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Escassa valorização do capital humano

No documento Alexandre Pereira da Rocha (páginas 141-145)

Capítulo 3 A superlotação no sistema penitenciário brasileiro

3.2 Aspectos Políticos

3.2.4 Escassa valorização do capital humano

O sistema penitenciário, para sua efetiva funcionalidade, necessita de profissionais qualificados e com remuneração satisfatória. No entanto, a carência de capital humano, constitui-se num dos sérios agravantes da questão penitenciária. O profissional do sistema penitenciário tem a complexa função de vigiar, punir e

ressocializar. Por conta disso, o agente penitenciário precisa de aperfeiçoamento contínuo e isso exige investimentos. Como se observou, a maior parte dos recursos, destina-se à construção de novos estabelecimentos prisionais. O que torna o investimento no capital humano muito restrito. Entre os anos de 1995 a 2003, somente no ano de 2002, ocorreu desembolso para capacitação de agentes penitenciários do Distrito Federal, no total de R$ 150.085,00169 Assim, mais um fundamental elemento do sistema penitenciário é tratado de forma relativa.

O agente penitenciário é o principal profissional no sistema penitenciário. Mas, não é o único, pois, para atender às necessidades da população prisional, necessita-se de profissionais de saúde (médico, odontólogo, enfermeiros, psicólogos etc), advogados, assistentes sociais, educadores e policiais. A prisão é uma espécie de comunidade, que representa parcela da sociedade com suas carências, deficiências, defeitos etc. Por causa disso, o investimento em recursos humanos é necessário para atingir o objetivo da ressocialização, bem como da segurança.

Como já frisado alhures, o sistema penitenciário brasileiro é caracterizado pela diversidade. Cada unidade federativa tem legislação e funcionalidade própria. No tocante aos profissionais do sistema penitenciário, acontece algo semelhante. Assim, em algumas unidades federativas existem profissionais próprios, como o agente penitenciário170; noutras porém, utiliza-se da policia civil ou militar. Quais as conseqüências dessa particularidade?

A principal conseqüência é a impossibilidade de se definirem padrões de atividades, ou seja, definir o verdadeiro papel do profissional do sistema penitenciário. Afinal, as funções de vigiar, punir e ressocializar podem fundir-se num único

profissional? O profissional do sistema penitenciário tem capacidade de vigiar, punir e ressocializar de forma harmônica?

A profissão do agente penitenciário é árdua e penosa, pois ele é ao mesmo tempo o intermediador entre a sociedade que isola e o preso que está isolado, ou seja, o agente penitenciário é o elo de ligação entre o preso e a sociedade.171 Assim, vigiar, punir e

ressocializar é um desafio, tanto que:

O agente é responsável tanto pela segurança do preso quanto pela sua reeducação, tem ao mesmo tempo a finalidade de protegê-lo de riscos internos, impedi-los de fugir do estabelecimento penal, resguardando a sociedade de possíveis futuros riscos, preservar a ordem e disciplina dentro do estabelecimento, seja pela orientação e coerção e ao mesmo tempo dar-lhe exemplo a serem seguidos, dar-lhe atenção a mais humana possível, incentivar-lhe para uma vida futura, sem maiores aborrecimentos com a Lei. É o agente penitenciário que deve valorizar o preso enquanto pessoa procurando restabelecer no mesmo a auto-confiança, o respeito a si e aos outros e a sua dignidade. Porém, é o mesmo agente que por desconfiança organizacional, deve invadir-lhe sua privacidade, violando as suas correspondências, revistando suas roupas e o seu corpo, revistando suas celas e seus pertences, enfim, vigiando-o, o tempo todo.172

No caso específico do sistema penitenciário do Distrito Federal, a carreira de agente penitenciário integra o quadro da Policia Civil dessa unidade federativa. O agente penitenciário, por ser policial, passa por curso de formação na academia da Policia Civil, onde se dá prioridade a segurança. As técnicas de ressocialização são disciplinadas em cursos teóricos, mas, na prática, no dia-a-dia do trabalho do profissional do sistema penitenciário, tornam-se esparsas, pois se ressalta a segurança. Ademais, o quadro de agente penitenciário no Distrito Federal é restrito se comparado à população prisional, pois, segundo dados de maio de 2006 da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SESIPE), existe carência de 1.000 (mil) profissionais. Em virtude disso, outros profissionais são designados para o trato dos presidiários. Deste

170 Agente penitenciário, guarda penitenciário, agente prisional, técnico penitenciário, agente carcerário

etc. Até na nomenclatura da profissão existe distinção entre as unidades federativas.

171 ROCHA, Edílson Rodrigues. A motivação do agente penitenciário para o trabalho. Paraná:

Universidade do Paraná, Monografia, 2003, p.15.

modo, encontram-se policiais militares exercendo a função de agente penitenciário, sem nenhum conhecimento técnico anterior, ou seja, sem ter passado por curso de formação. Assim, o trato do presidiário resume-se a vigiar, a mantê-lo preso. Nessas condições, punição e ressocialização decorrem da discricionariedade do agente penitenciário (que nem sempre é um profissional com conhecimento específico do sistema penitenciário), o que geralmente leva a se cometerem excessos ou faltas. Afinal, as medidas de ressocialização não têm padrão a ser seguido. Conta-se apenas com esforços isolados da administração penitenciária, de alguns agentes penitenciários ou de outros profissionais.

Algumas unidades federativas têm profissionais formados para o sistema penitenciário. Porém como já foi dito, outras utilizam subsidiariamente a polícia civil ou militar. O agente penitenciário geralmente não pertence ao quadro policial. Vincula-se às secretarias de segurança pública, secretárias de administração penitenciária ou secretária de direitos humanos. Existe, ainda, outra situação, que são os agentes penitenciários que trabalham em prisões privadas, o que não é objeto deste trabalho.

Apesar da carência de recursos financeiros para o sistema penitenciário, argumenta-se que o exclusivo aumento de recursos do FUNPEN não resolveria o problema, pois a questão ultrapassa a restrição de dinheiro. Ela, sobretudo, decorre da falta de prioridades que privilegiem a ressocialização e levem em consideração fatores intra e extramuros das prisões. Caso isso não seja feito, o dinheiro do FUNPEN continuará escoando pelos ralos infindáveis das distorções políticas e do avultamento da população prisional.

No documento Alexandre Pereira da Rocha (páginas 141-145)