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4. Análise da agenda de políticas de juventude no Governo Lula

4.2. Mobilização e articulação da sociedade civil

4.2.1. Seminário Juventude em Pauta

O seminário juventude em pauta aconteceu entre os dias 26 e 29 de novembro de 2002 em São Paulo, unindo, na mesma atividade, a experiência latino-americana e a brasileira, envolvendo pessoas de todas as regiões do Brasil e de diferentes segmentos, como gestores, organizações juvenis, outras organizações da sociedade civil e pesquisadores (FREITAS e PAPA, 2003).

Nomes como Helena Abramo, Regina Novaes, Mary Castro, Fernanda Papa, que são conhecidas neste circuito, foram as organizadoras do seminário.

A Ação Educativa e a Fundação Friedrich Ebert (FES/ILDES), como organizações que atuam no campo de políticas de juventude, reconheceram a importância de algumas iniciativas desenvolvidas pelo poder público no âmbito municipal, tais como os municípios de Santo André e Diadema na região metropolitana de São Paulo, outras mostraram grande poder de organização no tema como foi o caso de Betim, Uberlândia e Itabira em Minas Gerais. Segundo Carrano e Sposito (2003), ao longo dos anos 1990, no plano local e regional iniciam o surgimento de organismos públicos voltados a articular programas e ações de juventude no âmbito do Executivo e estabelecer relações com entidades da sociedade civil.

Este fato é bastante recente e decorre sobretudo de compromissos eleitorais de partidos, principalmente de esquerda e de centro-esquerda que, por meio de sua militância juvenil ou de setores organizados do movimento estudantil, incluíram na sua plataforma política (...) Os novos organismos assumem predominantemente o caráter de assessorias, embora em algumas situações sejam criadas secretarias de estado ou coordenadorias (CARRANO e SPOSITO, p.26, 2003).

Diante desse contexto, tanto a Ação Educativa e a Fundação Friedrich Ebert realizaram o seminário objetivando aprofundar o debate das políticas de juventude e seus principais desdobramentos no Brasil. O temário, bastante diversificado, abordou diferentes dimensões das políticas de juventude, recuperação histórica de sua trajetória na América Latina até discussões de políticas setoriais como saúde, trabalho, cultura, educação, comunicação e drogas (FREITAS e PAPA, 2003).

Fernanda Papa, coordenadora de Projetos da Fundação Friedrich Ebert (FES/ILDES) e organizadora do evento, afirma37 que o encontro foi fundamental para apontar a importância da perspectiva da juventude para as políticas públicas. Além disso, a importância do encontro também se dá pela época em que foi realizado, já que no mesmo ano (2002) foi eleito o candidato Luis Inácio Lula da Silva para Presidência e que parte da rede de ONGs e pesquisadores estavam inseridos no mesmo campo político da candidatura do PT. Após ganhar a eleição, muitos desses agentes da área da juventude trabalharam no Governo federal.

Em 2002 é organizado o Seminário Políticas Públicas Juventude em Pauta, que reuniu mais de 200 pessoas, entre organizações juvenis, acadêmicos/ pesquisadores, gestores. O encontro permitiu apontar para a importância da perspectiva da juventude para políticas públicas locais e nacionais, demonstrando que existe demanda e forma de tratar o tema não pelo caminho do jovem como problema, mas em função de seus direitos. Seminário publica livro no começo de 2003, em meio ao processo de Conferência Nacional (mas não no formato do que viriam as ser as conferências do Governo) de Juventude, convocada pela Frente Parlamentar da Juventude, na Câmara. No mesmo ano ocorre a eleição do Governo Lula em outubro. Em 2003 parte do campo que organizou e participou do seminário vai trabalhar no Governo federal (FERNANDA PAPA, 2010).

Segundo Fernanda Papa, os pesquisadores deste seminário tinham como paradigma a juventude enquanto sujeito de direitos, tanto é que se optou por não discutir em nenhuma mesa neste seminário o tema da violência juvenil, discussão predominante na mídia38.

Regina Novaes confirma que o Seminário no final de 2002 foi uma etapa importante para unir a rede de atores e entidades de juventude, bem como para promover a formação da comunidade epistêmica de juventude.

