3. Políticas Públicas para Juventude
3.3. Conjuntura intrnacional: agências de cooperação internacional
cooperação internacional. A Organização das Nações Unidas (ONU) incorporou em suas missões a questão da juventude através de diferentes agências, tais como: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Organizações das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Organização Internacional do Trabalho (OIT); e Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA).
O ano de 1985 foi instituído pela ONU como Ano Internacional da Juventude, o que fortaleceu a agenda de juventude no mundo e em especial na América Latina, favorecendo e estimulando o surgimento de debates a respeito de políticas públicas para juventude, bem como instrumentos institucionais necessários para sua efetivação. Após este ano, inúmeros eventos, conferências, fóruns internacionais e reuniões de cúpulas de países promovem debates a fim de definir diretrizes, objetivos, metas para a defesa da juventude.
Em 1998, ocorreu a Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude. As agências da ONU buscaram incorporar os conceitos de políticas de juventude e participação juvenil em suas declarações. Além disso, passaram a apoiar a realização de encontros de jovens e a financiarem seminários. Dessa forma, a ONU passou a promover pesquisas, diagnósticos, organização de encontros, programas, campanhas e ações de estímulos para que os países adotassem o tema da juventude em seus programas governamentais.
Em 1998, ocorreu em Portugal, na cidade de Braga, o primeiro Fórum Mundial da Juventude do sistema das Nações Unidas.
Embora este tema tenha ganhado força nas agências internacionais de cooperação do sistema ONU, ele pouco reverberou no Brasil. Helena Abramo aponta24 como uma das hipóteses disso ter ocorrido o fato de grande parte dos atores sociais e governamentais estarem concentrando seus esforços na criação do ECA em 1990 e sua implementação ao longo da mesma década. Segundo esta pesquisadora, outros países da América Latina tiveram o tema da juventude já absorvido ao longo da década de 1990, influenciados fortemente pela ONU, como é o caso do Chile.
24 Em entrevista a este pesquisador.
Naquele momento, segundo Helena Abramo, o sistema ONU teve um papel importante ao ser mais um vetor de pressão para o tema emergir na agenda de discussões, sobretudo por meio da organização de seminários.
Ana A. M. Rodrigues, em sua dissertação de mestrado (2008), analisa as redes sociais na constituição da Política Nacional de Juventude. Ela executou um levantamento minucioso acerca do papel das organizações internacionais. Segue abaixo o quadro que relata os principais eventos entre os anos de 1985 a 2004.
Quadro 3 – Principais atividades dos organismos internacionais entre 1985 a 2004.
Ano Atividade Ator Esfera
1985 Declaração do Ano Internacional da Juventude
ONU Organismo
Internacional 1986
Conferência anual da OIT ONU Internacional Organismo 1989 Criação do Programa Saúde do
Adolescente
Ministério da Saúde Poder Público 1991 Primeiro Fórum Mundial da Juventude do
Sistema das Nações Unidas
ONU Organismo
Internacional 1995 Início do Programa Mundial de Ação para
a Juventude para o ano 2000 e além – PMAJ
ONU Organismo
Internacional 1995 Lançamento do Guidelines for Further
Planning and Suuitable Follow-Up in the Field of Youth
ONU Organismo
Internacional 1995 Realização do I Encontro Nacional de
Técnicos em Juventude
Fundação Mudes Sociedade Civil 1996 Segundo Fórum Mundial da Juventude do
Sistema das Nações Unidas
ONU Organismo
Internacional 1996 Realização do II Encontro Nacional de
Técnicos em Juventude
Fundação Mudes Sociedade Civil 1997 Criação da Assessoria de Juventude do
Ministério da Educação
Ministério da Educação
Poder Público 1997 Criação do Departamento de Pesquisa em
Juventude da UNESCO
UNESCO Organismo
Internacional 1998 Realização do Terceiro Fórum Mundial da
Juventude do Sistema das Nações Unidas
ONU Organismo
Internacional 1998 Aprovação do Plano de Ação da Juventude
de Braga
ONU e entidades da
1998 Realização do Seminário Jovens Acontecendo na Trilha das Políticas Públicas e divulgação da publicação de mesmo nome. CNPD, UNESCO e MP Organismo Internacional e Poder Público 1998 Divulgação dos livros “Juventude,
violência e cidadania: os jovens de Brasília” e “Mapa da violência: os jovens do Brasil”.
UNESCO Organismo
Internacional
1999 Criação do Fórum de Juventude da UNESCO
UNESCO Organismo
Internacional 1999 Realização do Fórum Jovem Século XXI:
educação, formação profissional e empregabilidade e lançamento do livro "Desemprego juvenil: Em busca de opções à luz da experiência internacional".
OIT Organismo
Internacional
1999 Promoção do Encontro sobre Melhores Práticas em Projetos com Jovens do Cone Sul
UNESCO Organismo
Internacional 1999 Lançamento das publicações "Gangues,
galeras, chegados e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília", "Fala Galera: Juventude, Violência e Cidadania na cidade do Rio de Janeiro", "Ligado na galera: juventude, violência e cidadania na cidade de Fortaleza" e "Os jovens de Curitiba: esperanças e desencantos, juventude, violência e cidadania".
UNESCO Organismo
Internacional
2000 Criação da Rede de Alto Nível de Políticas de Promoção do Emprego Juvenil
(YEHLPN)
ONU e OIT Organismo Internacional 2000
Mapa da Violência II: os jovens do Brasil UNESCO Internacional Organismo 2001 Realização do Fórum Mundial de
Juventude do Sistema das Nações Unidas
ONU Organismo
Internacional 2001
Aprovação da "Estratégia de Dakar para o Empoderamento da Juventude"
ONU e entidades da
Sociedade Civil Internacional e Organismo Sociedade Civil
2001 Divulgação das Publicações “Cultivando vidas, desarmando violências: experiências em educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situação de pobreza”, “Escolas de Paz”, “Espaço aberto ao diálogo da infância e juventude: o jovem lendo o mundo” e “Abrindo Espaços: Educação e Cultura de Paz”.
