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2 LUGARES E SENTIDOS PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL

2.3 Recorte Espacial e Apresentação das Edificações Referenciais

2.3.10 Conjuntos Arquitetônicos na Rua Barão do Triunfo

3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.

FIGURA 19 – Conjunto Arquitetônico na Rua Barão do Triunfo (entre as ruas Silva Jardim e dos Andradas).

FONTE: a autora.

FIGURA 20 – Conjunto Arquitetônico na Rua Barão do Triunfo (entre as ruas dos Andradas e Venâncio Aires).

FONTE: a autora.

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Os conjuntos arquitetônicos localizados na Rua Barão do Triunfo são exemplo de uma arquitetura popular na cidade de Santa Maria durante a primeira metade do século XX – a edificação de conjuntos arquitetônicos. Tal iniciativa remonta desde a primeira década daquele século, com a Vila Belga como exemplo principal de conjunto habitacional em Santa Maria. Com suas casas edificadas a partir de 1906, o conjunto abrigou diferentes funcionários da Viação Férrea e hoje integra a Mancha Ferroviária, com reconhecimento de seu interesse patrimonial48 nas esferas Municipal, Estadual e Federal.

A existência destes conjuntos sinaliza uma tipologia popular na trajetória da arquitetura em Santa Maria, motivada pela edificação de várias casas em um mesmo lote. Estes empreendimentos foram importantes para fomentar a demanda por habitações na cidade, em um período histórico marcado por crescimento e aumento populacional motivados pela ferrovia e pela incipiente vocação universitária da cidade. Há conjuntos que foram determinantes, inclusive, para o traçado de algumas vias da cidade, como a Rua Dr. Astrogildo de Azevedo. Sua abertura foi determinada pela construção de 14 unidades habitacionais, hoje popularmente conhecidas como “14 Casas da Astrogildo”. Os conjuntos escolhidos para ilustrar o instrumento de pesquisa corroboraram com o desenvolvimento desta região da cidade, edificados em uma via com tradição na malha urbana.

Na década de 1940, sob iniciativa do então Intendente Municipal Dr. Antônio Xavier da Rocha, foi promulgada legislação que promovia descontos nos impostos urbanos de edificações que fossem feitas em conjunto e com “harmonia arquitetônica” (TOCHETTO, 2013, p.327). A cada duas casas edificadas em alvenaria e em grupo, haveria o desconto de um ano em impostos prediais urbanos. Deste modo, despontaram diferentes conjuntos de habitações, com elementos arquitetônicos, em maioria, que referenciam as linhas da escola

Art Déco, popular em Santa Maria.

A opção por edificar conjuntos, então, tornava-se atrativa economicamente também ao empreendedor, visto que garantia descontos em tributos ao Município. Deste modo, esta tipologia ganhou destaque na cidade, especialmente entre os anos 1930 e 1950. Para o instrumento de pesquisa adotado no presente estudo, foram selecionadas dois conjuntos arquitetônicos edificados nas proximidades da Zona 2. Ambos localizam-se na Rua Barão do

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A Mancha Ferroviária de Santa Maria abrange uma área no centro da cidade que inclui diferentes edificações e estruturas relacionadas ao desenvolvimento da linha férrea na cidade. O tombamento municipal foi instituído com a Lei Municipal 4009/96, de 21 de outubro de 1996, enquanto que o reconhecimento em nível estadual se deu pelo Parecer 30/00, de 26 de outubro de 2010. Já em nível federal, alguns elementos da Mancha Ferroviária foram incluídos na lista do Patrimônio Cultural Ferroviário do Brasil em 2014. FONTES: Instituto de Planejamento de Santa Maria (IPLAN), Instituto do Patrimônio Histórico e Artísitico do Rio Grande do Sul (IPHAE) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artísitico Nacional (IPHAN).

Triunfo, uma via tradicional da cidade e com registros que remontam desde a planta do Município de 1861, elaborada pelo agrimensor Otto Brinckmann.

