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PARTE II RESULTADOS E DISCUSSÃO DO ESTUDO DE CASO

5.1.1 Conhecimento sobre a área de estudo

Inicialmente procurou-se resgatar o passado da orla do canal da Barra da Lagoa mediante aplicação do questionário apresentado em anexo. Indagou-se se havia agricultura e, se sabiam o que era cultivado naquela época. Também se perguntou sobre as residências que existiam, em quais

locais da orla do canal havia residência. Investigou-se também sobre as atividades de criação de gado.

Há quanto tempo você conhece o entorno do canal

13% 77% 7% 3% Menos de 30 anos De 30 a 60 anos De 65 a 80 anos Mais de 80 anos

Figura 15 - Conhecimento sobre a orla do canal da Barra da Lagoa

Fonte: Elaborado pela autora

Foi observado que 77 % dos entrevistados conhecem o local há mais de trinta anos, são pessoas que puderam contribuir com as informações sobre o processo de ocupação da orla do canal. Enquanto que, 13 % dos entrevistados conhecem a orla do canal há menos de trinta anos. Entre esses últimos, alguns não são nativos da Barra da Lagoa. Dos que conhecem o local há mais de 65 anos, correspondendo a 10 % dos entrevistados, a maioria dessas pessoas nasceu na comunidade da Barra da Lagoa. Os que tinham mais de 80 anos de idade relataram aspectos muito importantes sobre o histórico da orla do canal, como pode ser observados nos aspectos, abaixo relacionados: a agricultura praticada, as ocupações, a vegetação natural.

5.1.1.1 A agricultura

Os entrevistados disseram que existiam lavouras, e dentre as plantações citaram: plantação de café, milho, banana, cana de açúcar e feijão (que quase todos plantavam) no morro. Em terrenos próximos ao canal, alguns plantavam arroz (nas partes baixas que eram banhados). Havia muitas plantações de mandioca na parte baixa, esta era a maior lavoura cultivada pela comunidade. Havia também gado e engenhos de farinha de mandioca. As pessoas mais antigas disseram que na Barra da

lagoa existiam 16 engenhos de farinha de mandioca e 2 engenhos de cana de açúcar, cachaça e melado.

5.1.1.2 A vegetação

Os entrevistados responderam que havia mangues, junco, corticeira e taboa na beirada do canal. Essa vegetação existia quando havia outros canais secundários. Com a dragagem do fundo do canal parte da vegetação foi eliminada, como exemplifica as respostas de algumas das pessoas entrevistadas, que estão abaixo expostas:

“Havia muito mangue, mas quando o canal foi dragado a areia do fundo foi colocada em cima

do mangue, inclusive onde eu moro agora, antes era mangue. Havia mangue em todo o terreno

da Porto Belo, onde querem fazer o Porto da Barra, que foi aterrado. Existia a Ilha Tia Bela no

espaço da Porto Belo que foi tudo aterrado”;

“O canal dava muito peixe, muito camarão e as ruas não chegavam na beira do canal, era tudo

mato”.

A pesca realizada no canal sustentava as famílias, pois era bastante abundante. Os entrevistados comentam que era só bater na vegetação da orla do canal para que os peixes saíssem em abundância. Essa questão evidencia que a vegetação existente naquela época permitia a criação de várias espécies de peixes que era usada para o sustento dos que viviam na comunidade.

5.1.1.3 As ocupações

Segundo os entrevistados havia poucas casas há mais de 80 anos atrás. Dentre as respostas dos entrevistados, expõe-se: “na beira do canal foi há uns 30 anos para cá que aumentou tanto,

antes só havia lá em cima perto da fortaleza e na boca da Barra, mais na praia era um total de 7 casas na orla”. Relatam que na beira do canal havia ranchos de canoa e as diversas casas que surgiram foi a partir da década de 70. “Há uns trinta anos ainda era possível passar pela beira do

canal desde a Fortaleza até a praia”. As primeiras casas que surgiram na Barra da Lagoa tinham paredes fabricadas com barro, amarradas com cipó e cobertas com palha. Todo o material para a construção das casas os nativos retiravam do morro próximo ao canal.

Essa questão aborda o sentimento das pessoas com relação às mudanças que elas sofreram em suas vidas, e o que dizem com relação a não poderem mais usar a orla do canal como o faziam.

O que representa para você estas mudanças que ocorreram (ocupações dos espaços nas margens do canal)?

Percebe o impacto de se ocupar estas áreas?

23% 67% 10% Melhorou Piorou Não opinaram

Figura 16 - Mudanças na orla do canal

Fonte: Elaborado pela autora

Segundo os entrevistados, pode se observar que 67 % consideram que as mudanças ocorridas pelas ocupações na orla do canal foram um acontecimento ruim. Para estes, o fato de não conseguirem trafegar, de esticar as redes para secar ou até mesmo de tomar banho e usar uns dos tantos trapiches particulares é um fato que os deixa incomodados. Abaixo, verificam-se as respostas sobre o que os entrevistados pensam das ocupações:

“O terreno é deles porque compram, acham que o rio também é deles. Infelizmente no nosso

Brasil não há justiça”;

“Hoje não se tem liberdade, geralmente está se comprando o terreno, está se comprando o rio

também. Eles acham que compram o rio só não pagam. Não se passa mais na beira do rio”; • “Há muitas mudanças, antes era possível tomar banho, agora é tudo murado, os proprietários

não deixam nem circular na água deles, uns colocam cachorros para ninguém chegar perto outros mandam a gente sair da água deles”;

“Antes não havia trapiches, havia areia e era limpo como uma praia, não havia tantas pessoas

para tomar banho e não dá para passar, há muros. Se você ficar em cima de um trapiche desses, o proprietário manda sair, como já aconteceu comigo”.

Segundo os entrevistados, há aproximadamente uns 20 anos que começaram a serem construídos os trapiches. Cada ano tem aumentado o número deles, pois são construídas mais casas e com elas os trapiches.

Percebe-se que há muitas reclamações por parte dos nativos em relação às ocupações das margens do canal e eles demonstraram que estão se sentindo incomodados com a situação das restrições de uso da orla causada pela privatização. No entanto eles reconhecem a propriedade dos outros, pois compraram os terrenos como foi relatado acima.

Observa-se que segundo 23% dos entrevistados as mudanças trouxeram melhorias para a comunidade, como relatam:

“Foi bom, o turismo trouxe dinheiro”;

“O turismo trás renda e melhorou para o pescador que aluga casa”.

Para alguns, principalmente para aqueles que possuem pousadas ou casas para alugar, consideram todas as transformações boas, pois estão trazendo renda para o sustento de suas famílias.