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3 A ETNOPESQUISA CRÍTICA COMO BASE DAS ITINERÂNCIAS

4.1 O SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE TUCANO/BA E SEUS

4.1.1 O Conselho Municipal de Educação

Importante órgão dentro do sistema de ensino, é condição essencial para que o município possa ter reconhecimento em sua autonomia educacional. A Lei Municipal nº 105/2003, que institui o Sistema Municipal de Ensino em Tucano/BA, em seu Art. 7º, evidencia a sua composição formada por 14 conselheiros e 07 entidades representativas: dois representantes da Secretaria Municipal de Educação e Cultura; dois representantes das Escolas Municipais; dois representantes das Escolas Estaduais; dois representantes dos Conselhos Municipais; dois representantes das Instituições Particulares da Educação Infantil; dois representantes do Poder Executivo e dois representantes das Associações Comunitárias legalmente instituídas e é definido em seu Regimento Interno – Lei Municipal nº 106/2003, que cria o Conselho Municipal de Educação de Tucano/BA, como sendo, principalmente, “órgão colegiado autônomo que integra a estrutura do Poder Executivo, é instituição responsável que compõe o Sistema Municipal de Ensino, vinculado à Secretaria Municipal da

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Apoiado nas ideias de Weber, Mendonça (2000, p. 42-43) diz que “a dominação será racional ou legal quando a crença na sua legitimidade estiver baseada nas ordens estatuídas e no direito de mando daqueles que, sob, essas ordens, são nomeados para exercer a dominação. A idéia básica é a de que qualquer direito pode ser criado ou modificado por estatuto formalmente correto. A obediência, nesse caso, se dá não à pessoa do senhor mas a uma ordem impessoal sua e quem a ordena também a obedece. A presença de quadro administrativo no regime de dominação legal é considerada a forma moderna de administração.”

Educação Local e representativo da sociedade na gestão democrática do ensino” (Art. 1º). Nessa mesma Lei, § 2º do Art. 1º, são determinadas as suas funções:

O CONSELHO MUNICIPAL DE TUCANO exerce as funções normativa, consultiva, deliberativa e fiscalizadora, nos termos da Lei Orgânica do Município de TUCANO, orientando-se pelo presente Regimento Interno, observadas as normas e disposições da legislação em vigor.

I – No desempenho da função normativa, o CME de TUCANO elabora normas complementares e interpreta a legislação e as normas educacionais vigentes.

II – No desempenho da função consultiva, o CME de TUCANO responde consultas sobre questões da área educacional que lhe são submetidas pelas escolas, Secretaria Municipal de Educação, Câmara de Vereadores, Ministério Público e outras entidades representativas de segmentos sociais, assim como por qualquer cidadão ou grupo de cidadãos, de acordo com a legislação vigente.

III – No desempenho da função deliberativa, o CME de TUCANO analisa matérias sobre as quais tem poder de decisão, tendo competência para decidir sobre questões da área educacional do município, ouvida, em última instância, a Secretaria Municipal de Educação.

IV – No desempenho da função fiscalizadora, o CME de TUCANO acompanha a execução das políticas públicas educacionais verificando o cumprimento da legislação, aplicando sanções às instituições ou às pessoas que descumpram as normas baixadas pelo órgão, de acordo com a legislação em vigor (TUCANO, 2003b, p. 1).

É, pois, um órgão que tem como principal finalidade, de acordo com o Art. 2º da Lei Municipal nº 106/2003, o “aprimoramento da democratização da gestão educacional, atuando na defesa constante do direito de todos à educação de qualidade” (id., ib.), bem como tem registrado, no Art. 4º, V, entre uma de suas competências, no que se refere à educação municipal, “implantar a gestão democrática no ensino público municipal, através da participação da comunidade escolar e da sociedade civil” (id., ib., p. 3).

