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CONHECENDO UM MAMÍFERO DA NOSSA REGIÃO: A LONTRA

No documento Editora da FURG ! (páginas 135-140)

Josane Magnus da Luz Elton Pinto Colares Temos estudado muitos animais vertebrados, como aves, anfíbios, répteis, peixes, mamíferos. Do grupo dos mamíferos, conhecemos o homem, a baleia, o cachorro, o gato, o elefante, o urso, o coelho, o boto, o cavalo entre outros. Mas você conhece ou já ouviu falar de um mamífero da nossa região, que tem pelos densos, curtos e de cor marrom, corpo alongado, pernas curtas, cabeça alongada e chata, orelhas pequenas e arredondadas e é muito ativo?

Esse animal é a lontra! Seu nome científico é Lontra longicaudis e

pertence à classe dos mamíferos, ordem carnívora, Família Mustelidae e

subfamília Lutrinae.

Mas por que esse animalzinho é pouco conhecido por nós? Para que pudéssemos conhecer mais sobre a lontra, pesquisadores da FURG vêm estudando seus hábitos e características, pois existem poucos estudos a respeito dela, o que dificulta aos professores encontrarem informações a respeito desse animal, pois os livros didáticos pouco se referem a mamíferos aquáticos.

Assim, convido a todos para conhecer um pouco mais sobre alguns aspectos da lontra.

COMO É A LONTRA?

O corpo da lontra é delgado e flexível (podendo medir entre 53 e 81 cm). A pelagem é densa, a cauda musculosa com mais da metade do comprimento do corpo (podendo medir entre 36 e 50 cm), as patas têm membranas entre os dedos (membranas interdigitais), que facilitam a natação. Essas são características que a tornam perfeitamente adaptada ao meio aquático, mas com problemas para se deslocar em meio terrestre. Pode pesar de 6 a 12 kg, chegando eventualmente a 14 kg.

Há diferença entre machos e fêmeas (dimorfismo sexual), sendo que o macho é de 20 a 25 cm maior que a fêmea, com cabeça maior e pescoço mais largo.

QUAIS SÃO SEUS HÁBITOS?

Uma das dificuldades de conhecê-la é devida a algumas de suas características, como os hábitos crepusculares, podendo manter um regime de vida noturno devido a constantes perturbações ambientais. Também, por ser um animal solitário, de comportamento arredio e silencioso, torna-se difícil observá-la em seu meio natural. Por ser solitária, é difícil encontrar mais de um animal andando junto. Quando isso acontece, trata-se de fêmeas com crias. Eventualmente, pode-se observar casais de adultos, porém, somente enquanto dura o cio da fêmea.

Assim, os pesquisadores a estudam por meio de sinais que tornam evidente sua presença no local. Esses sinais são, principalmente, as fezes, o muco anal, o arranhado nos barrancos, as pegadas e as tocas. As pegadas são bem características e não deixam dúvidas quando as patas ficam impressas em substratos.

As fezes, em especial, são importantes no estudo da distribuição, da densidade populacional, da dieta, do período reprodutivo, da condição de estresse e dos parasitas. As fezes e a urina desempenham papel social, por serem usadas para delimitar território e podem ainda indicar a condição

sexual e o status dentro de uma dominância hierárquica. Como é um animal

solitário, comunica-se com os outros através de sinais visuais (marcas em árvores e barrancos) e sinais olfativos (feromônio nas fezes e urina). Esses sinais olfativos estão presentes em uma secreção produzida pelas glândulas de cheiro presentes no ânus e é depositada no terreno junto com as fezes. Esta secreção possui característica individual e única. Quando uma fêmea está no cio, o cheiro de sua urina serve para atrair o macho.

Embora não seja comum em espécies não sociáveis como as lontras, elas possuem comunicação sonora, emitindo um som agudo, parecido com um assobio ou guincho. O mais ouvido é uma sequência de sons semelhantes a latidos agudos, intercalados por grunhidos, o que indica inquietação ou advertência e é emitido pela fêmea para prevenir os filhotes em situações de perigo.

A lontra é um animal oportunista em relação ao consumo de alimento. Ela prefere animais mais lentos e que vivem no fundo dos rios para a sua alimentação. Sua base alimentar está concentrada nos peixes, mas completa a sua dieta com crustáceos, insetos, moluscos, anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos.

