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O não adimplemento da obrigação alimentar acarreta risco à sobrevivência do alimentando e, para garantir o pagamento da verba alimentícia, o sistema processual adotou medidas que auxiliam na satisfação do crédito devido a este, admitindo, assim, meios de execução. A execução de alimentos, com a alteração do Código de Processo Civil, apresentou mudanças significativas quando do não adimplemento de prestação alimentícia.

Quanto à matéria referente aos alimentos, a Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015 (Novo CPC) apresentou muitas inovações, sendo as principais relativas ao cumprimento de sentença e execução dos alimentos. O artigo 1.072, inciso V do Novo Código de Processo Civil revogou de forma expressa os artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos, os quais tratavam da execução alimentar (TARTUCE, 2015).

Assim, se faz necessário abordar como se versava a execução alimentar antes da revogação dos artigos da referida Lei de Alimentos pela lei que alterou o Estatuto Processual. Nesse contexto, Wambier (2008) divide a execução alimentar em quatro formas, sendo elas: desconto em folha de pagamento, cobrança em alugueis ou outros rendimentos do devedor, expropriação de bens do devedor e prisão civil.

A execução de alimentos, contudo, era estabelecida a partir da sequência atribuída pelos artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68), sendo utilizados inicialmente os meios mais brandos (desconto em folha ou cobrança em

aluguéis ou outros rendimentos) e, no caso de insucesso, os mais rigorosos (prisão ou expropriação).

A execução por meio do desconto em folha ocorre quando o devedor de obrigação alimentar possui emprego e salário fixo, sendo que a verba alimentar será descontada diretamente da folha de pagamento do alimentante. Não sendo possível a cobrança dos alimentos pelo desconto em folha poderá ser a cobrança em aluguéis ou em outros rendimentos do devedor. Essas modalidades, de acordo com a prática, são consideradas eficazes, pois permitem que o alimente tenha a salvo o direito ao recebimento de prestação alimentícia (MARINONI; ARENHARDT, 2014).

O Novo Diploma Processual admite a ocorrência do desconto em folha da prestação alimentícia, desde que o executado seja funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, nos termos no artigo 912.

Outra modalidade é a execução por quantia certa (expropriação) para assegurar o cumprimento da obrigação alimentar; porém, é uma alternativa demorada, ocasionando poucas ocorrências. A execução por quantia certa é solicitada quando o devedor não realiza o pagamento do débito alimentar, em algumas situações até mesmo após cumprir a prisão. Ao credor que optar por essa modalidade de execução será constituída a penhora de bens do devedor (GONÇALVES, 2011).

Outra possibilidade de execução dos alimentos é a que resulta na prisão civil do executado quando este não efetuar o pagamento do débito alimentar no prazo fixado em lei. Salienta-se que a prisão tem caráter exclusivamente coercitivo, buscando, tão somente, o pagamento do débito alimentar. É admitida pela Constituição Federal de 1988 e está mantida no Novo CPC, assim como se verá no próximo capítulo deste trabalho, o qual é destinado propriamente para o assunto.

Destarte, o sistema processual trata os alimentos de forma diferenciada, pois são necessários à sobrevivência, além de sempre buscar o adimplemento da

obrigação alimentar. Considerando isso, o novo Código de Processo Civil possui ampliações relevantes no que tange a execução de alimentos.

Do exposto, importante inserção ao novo diploma processual é a possibilidade de protesto, a fim de objetivar o efetivo cumprimento da obrigação e proporcionar preocupação ao devedor, uma vez que seu nome ficará negativado nos cadastros de inadimplentes. Antes mesmo da decretação da prisão civil, sejam alimentos provisórios ou definitivos, o juiz designará o protesto. Cabe salientar que para o protesto das decisões de cunho alimentício não será necessário o trânsito em julgado, o qual pode ser determinado de ofício pelo juiz. Será possível, ainda, o desconto de até 50% dos vencimentos líquidos, tratando-se de assalariados ou aposentados (DELLORE, 2015).

Dessa forma, importa sublinhar, que a possibilidade do desconto de 50% incide quando o débito objeto da execução é parcelado, sendo descontado dos rendimentos do alimentante contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse os 50% de seus ganhos líquidos, conforme o artigo 529, §3º do Novo Código Processual.

O novo Código de Processo Civil, em questão de procedimento, inovou na execução alimentar, viabilizando outras formas executórias, as quais observam se o título é judicial ou extrajudicial, além do tempo do débito. O texto legal em vigência admite o cumprimento de sentença, sob pena de prisão, disposto nos artigos 528 a 533; o cumprimento de sentença, sob pena de penhora, conforme os artigos 523 e 528, § 8º; execução de alimentos, fundada em título executivo extrajudicial, sob pena de prisão, regida pelos artigos 911 e 912; execução de alimentos, fundada em título executivo extrajudicial sob pena de penhora, de acordo com o artigo 913.

Ainda, o Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 532, dispõe sobre o abandono material, o qual, por conseguinte, ressalva que certificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz precisará dar ciência ao Ministério Público dos vestígios da prática do crime de abandono material, sendo tipificado como crime contra a assistência familiar conforme o Código Penal aduz em seu artigo 244. Vejamos o dispositivo:

Artigo 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Parágrafo único – Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.

Nesse sentido, as mudanças introduzidas no sistema processual com a alteração do Código de Processo Civil buscam a satisfação do credor com a maior efetividade possível e demonstram a cautela do legislador nas modernizações da matéria alimentar que, sem sombra de dúvidas, é de grande valia para o sistema processual.

Destarte, abordada a obrigação alimentar, bem como os conceitos históricos, legais e espécies de alimentos, além das eventuais consequências do não adimplemento e adoções pelo Novo Código de Processo Civil, analisar-se-á, no capítulo posterior, a prisão civil por dívida alimentar com ênfase aos aspectos teóricos e práticos.

2 REPERCUSSÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NA PRISÃO CIVIL

Neste capítulo será aludida a prisão civil, a qual é uma forma coercitiva que visa, única e exclusivamente, o adimplemento da obrigação alimentar. A abordagem será suscitada em três tópicos: a (in) constitucionalidade que versará sobre a possibilidade da prisão civil partindo do pressuposto constitucional, a seguir a prisão civil do devedor de alimentos e suas especificidades de acordo com o Novo Código de Processo Civil e, por fim, averiguar-se-á, também, as informações angariadas a partir da pesquisa de campo, a qual foi realizada a fim de identificar a prisão civil como forma eficaz para coibir o inadimplemento alimentar e assegurar ao alimentado a devida prestação alimentar.

2.1 A prisão civil por dívida alimentar: contexto histórico e a (in)

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