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LEGISLAÇÃO, CERTIFICAÇÕES E O CONFORTO OLFATIVO

No documento palomaalmeidaromanosferreira (páginas 75-79)

4 CONFORTO OLFATIVO E OS ESPAÇOS INTERNOS

4.4 LEGISLAÇÃO, CERTIFICAÇÕES E O CONFORTO OLFATIVO

O Brasil apresenta uma abordagem estritamente tecnicista sobre o conforto olfativo, restrito à qualidade do ar, uma vez que não existem normas, leis, resoluções ou decretos que versem sobre este tema de modo holístico, tratando a temática dos odores ou dos níveis mínimos de conforto olfativo. A partir de 2018, o conselho do meio ambiente levou em conta os padrões nacionais de qualidade do ar como parte estratégica do Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (PRONAR), ao lançar a Resolução Conama n° 491/2018. Nela, estabelece definições para sua implementação, conforme Art. 2°, inferindo sobre poluente atmosférico; padrão de qualidade do ar, intermediários e final, referente aos valores guia definidos pela OMS em 2005; episódio crítico de poluição do ar; Plano de Controle de Emissões Atmosféricas; Material Particulado; Partículas Totais em Suspensão; Índice de Qualidade do Ar. Outros artigos da mesma Resolução complementam os critérios de promoção da qualidade do ar (BRASIL, 2018b).

A Lei 13.589/2018, ainda relativa aos espaços internos, disp e sobre a manuten o de instala es e equipamentos de sistemas de climati a o de ambientes e inclui todos os edifícios de uso público e coletivo e os de uso restrito, tais como aqueles dos processos produtivos, laboratoriais, hospitalares e outros. Entretanto há outros ambientes habitáveis que não estão cobertos por essa lei, e não estão imunes aos poluentes encontrados em seus interiores, como casas e edifícios residenciais. Na referida lei, os ambientes que são climatizados artificialmente devem

dispor de um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) dos respectivos sistemas de climatização, visando à eliminação ou minimização de riscos potenciais à saúde dos ocupantes, propiciando condições específicas de conforto e boa qualidade do ar, adequadas ao bem-estar dos ocupantes (BRASIL, 2018a, p. [1]).

Quanto aos interiores, desde 24 de outubro de 2000, está em vigor a resolução RE Nº 176, da Anvisa, que trata dos padrões referenciais de qualidade do ar interior em ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo, com parâmetros biológicos, químicos e físicos, assunto também constante do artigo terceiro da Lei 13.589/2018, que trata do PMOC citado anteriormente, através dos quais é possível avaliar a qualidade do ar interior, além de estabelecer critérios e metodologias de análise para a avaliação. A resolução considera uma preocupação com a saúde, segurança, bem-estar e conforto dos ocupantes dos ambientes climatizados, além de definir valores máximos recomendáveis e orientações básicas para controle da contaminação biológica, química e parâmetros físicos do ar interior, a identificação das fontes poluentes de natureza biológica, química e física, métodos analíticos e as recomendações para controle (ANVISA, 2000).

As instalações de sistemas de ar-condicionado centrais e unitários, ou instalação de novos sistemas ou reformas existentes estão com especificações normativas em vigor desde de 2008 pela norma brasileira NBR 16.401 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Esta norma divide-se em três partes: o projeto das instalações; os parâmetros de conforto térmico; e a qualidade do ar interior. A última parte exige que o sistema de ar-condicionado propicie um ar interno com qualidade, com níveis mínimos de filtragem e renovação do ar (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2008).

Outra normativa importante de ser mencionada, sobre um repertório de parâmetros ou requisitos para o conforto olfativo no ambiente construído, está presente no selo de Aqua, certificação internacional da construção sustentável de alta qualidade ambiental desenvolvida pela francesa Haute Qualité Environnementale, a certificação AQUA-HQE, que se baseia na avaliação do desempenho de um edifício verificado desde o processo de concepção até a obra concluída. Dentre os seus 14 indicadores analisados, também são considerados os níveis de conforto olfativo (GONÇALVES; BODE, 2015, p. 526).

Na Certificação Aqua, o conforto olfativo pode ser dividido em fontes de odores desagradáveis e sensações olfativas desagradáveis. Ao gerar diretrizes para o projeto do edifício,

esta certificação indica a importância em escolher produtos com baixas emissões de odores Vanzolini (2007) e enfatiza que

durante a fase de uso e operação do edifício, os produtos de construção, por suas características intrínsecas, são fonte de diferentes impactos sobre a saúde e sobre o conforto olfativo dos ocupantes: emissões de poluentes químicos, emissões de odores, características que favorecem ou não o crescimento de fungos ou bactérias. (VANZOLINI, 2007, p. 57).

Para assegurar o conforto olfativo na ventilação interna, é sugerida o mínimo suficiente para limitar a presença de odores. A ventilação eficaz é garantida com controle das fontes de odores desagradáveis necessários. Os odores podem ser provenientes dos produtos de construção (materiais, revestimentos, isolantes); dos equipamentos (mobiliário, sistemas elétricos, sistemas de aquecimento de água); das atividades relativas ao edifício (conservação, reformas); do meio relacionado ao entorno do edifício (solo, ar externo) e dos usuários (suas atividades e seus comportamentos (VANZOLINI , 2007, p. 193).

Quando a categoria conforto olfativo é relacionada com todas as outras categorias, mais indicadores são gerados, como a identificação das fontes de incômodo olfativo presentes no terreno (relação com o entorno); a escolha de produtos com baixa emissão de odores (escolha de produtos e sistemas construtivos); e consumo energético eficaz para a promoção da ventilação para o conforto olfativo (gestão de energia) (VANZOLINI , 2007, p. 194). Faz parte das ações para promoção do conforto olfativo, o controle das fontes de odor desagradáveis oriundos de fontes externas e/ou internas ao edifício. O empreendedor não tem poder de ação direta sobre as fontes exteriores, e os odores podem vir do ar externo (atividades industriais, redes rodoviárias, sistemas viários, redes e infraestruturas de saneamento e de resíduos) e do solo (poluentes químicos).

Quanto às fontes internas, o empreendedor dispõe de dois tipos de ação: limitar as fontes ou limitar seus efeitos propondo soluções arquitetônicas adequadas, como por exemplo, intervir nos produtos de construção, pois eles constituem a fonte principal de odores desagradáveis. Os odores ainda podem ser oriundos de produtos de conservação e manutenção, mobiliário, atividades e dos usuários (VANZOLINI, 2007, p. 198), pois existem características

únicas para cada substância, uma vez que fatores físicos como volatilidade, solubilidade e temperatura estão relacionados à geração desses odores (HWANG; MOON; BAEK, 2012, p. 2).

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