UNESCO Organismo
Internacional
2002
Divulgação do documento "Por uma Política de juventude para o Brasil".
Instituto Ayrton Senna Gife, Unesco
e FIESP
Sociedade Civil e Organismo Internacional 2002 Realização Seminário Internacional
Violência nas Escolas.
UNESCO Organismo
Internacional 2002 Divulgação das publicações “Violência nas
Escolas”, “Drogas nas Escolas”, “Violência nas Escolas e Políticas
Públicas”, “Paz, como se faz? Semeando a cultura de paz nas escolas”, “Mapa da violência III: os jovens do Brasil”, “AIDS: o que pensam os jovens” e “Juventude, Violência e Vulnerabilidade Social na América Latina: Desafios para Políticas Públicas”.
UNESCO Organismo
Internacional
2003
Publicações “Ensino Médio: múltiplas vozes”, “Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas”, “Escola e Violência e “Violência na escola: América Latina e Caribe”.
UNESCO Organismo
Internacional
2004 Realização do “Vozes Jovens: Um olhar das organizações” e movimentos de Juventude sobre o Brasil do Século XXI
Banco Mundial Organismo Internacional 2004 Divulgação do Estudo “Juventude Ibero
América: tendências e urgências”. CEPAL Internacional Organismo 2004 Lançamento do Manual Tirando os
Acordos do Papel
ONU Organismo
Internacional 2004 Publicações “Mapa da violência IV: os
jovens do Brasil”, “Juventudes e
sexualidade”, “Por um novo paradigma do fazer políticas: políticas de/para/com juventudes, “Políticas públicas
de/para/com juventudes” e “Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003”.
UNESCO Organismo
Internacional
Como exposto no quadro, percebe-se que o tema juventude passou a ser item permanente na agenda do sistema ONU, sobretudo na UNESCO, que fomentou diversos seminários, encontros e publicações sobre a temática.
A agenda de juventude foi iniciada fortemente em 1985. No entanto, foi na década de 1990 que o tema ganhou força na agenda internacional. É preciso ressaltar que na Europa, sobretudo na Espanha e em Portugal, bem como em diversos países da América Latina, a temática juventude já estava presente.
O próximo quadro mostra como os demais países da América Latina já estavam avançados em termos de institucionalidades das políticas de juventude, ou seja, criaram órgãos governamentais para formularem e/ou coordenarem as políticas para juventude.
Quadro 4 – Institucionalidade de juventude nos países da América Latina
País Nome Criação Missão Área a que é ligado
Cuba
União dos Jovens
Comunistas 1962 Coordenar Partido Comunista
Honduras Comissão Ordinária 1983
Executar,
Coordenar Congresso Nacional
Argentina Direção Nacional da Juventude 1987 Executar, Coordenar, Avaliar Ministério do Desenvolvimento Social e Meio Ambiente Equador Direção Nacional
de Juventude 1987 Desenhar Executar
Ministério do Bem- Estar Social Uruguai Instituto Nacional de Juventude 1990 Desenhar, Executar, Avaliar Ministério dos Esportes e Juventude Chile Instituto Nacional de Juventude 1991 Desenhar, Executar, Coordenar, Avaliar Ministério do Planejamento e Cooperação Colômbia Colômbia Jovem 1994 Desenhar, Coordenar Presidência da República Nicarágua Secretaria de Juventude 1994 Desenhar Presidência da República
Paraguai Vice-Ministério de Juventude 1994 Desenhar, Executar, Coordenar Ministério da Educação Costa Rica Vice-Ministério de Juventude 1996 Desenhar, Executar, Coordenar Ministério da Cultura, Juventude e Esportes Guatemala Conselho Nacional de Juventude 1996 Coordenar Presidência da República
Panamá Ministério da Juventude, da Mulher, da Criança e da Família 1997 Desenhar, Executar, Coordenar Presidência da República México Instituto Mexicano de Juventude 1999 Desenhar, Executar, Coordenar, Avaliar Secretaria de Educação Pública República Dominicana Secretaria de Estado da Juventude 2000 Desenhar, Executar, Coordenar Presidência da República El Salvador Secretaria de Estado da Juventude 2001 - Presidência da República Peru Comissão Nacional de Juventude 2002 Desenhar, Executar, Coordenar, Avaliar Presidência da República Venezuela Instituto Nacional de Juventude 2002 Desenhar, Executar, Coordenar Ministério da Educação Brasil Secretaria Nacional de Juventude 2005 Desenhar, Executar, Coordenar, Avaliar Secretaria Geral da Presidência da República Bolívia Vice-Ministério de Assuntos de Gênero, Geracionais e Família Não disponível Desenhar Ministério do Desenvolvimento Sustentável e Planejamento
Fonte: Rodrigues (2008) baseado em Cepal (2004).
Conforme aponta o quadro anterior, a maior parte dos países da América Latina implantou seus organismos governamentais de juventude ao longo da década de 1990, muito por conta da influência da agenda internacional dos organismos do sistema ONU. O Brasil foi um dos últimos países latino-americanos a instituir um organismo governamental destinado a formular e coordenar as políticas de juventude. Uma das hipóteses para este atraso foi o fato de a construção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ter consumido as energias das entidades da sociedade civil que lutavam pelos direitos sociais e que poderiam estar inseridos na agenda das políticas de juventude, conforme aponta Bango (2003) e Abramo (2005).