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“Criança gosta de brincar de roda Então vamos brincar Uma brincadeira de roda e pula, pula Mãozinhas na cintura olé, olé, olá...”. Marquinhos Monteiro

O Movimento no Estado de São Paulo vem acompanhando todos esses 25 anos de luta pela terra do MST em nível nacional. A luta pela terra no Estado de São Paulo, que deu origem ao primeiro assentamento do Movimento, foi organizada pelos sindicatos e pela Igreja, através da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Hoje, o Movimento, no Estado, está organizado em 10 Regionais conhecidas como: Regional do Pontal, Andradina, Promissão, Itapeva, Iaras, Sorocaba, Ribeirão Preto, Vale do Paraíba, Grande São Paulo e Campinas. A estrutura organizativa é semelhante à organização nacional, ou seja, possui como instâncias: o encontro estadual, a coordenação estadual, a direção estadual, a direção regional e os setores.

A regional de Itapeva localiza-se na região sudeste de São Paulo, próxima à divisa com o Estado do Paraná. Fica, aproximadamente, a 350 km da capital paulista. O clima é bastante frio no inverno e quente no verão. Sua economia tem como base a agricultura e a pecuária extensiva. Porém, na região, predominam as grandes plantações de reflorestamento de eucaliptos, destinados à fabricação de celulose e controlados por grandes grupos econômicos, como o Grupo Votorantin, Banco Itaú, Ripasa, e outros.

A regional conta com sete assentamentos e um acampamento, conformando um total são 450 famílias nessas áreas. Destes assentamentos, seis estão localizados na área da antiga fazenda Pirituba, pertencente ao governo do Estado

125 de São Paulo. Esta fazenda tem um total de 17 mil hectares, abrangendo os municípios de Itapeva, Itaberá e Itararé. O sétimo assentamento está localizado no município de Apiaí. Ainda, nesta regional, há seis meses, existe um acampamento, no município de Riversul.

Na década de 1950, o governo estadual idealizou um processo de assentamentos rurais na fazenda Pirituba, destinando os lotes para famílias de camponeses que tivessem disposição de desenvolver o plantio do trigo, aproveitando a potencialidade das terras e o clima da região. A responsabilidade desse projeto foi entregue à família Vicenzi, de origem italiana, que, distorcendo o objetivo do projeto criado, utilizou-se da concessão que lhe foi dada em benefício próprio. Assim, passou a vender os lotes ou a doá-los para pessoas do seu círculo de amizades.

Já, na década de 1970, o governo Carvalho Pinto, novamente preocupado em atender às demandas dos camponeses sem terra e de desenvolver a agricultura no Estado, procurou retomar o projeto de assentamentos na fazenda. Este novo projeto previa assentar 6 mil famílias em terras públicas do Estado de São Paulo. Além disso, estabelecia critérios bem claros: os lotes não deveriam ultrapassar o tamanho de 100 hectares; os beneficiários deveriam morar na área; prioritariamente seriam beneficiados os sem-terras da região. Também, receberiam prioridade, os que desenvolvessem a agricultura familiar, ocupando a mão-de-obra da própria família.

Apesar dos critérios serem claros, o projeto fracassou porque, novamente, sua responsabilidade de execução foi entregue a pessoas interessadas, unicamente, em tirar proveito próprio. Nesse caso, o projeto ficou sob a responsabilidade de um agrônomo, que cedia os lotes para fazendeiros. Dessa vez, foram beneficiadas famílias de origem holandesa.

Como reação a essa experiência de apropriação das terras públicas, anteriormente destinadas a um programa de reforma agrária, começou um processo de ocupação da fazenda. Ora, as ocupações se iniciaram de forma isolada, no início dos anos 80. Em 1982, ocorreu a segunda ocupação da área, dessa vez, organizada pelos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR) da região e pela Igreja Católica. Em 13 de maio de 1984, ocorreu a terceira ocupação da área, envolvendo cerca de 300 famílias, vindas de vários municípios da região, inclusive do Estado do Paraná.

126 Posteriormente, as famílias de origem italiana (às quais nos referimos anteriormente) retiraram-se da atividade agropecuária, priorizando o comércio na região, com influência bastante forte, enquanto que as famílias de origem holandesa permaneceram em pequeno número na atividade agrícola.

Hoje, as famílias assentadas trabalham em grupos coletivos ou em cooperativas. Para desenvolver o trabalho há, em média, uns 80 tratores nas 06 áreas de assentamentos, perfazendo um total de um trator para cada 15 famílias. A economia da regional está baseada na produção tradicional de milho, feijão e trigo, diversificando para a produção de leite, mel, suinocultura e de frutas.

Em pesquisa realizada por Márcia Ramos, ela aponta que:

A produção nos assentamentos está organizada de várias formas: cooperativas, associações, nucleação e individuais, predominando o sistema cooperativista e o trabalho coletivo, onde mais de 50% dos assentados se organizam através da cooperação, com isto, facilita um pouco mais a organização das crianças dos assentamentos. (1996:26)

Por sua vez, Antônio Júlio de Menezes Neto (2003:85-86) em sua pesquisa sobre a educação e cooperação no MST aponta que o sistema de cooperação desenvolvida pelo Movimento apresenta as seguintes etapas:

Os Núcleos de Produção – São as formas de produção mais primárias em que os meios de produção, a terra e o planejamento ainda são basicamente individuais.

