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Em consequência da alteração da matéria de facto, o acórdão recorrido deu como provados os factos seguintes:

No documento Data do documento 10 de dezembro de 2020 (páginas 36-42)

1. A Autora é proprietária e legítima possuidora do imóvel correspondente à fracção autónoma, identificada pelas letras “CC”, do edifício sito na Avenida …, n.ºs 29, 31 e 35 e na Quinta …, …, localizada no 2.º Andar Esquerdo, com entrada pelo n.º 29 do mesmo.

2. Os Réus são proprietários e legítimos possuidores do imóvel correspondente à fracção autónoma, identificada pelas letras “CD”, do edifício sito na Avenida …, n.ºs 29, 31 e 35 e na Quinta …, …, localizada no Rés-do-chão Direito, com entrada pelo n.º 31 do mesmo.

3. O edifício em causa encontra-se constituído em regime de propriedade horizontal, sendo a sobredita fracção propriedade da Autora destinada a habitação e a fracção supra identificada propriedade dos Réus destinada a comércio.

4. No ano de 2009, os Réus fizeram obras de adaptação com vista a utilizar a sua fracção para a actividade de restauração e bebidas.

5. Entre outras obras, os Réus procederam à colocação de condutas de extracção de fumos, cuja saída da fracção propriedade daqueles se encontra ligada à parede de separação da mesma à fracção contígua, porquanto ali inexistia qualquer sistema de extracção de fumo.

6. Essas condutas têm saída última pela chaminé do edifício, passando pelo interior da corete do mesmo, por uma tubagem dedicada exclusivamente à fracção dos Réus, e pela fachada posterior do edifício.

7. Procedeu-se à acoplação de uma “hot” à aludida chaminé.

8. Instalando-se ainda um respiradouro na fachada posterior do edifício em apreço e dois aparelhos de ar condicionado, após materialização da abertura necessária para o efeito.

9. Permitiram os Réus a instalação na fracção em apreço de, pelo menos, dois restaurantes, arrendando-a para tal efeito.

10. Nenhuma das obras acima elencadas foi autorizada pela Autora ou demais condóminos do edifício em questão ou, sequer, pela administração do seu condomínio.

11. Não se procedeu, até ao presente, à alteração do título constitutivo da propriedade horizontal no sentido de alterar a afectação da fracção autónoma propriedade dos Réus.

12. A Autora sofre de rinite e faringite alérgicas.

13. Os Réus instalaram uma esplanada diante do edifício em questão, sem qualquer autorização dos demais condóminos para o efeito.

14. Mais do que uma vez houve entupimentos da caixa de esgoto existente na garagem da Autora.

15. Esses entupimentos impedem a Autora de utilizar esse espaço, sempre receosa de ver os seus bens ali depositados danificados, nomeadamente, qualquer veículo automóvel.

17. Por diversas vezes, directa e indirectamente, a Autora tentou alertar os Réus, participando esta situação a entidades fiscalizadoras.

18. Os Réus adquiriram, no ano de 1996, a fracção autónoma identificada pelas letras “CD”.

19. No verão de 2009, os Réus decidiram afectar a sua fracção à actividade de restauração e bebidas.

20. Para tanto, os Réus dirigiram-se à Secção de Obras Particulares da Câmara Municipal para obterem informações sobre o procedimento necessário ao seu licenciamento.

21. Foram informados pela responsável da Secção de Obras Particulares, Engenheira FF, que, por constar do Alvará de Licença de utilização da fração n.º …, o uso genérico de comércio, era necessário apresentar um projecto de alteração ao uso de comércio, para comércio de restauração e bebidas, por este tipo de estabelecimentos obedecer a requisitos próprios para o seu funcionamento.

22. Bem como para procederem à realização de todas as obras necessárias para o cumprimento das exigências legais para este tipo de estabelecimento.

23. Informou ainda a técnica, que, por haver divergência de entendimento sobre este tipo de licenciamento específico, com a Chefe de Divisão de Planeamento e Urbanismo, engenheira QQ, seria solicitado à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR) a emissão de um parecer sobre esta questão.

24. Para darem cumprimento às exigências legais dos requisitos exigidos pelo Município para a actividade de restauração e bebidas, os Réus procederam à execução das obras tidas por necessárias para o efeito na sua fracção, objecto de projecto, e ainda à instalação de um sistema de extracção de fumos na garagem, com saída pela fachada posterior do edifício, mediante prévio recurso à alteração do projecto em sede de “loteamento”.

