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2.2 ESTADO NUTRICIONAL E ADOLESCÊNCIA

2.2.4 Consequências deletérias da obesidade

As consequências das alterações físicas, mentais e sociais que ocorrem em adolescentes com obesidade podem ser muito extensas, intensas e variadas, dependendo de adolescente para adolescente. Todavia, podem ser reversíveis desde que se consiga a redução de peso e que não tenha havido acometimentos nas estruturas orgânicas (SOARES; PETROSKI, 2003). A adolescência é uma das fases mais acometidas pela epidemia da obesidade e, com isso, ocorre a antecipação de doenças crônicas que antes eram encontradas apenas em faixa etária maior. Por exemplo, atualmente, há um grande número de adolescentes com diagnóstico de diabetes tipo 2, que, em gerações passadas, eram praticamente inexistentes, conforme especificado no Quadro 4, as diferentes dimensões das consequências da obesidade e os tipos de doenças (CATENACCI; HILL; WYATT, 2009).

Dimensão das consequências Tipo de doenças causadas

Articulares Maior predisposição a artroses, osteoartrite, epifisiólise da cabeça femoral, deslocamento de joelho. Cardiovasculares Pressão arterial elevada, doença arterial; hipertrofia cardíaca, morte súbita. Crescimento Idade óssea avançada, aumento da estatura, menarca precoce.

Metabólicas

Hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, gota úrica, doença dos ovários policísticos (síndromes hiperandrogênicas), com oligomenorreia ou amenorreia.

Gastrointestinais Aumento da frequência de litíase biliar; esteatose hepática; esteatohepatite.

Respiratórias

Hipóxia, aumento do esforço respiratório, diminuição da eficiência muscular, diminuição da reserva funcional, microectasias, apneia do sono, síndrome de Pickwicky; infecções (asma).

Dermatológicas Micoses, estrias, lesões de pele como dermatites e

piodermites; particularmente em região de axilas e inguinal. Psicossociais Discriminação e aceitação diminuída pelos pares;

isolamento e afastamento das atividades sociais. Quadro 4 - Tipos de doenças causadas pela obesidade

A obesidade durante a adolescência poderá impactar negativamente em curto prazo e também há evidências de que as doenças cardiovasculares têm suas origens na adolescência, pois o aumento dos níveis de gordura corporal na adolescência poderá aumentar o risco de doença na vida adulta (REILLY et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2004; FLEGAL; TABAK; OGDEN, 2006; WELLS;

FEWTRELL, 2008). Reilly et al. (2003), em estudos sobre a obesidade, evidenciaram associações entre obesidade e os principais fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial elevada, dislipidemia e resistência à insulina. O tempo de duração da obesidade está diretamente associado à morbi-mortalidade por doenças cardiovasculares. Há também o risco de o adolescente obeso permanecer neste estado quando adulto se comparado aos indivíduos eutróficos (OLIVEIRA et al., 2004).

A obesidade aumenta o risco para obtenção da dislipidemia, com aumento do colesterol, triglicerídeos e redução da fração do colesterol de alta densidade – HDL. No entanto, a perda de peso melhora o perfil lipídico e diminui o risco de doenças cardiovasculares (MELLO; LUFT; MEYER, 2003). As principais alterações do perfil lipídico são: níveis aumentados de colesterol de muito baixa densidade – VLDL, devido à maior produção de triglicérides e ao menor catabolismo; redução dos níveis e da fração do colesterol de alta densidade e maior catabolismo, em razão da maior concentração de triglicérides; e partículas de colesterol de baixa densidade menores e mais densas, mais ricas em apolipoproteína (OLIVEIRA et al., 2004). Outro fator de risco causado pela obesidade é o aumento da insulina plasmática, que pode ser considerado um sinal de alerta para o obtenção do diabetes mellitus tipo 2 e das outras alterações metabólicas relacionadas (ESCRIVÃO et al., 2000; OLIVEIRA et al., 2004; FLEGAL; TABAK; OGDEN, 2006). A Associação Americana de Diabetes recomenda que se faça triagem em adolescentes propensos a desenvolverem diabetes que possuem excesso de peso, história familiar com diabetes tipo 2, pertencentes a grupos étnicos e que apresentam sinais de resistência à insulina (FLEGAL; TABAK; OGDEN, 2006).

As complicações ortopédicas são bastante frequentes em indivíduos obesos devido ao excesso de peso, causando traumas nas articulações. Normalmente as articulações mais atingidas são joelhos e o deslizamento da epífise da cabeça do fêmur (ESCRIVÃO et al., 2000; SUÑÉ et al., 2007). Outra complicação ocasionada pela obesidade é a alteração na função pulmonar, com a diminuição do volume residual, volume expiratório máximo e uma redução no volume total pulmonar. Entre as alterações pulmonares mais graves, estão a síndrome Pickwik, caracterizada como hipoventilação, provocando sonolência diurna e apnéia do sono (ESCRIVÃO et al., 2000; MELLO; LUFT; MEYER, 2004). Além das complicações físicas, a obesidade é associada aos problemas psicossociais, como discriminação, aceitação

diminuída pelos pares, isolamento e afastamento das atividades sociais, sendo considerado pelos estudiosos como a pior consequência, pois irá refletir pelo resto da vida do sujeito (FISBERG, 1995; SIGULEM et al., 2001). Os obesos tendem a ter menor sociabilidade, menor rendimento escolar, baixa autoestima, além de distúrbios de humor e sono (SUÑÉ et al., 2007). Enfim, os principais riscos da obesidade são: elevação dos triglicerídeos e do colesterol, hipertensão, alterações ortopédicas, dermatológicas e respiratórias. Com relação aos problemas psicossociais, destacam-se a discriminação por seus pares não obesos, podendo sofrer alterações negativas, em sua personalidade, levando à baixa autoestima e depressão.

Todas essas complicações para a saúde do adolescente também trazem implicações nos custos dos sistemas de saúde de maneira direta e indireta. Os custos diretos dizem respeito à prevenção, ao diagnóstico e aos serviços relacionados com o tratamento para a obesidade. Já os custos indiretos estão relacionados à morbidade e são devidos ao absentismo e à atividade restrita (CATENACCI; HILL; WYA, 2009). De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (2001), o total dos custos diretos e indiretos atribuídos ao excesso de peso e obesidade foi de 117 bilhões de dólares em 2000.

Com base no exposto, pode-se sugerir que a adolescência é uma fase crítica para hábitos que não favorecem a atividade física e facilitam a ingesta calórica, (ALVES, 2003; SILVA; PIRES; MATIELLO, 2005; STRONG, et al., 2005; TOIGO, 2007; MATIELLO; GONÇALVES; MARTINEZ, 2008). Portanto, pode-se sugerir que as consequências da obesidade estão relacionadas, em grande parte, ao estilo de vida da maioria das sociedades contemporâneas e provocam graves alterações físicas, mentais e sociais à saúde de adolescentes.

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