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Inteligência Artificial e Seu Potencial Uso Para a Produção de Contratos

4 A SUSTENTABILIDADE NAS RELAÇÕES CONTRATUAIS DE INFORMÁTICA

4.3 Inteligência Artificial e Seu Potencial Uso Para a Produção de Contratos

Empresa e Tecnologia tomaram o mesmo rumo, principalmente depois da Revolução Industrial, compreendido também pela Teoria da Empresa, o mundo atual criou a necessidade cada vez maior de velocidade na produção e análise das informações visando a tomada de decisão, pois esta velocidade tornou-se a chave para o sucesso no meio corporativo, no lançamento de um produto, na compra e venda de ações ou simplesmente para anunciar uma droga que revolucionasse a condição humana, caracterizando e explicando a famosa frase “tempo é dinheiro”, que se tornou o grande jargão do novo milênio.

No entanto, essa velocidade não está sendo usada e investida na sustentabilidade na mesma medida que é utilizada no desenvolvimento tecnológico, conforme exposto, o contrato junto com a tecnologia pode ter o papel preponderante nesse cenário.

Podemos pensar que a otimização do tempo e sua utilização provocará maiores rendimentos, seja para o homem, por meio de seus esforços próprios, seja principalmente para a empresa mediante a somatória dos esforços de seus colaboradores, mas ainda assim a frase alude que utilizar bem o tempo auxilia na maximização de resultados positivos (ainda que

fatidicamente defronte-se neste caso como uma clara inverdade). Contudo, o ser humano como o é sempre terá limitações que o impedirão de melhorar exponencialmente suas capacidades e objetivos.

Tal circunstância o acompanha desde sempre, afinal, desde os primórdios da raça humana ela se defronta com sua própria limitação natural à época que vive e somente “melhora” suas condições quando cria e vale-se da tecnologia e da informática ao seu dispor.

Basta para tanto analisarmos diversas situações, como o período da invenção da roda (locomoção e carga), conhecimento e aplicação de materiais (construção), tratamento do solo (cultivo e colheita), escrita (comunicação), a primeira calculadora (o ábaco), entre uma enormidade de outras criações humanas que a seu tempo foram o ápice da tecnologia humana, algumas delas descritas neste trabalho.

Necessariamente, o homem construiu uma relação quase que insana com a tecnologia, utilizando-a das mais diversas formas e com finalidades quase que infinitas, desde realizar compras para a alimentação familiar até o controle da agenda pessoal diária - numa acepção que podemos colocar da seguinte forma: o homem controla sua agenda ou a tecnologia o controla?

Verificando sinteticamente essa relação se pode notar que não só o ser humano está ficando cada vez mais dependente da utilização costumeira da tecnologia (justificando-a na praticidade da vida moderna), como também não há sinal de que essa correlação existencial em algum momento estagnar-se-á ou mesmo terminará, pois a renovação diariamente de novos instrumentos para facilitar a vida humana não para de ser lançada.

Ocorre que, na atualidade, convive-se com avanços tecnológicos que estão além da compreensão de muitos daqueles que hoje vivem, dentre os quais, sendo núcleo do presente estudo, a inteligência artificial, reconhecendo-o como o mais novo desafio na esfera jurídica.

Este tema ainda não pode ser considerado em uso para grande escala na sociedade, mas de certo faz parte da rotina de muitos seres humanos, mesmo que imperceptivelmente.

