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Em contrapartida, o acórdão recorrido deu como não provados os factos seguintes:

No documento Data do documento 10 de dezembro de 2020 (páginas 42-46)

2. As condutas mencionadas no ponto 5 têm passagem pela corete das instalações sanitárias das fracções habitacionais, como aquela propriedade da Autora.

3. A Autora vê a sua fracção diariamente poluída com fumos e gases oriundos do aludido sistema de extracção propriedade dos Réus.

4. O que lhe causa inflamação do nariz e garganta e faz com que a Autora padeça, hodiernamente e desde 2009, de rinite e faringite alérgicas em virtude da constante inalacção dos gases poluídos provenientes dos sucessivos restaurantes que ali vão sendo instalados desde aquela data.

5. De igual modo, a Autora vê hoje a sua fracção constantemente invadida de maus cheiros, o que não sucedia em momento anterior à materialização das obras acima mencionadas e à indevida afectação da fracção propriedade dos Réus à actividade de “restauração e bebidas” (estudo de avaliação da qualidade de ar interior junto aos autos em 29.10.2018 de onde resulta o contrário).

6. A passagem das condutas de extracção de fumos pela corete das instalações sanitárias das fracções habitacionais cominou a contaminação das águas sanitárias utilizadas na fracção da Autora pelo que, por inúmeras vezes, a Autora e os seus familiares se viram e vêem impossibilitados de utilizar as suas próprias instalações sanitárias e respectivas águas, sob pena de inflamação cutânea e vaginal.

festa, até, pelo menos, à 00h30 do dia subsequente, sendo que aumenta o afluxo de clientes nos fins-de-semanas, feriados, dias festivos e no período estival.

8. Em consequência, desde que a fracção propriedade dos Réus foi afecta à actividade de restauração, a Autora vê a sua tranquilidade perturbada com ruído efectuado pelos clientes e funcionários dos sucessivos restaurantes ali instalados, no período diurno e nocturno, designadamente, aquando da limpeza e arrumação do estabelecimento no final da jornada de trabalho (verificação de requisitos acústicos dos edifícios e medição dos níveis de pressão sonora juntos aos autos em 29.10.2018 de onde resulta o contrário).

9. O afluxo de clientela, inerente à actividade de restauração, determinou uma maior utilização das instalações sanitárias da fracção propriedade dos Réus não previsível aquando da construção do edifício em causa, utilização para a qual as respectivas instalações não se encontram estruturalmente equipadas.

10. Consequentemente, desde que foi alterada a afectação da fracção propriedade dos Réus que as instalações de saneamento gerais do prédio em questão se entopem frequentemente - a última das quais em Agosto de 2016 - enchendo as respectivas caixas de saneamento e transbordando, acabando por inundar a garagem da Autora e de outros condóminos com águas pútridas.

11. Ocorrem frequentes infiltrações de água pelo tecto e paredes da garagem da Autora, a última das quais em Agosto de 2016 (os docs. 8 a 11 juntos com a p.i. não são suficientes para demonstrar tal circunstância, em primeiro lugar, por serem concernentes ao chão, em segundo lugar, por serem contraditórios com a prova pericial junta aos autos em 29.01.2018 e, em terceiro lugar, porque tais docs. não se encontram datados).

12. Causando, inevitavelmente, o levantamento da tinta ali aplicada e do estuque e o enegrecimento de tais estruturas, carecendo, para a sua reparação de ser efectuada a sua pintura, com duas de mão, com tinta plástica de igual qualidade à ali existente, com custo nunca inferior a € 1000,00 (mil euros) (os docs. 8 a 11 juntos com a p.i. não são suficientes para demonstrar tal circunstância, além de que contrariado pelos esclarecimentos juntos aos autos em 13.04.2018).

13. A Autora é uma pessoa pacata, simples e humilde, educada e estimada por quantos a conhecem e que com ela lidam, dotada de grande autoridade moral, excelente educação e fino trato.

14. Era ainda, anteriormente aos factos, uma pessoa feliz, sempre bem-disposta e cheia de alegria de viver.

15. A Autora tem dificuldade em dormir uma única noite de sono descansada, desde que os Réus concretizaram as obras acima referidas, ou seja, desde 2009.

16. Ficando a Autora deprimida e entristecida em consequência do comportamento dos Réus, deixando de apresentar a força de viver a que habituara os seus parentes e amigos, vendo prejudicados o seu bem-estar e conforto na sua própria habitação. 17. Desde 2006 que os Réus deram de arrendamento a sua fracção.

18. As obras executadas pelos Réus não tiveram qualquer oposição pessoal dos condóminos, nomeadamente, da Autora ou da administração do condomínio.

19. As obras foram aprovadas e licenciadas pela Câmara Municipal.

20. Desde então (28.12.2009) que, na fracção dos Réus, funciona continuamente um estabelecimento de restauração e bebidas do tipo familiar, o qual, na maior parte dos dias, à hora do almoço, funciona a menos de 50% da sua capacidade, sendo praticamente inexistente a clientela à noite, nos dias de semana.

