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2. Análise dos dados do estudo empírico

2.3. Conhecimento sobre assuntos da União Europeia

Através dos questionários pré-mobilidade procurámos saber qual o conhecimento que os estudantes apresentam sobre alguns assuntos, cuja tema poderia ser do seu interesse directo e ao nível geral, sobre a UE.

Relativamente ao sistema de créditos europeu, cerca de 27,8% dos alunos afirma desconhecer se a sua licenciatura está convertida para os sistema ECTS (European Credit Transfer System). Contudo, 40,7% afirma que esta conversão existe.

Segundo informação disponibilizada pela Reitoria da UL, à data da mobilidade destes estudantes, apenas a Faculdade de Ciências já utilizava este sistema de créditos, o que não confirma as repostas dos alunos.

No que se refere ao conhecimento dos alunos acerca do Processo de Bolonha, 92,6% dos inquiridos referem que já ouviram falar deste. Esta questão decorre numa altura em que as universidades portuguesas se encontram em fase de adaptação dos curricula às normas definidas pela Declaração de Bolonha pelo que esta constatação se afirma provável.

Quando questionados sobre as instituições da União Europeia, uma percentagem de 64,8% dos alunos afirma conhecer alguma das instituições europeias. Apenas 42,6% da amostra refere quais as instituições que conhece. De entre as referidas as mais frequentes são: o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Tribunal de Justiça Europeu.

Gráfico 8

Instituições da União Europeia

0 2 4 6 8 10 12 14 16 Banco Central Europeu Comissão Europeia Conselho da União Europeia Conselho europeu Parlamento Europeu Tribunal de Contas Tribunal de Justiça Europeu

Podemos inferir que o facto de este ser o órgão eleito por sufrágio universal contribui para a sua divulgação entre os cidadãos. Assim, apesar da referida falta de legitimidade democrática atribuída à UE, esta instituição que engloba os deputados eleitos directamente nos Estados nacionais se destaca no aparelho da organização.

Como vimos, desde o relatório Adonnino, a UE preocupou-se em definir uma simbologia para colmatar uma falha no conhecimento dos cidadãos europeus da sua herança e identidade europeia. No nosso inquérito pré-mobilidade, 75,9% dos inquiridos afirma conhecer algum símbolo da UE ainda que, uma grande percentagem optou por não referir nenhum. Relativamente aos símbolos mais referidos, por 66,7% da amostra, encontramos a bandeira, a moeda euro, a referência às estrelas e o hino. De facto podemos considerar a referência às estrelas como mais uma imagem da bandeira. Não são mencionados o dia ou a divisa da UE. Ainda sobre os símbolos, apenas 31,5% afirma conhecer o hino, e uma percentagem ainda mais reduzida de 11% afirma ter comemorado o dia da UE. Podemos assinalar que embora este grupo afirme ter comemorado o dia não foi mencionado por nenhum inquirido na lista dos símbolos da UE. No primeiro capítulo do trabalho analisámos os símbolos como personificação de entidades nacionais, cuja construção é intencional (Hobsbawn, 1984, Gellner, 1993, Smith, 1997). Na UE verifica-se, da mesma forma, a tentativa de desenvolvimento de uma entidade político-cultural na consciência dos indivíduos, através da concepção de símbolos que materializem a “ideia europeia” (Shore, 2000). A referência ao euro justifica-se pela razão evidente de ser um instrumento funcional diariamente em

contacto com as pessoas sendo também um símbolo que representa poder. A bandeira foi o primeiro símbolo a ser divulgado e possui uma imagem mais facilmente reproduzível em palavras “estrelas amarelas” do que, por exemplo, o hino. Contudo, as respostas dos estudantes inquiridos revelam alguma fragilidade na divulgação dos símbolos europeus no imaginários dos cidadãos, à excepção da bandeira e da moeda euro.

Todos os alunos consideram que a moeda única euro beneficia a aproximação dos Estados-membros entre si. Nas sociedades modernas complexas, a confiança no sistema monetário tem um carácter abstracto, baseando-se num fundamento societal e político. Essa confiança não tem propriamente a ver com laços afectivos, mas advém das instituições. Assim, o euro para além do seu propósito económico, também serve como um instrumento para a comunicação europeia, na medida em que os cidadãos fazem transacções na mesma moeda. Eles reconhecem os euros como a “sua” moeda mesmo que lidem com um estrangeiro. Ao mesmo tempo, os preços na Europa tornaram-se comparáveis na mesma linguagem. Podemos assim concluir que o euro, um símbolo, mas também um elemento contratual e utilitário, assume uma função de catalizador para a formação de uma identidade colectiva, apesar de, como vimos desde a análise da formação das identidades nacionais este ser um símbolo com origem numa construção social inovadora e premeditada.

