• Nenhum resultado encontrado

PARTE I: DEMARCAÇÃO DO FENÔMENO REFERENCIAL TEÓRICO

4 CENÁRIO DA ÁREA DE ESTUDO

4.2 A formação do Canal Lagunar

Muitos chamam o Canal da Barra da Lagoa de rio, mas segundo o Professor Caruso Júnior a formação do ambiente é que determina ser um canal e não um rio. Em períodos passados, cujo processo inicial foi há cerca de 120.000 anos, quando o nível do mar estava acima do atual formou- se a praia da Barra, a de Moçambique e a formação da laguna. No tempo geológico, antes da formação daquela barreira arenosa que hoje é chamada de praia de Moçambique, tudo aquilo, geomorfologicamente falando, era como se fosse uma baía na entrada do mar. As águas do mar banhavam o local que hoje é costa da laguna. Havia uma grande enseada desde a Ponta das Aranhas até a Barra. Com o passar do tempo geológico, em duas ocasiões, com as subidas e descidas do nível do mar, começou a se formar uma barreira adjacente, e essa que era outrora enseada passou a ter

23Estas oficinas “são locais onde se praticava o polimento de instrumentos de pedra e que por isso deixaram marcas côncavas nas pedras.” Os instrumentos usados: “machado, quebra-coquinhos, amoladores, pesos de rede, lascas para bater, cortar serrar e furar”.

característica de um corpo lagunar. Na época suas águas ficaram aprisionadas pela barreira arenosa que ali se formou (informação verbal)24.

Houve uma fase regressiva do nível do mar que durou até 18.000 anos atrás. Esta fase proporcionou que a laguna ficasse seca e a linha de costa fosse regredida de tal forma que ali criou uma grande planície costeira. Mas as ações dos ventos colaboraram para que as dunas se deslocassem para as encostas dos morros da praia da Joaquina e da Galheta e os rios que surgiram dos morros foram formando a laguna novamente (CARUSO, Jr.e FRASSON, 2000).

Com as alterações do nível do mar e a necessidade de saída das águas aprisionadas, e devido às chuvas intensas nas encostas, para essas águas chegarem até o mar, rompeu-se ou seccionou-se a barreira permitindo a formação de canais. Pelos indícios geológicos, nos últimos 5.000 anos, existiam dois locais com canais que faziam conexão entre a laguna e o mar. Um localizava-se no rio vermelho, na praia do Moçambique, o outro local ficava na Barra da Lagoa, onde hoje existe um Camping no local. Nos últimos milênios, esses dois canais ficaram assoreados e um novo canal se formou em outro local para escoar a água da laguna e para permitir a entrada da água do mar que é o Canal existente atualmente (CARUSO, Jr.e FRASSON, 2000).

Assim, o canal da Barra da Lagoa surgiu para poder dar vazão às águas da Lagoa e para permitir a entrada do mar para seu interior nos períodos de alterações das marés. Então, nesse local havia uma barreira que foi rompida e, deu lugar ao que é hoje, canal da Barra da Lagoa. Trata-se de um canal de escoamento de água lagunar que sucede a entrada de água marinha proveniente do fluxo da maré. Existem rios e riachos que chegam até a laguna, mas, mesmo que exista a mistura de água doce no canal, este jamais pode ser caracterizado como um rio. O Canal é único meio de ligação entre o mar e a laguna. Assim, no sistema laguna-barreira, existe três subsistemas muito bem delineados morfologicamente, que são: a laguna, a barreira e o canal de ligação com o mar25.

O Canal da Barra da Lagoa constitui a comunicação entre a laguna (Lagoa da Conceição) e o mar(Figura 05).O comprimento do Canal é de 2,5 km de comprimento e aproximadamente de 20 e 30m de largura, e algumas partes chega até a 40 m de largura, a profundidade varia de 2 a 3m. Suas águas são constituídas pela mistura das águas da laguna e águas marinha, desembocando no mar bem ao sul da praia da Barra da Lagoa (SIERRA DE LEDO e SORIANO-SIERRA, 1999).

24

Entrevista realizada em 24 de junho de 2004.

4.2.1 A Laguna – Lagoa da Conceição

A Lagoa da Conceição ligada ao mar através do Canal da Barra é um dos cartões postais da Ilha de Santa Catarina. Sua origem está associada a variações relativas do nível do mar durante o período quaternário. Em sua costa arenosa apresenta vegetação de restingas e marismas. Sua bacia localiza-se no sentido Leste da Ilha de Santa Catarina, atrás de depósitos arenosos, com um comprimento de 13,5 km e largura entre 2, 5 km e 150 m, área total de 19,2 km². O rio principal que drena a Lagoa é o Rio João Gualberto, localizado no sentido Norte do corpo lagunar. Em suas águas são encontradas várias espécies de peixes, de crustáceos e de moluscos. Esta laguna também é muito utilizada para a recreação (SIERRA DE LEDO e SORIANO-SIERRA, 1999).

Segundo Esteves (1988), no Brasil usa-se o termo lagoa para todos os corpos d’água costeiros ou interiores. Mas o autor afirma que, embora seja de caráter regional e de ampla aceitação, não é um procedimento correto, pois a maioria das lagoas da costa brasileira são, na verdade, lagunas. Isto se aplica também para a Lagoa da Conceição.

Ainda, segundo Diegues (1999), as lagunas costeiras estão situadas próximas da praia e ligadas ao mar. Denotam importância para o litoral brasileiro, pois contribuem para a pesca artesanal e para o turismo. Além disso, proporcionam ambiente para a reprodução de vários tipos de peixes. Embora seja de grande importância para a reprodução da fauna, com a crescente demanda de populações estabelecendo-se neste entorno lagunar, poluindo suas águas pelo despejo de esgotos e dejetos, esta acaba sendo vítima do seu valor como recurso natural, de beleza ímpar (GARCIA, 1999).

A Laguna da Conceição caracteriza-se como um estuário. Segundo Diegues (2002, p. 15), “Estuários26: estão permanentemente ligados ao mar, onde a água salgada se mistura à água doce proveniente da drenagem continental”. O termo ‘zona estuarina’ refere-se às áreas de transição afetadas direta ou indiretamente pelo estuário, como as “baías, lagoas, águas interiores, canais, áreas inundadas pela maré e áreas costeiras entre marés” (KJERFVE, 1984 apud GUIMARÃES e MARONE, 1995, p. 73). Segundo estes autores, o sistema estuarino apresenta as seguintes zonas:

• Zona de maré do rio: trata-se da parte fluvial de água doce e influência da maré;

26 Cf. Lei 14.250 de 5 de junho de 1981 – Legislação Ambiental Básica, em seu art. 43, define estuário e laguna: “VI - estuário - a área na foz de um rio onde as ações das marés provocam a mistura das águas salgadas com as águas doces, normalmente com formação de manguezais; VII - laguna - o lago de barragem ou braço de mar pouco profundo entre bancos de areia ou ilhas“.

• Zona de mistura: é o estuário que em suas águas contém a mistura de água doce pela desembocadura na entrada do estuário e de água salgada pela ligação com o mar;

• Zona costeira: diz respeito à região costeira do mar adjacente. Sendo que, a extensão horizontal da zona costeira depende da intensidade da descarga do rio ou canal.

Devido à mistura de água doce e salgada, os estuários são sistemas de água complexos. A circulação das águas de um estuário (influenciada por fatores como: descarga de água doce, correntes de maré e tensão do vento) é que determina a qualidade da mesma, pois esta é responsável pelo transporte de nutrientes e sedimentos, entre outras substâncias (GUIMARÃES e MARONE, 1995).