21. Apesar de lhe ter sido atribuído um horário de funcionamento mais alargado, o estabelecimento funciona essencialmente das 9H30 às 15H00 e das 19H30 às 23H00.

22. Ao longo de 8 anos, nenhum outro condómino se queixou para além da Autora. 23. Informada pela Câmara Municipal que a actividade de restauração instalada na fracção dos Réus cumpria todas as exigências legais, a Autora aceitou o licenciamento e consequentemente a laboração do restaurante na fracção dos Réus. 24. Das vistorias efectuadas à fracção dos Réus pela Câmara Municipal e/ou pela Delegada de Saúde da Unidade de Saúde Local de ..., a pedido da Autora nada resultou no sentido de que a instalação do restaurante provoca com frequência entupimento das instalações de saneamento e inundação das garagens desta e dos outros condóminos.

25. O licenciamento da esplanada mencionado no ponto 44 dos factos provados foi aprovado pela Câmara Municipal.

26. A Autora construiu clandestinamente duas caixas de esgoto doméstico no pavimento na garagem afecta à sua habitação.

27. O afluxo de pessoas e a maior utilização da instalação sanitária sita na garagem da Autora, que não estava comtemplada no projecto aquando da construção do edifício, provavelmente, provoca o entupimento do saneamento e aparecimento de humidades na garagem da Autora.

28. A afectação que a Autora dava à garagem não foi dada a conhecer aos condóminos aquando da aquisição das respectivas fracções.

29. E perturba o descanso, tranquilidade e privacidade de quem ali reside.

30. Foi no ano de 2011 que a Autora concordou com o arquivamento da queixa apresentada no Provedor de Justiça.

31. Passados 8 anos, os Réus confiaram que, tanto tempo depois de o restaurante estar a funcionar, a Autora não iria requerer o seu encerramento.

32. É a instalação sanitária que a Autora construiu na garagem que entope frequentemente as instalações do saneamento geral do prédio (cfr. prova pericial junta aos autos em 29.01.2018 que demonstra o seu contrário).

33. As obras efectuadas pela Autora foram sem autorização da administração do condomínio.

35. A Ré recorreu, por diversas vezes, à ajuda da Autora, ao longo da última década, conforme é do pleno conhecimento do seu marido Réu, na qualidade de vidente, para o efeito se deslocando, inclusivamente, à garagem da segunda, local onde lhe foi prestado o auxílio solicitado, encontrando-se ao seu dispor o vaso sanitário ali colocado por ordem da Autora (uma vez que as únicas testemunhas que a isso se referiram – a testemunha II que apenas o diz incidentalmente e a testemunha OO, filha da Autora – se revelaram pouco credíveis por serem os seus depoimentos flagrantemente contrariados pelas perícias realizadas e não consentâneos, na sua maior parte, com as regras de experiência comum, mencionando-se, só a título de exemplo, a insistência peremptória dessa testemunha EE no sentido de ver fumo a sair do “buraquinho da fechadura” da garagem dos Réus e que a Autora, devido ao restaurante, ficou com “língua com verdete” três dias após a abertura do mesmo).

36. Desde, pelo menos, 1996, é do conhecimento dos Réus e de todos os demais condóminos que se encontra instalado na garagem da Autora um vaso sanitário.

37. Nenhum prejuízo algum dia ocorreu para os Réus decorrente da actividade da Autora ou daquela instalação.

38. Os Réus chegaram a permitir que se proceda à confecção de carnes na garagem integrante da sua fracção, conforme é prática do seu arrendatário.

39. A Autora, desde, pelo menos, 1991, é vidente, sem remuneração certa, recebendo, apenas, o que as pessoas lhe queiram dar.

40. A Autora, em contrapartida da sua actividade de vidente, por vezes, recebe entregas em espécie -como flores, bibelôs - e noutras raras vezes gratificações monetárias -como €5,00 (cinco euros) ou €10,00

(dez euros).

O DIREITO

21. A primeira questão suscitada pelos Réus, agora Recorrentes, consiste em determinar se o acórdão recorrido, ao alterar a decisão de facto, infringiu o art. 342.º do Código Civil ou o art. 662.º do Código de Processo Civil.

22. O art. 662.º, n.º 1, do Código de Processo Civil determina que o Tribunal da Relação deve alterar a decisão proferida sobre a matéria de facto se os factos tidos como assentes, a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão diversa — e, em consonância com o art. 662.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, o Tribunal da Relação deve “formar e formular a sua própria convicção, mediante a reapreciação dos meios de prova indicados pelas partes ou daqueles que se mostrem acessíveis e com observância do princípio do dispositivo no que concerne à identificação dos pontos de discórdia” [1].

23. Os Réus, agora Recorrentes, imputam ao acórdão recorrido a falta de fundamentação de algumas

No documento Data do documento 10 de dezembro de 2020 (páginas 42-46)