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CAPÍTULO III – A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMINISTRADORES E

10. A responsabilidade dos membros dos órgãos de fiscalização para com a sociedade

10.2 Conselho fiscal, conselho geral e de supervisão e comissão de auditoria

O modelo monista pode ser dividido em monista simples, e monista reforçado. No primeiro caso, o conselho fiscal integra obrigatoriamente um ROC (ou nas situações em que é permitido, um fiscal único, sendo que este terá obrigatoriamente de ser um ROC): no segundo caso, o ROC é um elemento externo ao conselho fiscal.

Quanto ao modelo dualista, os órgãos responsáveis pela fiscalização são o conselho geral e de supervisão e o ROC. Ao conselho geral e de supervisão cabem as funções de fiscalização do conselho de administração executivo e do ROC (artigo 441.º, n.º 1, als. d), n) e o)).

O artigo 444.º abre a possibilidade de se criarem comissões no seio do conselho geral e de supervisão, sempre que seja conveniente. Existe a obrigatoriedade de criação de uma comissão para as matérias financeiras, sempre

315 Cfr. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito das Sociedades Comerciais I, …, op. cit., 1014. 316 Cfr. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito das Sociedades Comerciais I, …, op. cit., 1014.

que a sociedade seja emitente de valores mobiliários em mercado regulamentado, ou cumpra os critérios previstos na alínea a) do n.º 2, do artigo 413.º.

A comissão para os assuntos financeiros dedica-se, especificamente, à realização das atividades compreendidas entre a alínea f) e a alínea o) do artigo 441.º. A ela se aplica a disposição do artigo 414.º-A, n.º 1, alínea f), e deve incluir, pelo menos, um membro independente, com curso superior adequado ao exercício das funções e conhecimentos em auditoria ou contabilidade, tudo nos termos do artigo 414.º, n.º 5. No caso de a sociedade ser emitente de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado, a maioria dos membros da comissão deve ser independente, conforme dispõe o artigo 444.º, n.º 6.

A comissão para os assuntos financeiros é de caráter obrigatório, quando as sociedades tenham as características anteriormente enunciadas, e tem poderes próprios317. O conselho geral e de supervisão não a pode suprimir nem arrogar-se dos seus poderes.

Pela forma como está configurada, trata-se de mais um órgão societário, mas o legislador não o consagrou como tal. Assim, ficou a “meio caminho”318. Levanta-se a dúvida da responsabilização dos seus membros visto que poderemos estar perante uma delegação de poderes dentro de um órgão de fiscalização.

MENEZES CORDEIRO conclui que a comissão para as matérias financeiras está

para o conselho geral e de supervisão como a comissão de auditoria está para o conselho de administração319. A comissão de auditoria é um órgão obrigatório que integra o conselho de administração nas sociedades anónimas de modelo anglo- saxónico. Os seus membros continuam a ser administradores, mas é-lhes vedado o exercício de funções executivas, sendo, portanto, administradores não executivos e titulares do órgão de fiscalização simultaneamente. No modelo dualista, em certas situações, é obrigatória a criação de uma comissão para as matérias financeiras, que integra o conselho geral e de supervisão. Os membros dessa comissão têm poderes próprios, e também a sua responsabilidade será diferenciada.

317 Vide ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código das …, op. cit., 1139. 318 Cfr. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código das …, op. cit., 1139. 319 Cfr. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Código das …, op. cit., 1139.

O artigo 444.º determina que a comissão para as matérias financeiras se dedique especificamente aos assuntos previstos nas alíneas f) a o) do artigo 441.º. Esta comissão não se dedica a mais nenhum dos assuntos previstos no artigo 441.º, que estão incumbidos, exclusivamente, aos restantes membros do conselho geral e de supervisão. Por outro lado, os membros do conselho geral e de supervisão também não estão incumbidos dos assuntos especificamente atribuídos à comissão para as matérias financeiras.

O artigo 73.º, aplicável ex vi n.º 1 do artigo 81.º, determina que a responsabilidade entre os titulares de órgãos de fiscalização é solidária. Assim, todos os membros do conselho geral e de supervisão são solidariamente responsáveis, incluindo os que compõem a comissão para as matérias financeiras.

Atualmente, os membros do conselho geral e de supervisão que não integrem a comissão para matérias financeiras serão solidariamente responsáveis com estes, pelo exercício de poderes que não lhes pertencem, que são exclusivos dessa comissão. Não se pode falar de uma delegação de poderes, porque os poderes compreendidos nas alíneas f) a o) do artigo 441.º não estão abrangidos pela delegação dos membros do conselho geral e de supervisão. É a própria lei que determina que esses poderes pertencem a uma comissão especialmente criada para os exercer. O conselho geral e de supervisão tem um dever geral de vigilância sobre a atuação dos membros da comissão para as matérias financeiras, apesar de não ter delegado nenhuma das suas competências nesta comissão. Essas competências não são próprias dessa comissão320.

Ao conselho geral e de supervisão está adstrita uma fiscalização repressiva e retrospetiva de eventos que já ocorreram e que foram postos à sua consideração, mas também uma fiscalização preventiva, de cooperação com o órgão executivo.

No modelo anglo-saxónico, a fiscalização fica a cargo da comissão de auditoria e de um ROC. A comissão de auditoria, que integra o conselho de administração, tem uma vantagem em relação aos demais modelos de governação, pois permite o autocontrolo. Os membros da comissão de auditoria, apesar de não

320 Tudo, tendo sempre presente que a obrigatoriedade de existência desta comissão se circunscreve

poderem exercer funções executivas, estão a par da gestão feita pelos restantes administradores, dado que têm acesso à informação mais relevante.

Os membros da comissão de auditoria têm de ter “especiais cautelas de isenção e distanciamento”321.

Verifica-se, porém, a possibilidade de haver uma sobreposição das funções do revisor oficial de contas com as da comissão de auditoria, atento ao conteúdo das alíneas c) a f) do n.º 1 do art.º 420.º, aplicável ao revisor oficial de contas, por remissão do art.º 446.º, n.º 3, e das als. c) a f) do art.º 423.º-F, que se refere às competências da comissão de auditoria. Como funções específicas do revisor oficial de contas restam a certificação e revisão de contas.

O mesmo se passa no modelo monista reforçado, em que o revisor oficial de contas exerce funções concorrentes com o conselho fiscal.