No que diz respeito às questões estruturais e organizacionais do Conselho, nos Art. 13 e 5º, §§ 1º e 2º - respectivamente, é importante registrar que as sessões ordinárias de reuniões entre os membros deverão acontecer mensalmente e que cada representatividade terá direito a um voto, que deverá acontecer por alternância entre seus respectivos representantes a cada reunião realizada. Assim, não há concentração de poder de voto apenas no membro titular (id., ib., p. 5 e 3). No que concerne às atribuições dos membros conselheiros, o Art. 11 (p. 5) especifica:

I – participar das sessões, convocadas pelo Presidente, justificando suas faltas e impedimentos;

II – relatar, na forma de prazos fixados, os processos que lhes forem distribuídos;

III – discutir a matéria da Ordem do Dia, constante da pauta do Conselho Pleno;

IV – submeter ao colegiado matérias para sua apreciação e decisão;

V – proferir voto em separado, escrito e fundamentado, quando divergir do voto do Relator e for vencido no Conselho Pleno, nas Câmaras;

VI – pedir vista de processos antes de iniciada sua votação;

VII – requerer, após justificar, destaque ou preferência para discussão e votação de qualquer matéria incluída na Ordem do Dia;

VIII – representar o Conselho sempre que designado pelo Presidente; IX – exercer outras atribuições inerentes à função de Conselheiro.

Na organização estrutural do Conselho, o seu presidente é escolhido entre os membros representantes das entidades, através de voto direto, e a ele (Art. 25) – no desempenho de suas funções – “cabe dirigir e orientar os trabalhos internos, presidir as reuniões do Conselho Pleno e exercer a representação externa, cumprindo e fazendo cumprir a legislação e as resoluções concernentes aos objetivos do órgão” (id., ib., p. 8). Por ser eleito entre os membros do Conselho, pode ser ele o representante de qualquer entidade participante, inclusive o da Secretaria Municipal de Educação e o do Poder Executivo. Nesse caso, quando isso acontece (até agora, todos os três mandatos da presidência foram de representantes da Secretaria) – independente do grau de comprometimento das pessoas que o assume – e não é isso que se quer discutir – há um paradoxo visto que o Conselho funciona como um órgão fiscalizador e, como o Presidente acaba por assumir – quase que inevitavelmente – uma posição de liderança e, por representar, no Conselho, a Secretaria de Educação, torna-se um processo de se fiscalizar quase que a si própria. Este profissional, então, termina por assumir uma posição de “servir a dois senhores” que, na maioria das vezes, não convergem para a mesma opinião. Dependendo, assim, das posturas dos sujeitos, esta pode ser mais uma forma de controle sobre um órgão de decisão coletiva.

No momento da realização da pesquisa, em entrevistas com professores e diretores, nenhuma dessas categorias sabia dizer quem era o atual representante deles nesse Conselho e, tampouco, sabia informar como se deu o processo de escolha de tal representante. Entre pais, alunos e funcionários sequer sabiam da existência desse órgão dentro do sistema de ensino. Apenas uma funcionária de uma das escolas pesquisadas, quando perguntada sobre um outro conselho, o do Fundeb, diz que já ouviu falar do Conselho Municipal de Educação, mas que não sabia dizer se era algo ligado à fiscalização das verbas, achando fazer referência ao Fundeb.

As itinerâncias no contexto serviram, ainda, para perceber que, na realidade, o Conselho Municipal de Educação não funcionou no ano de 2009 e até este momento de realização da pesquisa em 2010. Segundo informações da Conselheira “A” do CME (também Gestora do Sistema) – que já está em seu segundo mandato – as reuniões não aconteceram por falta de quórum durante todo esse período. Diz, ainda, que há um interesse em reativar o Conselho, mas a grande dificuldade é encontrar pessoas que queiram assumir a função de membros nesse órgão de educação. Deixa claro, em sua fala, que já há, inclusive, a perspectiva de uma pessoa para assumir a presidência, pois apresenta algumas características que a ajudariam a desenvolver tal função. O depoimento expresso abaixo ratifica tais questões:

Hoje, para o Conselho voltar a funcionar como era antes, eu preciso de alguém que tenha compreensão, capacidade de compreender as leis e tudo mais, saiba lidar com elas e desejo de estudar, mas as pessoas não querem isso para elas: ter que dar respostas fundamentadas em uma base legal. Há coisas que você não conhece e vai precisar de tempo para estudar.

Pelo exposto, fica assim entendido que não há um processo de escolha entre os pares para eleger seus representantes, mas escolhas de alguns sujeitos a assumirem determinadas funções, inclusive a de presidente, o que descaracteriza o proposto em seu regimento – Lei Municipal nº 106/2003.

A ausência de funcionamento desse órgão e a forma como seus membros são escolhidos, o não conhecimento por parte dos sujeitos partícipes da educação ou, ainda, o não saber quem são seus representantes no referido conselho depõem contra a possibilidade de efetivação de uma gestão coletiva e participativa, de decisões autônomas e democráticas, no interior do Sistema Municipal de Ensino de Tucano/BA.