Somente a título de esclarecimento, a Microsoft, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, tem seu sistema operacional “Windows” instalado em cerca de 91% dos computadores no mundo, sendo que desses, atualmente, cerca de 30% já utilizam o “Windows 10”, que é a última versão disponível no mercado.60

60 PARKER, Steven. NetMarketShare: Windows 10 overtakes XP market share, sets its sights on Windows 7.

In: Neowin (01.fev.2016). Disponível em: https://www.neowin.net/news/netmarketshare-windows-10-overtakes-

O sistema operacional Windows possibilitou uma novidade aos usuários, a CORTANA, que é um assistente pessoal inteligente que responde aos comandos de voz do usuário de maneira interativa, podendo, inclusive, organizar a agenda pessoal do usuário, dentre outras tarefas. Não fica por aí, pois temos no Brasil o dispositivo do Banco Bradesco (“BIA”) que realiza tarefas básicas na conta corrente ou poupança ou mesmo no smartphone iPhone a SIRI, servindo como secretária para assuntos gerais.

A propósito, temos agora a empresa em nossas mãos e, além disso, a tecnologia sendo bem aprimorada poderia amparar um modelo de sustentabilidade que, junto com o contrato, deve fazer jus ao seu potencial uso jurídico perante as empresas.

Nessa análise despretensiosa, talvez não haja uma conexão imediata entre as informações apresentadas no exemplo com o escopo do estudo, mas quando esta mesma leitura é realizada de forma arraigada é que de fato podemos nos deparar com a complexidade da temática e seu verdadeiro modelo de valor.61

Para a vida em sociedade são necessárias regras desde o princípio de tudo, sejam elas explícitas ou implícitas, além dos preceitos que devem ser seguidos para uma tentativa de pacificação entre os povos. Por conta disso e para que os seres humanos possam viver da melhor forma possível, todos devem estar sob os olhares destes conselhos. Contudo, as leis pátrias e infraconstitucionais não são as únicas que direcionam a sociedade: costumes, o meio social, deveres morais e outros ditames para verificar a necessidade de melhor convívio, que estão, igualmente, presentes em nosso meio e são utilizados, inclusive pelo direito.62

O meio social, nesse caso, refere-se ao sentido amplo do termo, mas aqui pretendemos emprestar ênfase maior ao meio telemático, que é o somatório das inter-relações entre pessoas e empresas mediante a utilização da informática. Este meio é também conhecido por globalização das informações.

Nesse esteio temos os recentes regramentos sobre internet como o Marco Civil da Internet63 ou a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)64, dentre outros que vêm

61 TURING, Alan. Computing machinery and intelligence. In: Mind (49). 1950, pp. 433/460. Disponível em:

https://www.csee.umbc.edu/courses/471/papers/turing.pdf.

62 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).

Planalto. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm.

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais

de direito.

63 BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Fonte: Planalto. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm.

64 BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD).

preencher lacunas advindas da inércia e/ou da falta de conhecimento do legislativo sobre os temas relacionados à informática no geral e suas diversificações e meandros.

Para se ter uma ideia, os assuntos mais complexos como a própria inteligência artificial ficou sub judice, pois o desconhecimento técnico e os problemas jurídicos do campo ainda são ignorados pelo legislador por falta de preparo e conhecimento específico.

Nessa toada, verifica-se que a inteligência artificial, por exemplo, possui o condão de tomar uma decisão ou oferecer uma orientação a um cliente, surgindo questionamentos éticos e, também, em outras esferas, como na responsabilização civil a respeito do resultado desta decisão, criando um processo temerário atinente a este modelo de trabalho.

Importante ressaltar que a inteligência artificial possui um perfil de repetição de condutas, baseadas em necessidades pré-determinadas ou com um espaço para se determinar diante de uma necessidade lógica, por conta de um algoritmo criado, sempre prevendo determinados comportamentos. A inteligência artificial, nos termos de desenvolvimento que nos interessa nesse caso específico, nada mais é do que uma tecnologia que, a partir da leitura de enormes bancos de dados, coleta essas informações e as cruzam na tentativa de encontrar padrões, criando assim modelos escaláveis e adaptáveis. Ou melhor, a inteligência artificial, portanto, aprende com o nosso comportamento, pois cada ação que fazemos impacta nos padrões gerais.

