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5 A INTEGRAÇÃO DE CONTEÚDOS NOS PROJETOS DE

5.2 ANÁLISE DO REBATIMENTO DA INTEGRAÇÃO DE CONTEÚDOS NOS

5.2.6 Conhecimento específico: Relação Usuários e Ambiente

Considerando as metodologias de projeto, citadas pelos próprios autores dos TFGs, que consideram a caracterização do usuário como premissa fundamental para as ideias básicas do partido, e que há no próprio CAU/UFRN pesquisas consolidadas que estudam as questões relacionadas à interação usuário/ambiente, o que está estabelecido oficialmente como interáreas, foi alçado, para efeito desta pesquisa especificamente, à condição de área de conhecimento, tendo em vista que o reconhecimento da necessidade de comunicação entre projetistas e usuários de ambientes para identificação de suas exigências ou para saber de que realmente eles precisam, levam o arquiteto a recorrer a outras áreas de conhecimento, como a ergonomia, por exemplo. Além disso, considerando a orientação de projeto que visa o acesso universal a toda e qualquer edificação de uso público, fez-se necessário investigar se o conhecimento específico sobre a relação entre usuários e ambientes, dada pela informação no discurso ou pela presença da figura humana no desenhos, está presente nos projetos apresentados.

Desta forma, analisando primeiramente o discurso dos autores, buscou-se a informação sobre a definição dos usuários potenciais do projeto. Destaca-se que este é um aspecto considerado nas metodologias de projeto definidas por alguns autores citados nos TFGs, como uma base necessária para a tomada de decisões de projeto.

Observou-se, então, que em dezenove trabalhos (31,7%) apenas a quantidade total de usuários é mencionada; em dez (16,7%), é determinada a quantidade de usuários por turno; em vinte e um (35%) são definidas diferentes categorias de usuários; e apenas catorze trabalhos (23,3%) mencionam a condição social e econômica dos usuários. Do total da amostra, dezoito trabalhos (30%) não fazem, no texto, qualquer alusão aos usuários, nem quantitativa nem qualitativa. A ausência deste tipo de informação pode acarretar dúvidas quanto, por exemplo, ao cálculo correto do volume de água necessário para a edificação, uma vez que, para algumas tipologias o cálculo é baseado na quantidade de usuários.

Ao se analisar os desenhos, buscou-se identificar se havia a presença da figura humana, ainda que somente para indicar a acessibilidade dos ambientes, como por exemplo, a representação da acessibilidade em cadeira de rodas. Constatou-se que a figura humana foi representada no desenho de planta baixa de

trinta e nove trabalhos (65%); em quarenta e cinco trabalhos (75%) a representação se deu nos cortes (Figura 39); em trinta e quatro deles a figura humana aparece nas fachadas; e em trinta trabalhos ela é representada nas volumetrias do edifício. Apenas em seis trabalhos não há qualquer representação da figura humana nos desenhos do projeto. Observou-se que a figura humana é, em geral, uma mera representação e a que mais aparece é a do cadeirante.

Figura 39: Exemplo de corte no qual são apresentados o mobiliário e a figura humana

Fonte: TFG 45, 2009.1

Uma outra forma de verificar se houve preocupação com o usuário no momento da concepção do projeto, pode se dar pela existência ou não do layout dos ambientes nas representações do projeto. O layout permite observar a existência de circulação necessária entre o mobiliário, para que o ambiente possa ser ergonomicamente adequado. Assim sendo, a presença de layout indicando apenas o mobiliário básico (bancadas fixas e peças sanitárias) foi observada em 16 trabalhos; trinta e sete (61,7%) apresentaram, além do mobiliário básico, alguns complementos; e outros sete trabalhos apresentaram o layout acrescido de muitos complementos, com a indicação não só de móveis mas de outros objetos também.

Por fim, reforçando o aspecto do desenho universal a ser considerado no projeto para que todos, independentemente de restrições físicas, possam ter acesso ao edifício, buscou-se verificar a identificação de acessibilidade nos espaços. Desta forma, foi verificado que trinta e oito trabalhos (63,3%) apresentam esta indicação nas áreas de circulação externa, seja pela presença de rampas, piso tátil e/ou vagas de estacionamento, conforme o que recomenda a NBR 9050 e que foi citada nos textos; oito trabalhos apresentam indicação de acessibilidade em áreas de circulação interna, percebidas pela presença de elevadores, plataformas de percurso

vertical ou rampas; seis possuem esta indicação em áreas externas de uso comunitário; e quarenta trabalhos (66,7%) do total da amostra, apresentam indicação de espaços acessíveis em áreas internas de uso comunitário, dada pela presença de sanitários ou ambientes adaptados, como por exemplo, unidades habitacionais em estruturas de hospedagem (Figura 40).

Figura 40: Planta baixa do apartamento Standard acessível

Fonte: TFG 39, 2008.2

Em apenas seis trabalhos não se observou a presença da indicação de acessibilidade. Destaca-se que dois trabalhos propõem projetos para habitação unifamiliar, em que não há a obrigatoriedade de determinação de ambientes acessíveis (Figura 41).

Figura 41: Planta baixa de uma habitação segundo os parâmetros do Programa de Arrendamento Residencial – PAR

Fonte: TFG 29, 2007.2

A análise dos dados, de uma forma geral, reforça o que já foi observado na pesquisa realizada pelo grupo Projetar/UFRN, de que há pouca preocupação dos estudantes a esse respeito ou que, se estes aspectos acima apresentados foram considerados durante a elaboração das propostas, eles não foram discutidos claramente no texto do trabalho, caracterizando uma séria lacuna no documento. Os TFGs analisados tendem, então, a ser superficiais quanto à definição do usuário. Em termos de desenho, percebe-se que a “humanização” do projeto por meio de layout e da presença de figura humana restringe-se a uma apresentação geral, mais como indicadora da escala da proposta. O uso de ferramentas digitais como o CAD e o Sketchup e das bibliotecas de imagens facilita a “humanização” dos espaços a partir da utilização de modelos prontos, mas, por outro lado, verifica-se que não há

preocupação com a completa adequação das imagens em termos temáticos ou de conforto ambiental, podendo-se destacar, por exemplo, escola para educação infantil sem figuras de crianças, casas de idosos sem figuras de idosos, ou pessoas com casaco de pele em pleno nordeste brasileiro (VELOSO et al, 2008).