25. Os Réus colocaram condutas de extracção de fumos cuja saída é efectuada por uma tubagem interna, que existe desde raiz, desde a construção do edifício, na sua fracção, independente da tubagem principal da chaminé do edifício, a qual passa pelo interior da corete do mesmo, e tem um diâmetro de 125mm, inferior ao de 180mm verificado no interior da fracção.

26. Situa-se junto à parede de separação com o bloco habitacional designado por “lote ..” e prossegue até ao telhado do edifício de cinco andares.

28. As obras mencionadas foram à vista de condóminos.

29.As obras mencionadas não foram objecto de reclamações em reunião de Assembleias de Condóminos ao longo destes últimos 8 anos (cfr. actas de fls. 105 a 120 e 184 a 224)

30. Em 4 de dezembro de 2009, foi emitido o parecer pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR) com o n.º DSAJAL 194/09 que concluiu que “o uso pretendido para a fracção em causa - restauração e bebidas - enquadra-se no sector mais genérico do comércio, tendo apenas um regime de licenciamento próprio, que visa acautelar determinados interesses públicos nos domínios da funcionalidade, segurança e salubridade”.

31. Os Réus apresentaram na Câmara Municipal o projecto de alteração ao uso da fracção de comércio para comércio de restauração e bebidas, instruído com todos os pareceres obrigatórios (parecer sanitário, ficha de segurança contra incêndio e termo de responsabilidade).

32. Vindo este a ser aprovado, em 28 de dezembro de 2009, e efectuada a alteração à Licença de Utilização n.º 5/2006 de comércio para comércio de restauração e bebidas.

33. O local onde se situa o estabelecimento de restauração é pacato e sossegado.

34. Não existe no local onde se situa o restaurante em apreço cheiros, odores, vapores, barulhos, trânsito ou movimentações de veículos afectos ao restaurante que possam perturbar o sossego e bem-estar, de quem ali reside, nomeadamente, da Autora, nem tão pouco fumos ou gases oriundos do sistema de extração de fumos da fracção dos Réus (prova pericial junta aos autos em 29.01.2018, estudo de avaliação da qualidade de ar interior, verificação de requisitos acústicos dos edifícios e medição dos níveis de pressão sonora juntos aos autos em 29.10.2018).

35. A fracção da Autora situa-se no segundo andar esquerdo do lado oposto ao restaurante.

36. A Autora apresentou queixa junto da Provedoria de Justiça.

37. A queixa apresentada foi arquivada, junto da Provedoria da Justiça, por se considerar que a queixosa “se satisfaz com o conhecimento de estarem observadas as prescrições legais e regulamentares em matéria de segurança e salubridade”, no seguimento de comunicação da autarquia nesse sentido.

38. Arquivamento comunicado à Autora que o aceitou.

40. Dois anos após o início do funcionamento do restaurante, em reunião extraordinária da Assembleia de condóminos de 22 de Julho de 2011, foi deliberado consultar um advogado para questionar se o licenciamento da fracção CD- r/c direito permitia a abertura de um restaurante/café.

41. Em Assembleia de condóminos de 20 de Janeiro de 2012 foram prestados presencialmente os esclarecimentos solicitados e anexa a informação escrita à respectiva acta.

42. E informados os condóminos, nomeadamente, a Autora, que face ao tempo decorrido, à data três anos sobre a abertura do restaurante, sem nada terem solicitado em sentido contrário, este comportamento podia consubstanciar uma aceitação tácita da abertura do restaurante.

43. Em Assembleia de condóminos de 25 de Janeiro de 2015 (mas que se reporta ao ano de 2016 por constar da respectiva Acta que a convocatória foi remetida em 6 de Janeiro de 2016 e atendendo ao teor do ponto 1 e 2 em discussão), a Autora propôs à votação “apresentar uma acção judicial contra os proprietários da fracção CD, correspondente ao ……., com vista ao encerramento da actividade de restaurante”, não tendo sido aprovada a proposta de encerramento do restaurante mas tendo a Autora votado a favor.

44. Da vistoria efectuada à fracção dos Réus em 20.06.2014 pela Delegada de Saúde da Unidade de Saúde Local de .... foi verificado que o estabelecimento de restauração “O Cantinho dos ...” cumpria as exigências de salubridade e saúde pública.

45. A esplanada aberta com estrado está instalada em espaço público, em frente à fracção dos Réus.

46. Foi ali colocada em 2014, sendo que, à data, o seu licenciamento foi requerido pela então arrendatária da fracção “O Cantinho dos ...”.