Não se pode olvidar que entre os muitos ramos no qual as aplicações de inteligência artificial vêm sendo testadas, uma delas é o dos contratos. Em certas ocasiões, elas têm se mostrado cada vez mais eficientes para identificar brechas e falhas contratuais, problemas esses que nem mesmo os mais renomados advogados têm sido capazes de localizar.

Um desses casos foi publicado pela plataforma LawGeex, que confrontou as possibilidades do seu software com o conhecimento de renomados professores da Stanford University, da Duke University School of Law e a da University of Southern California. Aos competidores foi proposta a análise de 5 contratos de NDA (non-disclousure agreement) para que fosse possível identificar pelo menos 30 problemas legais nesses textos.

Os resultados foram surpreendentes. Os advogados obtiveram um índice de acerto de 85% enquanto a máquina alcançou a marca de 95% de acerto. Um detalhe: o computador conclui a tarefa em 26 segundos enquanto os advogados precisaram de 1 hora e 32 minutos para

analisar os documentos. Além disso, em um dos contratos a inteligência artificial atingiu 100% de acerto, enquanto o máximo que os humanos conseguiram foi 97%.65

Existem dois lados nesta questão que devem ser verificados. De um, os escritórios de advocacia, que veem nas ferramentas de inteligência artificial uma oportunidade de substituir empregados por máquinas na hora de fazer um trabalho, de certa forma, burocrático como esse. De outro, há quem diga que isso geraria um grande desemprego, de forma que o uso dessas ferramentas precisa ser regulamentado, até pela função social da empresa.

Compreende-se que os dois lados têm as suas razões, todavia, especialistas da LawGeex apontam ainda um outro caminho. A construção dessas ferramentas de inteligência artificial só é possível graças ao ordenamento que os programadores e advogados dão a elas. Saber o que perguntar e como perguntar é tão importante quanto ter acesso às ferramentas certas, e é aí que existem oportunidades para os futuros advogados, mesmo porque existem situações que não estão previstas e o cérebro humano possui a condição de se readequar a determinadas situações, principalmente envolvendo temas emocionais.

Eu acredito fortemente que estudantes de Direito e advogados recém- formados precisam entender essas ferramentas de inteligência artificial e outras tecnologias. Elas vão ajudar eles a se tornarem melhores profissionais no futuro e vão moldar a prática legal daqui em diante, explica Erika Buell, professora da Duke University School of Law.66

Muito embora tenha todo esse desafio da questão relacionada ao problema dos empregos quando falamos de Inteligência Artificial, no entanto, tal fator poderia propiciar de forma mais ampla o uso desta inteligência para sempre se pensar na questão sustentável, impondo parâmetros ao código da inteligência no pensar ambiental, como uma forma fixa em todos os contratos. Seria uma obrigatoriedade na produção de contratos pelo meio da inteligência artificial, com cláusulas sustentáveis.

Portanto, quando tratamos de empresa e pensamos na inteligência artificial como um novo modelo de capital, devemos também ter em mente a concepção de mudança na própria empresa que antigamente tinha como capital máquinas, prédios e etc. e que hoje se concentra

65LAWGEEX.COM. Contratos Pela Inteligência Artificial. Disponível em:

https://www.lawgeex.com/resources/AIvsLawyer/. Acesso em: 23 dez.2019.

66 BLOG.SAGE.COM.BR. Como a inteligência artificial vai mudar a forma de fazermos contratos em um

futuro próximo?. Disponível em: https://blog.sage.com.br/inteligencia-artificial-supera-humanos-em-contratos/. Acesso em: 24 dez. 2019.

em algo que, por vezes, não podemos ver ou tocar, posto que se encontra num mundo virtual e digital.

Hoje, o modelo de capital é o código de computador produzido por uma equipe de desenvolvedores de software que pode produzir um novo contrato inteligente, uma inteligência artificial para a motorização dos veículos e, quem sabe, um equipamento de cirurgia, fato este nunca imaginado na concepção da antiga empresa.