37 Fernanda Papa concedeu entrevista a este pesquisador no dia 10 de novembro de 2010.

38 Este seminário resultou no livro “Políticas Públicas: juventude em pauta” (2003) que traz exposições de todos os acadêmicos sobre o assunto. Este livro tornou-se referência no campo das políticas de juventude porque foi escrito pelos principais interlocutores acadêmicos que discutem juventude e também porque consolidou a comunidade epistêmica. Além disso, vale ressaltar que quem ajudou na publicação do livro foram duas entidades da rede de juventude protagonistas na ascensão do tema, a Ação Educativa (Maria Virgínia de Freitas – organizadora) e a Fundação Friedrich Ebert Stifung (Fernanda Papa – organizadora). Esta publicação é paradigmática, pois já mostra em 2003 o imbricamento entre a comunidade acadêmica e um grupo de ONGs que ajudavam a financiar atividades de discussão pública, fazendo advocacy da visão “juventude enquanto sujeito de direitos”. Em 2010, estas duas entidades realizaram um novo seminário a fim de fazer um balanço da política nacional de juventude implantada no Governo Lula. Este seminário foi composto pela comunidade epistêmica que estava presente no seminário de 2002, consolidando o trabalho de influência destes pesquisadores. Do seminário de 2010 resultou novamente outro livro “Juventude em pauta: políticas públicas no Brasil” (2010).

No final de 2002, logo após a eleição presidencial, merece destaque o Seminário Políticas Públicas de Juventude em Pauta, organizado pela Ação Educativa e a Fundação Friedrich Ebert. Para este Seminário foram convidados diferentes grupos, redes e movimentos juvenis, jovens sindicalistas, jovens ligados a pastorais e partidos políticos e, ainda, gente do terceiro setor e estudiosos do tema em nível nacional e internacional. Na plateia e na composição das mesas se revezavam os “interessados” na possibilidade de “pautar” a sociedade civil e o governo no novo período que se iniciaria em 2003 (REGINA NOVAES).

Neste seminário foi feita uma avaliação das políticas públicas de juventude no Governo Fernando Henrique Cardoso e apontada a necessidade de se institucionalizar uma Política Nacional de Juventude que respondesse aos principais anseios das diferentes juventudes no Brasil.

Muitos dos participantes do seminário participarão do Projeto Juventude organizado pelo Instituto Cidadania. Sposito, uma das pesquisadoras do tema juventude, participou do seminário em pauta e relata:

O terceiro momento ocorre em 2002, com o seminário ‘Políticas Públicas – juventude em pauta’, quando o país acabava de eleger um novo presidente e o tema das ações e políticas voltadas para os jovens voltava a ocupar a atenção, tendo em vista a particularidade de ser uma conjuntura de transição e o fato de o governo anterior já ter iniciado uma série de ações dirigidas para adolescentes e jovens, ainda que fragmentadas e pontuais (SPOSITO, 2011, p. 333).

Os organizadores e participantes deste seminário tinham noção da importância do momento, de um novo governo que se iniciaria no próximo janeiro e do papel que eles tinham como especialistas em ajudar na formulação da agenda de políticas públicas para juventude. Este encontro serviu para fazer um balanço das ações do Governo federal realizadas naquele momento, como apontou Fernanda Papa. Sposito fez a mesma avaliação do evento.

O que seria importante resgatar do seminário de 2002? Estávamos na expectativa de inaugurar um novo ciclo, uma vez que já existia certo acúmulo de discussões e debates, grupos variados da sociedade civil se organizavam em torno dos direitos de juventude, novos diagnósticos eram produzidos, ao lado da análise da condição juvenil no Brasil. Havia uma energia criativa na esfera dos executivos municipais que desenvolviam não só novas modalidades de ação para os jovens, mas também esboçavam a criação de organismos específicos que poderiam, finalmente, dar maior visibilidade à condição juvenil e criar canais de interlocução entre o poder público e os jovens das cidades (ibidem, p.332).

Este evento, “Seminário Juventude em pauta”, consolida a organização de um grupo de especialistas acadêmicos que tem grande influência na área de Políticas Públicas de

Juventude. Helena Abramo, Regina Novaes, Marília Pontes Sposito, Paulo Carrano, Mary Garcia Castro, Elisa Guaraná de Castro, entre outros, tiveram grande influência para pautar as alternativas de políticas públicas, forçar o fluxo das alternativas na formulação, visto que se apresentava, e eles tinham claro isto, a abertura de um fluxo político, a eleição de Lula.