Gráfico 9

Símbolos da União Europeia (n=36)

0 5 10 15 20 Não responde Bandeira Euro Hino Estrelas

No questionário pós-mobilidade colocámos mais uma vez, uma questão sobre o Hino da UE, um dos símbolos da organização, para percebermos se a vivência noutro país e a participação num programa europeu traria novos dados sobre esta componente cultural.

Contudo, 60% dos alunos inquiridos afirmou não conhecer o Hino da União Europeia. No entanto, verificou-se uma ligeira subida na percentagem daqueles que afirmam conhecer o hino, uma vez que no questionário pré-mobilidade forma apenas 31,5% os que afirmaram que conheciam sendo agora 40%. Daqueles que afirmaram conhecer este símbolo, 30% identificaram-no correctamente como o Hino à Alegria da 9ª sinfonia de Beethoven e 12,5% afirmaram que conhecem mas não sabem o nome.

No questionário pré-mobilidade, 81,5% dos inquiridos afirmam já ter ouvido falar do Tratado para a Constituição Europeia, 14,8% negam ter ouvido falar deste tratado e 3,7% não respondem.

A pergunta sobre se o espaço Schengen é considerado como a fronteira da UE não se revelou muito fácil de responder pelos inquiridos, uma vez que 44,6% não tem opinião. Contudo, existe uma percentagem de 29,6% que afirma que a fronteira da UE é delimitada pelo espaço Schengen. Sobre estas questões que se referem à esfera de acção política da UE verificamos que o nosso público alvo não demonstra ter conhecimentos ou uma opinião formada. Os assuntos aqui referidos são divulgadas nos meios de comunicação de massa mas não de forma a gerar debate na esfera pública portuguesa, sendo debatidos apenas ao nível das instâncias políticas nacionais. Apesar de a informação veiculada oficialmente pela UE estar difundida no sitio internet e em brochuras específicas, esta não é apreendida de forma voluntária pelos cidadãos. Neste sentido, confirma-se a ideia da falta de um espaço público de debate ao nível europeu, ou como referido por Shore (2000), a ausência de “demos” europeu.

Quanto à noção acerca dos direitos e deveres dos cidadãos da UE, 87% dos alunos afirma que estes existem. Na descrição dos mesmos, é de salientar que os alunos se referem principalmente a direitos da seguinte ordem: democracia, direitos humanos, direitos e deveres inerentes à construção europeia e relativos à livre circulação, direitos políticos, de igualdade, sociais e económicos. Nesta questão, a percentagem de respostas obtidas foi de 49,1% da amostra.

Os alunos foram inquiridos acerca do fenómeno da Defesa dos Direitos Humanos para tentarmos perceber se o distinguem como valor europeu ou o identificam como um valor da civilização ocidental. As respostas obtidas indicam que 42,5% dos alunos

consideram a defesa dos valores humanos como um fenómeno europeu, 35% como uma fenómeno ocidental e 22,5% não responderam.

Das justificações dadas para estas respostas, percebemos que 12,5% consideram que este é um fenómeno mundial e 10% afirmam que a consciência dos direitos humanos é mais forte na Europa. Na mesma percentagem outros afirmam que é comum a todas as democracias ocidentais e 5% consideram que a cultura europeia está na génese da cultura ocidental. Ainda existem respostas que afirmam que a defesa dos direitos humanos é um princípio da ONU ou que não se verifica nos Estados Unidos da América. Neste contexto, podemos reflectir sobre as forças internacionais que contribuem para maiores níveis de identidade e integração europeia, uma vez que a identidade não só reflecte a coesão interna mas também delineia o grupo do “nós” contra os “outros”. Assim, os conflitos recentes entre a Europa e os EUA, sobre vários assuntos de nível económico, cultural e político aumentaram a visibilidade de valores e traços culturais europeus distintos.

Ainda sobre a questão da defesa dos Direitos Humanos, este principio está consagrado no preâmbulo dos Tratados constitutivos das Comunidades Europeias, da União Europeia e do Tratado para a Constituição Europeia (não ratificado), sendo portanto assumido como um valor europeu pelo discurso oficial da organização. É também um dos critérios mais referidos para a adesão de novos estados à UE.