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3 O AMOR: AS VÁRIAS POSSIBILIDADES CONCEITUAIS

4.2 CONJUGALIDADE E SATISFAÇÃO CONJUGAL

A satisfação marital está associada a diversos fatores demográficos, socioculturais, psicológicos e interpessoais, e há correlação entre eles. Dentre esses fatores, destacam-se: a) as características individuais percebidas ou idealizadas tanto do parceiro como da relação; b) as expectativas sobre o parceiro, o relacionamento e a natureza da própria relação e c) as características do contexto sócio-histórico-cultural em que o indivíduo está inserido (Dessen & Braz, 2005).

Os estudos que associam a percepção do parceiro e do relacionamento conjugal à qualidade das relações conjugais propõem que quanto mais idealizadas as percepções do parceiro, maior é a satisfação conjugal (Murray & Holmes, 1997) e que a presença de avaliação positiva do parceiro está associada à manutenção do amor entre o casal (Byrne & Murnen, 1988). Uma outra

pesquisa mostrou que casais infelizes consideram que quase todas as características negativas do relacionamento são de responsabilidade de seus parceiros e que casais felizes consideram que quase todas as características positivas do relacionamento são de responsabilidade de seus parceiros (Gottman 1993). Seguindo a mesma linha, Sprecher e Metts (1999), em seus estudos, demonstram que as percepções que as pessoas tem de suas relações e de seus parceiros influenciam a qualidade percebida e a estabilidade de seus relacionamentos. Da mesma forma, Flora e Segrin (2003), em pesquisa com jovens namorados e casados, apontam que a satisfação conjugal está associada a estórias positivas relacionadas ao casal.

As pesquisas sobre satisfação conjugal também focalizam o momento pelo qual passa a díade conjugal. De acordo com Dessen e Braz (2005), a literatura demonstra que, nos primeiros anos de casamento, há uma diminuição da satisfação conjugal seguida de um novo aumento. Essa queda na satisfação conjugal, em geral, está associada ao nascimento do primeiro filho. Verifica-se uma dificuldade inicial em reorganizar a vida familiar e adaptar-se à nova situação. Relaciona-se a isso o medo de o marido de perder o afeto da esposa, por ciúme do bebê; o receio da esposa com relação à sua nova aparência física e a divisão das tarefas relacionadas aos cuidados do bebê (Dessen & Braz, 2005). Além disso, verifica-se que existe correlação entre a insatisfação conjugal, conflitos sobre a educação dos filhos e a insatisfação em relação aos filhos (Russel-Chapin, Chapin & Sattler, 2001).

Sprecher e Metts (1999) fizeram um levantamento das pesquisas sobre satisfação conjugal e verificaram que essa temática está também associada ao

suporte social que o casal possui, à capacidade de resolução de conflitos do casal e à natureza das rotinas conjugais.

Com relação à natureza das rotinas conjugais, Gottman (1993) demonstra que comportamentos negativos dos cônjuges em relação ao seu relacionamento e ao seu parceiro levam à deterioração progressiva do casamento. De acordo com esse autor, os casais felizes mantêm interações mais construtivas, nas quais predominam a reciprocidade positiva e a capacidade de entendimento mútuo entre os cônjuges, enquanto que os casais infelizes se engajam em interações negativas embasadas em pensamentos e sentimentos pessimistas e negativos.

Outros estudos que investigam o padrão de comportamento conjugal e a sua relação com a satisfação conjugal abrangem também os padrões de conflitos conjugais. Os estudos demonstram que a satisfação conjugal está associada negativamente a um padrão de resolução de conflito aversivo e negativo. Nestes, observa-se a caracterização do comportamento dos cônjuges em que um se torna retraído e o outro persistente e perseguidor (Gottman, 1993). Alguns estudos apontam que esse padrão de comportamento está associado ao sexo do cônjuge (Schaffer & Diamond, 1994; Dessen & Braz, 2005), tendendo as esposas a levantar os problemas conjugais enquanto os maridos tendem a se retrair e a evitar a discussão.

De uma forma geral, os estudos apontam para o fato de que a satisfação conjugal está relacionada aos tipos de comportamentos, emoções e sentimentos vivenciados na conjugalidade. Neste sentido, as emoções e sentimentos positivos e o comportamento recíproco positivo estão associados positivamente à satisfação conjugal.

Os estudos sobre a satisfação conjugal também apontam para a associação ao tempo despendido na conjugalidade. Baseados nos estudos de Hinde, Dessen e Braz (2005) afirmam que a satisfação conjugal está relacionada à quantidade e à qualidade de tempo que o casal passa junto, ou seja, não apenas a quantidade de tempo é importante, mas também o tipo de atividade que é realizada em conjunto e, nesse sentido, se a atividade realizada é de agrado dos dois cônjuges. Os achados de Russel-Chapin, Chapin e Sattler (2001) também propõem que a qualidade do tempo despendido é importante para a satisfação conjugal, demonstrando ser ela um preditor para a satisfação conjugal.

Pesquisas que avaliam a afinidade entre os cônjuges também foram realizadas com o objetivo de analisar a satisfação conjugal. Os achados indicam que a afinidade entre a díade conjugal também está associada à satisfação conjugal (Byrne & Murnen, 1988).

Outra questão estudada em relação à satisfação marital refere-se à satisfação sexual. Os primeiros estudos referentes a este tema ocorreram por volta da década de 1930. Inicialmente, acreditava-se que a satisfação conjugal estava associada à quantidade de relações sexuais; todavia, os estudos mostraram que não havia associação entre essas duas questões (Gottman, 1993). De acordo com os estudos recentes, como apontam Dessen e Braz (2005), a satisfação conjugal está relacionada à qualidade da relação sexual e não à quantidade. Vários são os aspectos relacionados à satisfação sexual, entre os quais se podem citar: características individuais (idade, sexo, estágio de desenvolvimento, traços de personalidade), aspectos relacionais (comunicação,

compromisso, percepção, sexualidade) e fatores externos (situação financeira, aspectos culturais e sociais, família de origem) (Dessen & Braz, 2005).

Para entender melhor a dinâmica conjugal e a sua relação com a satisfação conjugal, Dessen e Braz (2005) apontam para três aspectos relevantes:

a) a complexidade dos contextos interno e externo que envolve as relações maritais, b) os efeitos distintos dessa complexidade em função do sexo (marido versus esposa) e c) a interdependência e a influência que os cônjuges exercem, direta e indiretamente, uns sobre os outros (p. 136).

Como pôde ser observado, os fatores relacionados à satisfação conjugal são múltiplos, não havendo, dessa forma, um padrão estabelecido. A seguir, será apresentada a questão da separação conjugal ou da dissolução da conjugalidade.