em uma bibliografia do campo da enfermagem a complexidade multidimensional do conforto, dividida em quatro níveis que se relacionam: (1) físico; (2) psico-espiritual; (3) sócio-cultural; e

(4) ambiental. Trata-se de um conceito holístico que serve como base na compreensão atual da noção de conforto ambiental, indo muito além da compreensão mecanico-tecnicista.

É verdade que muitos aspectos do conforto, embora predominantemente mecanicistas, evoluíram no Modernismo. Inicialmente, houve um tratamento científico de aspectos mais físicos da ergonomia; alguns dos móveis do período foram, de fato, desenvolvidos de modo adequado ao corpo humano em diferentes tarefas. A iluminação obteve significativos avanços. (...) A liberdade de forma permitiu que os arquitetos que assim o quisessem trabalhassem soluções engenhosas, por exemplo, de iluminação zenital. Como a luz, o ar também foi democratizado. (SCHMID, 2005, p. 19).

Schmid (2005) alinha esse pensamento, comentando sobre a contínua evolução técnica das edificações promovendo o conforto nessa nova dimensão:

Para o conforto térmico, houve o desenvolvimento e a disseminação do ar condicionado; somente a partir dos anos 70 é que seu caráter esbanjador de recursos naturais se tornou fator de preocupação. Havia a consciência de uma nova missão da arquitetura: libertar o homem não só das condições climáticas. (...) Certamente era uma posição ideológica, a crença num sistema de verdades prontas como resultado de uma escolha pessoal. (SCHMID, 2005, p. 20).

Considerar a ideia de conforto ambiental dentro de uma visão holística significa deixar para trás o discurso que enfatiza a estética, com acentuada ênfase no sentido da visão como predominante, o que ocorreu ao longo da história (SCHMID, 2005). A visão pode até ser dominante, mas há que se considerar também os outros sentidos, portanto torna-se evidente que a noção de conforto ambiental está interligada aos sentidos humanos e a sua percepção do ambiente. Schmid (2005) ainda complementa, afirmando que a

nossa casa veio deixando de ser um lar, no sentido de constituir uma extensão de nossas emoções e sentimentos, veio deixando de ser um lugar expressivo da vida de seus moradores e da cultura onde se localiza. Foi se transformando numa máquina de morar, fria e estritamente utilitária, sem o aconchego e o afeto de uma verdadeira morada. Nela viveriam pessoas desconfortavelmente instaladas no que toca à satisfação estética dos sentidos, dentro de um ambiente geometricamente asséptico. (SCHMID, 2005, p. 19).

De fato, também segundo Sperling, Vandier e Scheeren (2015, p.108), como se sabe, a disciplina da arquitetura, tanto em sua dimens o projeti a quanto construti a, assenta-se historicamente sobre a prima ia da is o . Autores como Pallasmaa (2011) e Zumthor (2006) têm advogado a favor de uma arquitetura que supere as determinações exclusivamente visuais.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA-, em 2014, lançou um manual intitulado Conforto ambiental em estabelecimentos assistenciais de sa de , onde deixa claro que o conforto higrotérmico se refere ao tato; o conforto visual e o conforto lumínico, à visão; o conforto acústico, à audição; e o conforto olfatório, ao olfato (ANVISA, 2014, p. 12).

Com o desenvolvimento tecnológico, a humanidade se viu obrigada a pensar em questões ligadas à sustentabilidade e sua relação com o conforto ambiental. Medidas sobre redução da poluição ambiental e atmosférica a utilização de recursos naturais renováveis e o descarte da produção industrial vem sendo analisadas em encontros, convenções e movimentos internacionais. No Rio de Janeiro, em 1992, aconteceu a conferência ECO92, quando mais de 170 paízes assinaram a Declaração sobre o meio ambiente e desenvolvimento, contendo diretrizes operacionais e metas de controle e defesa do meio ambiente e da atmosfera (FREITAS FILHO, GUIZZO; MARTINS, 2018, p. 58).

Voltar o olhar para edifícios sustentáveis foi uma forma de manter e promover o conforto para os indivíduos nas construções, gerando um menor impacto no meio ambiente. Conforme Schmid (2005), a ideia do conforto ambiental precisa estar alinhada as novas necessidades do planeta. Os parâmetros de conforto ambiental assim como a qualidade do ar interior dos edifícios são quesitos tão importantes que configuram dentro das normas, leis, resolu es e certifica es internacionais da constru o sustent el, os chamados edif cios

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