47. Tais obras decorreram com total conhecimento da Autora e outros condóminos.

48. À data da aquisição da fracção pelos Réus, esta estava dotada de raiz, desde a construção do edifício, de uma tubagem independente da principal da chaminé do edifício, a qual passa pelo interior da corete do mesmo, e tem um diâmetro de 125 mm, inferior ao de 180 mm verificado no interior da fracção, que permitia a evacuação de fumos, vapores e cheiros, para permitir que ali funcionasse um estabelecimento de restauração ou outro de natureza similar.

49. A Autora é conhecida no concelho como vidente, exercendo essa actividade ao longo dos anos, pelo menos, num dia indeterminado da semana e aos sábados, sendo que, até ao ano passado, exercia essa actividade na garagem afecta à sua fracção, na qual construiu uma divisória onde colocou uma instalação

sanitária para servir a “vasta” clientela que atende semanalmente (cfr. em parte, acordo das partes nos termos dos arts. 73.º e 74.º da contestação e 34.º, 35.º e 59.º da réplica e depoimentos das testemunhas HH, II, JJ, KK, LL, MM, NN, OO, PP, conjugados com a prova pericial junta aos autos em 29.01.2018 e esclarecimentos do Sr. Perito de 13.04.2018).

50. A afectação que a Autora deu à sua garagem e, depois, habitação propriamente dita, foi levada a cabo sem autorização dos demais condóminos (cfr. actas de fls. 105 a 120 e 184 a 224).

51. Essa afectação provoca um afluxo de pessoas e veículos, na parte posterior do edifício.

52. A totalidade das fracções existentes no prédio em apreço é de seis e a Autora representa uma delas.

53. A autora é proprietária da fracção correspondente ao segundo andar esquerdo destinado a habitação do tipo T- três, composta por um corredor, três quartos, duas instalações sanitárias, sala, cozinha, varanda, arrecadação no sótão, designada por CC-três e na cave garagem, designada por CC-Um e arrumos designado por CC-dois.

54. A Autora elaborou na garagem, obras de adaptação, com a intenção de utilizá-la para a sua actividade de vidente (cfr. acordo das partes nos termos dos arts. 74.º da contestação e 35.º da réplica e depoimentos das testemunhas HH, JJ, LL, OO e PP, conjugados com a prova pericial junta aos autos em 29.01.2018 e esclarecimentos do Sr. Perito de 13.04.2018).

55. A Autora ligou a instalação sanitária que construiu na sua garagem ao saneamento principal do prédio.

56. As obras efectuadas pela Autora foram-no sem autorização dos Réus ou demais condóminos do edifício (cfr. actas de fls. 105 a 120 e 184 a 224).

57. A Autora queixou-se da instalação de um restaurante na fracção propriedade dos Réus junto da Câmara Municipal, dos Serviços de Saúde e do Provedor de Justiça. 58. O condómino da fracção CE (…) disse, na Assembleia de Condóminos de 22.07.2011: “em princípio, permite apenas para utilizar a loja para fins comerciais, ou seja, comércio e não para café ou restauração.” Disse também que quando chegou dos E.U.A., as janelas/persianas estavam “coladas, com gordura e os cheiros são intensos”.

59. Desde, pelo menos, há dez anos é do conhecimento dos Réus que a Autora é vidente e ajuda diversas pessoas enquanto tal na fracção que é sua habitação, nomeadamente, na zona da garagem.

60. Jamais os Réus se manifestaram contra tal comportamento da Autora ou instalação.

fracção autónoma identificada pelas letras “CD”, sua propriedade, utilizando, igualmente, aquele espaço como armazém comercial e arrecadação.

62. A Autora, em contrapartida da sua actividade de vidente, por vezes, recebe entregas em espécie -como garrafões de azeite e batatas - e noutras vezes quantias monetárias que medeiam entre os 5,00€ (cinco euros) e os 30,00€ (trinta euros) (cfr. depoimentos das testemunhas HH, II, JJ, KK, OO e PP).

63. Hodiernamente, a Autora apenas recebe os seus clientes na sua habitação, localizada no segundo andar esquerdo do edifício em apreço

64. A esplanada do restaurante em apreço é acessível através de uma zona comum a todos os condóminos.

65. A Autora, aquando da aquisição da sua fracção autónoma tinha a expectativa de que na fracção dos Réus não viesse a ser instalado um restaurante.

No documento Data do documento 10 de dezembro de 2020 (páginas 36-42)