Não possuem época de reprodução definida. Em locais onde há boa alimentação e o clima é ameno, ela reproduz o ano inteiro. Em locais onde o inverno é rigoroso, como no Rio Grande do Sul, a lontra só reproduz durante a primavera e o verão. A gestação dura aproximadamente 70 dias. Nascem de 1 a 5 filhotes e são amamentados até, aproximadamente, 3 meses. O macho não exerce cuidado parental. Os filhotes nascem em refúgios naturais (camadas de tocas) como troncos ocos, espaços protegidos entre

raízes expostas em barrancos, espaços entre rochas ou em esconderijos feitos em barrancos pela fêmea na beira de um corpo d`água. Os filhotes nascem com os olhos fechados, que se abrem a partir dos 44 dias e começam a sair das tocas depois dos 52 dias de vida. Antes do desmame, que ocorre por volta dos 3 meses, a prole começa a ingerir alimentos sólidos, providenciados inicialmente pela mãe, mas, em seguida, num processo de aprendizagem, começam a capturar por sua própria conta. A fêmea intervém, dando-lhes presas cansadas. Os filhotes passam grande parte do dia brincando perto de suas mães. Aos poucos, começam a se afastar e ficam independentes com 1 ano de vida.

ONDE VIVE A LONTRA?

A lontra é encontrada nas Américas do Sul e Central. No Brasil, ocorre em quase todo o território nacional, exceto nas regiões mais áridas do país. Esse mamífero é localizado em praticamente todos os ambientes aquáticos, desde pequenos canais e banhados, a rios e lagos, assim como costas marítimas: baías, estuários e mangues. Nesse caso, dependem de uma vertente de onde possam obter água doce. Na cidade do Rio Grande (Sul do Rio Grande do Sul), esse animal é encontrado em todos os corpos d'água, que apresentam alimentação e proteção contra predadores e o ser humano.

A lontra é considerada animal aquático, mas, com hábitos anfíbios. Embora a sua principal fonte alimentar esteja concentrada na água, ela não está fisiologicamente adaptada a viver todo o tempo dentro da água, necessitando, portanto, que suas tocas e locais de descanso sejam em terra firme, as quais usa para dormir, proteger-se, ter e criar os filhotes. Naturalmente, esses locais devem oferecer um certo nível de dificuldade a potenciais intrusos. Assim, os fatores determinantes, que influenciam na seleção do hábitat, são: oferta de alimento, corpos d'água com densa cobertura vegetal e barrancos, onde possam construir tocas mais seguras e protegidas.

As lontras usam diversos tipos de refúgios, principalmente, cavidades naturais, que encontram nas margens dos rios como blocos de rocha e sob raízes de árvores da margem. Também podem escavar buracos rasos ou abrir espaços em meio à vegetação para refugiarem-se. Utilizam tocas, principalmente, para criar os filhotes. Os principais requisitos na escolha de um refúgio são a estabilidade e a proteção contra enchentes, predadores (requisitos encontrados em lugares como fendas em paredão rochoso ou caverna) e disponibilidade de alimentos.

Atividades humanas como caça, poluição por pesticidas e metais pesados, desmatamentos, modificação de rios para irrigação e drenagem de banhados para uso agrícola influenciam diretamente as atividades de vida do animal. Esses fatores podem fazer com que a lontra mude o período em que procura alimento ou dorme, ou são fatores decisivos no desaparecimento da lontra de um determinado lugar.

SUGESTÕES DE LEITURAS

BLACHER, C. Ocorrência e preservação de Lutra longicaudis

(Mammalia-Mustelidae) no litoral de Santa Catarina. [S.l.]: FBCN, 1987.

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______. A lontra: aspectos de sua biologia, ecologia e conservação.

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PARDINI, R. Estudo sobre a ecologia da Lontra longicaudis no Vale do

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desenvolvimento da Amazônia: fatos e perspectivas. Manaus: [s.n.], 1991.

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XAVIER, G. A. A. et al. Levantamento mastofaunístico das reservas

ecológicas do município de Itamaracá PE / LEMAITA. In: CONGRESSO

NORDESTINO DE ECOLOGIA, 7., 1997, Ilhéus. Resumos... Ilhéus: [s.n.],

UNIDADES

No documento Editora da FURG ! (páginas 135-140)