A Associação – Esta forma de organização atua basicamente na prestação de serviços e onde, por exemplo, as maquinas são associadas. A terra permanece individual e os meios de produção são mistos

O Grupo Semi-coletivo – Neste grupo parte da terra e parte dos meios de produção são coletivos e outra parte é individual.

O Grupo Coletivo – Apresenta um estagio mais avançado, pois a terra, os meios de produção, o planejamento do trabalho ficam sob controle do coletivo.

127 A Cooperativa de Prestação de Serviços - Servem para comercializar, prestar assistência técnica, viabilizar os serviços com as máquinas, oferece cursos de formação política e capacitação técnica para organizar e beneficiar a produção. Nesta organização os meios de produção estão sob controle da cooperativa.

A Cooperativa de Produção Agropecuária – Difere das outras na sua essência, pois é uma empresa de gestão, produção e trabalhos coletivos. A terra fica sob controle do coletivo e a cooperativa deve esta localizada em área estratégica, ter plano de desenvolvimento. Todos os meios de produção estão sob controle da cooperativa. O Plano de produção é centralizado pela cooperativa.

Para Delwek Matheus:

Todas estas etapas de organização coletiva foram experimentadas pelas famílias, tinha grupos que se organizaram para a compra de máquinas, outros para viabilizar a comercialização ou compra de sementes, todas as famílias moram em agrovilas, todas as famílias participavam de alguma forma da cooperação agrícola. Somente a partir de 1989 que em todos os assentamentos criou as CPAs, ou seja, as Cooperativas de Produção Agropecuária.84

As famílias desta região vieram de vários Estados do país, tais como: Bahia, Alagoas, Minas Gerais, sendo que a maioria delas veio do Paraná e do próprio Estado de São Paulo. Estas famílias estavam à procura de trabalho e a alternativa que encontraram, para isso, foi se organizar e lutar por um pedaço de terra. Uma boa parte delas não havia concluído o ensino médio, mas isso não impediu que desenvolvessem uma militância com responsabilidade dentro do Movimento. Nota- se, nos dirigentes, uma enorme preocupação com a educação e a formação das crianças. Hoje, vários dirigentes dessa regional já concluíram o ensino médio, graças aos cursos em parcerias com as universidades – que o Movimento vem implementando em vários Estados – e, também, na Escola Josué de Castro no RS.

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128 O trabalho desenvolvido com as crianças na regional tem se baseado no respeito às mesmas. Para a direção, isto significa não limitar as oportunidades de descoberta, mas também significa conhecê-las, verdadeiramente, para proporcionar- lhes experiências de vida ricas e desafiadoras. Significa deixar que sejam crianças independentes e que estas possam expressar suas idéias com convicção para que, além do conhecimento, tenham confiança e habilidade para formar idéias próprias, atingindo seus objetivos.

É importante ressaltar que a regional em sua trajetória desenvolve a luta por escola e, como resultado disso, hoje, em um assentamento, tem escola desde o Pré - escola85 até o ensino médio. Ainda, a regional conta com a Escola Agroecológica Laudenor de Souza, com o ensino médio técnico em Agroecologia para os jovens que haviam parado de estudar e outros que queriam aprofundar um novo jeito de pensar a produção no assentamento.

No Estado de São Paulo, várias atividades educativas vêm sendo desenvolvidas com as crianças. Na regional de Promissão, por exemplo, há o costume da Folia de Reis, que, por algum tempo, deixou de ocorrer. Neste contexto, as crianças desta regional se organizaram e começaram a ensaiar com seus pais. Assim, montou-se um grupo somente de crianças que, há 5 anos, desenvolvem a folia de reis das crianças. Para eles é a maior festa, diz Maria José.86 Através da iniciativa destas crianças, a Regional retomou a festa da Folia de Reis.

Na regional de Ribeirão Preto a “leitura de barraco” é uma atividade realizada entre adultos e crianças. Para os adultos há uma caixa com diversos livros. Uma vez por semana há orientação e realização da leitura coletiva de um livro. Já as crianças, contam com uma caixa de livros, na sua grande maioria de literatura infantil. Assim, os educadores e educadoras também organizam a leitura com as crianças uma vez por semana. Também organizam com as crianças um sistema de empréstimo de livros para quem quer levar para casa.

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Na escola Terezinha Moura, à qual nos referimos, o Pré - escola I trabalha com crianças de 04 a 05 anos, e o Pré - escola II com crianças de 06 anos de idade.

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Maria José é assentada na Regional de Promissão e faz parte da Direção Estadual do MST no Estado de São Paulo.

129 Na Regional do Pontal do Paranapanema se desenvolvem várias parcerias como, por exemplo, o Projeto Guri, que é um projeto para estudo de música e que abrange, aproximadamente, 200 crianças.