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Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP

No documento Alexandre Pereira da Rocha (páginas 57-61)

Capítulo 2 O Sistema Penitenciário Brasileiro

2.2 Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP

De acordo a Lei de Execução Penal, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) é o órgão responsável pela formulação e definição da política criminal e penitenciária. Trata-se de uma instituição que põe a disposição diretrizes a serem seguidas pelas unidades federativas. Sua existência esta adstrita à implementação de Lei de Execução Penal, em 1984. A LEP, enquanto código penitenciário, trouxe inovações fundamentais para a fiel execução da pena, ou seja, para o pleno exercício do direito de punir do Estado.

O CNPCP é subordinado ao Ministério da Justiça, sendo composto por 13 (treze) membros, os quais são escolhidos por determinação do referido ministério, dentre professores e profissionais de direito penal, processual penal, penitenciário e ciências sociais correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos ministérios da área social. Os integrantes do CNPCP terão mandato de 2 (dois) anos, com renovação de 1/3 (um terço) a cada ano (LEP, Arts. 62 e 63).

Definir a política criminal e penitenciária num ambiente marcado pela descentralização, é uma tarefa complexa, pois conciliar os diversos interesses e

necessidades dos sistemas penitenciários das unidades federativas requer um entendimento amplo e preponderantemente doutrinário. Desse modo, apresentam-se as incumbências do CNPCP, no âmbito federal e estadual.

Quadro 2

Funções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)

Lei de Execução Penal - CNPCP Art. 64

I. Propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança;

II. Contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da política criminal e penitenciária;

III. Promover a avaliação periódica do sistema criminal para a sua adequação às necessidades do País;

IV. Estimular e promover a pesquisa criminológica;

V. Elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoamento do servidor;

VI. Estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de estabelecimentos penais e casas de albergados;

VII. Estabelecer os critérios para elaboração da estatística criminal;

VIII. Inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, requisições e visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao seu desenvolvimento;

IX. Representar ao Juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução penal;

X. Representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal.

Fonte: Lei de Execução Penal

Como observamos a competência do CNPCP não se restringe ao sistema penitenciário, pois tem por objetivo formar propostas de combate à criminalidade. O órgão possui uma estrutura humana bastante eclética. Por causa disso, tem posicionamento moderno e alinhado com o processo de humanização da pena. Considera que as estratégias de prevenção e de combate à criminalidade englobam políticas públicas de caráter social bem como a atuação do sistema de justiça criminal. Outrossim, seus princípios basilares

devem estar explicitados para que possam guardar profunda coerência, sendo que tal coerência advém da vinculação desses princípios aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, nomeadamente a dignidade da pessoa humana vista na sua individualidade e na sua dinâmica de inserção social.56

O CNPCP baseado no princípio do Estado de Direito, fortalecido com a Constituição de 1988, de caráter eminentemente democrático, possui diretrizes que almejam sedimentar a pena como um procedimento de ressocialização e compreender a criminalidade dentro de um emaranhado de condições socio-econômicas. Desse modo, o Estado exerce seu direito de punir, baseado no quesito de que o conceito de ordem pública, antes concernente apenas à segurança, passou a abranger a ordem econômica e social.57 É nesse sentido que o CNPCP alude às questões de segurança pública. Veja-se, a seguir:

Quadro 3

Orientações do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNCPC)

CNPCP, Res. nº 16, de Dezembro de 2003, Art. 2º I – respeito à vida e à dignidade da pessoa humana;

II – concepção do Direito Penal como última instância de controle social; III – valorização da criatividade na busca de alternativas à prisão;

IV – articulação e harmonização dos órgãos que compõem o sistema de justiça criminal;

V – absoluto respeito à legalidade e aos direitos humanos na atuação do aparato repressivo do Estado;

VI – humanização do sistema de justiça criminal;

VII – comprometimento com a qualidade na prestação do serviço, para incremento da eficiência e da racionalidade do sistema de justiça criminal.