Os dois conjuntos somam juntos 23 casas – oito delas entre as ruas Silva Jardim e Andradas, enquanto que as outras 15 estão na quadra seguinte, entre a Andradas e a Venâncio Aires. Os conjuntos foram edificados, respectivamente, pelas famílias Schmidt e Furtado (DIÁRIO DE SANTA MARIA, 2003).

O primeiro conjunto a integrar o estudo está localizado entre a Rua Silva Jardim e a Rua dos Andradas e é formado por oito casas e foi edificado na década de 1930 – a data mais antiga relacionada a estas edificações é 1935, quando foi aprovado o Habite-se das moradias. A área total do terreno é de 1470,62m², com área total edificada de 620,93m², conforme dados do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). As casas possuem a mesma tipologia e são edificadas junto ao alinhamento da via. A planta padrão original conta área total de cada unidade de 58,6m².

A cobertura é em telha colonial, com acabamento em reboco texturizado. As casas contam com coloração semelhante, no entanto, é possível perceber tonalidades distintas devido a sujidades impregnadas nas fachadas, causadas por lavagens diferenciadas e, especialmente, pela falta de calhas. As aberturas são em madeira, com acabamento em tinta marrom. Há poucas descaracterizações neste conjunto, no entanto, já há novos usos nas unidades anteriormente apenas residenciais. Uma unidade abriga uma empresa de organizações de festas e em outra há um salão de beleza. Além disso, há pichações em algumas fachadas e elementos acrescidos que descaracterizam as unidades enquanto conjunto, tais como antenas de televisão à cabo e equipamentos de ar condicionado.

O segundo conjunto localiza-se na quadra seguinte, entre as ruas do Andradas e Venâncio Aires, sob a denominação de “Edifício Bom-Fim”. São seis casas geminadas outras três isoladas, com influência da arquitetura Art Déco em sua composição formal. Há grande descaracterização nestes conjuntos, inclusive com algumas unidades demolidas para permitir o acesso de veículos a um hospital localizado nas proximidades49.

As casas foram edificadas no alinhamento da via e cada uma conta com área de terreno específica, que variam entre 150 e 160m², conforme dados do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). As áreas edificadas também variam entre cada unidade, com

49 O Hospital Unimed, administrado pela Unimed Santa Maria, está localizado na mesma quadra do Edifício

Bom-Fim e, em 2012, demoliu uma das edificações do conjunto (nº 862) para liberar o acesso de veículos à entidade. A casa demolida tinha localização central no conjunto, e sua demolição incorreu em grave descaracterização à totalidade das casas. A Unimed ainda é proprietária de outra edificação, de número 842, ao lado da já demolida. FONTE: Pesquisa no acervo do Arquivo da Prefeitura Municipal de Santa Maria, 2015.

acréscimos sinalizados na documentação fiscal das mesmas. Há casas com área total original média de 60m², no entanto, atualmente há unidades com até 183m² de área construída. A descaracterização é latente e chama atenção, e a mais perceptível característica é a não uniformização de acabamentos.

Cada unidade hoje conta com acabamento em cores diferentes, no entanto, há outras descaraterizações significativas no conjunto. Há diferenciações nos fechamentos e nas grades, por exemplo, assim como um expressivo número de pichações. Uma edificação alterou sua fachada ao construir uma garagem, fechando o vão de uma janela e aproveitando o desnível do porão para tanto. Além disso, algumas edificações optaram por acrescentar elementos cerâmicos pastilhados ou em pedra natural em trechos da fachada. Existem equipamentos de ar condicionado obstruindo as fachadas, assim como placas comerciais.

Os valores de uso e histórico foram atribuídos a estes conjuntos, a partir das observações de Riegl (2013) já debatidas anteriormente. O caráter de utilização das edificações é latente e mostra-se em pleno desenvolvimento. Além do uso residencial, mantido na maioria das edificações, atualmente coexistem usos voltados à prestação de serviços (salão de beleza, organização de festas, imobiliária, entre outros). A face negativa desta alteração de uso se exemplifica pela demolição de uma das edificações que compunham o edifício para uso pouco nobre – hoje, na área onde havia uma edificação, existe um portão de garagem, que permite o acesso ao hospital próximo.

3 ATRIBUIÇÕES DE SENTIDO E CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE