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4 DA REPRESENTAÇÃO À SIMULAÇÃO, DO ANALÓGICO AO DIGITAL

4.3 O Conhecimento por Simulação

Couchot afirma que as imagens de síntese são reconhecíveis por duas características essenciais: elas são calculadas pelo computador e são capazes d

ação por excelência e sua conexão a dispositivos de entrada, como o teclado e o mouse, e de saída, como o monitor CRT e a impressora, potencializaram

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LÉVY, 2004, p. 101.

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automatismo/interatividade ocorre sob camadas distintas da execução de um comando, em sincronismo. Enquanto o acesso aos menus de um programa é no modo dialógico, interativo, as operações computacionais são automatizadas, o que não quer dizer que um programa completamente automatizado não seja interativo, ou vice-versa.

A produção de imagens de síntese constitui-se, entretanto, como um subprodu

a comunicação funcional entre o usuário e a máquina, em tempo real. Desse modo, o uso

a simulação como catalisador do processo cognitivo, quer dizer, como amplificador da memória curta e do raciocínio, tem se estendido a uma velocidade cada vez maior em considera que a simulação computacional ermite ampliar a imaginação, atuando como uma “ferramenta de ajuda ao raciocínio

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servem para satisfazer critérios de pertinência do aqui e agora, devem ser

to, ainda que decisivo, do processo de digitalização, segundo ele, “a ambição dos cibernéticos e dos informáticos era, na realidade, desde as primeiras calculadoras, simular artificialmente o pensamento, a inteligência”. A interatividade tornada possível pelas diversas camadas de interfaces de hardwares e softwares que estruturam o computador modifica radicalmente a natureza das informações visuais, sonoras e textuais apresentadas. Assim, o autor é também usuário, possibilitando a mesma experiência comunicacional, tanto na criação quanto na apreensão da obra, através de uma linguagem cada vez mais homogênea, a dos softwares.

Se a figuração por projeção se limita ao aspecto visível do real, a simulação numérica reconstrói o real a partir da linguagem codificada dos computadores, especialmente no percurso do devir virtual que conhecerá nas interações com o observador. O conceito de simulação está, como já foi dito, intimamente relacionado com o de interatividade, de modo que o modelo computacional demanda por um

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quase todos os campos científicos. Lévy p

is potente que a velha lógica formal que se baseava no alfabeto”. Ele ainda opõe a simulação à teoria, afirmando que “enquanto a teoria se encarrega de produzir uma rede de enunciados auto-suficientes”, objetivos e passíveis de interpretação consistente, ou seja almejando a verdade e universalidade, à simulação correspondem as etapas de raciocínio mental anteriores à escrita. Os modelos usados nas simulações

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papel, mas sim explorado de forma interativa. Para Lévy, o modelo informático é, na sua essência, plástico, dinâmico, quer dizer, dotado de um

circunstanciais no momento da construção do modelo, mas também podem ser persuasivos no momento da visualização da imagem na tela do computador. A criação de softwares para simuladores dedicados, principalmente no caso de aeronaves, trens e veículos especiais, popularizou de tal maneira seu uso que a simulação chega a ser, de modo equivocado, considerada superior à realidade.

Lévy afirma que a memória se encontra tão objetivada em dispositivos técnicos automatizados, tão separada do corpo dos indivíduos ou dos hábitos coletivos que a exigência de reorganização em tempo real não se limita aos processos produtivos, mas visa também aos agenciamentos cognitivos pessoais.144 Os conhecimentos podem novamente ser objetos de transformações operacionais, graças aos programas de simulação e de modelização computadorizada. O saber informático se afasta tanto da oralidade primária, quanto da teoria nascida da escrita: ele procura a velocidade e a pertinência operacional. Em oposição ao modo analógico de conhecimento, um modelo digital não é lido ou interpretado como um texto escrito sobre

a certa autonomia de ação e reação.

Dentro da Arquitetura, os programas de projetos auxiliados por computador (CAD) são os referenciais mais próximos ao conceito de simulação existente. Nicholas Negroponte145 foi um dos primeiros teóricos a se pronunciar sobre as diferenças entre um sistema CAD e qualquer outro sistema computacional onde não haja a necessidade premente de uma retroação da informação, ressaltando que a interatividade é uma condição necessária para o conhecimento por simulação. Em seu livro The Architecture

Machine, podemos perceber que computação gráfica não é o mesmo que um sistema de

projeto auxiliado por computador. Para Negroponte, “não importa o quão sofisticado seja o sistema computacional, é apenas um quadro negro admirável ou um pedaço de papel, ainda que possivelmente tridimensional, até que evidentemente “responda” e participe de fato do diálogo”.146 As possibilidades de testar novas inserções em edifícios e conjuntos urbanos, bem como a resistência de novos materiais às condições climáticas

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LÉVY, 2004, p. 118.

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NEGROPONTE, Nicholas. The Architecture Machine. Massachusetts: MIT Press, 1970. , p. 37.

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tos ambientais de um evento, ele pode descobrir empiricamente uma série de ações e reações através das quais ele poderia de modo intuitivo elabor

entos das cidades.

e a diversidade de esforços mecânicos, tem estimulado o uso cada vez mais freqüente de simulações digitais. Mantendo o foco apenas na Arquitetura podemos imaginar o quanto seria economizado em processos de tentativa e erro para o desenvolvimento de novos projetos e pesquisas. Ainda em Negroponte, vemos como a simulação computadorizada de eventos pode beneficiar a Arquitetura em dois momentos distintos. Em primeiro lugar, se o usuário não tem conhecimento dos aspec

ar hipóteses e algoritmos aplicáveis a outros contextos. Um exemplo dessa abordagem seria a aplicação de variáveis conhecidas num sistema de circulação viária na forma de uma instrução matemática no computador. Assim, quando a máquina, nas palavras de Negroponte, usando estas regras, constrói sistemas de circulação utilizando os parâmetros conhecidos, revela as divergências entre o que deveria ser e o que eventualmente é, possibilitando correções e a formulação de novas hipóteses. Em segundo lugar, presumindo que as regras estão corretas, tendo sido formuladas em conjunto com o computador, ou independentemente, o usuário poderá comprovar sua hipótese num determinado contexto. Negroponte, na década de 1970 já acreditava que arquitetos e urbanistas poderiam ver, em monitores de vídeo, simulações de engarrafamentos, colisões ou movimentos de pedestres nos cruzam

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Assim, com os programas orientados para objetos referenciados por Lévy, em que entidades distintas são capazes de realizar certas ações e de se comunicar umas com as outras, “a relação com o modelo não consiste mais em modificar certas variáveis numéricas de uma estrutura funcionalmente abstrata”,148 como era o caso da programação clássica de computadores. A simulação computacional permite que o usuário opere sobre modelos mais complexos e em maior número do que se estivesse reduzido aos recursos de sua imaginação e de sua memória de curto prazo, mesmo ampliadas através de representações no papel. De acordo com Lévy, o conhecimento por simulação alcança níveis de entendimento e comunicação antes inimagináveis graças ao tempo real. De fato, o modelo não é mais visto como um enunciado teórico,

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NEGROPONTE, 1970, p. 47.

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