Fonte: site do Ministério da Justiça.

56BRASIL. Ministério da Justiça. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), Res. nº

16, de dezembro de 2003.

57 DI PIETRO. Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Ed. Atlas, 2004, p.110. Obs: direito

de punir é a capacidade que o Estado tem de impor sanções aos indivíduos. Decorre do princípio do monopólio da força. Por sua vez, vale acrescentar a lição da Jurista DI PIETRO sobre o poder de polícia do Estado, que é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em beneficio da segurança - entendido amplamente como beneficio do interesse público. O direito de punir, portanto, engloba o poder de polícia do Estado. (N.A)

Embora o CNPCP possua este entendimento moderno, tem-se que no direito penal as mudanças ocorrem com morosidade, tanto que o Código Penal brasileiro é de 1940. Por causa disso, o referido código é alvo de críticas e alterações por estar em descompasso com atualidade democrática. Certamente, o direito penal é um dos seguimentos sociais menos suscetível a mudanças. Em virtude disso, o processo de humanização da pena deve ser continuo, cabendo institucionalmente ao CNPCP apresentar essas transformações. A preocupação básica nessas diretrizes é a redução da pena de restrição de liberdades, buscando-se alternativas que deixem a prisão como uma solução limite. Tal fato se deve ao vertiginoso aumento da população prisional, que, segundo estimativas, poderá chegar a 476 mil presos em dezembro de 200758. Observem-se abaixo as diretrizes para o sistema penitenciário propostas pelo CNPCP:

Quadro 4

Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária (CNPCP): Diretrizes para o Sistema Penitenciário

CNPCP, Res. Nº 16, de Dezembro de 2003, Art. 6º

I – construção preferencial de unidades, com no máximo 500 vagas, buscando-se evitar a permanência de presos condenados e provisórios em delegacias de polícia;

II – cumprimento de pena privativa de liberdade em estabelecimentos prisionais próximos à residência da família do condenado;

III – promoção permanente de assistência jurídica aos presos provisórios, internados e egressos, prioritariamente pelas Defensorias Públicas, e, secundariamente, pelos Cursos e pelas Faculdades de Direito, pelos Serviços de Assistência Judiciária da OAB e por instituições congêneres;

IV – realização de Programas e Projetos Especiais de Prevenção e Tratamento de DST/AIDS, Tuberculose e Dependência Química nas unidades penais e hospitalares;

V – desenvolvimento de ações médico-psico-odontológicas e sociais em todos os ambulatórios das unidades penais;

VI – classificação inicial dos condenados para orientar a execução da pena e sua submissão a exame admissional de saúde.

Fonte: site do Ministério da Justiça

58 BRASIL. Ministério da Justiça. Sistema Penitenciário do Brasil: diagnósticos e proposta. DEPEN, Brasília,

Mediante tais diretrizes, o CNPCP busca modernizar o sistema penitenciário, pois propõe às unidades federativas normas e técnicas de aplicação da pena. Os estabelecimentos prisionais com enorme concentração de detentos, que marcaram a origem das casas correcionais estão sendo substituídos por locais pequenos. No Brasil, a mais conhecida penitenciária se encontrava em São Paulo, vulgarmente chamada de “Carandiru”, chegou a comportar mais de 7 (sete) mil presos, sendo que sua capacidade era de 3 (três) mil vagas59. Outro ponto a se destacar, refere-se à preocupação em não isolar os detentos do convívio familiar e à promoção de assistência médica e jurídica, fatos que evidenciam o caráter humanista da pena. Nada obstante, tais diretrizes estão longe de ser postas em prática, visto que as unidades federativas não têm suporte para executá-las.

Apesar das deficiências quanto à aplicabilidade de suas diretrizes, o CNPCP, constitui-se numa estrutura relacionada com o processo de humanização da pena, que se empenha em tornar o direito de punir do Estado num fato garantidor da ressocialização e de inibidor da criminalidade.

No documento Alexandre Pereira da Rocha (páginas 57-61)