• Nenhum resultado encontrado

Conhecimento Tecnológico e Transferência de Tecnologia

3 A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS NA CONSTITUIÇÃO DAS EMPRESAS

3.4 Espécies de Contratos de Transferência Tecnológica e Conhecimento de

3.4.2 Conhecimento Tecnológico e Transferência de Tecnologia

A tecnologia muda a cada instante, diante das diversas necessidades que a sociedade atual impõe para facilitar a vida das pessoas, e é nesse contexto que as grandes empresas buscam sempre oportunidades de atrair seus clientes.

Em alguns casos, por mais que a empresa invista na pesquisa tecnológica e em treinamento de seus funcionários, não consegue acompanhar o andamento do que ocorre no mercado de desenvolvimento de novas tecnologias.

E é nesse cenário que entra o contrato de transferência de tecnologia, sendo neste caso a transferência de conhecimento de determinada plataforma de sistemas, de arquitetura de banco de dados e de entendimento do código de programa já construído por outra empresa que seja cedido de forma total ou parcial para a empresa indicada pelo contratante.

Esse tipo de contrato geralmente é considerado um modelo atípico, até pela sua natureza e objeto, sem uma legislação brasileira específica para o caso, sendo os contratos regidos por normas administrativas, como a licença de uso de patente e de marca, fornecimento de tecnologia regulados pelo INPI e também pela Lei 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998.

50 BRASIL. PL 6960/2002 (Projeto de Lei de Alteração do Código Civil). Fonte: Câmara dos Deputados.

A necessidade em questão vem da expressão inglesa “know-how” que advém da frase “to know-how to do ir” (saber como se faz algo), utilizada desde 1916 para classificar os desígnios de conhecimentos secretos decorrentes de aplicações de técnicas por empresas comerciais e industriais, sendo mais difundida nos Estados Unidos da América em 1953, expandindo-se para o restante do mundo.51

Nessa relação, as partes devem seguir os mesmos preceitos fundamentais existentes em qualquer relação contratual, como a boa-fé, da autonomia da vontade, função social, equilíbrio econômico, pois quem remunera terceiro para passar conhecimento para que outro realize a continuidade da prestação de serviços deve ter a certeza que o trabalho fora realizado e o contrato deve prever as garantias necessárias.

A transmissão onerosa de conhecimento de informática segue todos estes ditames também, mas soma-se o agravante de que deve existir um projeto bem desenhado para a assunção de uma determinada tecnologia sistêmica, pois o processo não é do dia para a noite, sendo que o contrato deve antever especificamente, prazo, tipo de transmissão da tecnologia, (total ou parcial), devem estar previstos testes em conjunto entre empresas parceiras, contratadas para tal atribuição.

Na Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, em seu artigo 49, temos a importância do contrato para a realização da transferência de conhecimento, in verbis:

Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transferidos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações:

...

II - somente se admitirá transmissão total e definitiva dos direitos mediante estipulação contratual escrita;

É importante a necessidade de se entabular um contrato, bem detalhado neste processo de transmissão de conhecimento tecnológico, principalmente abrangendo desenvolvimento de sistemas, criando uma possibilidade maior e melhor de que ambas as partes saiam deste ciclo com resultados esperados.

51 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais (Vol. III). São Paulo:

A qualidade da cessão de conhecimento deve ser amplamente acompanhada e supervisionada através de testes de qualidade do código que fora recebido, em aprovação do cliente contratante, pois a relação aqui é de três partes, sendo a contratante e as contratadas, pois ambas devem realizar o trabalho em parceria para atender o cliente principal. Nesta parceria a empresa principal não assume o conhecimento do programa, porque não possui interesse total de manter este conhecimento, por não ser o negócio principal da empresa.

O artigo 61 da Lei de Propriedade Industrial (Na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998) estabelece que “o titular de patente ou o depositante poderá celebrar contrato de licença para exploração”. Informa o parágrafo único que, pelo contrato, o licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os poderes para agir em defesa da patente. O art. 63 do mesmo diploma legal cria a possibilidade de aperfeiçoamento de patente licenciada, que pode ser levada a efeito tanto pelo licenciante como pelo licenciado.52

A transferência de conhecimento é tida como passagem de algo totalmente sigiloso, no entanto, na área de tecnologia da informação no que se refere à transferência de conhecimento de códigos de sistemas, arquitetura de sistemas e dados, a condição é de passar o conhecimento para outra empresa, para que a nova não perca tempo em entender toda a tecnologia ali utilizada, pois de certa forma, se não houvesse passagem de conhecimento, a empresa que fizesse a assunção daquele programa, certamente um dia, iria mapear todo o conhecimento daquele código de computador, só que com um tempo insuficiente para atender ao seu cliente, mas este, como já dito, não é o maior interesse da empresa contratante.

Em determinados casos este tipo de contrato pode vir associado a um objeto que envolve a consultoria de sistemas, tendo o condão de além de passar conhecimento, melhorar as técnicas ali utilizadas e implementar novas tendências de mercado.

Neste tipo de parceria, empresas concorrentes trabalham juntas, uma passando conhecimento e a outra recebendo o respectivo conhecimento, numa jornada muitas vezes de meses e até anos, até que seja possível para a empresa que recebeu todas as informações, todos os documentos e treinou seus funcionários com o conhecimento recebido, atuar sem a ajuda da empresa que prestou a passagem das informações.

52 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais (Vol. III). São Paulo:

Assim como todos os contratos, este possui início, meio e fim, podendo o mesmo ser extinto como todos os outros contratos existentes, pelo seu prazo, distrato, infração de alguma cláusula, modificação do seu objeto ou mudança da empresa que receberá o conhecimento.

Devemos expor que esta seria uma das formas de se realizar parceria entre empresas de prestação de serviços de desenvolvimento de sistemas, pois existem várias outras, dentre elas empresas que possuem conhecimento específico em determinadas tecnologias diferentes, e que são contratadas para trabalharem juntas, somando seus esforços para fazer os sistemas de informação se comunicarem.