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PARTE I: DEMARCAÇÃO DO FENÔMENO REFERENCIAL TEÓRICO

3 GERENCIAMENTO COSTEIRO INTEGRADO

3.1 O Gerenciamento Costeiro

As atividades de gerenciamento na zona costeira tiveram início no contexto internacional nos anos 60 e 70. Foram iniciadas nos Estados Unidos da América, onde foi aprovado em 1972 o ‘The

Coastal Zone Management Act’ (CZMA). Este instituiu legalmente a cooperação voluntária entre o governo federal e os estados litorais (PINHO, 2003).

Nos anos 80 o Comitê Permanente das Regiões Periféricas Marítimas criou a Carta Européia do Litoral. Esta tinha o objetivo de coordenar esforços nacionais, regionais e locais visando a proteção e valorização, a organização e a gestão com a prevenção de riscos do litoral europeu. (PINHO, 2003).

Nos anos noventa o Gerenciamento Costeiro passou a ter um maior reconhecimento, sendo implementado em vários países. Segundo Hildebrand (1997), a Conferência Internacional de Oceanografia em Lisbôa, realizada em 1994, buscou dar um enfoque na questão costeira e desenvolveu uma visão compartilhada sobre os oceanos. Dentre as questões que, segundo a Conferência, devem ser consideradas para o conhecimento científico e gestão da zona costeira, estão:

• Reforçar a comunicação e o diálogo entre os cientistas, os administradores e o público; • Cooperação dos níveis global, regional e local;

• Usar o conhecimento local;

• Ampliar o entendimento da sociedade sobre a ciência marinha através de intercâmbios e do desenvolvimento de uma conscientização por parte da sociedade.

Sobre esta questão, observa-se que a Conferência enfatizou a participação da sociedade nas questões relacionadas ao conhecimento e ações sobre a gestão costeira. Com isso, compreende-se então que a participação da comunidade nas decisões e ações é fundamental para a integração do gerenciamento. As observações da inclusão do conhecimento das comunidades tradicionais para a preservação do meio ambiente parece ser um dos itens relevantes para haver integração no processo de gestão.

A necessidade do envolvimento de todas as pessoas no processo de gestão costeira gera a cooperação de diversos conhecimentos, desde o tradicional até o conhecimento tecnológico, de novas técnicas, sendo que esta integração proporcionará a participação de todos no processo do gerenciamento costeiro cooperativo. No entanto, esta participação ativa de todos, requer uma mudança de atitudes entre os diversos níveis de governo e da sociedade.

Arthurton (1997) argumenta que para haver uma política de gerenciamento efetivo das zonas costeiras, o pré-requisito é o conhecimento das extensões da natureza em escala física, química e trocas biológicas que ocorrem na região costeira. Para este autor, o sucesso das iniciativas, de maneira geral, depende da avaliação correta das trocas ou intercâmbio que acontecem nos ambientes costeiros, bem como, da avaliação das conseqüências sócio-econômicas sobre estes ecossistemas.

3.1.1 Gerenciamento Costeiro na Agenda 21

A Agenda 21 em seu Capítulo 17 expressa de forma abrangente as necessidades para o estabelecimento de novas abordagens de gerenciamento costeiro, sendo que este deve ser executado por meio de planejamentos regionais, nacionais e em nível mundial. Lembrando também que dentre as condições para um bom gerenciamento está a atuação multidisciplinar em todos as esferas da organização da sociedade. Nas decisões do processo é importante levar em conta à área social, econômica, institucional e ambiental. Esta participação faz-se necessária, devido o reconhecimento de que a complexidade existente na atualidade sobre as questões locais e, inclusive mundiais, de certa forma estão inter-relacionadas. Para tanto, mediante a percepção de que há uma inter-relação no processo de tomada de decisão, que pode gerar conseqüências diversas, esta consciência pode levar a um despertar para as responsabilidades dos atos de cada membro, da sociedade civil, órgãos administradores, empresas etc (CNIO, 1998).

O Capítulo 17 da Agenda 21 para a proteção das Zonas costeiras dispõe o seguinte: “Gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas costeiras, inclusive zonas econômicas exclusivas”. Dentre as bases para a ação são destacadas questões importantes como:

- A área costeira contém hábitats diversos e produtivos, importantes para os estabelecimentos humanos, para o desenvolvimento e para a subsistência das populações locais;

- Mais da metade da população mundial vive num raio de 60 quilômetros do litoral; - Muitos dentre os pobres do mundo vivem aglomerados nas zonas costeiras; - Os recursos são vitais para muitas comunidades locais e populações indígenas;

- A zona econômica exclusiva também é uma importante área marinha, onde os Estados gerenciam o desenvolvimento e a conservação dos recursos em benefício de suas populações;

- Em se tratando de pequenos Estados ou países insulares, essas são as regiões que melhor se prestam às atividades ligadas ao desenvolvimento (AGENDA 21, 1992, p. 3).

As características levantadas acima denotam a importância que se deve dar nas formas de uso e ocupação do solo das zonas costeiras. Tais características geralmente levam estes espaços a qualificação de zona litorânea privilegiada.

Dentre os objetivos para o gerenciamento costeiro da Agenda 21, estão o comprometimento dos Estados costeiros em praticar o gerenciamento integrado sob suas jurisdições nacionais de forma a: estabelecer um processo integrado com políticas definidas incluindo todos os setores envolvidos; identificar as práticas de utilizações das zonas costeiras; definir bem as questões de gerenciamento costeiro; adotar medidas preventivas na elaboração e implementação dos projetos; promover o desenvolvimento e a aplicação de métodos visando a proteção do meio ambiente; informar e apoiar a participação dos cidadãos, organizações e grupos no planejamento e tomada de decisões nos níveis apropriados (AGENDA 21, 1992).

Em nível nacional e local, cabe aos Estados promover o gerenciamento integrado das zonas costeiras. Ainda, para estes mecanismos faz-se necessário consultas “aos setores acadêmicos e privado, às organizações não-governamentais, às comunidades locais, aos grupos usuários dos recursos e as populações indígenas.” Em relação aos dados e informações, segundo a Agenda 21, deve-se priorizar as informações para o gerenciamento costeiro. Ainda, dentre as recomendações, deve-se proporcionar dentro dos critérios do desenvolvimento sustentável, os usos das áreas costeiras, recursos, atividades, habitats e as áreas protegidas.

Outra questão que vale a pena lembrar trata-se do “Fortalecimento da cooperação e da coordenação no plano internacional, inclusive regional”, sendo que, segundo as recomendações da Agenda 21, esta cooperação deve ter caráter de apoiar e complementar os esforços nacionais para o desenvolvimento das áreas marinhas e costeiras. Assim, dentre as questões está à promoção

periódica, no âmbito do sistema das Nações Unidas, de mecanismos de análises que atendam aos âmbitos intergovernamentais sobre o ambiente costeiro, bem como o fortalecimento da coordenação dentre os organismos das Nações Unidas (AGENDA 21, 1992, p. 116).