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As repercussões práticas da prisão civil por dívida alimentar e as inovações procedimentais trazidas com o novo código de processo civil

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PETRA CRISTINA FIORIN FRACARO

AS REPERCUSSÕES PRÁTICAS DA PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA ALIMENTAR E AS INOVAÇÕES PROCEDIMENTAIS TRAZIDAS COM O NOVO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

Ijuí (RS) 2016

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PETRA CRISTINA FIORIN FRACARO

AS REPERCUSSÕES PRÁTICAS DA PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA ALIMENTAR E AS INOVAÇÕES PROCEDIMENTAIS TRAZIDAS COM O NOVO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador (a): MSc. Francieli Formentini

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho especialmente aos meus pais, meu noivo e meus familiares.

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AGRADECIMENTOS

Sou grata primeiramente a Deus por permitir a conclusão deste trabalho, por me conceder saúde e sabedoria.

Aos meus anjos, meus pais, Adriane e Dirceu, pelo incentivo e estímulo no decorrer da minha existência, não medindo esforços para que eu chegasse até esta etapa. Foram os sustentáculos sempre, abdicaram de seus sonhos para juntos realizarmos o meu. Obrigada por toda compreensão e amor a mim transmitidos, sem dúvidas foi o que me fez enfrentar as adversidades e continuar em busca de meus objetivos. A vocês devo o que sou!

A minha avó Leni, sou grandiosamente grata pelas lições de vida, pelas palavras de carinho e pelas orações. O seu apoio foi fundamental durante o meu percurso acadêmico.

Ao meu avô José Octávio, que em vida transmitiu valores que jamais deixarei de preservar. Sem dúvidas, a minha resistência para superar os obstáculos é oriunda do seu exemplo de força e de vida. Saudades!

Ao meu noivo Cézar, pelo companheirismo, paciência e compreensão, nunca me deixando desanimar. Com certeza, você ao meu lado fez com que tudo ficasse mais simples.

Ao meu bisavô José, mesmo sem entender a importância deste trabalho, com o seu sorriso e carinho, fez com que as dificuldades encontradas se tornassem

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ínfimas. Obrigada por estar entre nós e poder compartilhar comigo esta importante conquista.

O meu agradecimento também aos meus tios e primos, por sempre torcerem por mim e participarem de minhas vitórias. A presença de vocês na minha vida é essencial!

À minha orientadora, Francieli Formentini, por transmitir seus conhecimentos e experiências, sempre dispensando atenção e tranquilidade na elaboração deste estudo. Eternamente grata, por tudo!

Minha gratidão a todos os professores que compõem o corpo docente do Curso na Universidade. Sem dúvidas, fundamentais em minha trajetória acadêmica.

Meus sinceros agradecimentos ao Diretor do Instituto Penal de Ijuí e toda sua equipe, pela autorização para realizar minha pesquisa e cautela no decorrer da mesma.

Ao Escritório Modelo da Unijuí, especialmente à Fernanda Serrer e à Liara Schemmer, minha carinhosa gratidão pela atenção destinada a mim e pelas importantes informações prestadas.

E por fim, agradeço também, a todos que direta ou indiretamente fizeram parte de minha formação pessoal e profissional.

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Só engrandecemos o nosso direito à vida cumprindo o nosso dever de cidadãos do mundo.

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RESUMO

O propósito precípuo deste estudo é analisar a prisão civil por dívida alimentar enquanto meio de execução admitido no sistema processual vigente, quando do não cumprimento da obrigação alimentar. Nesse sentido, abordar-se-á acerca da obrigação alimentar e de suas particularidades, bem como sobre as consequências do não cumprimento da obrigação de pagar alimentos. No tocante à prisão civil o trabalho apresentará a sua (in) constitucionalidade e ainda, as especificidades desse instituto com ênfase às alterações do Novo Código de Processo Civil. Para além da pesquisa bibliográfica, o estudo abrange a pesquisa de campo realizada no Núcleo de Prática Jurídica e Assistencial da Unijuí – Escritório Modelo e Instituto Penal de Ijuí a fim de verificar se esta modalidade de prisão é uma medida eficaz que evita o inadimplemento da verba alimentar e assegura ao alimentando o direito à vida, vaticinado no rol dos direitos fundamentais da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88). Como resultados e conclusões, quer-se demonstrar a prisão civil como medida que visa coibir o não adimplemento de obrigação alimentar, e, também, evidenciar a falta de recursos como fator determinante quanto ao descumprimento da prestação alimentícia.

Palavras-chave: Obrigação alimentar. Inadimplemento. Execução de alimentos. Prisão civil. Escritório Modelo. Instituto Penal de Ijuí.

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ABSTRACT

The purpose of this study is to analyze civil imprisonment for alimony debt as a means of execution admitted by the current procedural system, when there is non-compliance with the maintenance obligation. In this sense, it will be addressed, on the alimony obligation and its particularities, as well as the consequences of non compliance with the obligation to pay the maintenance. Regarding civil prison, the work will present its constitutionality (in), and also the specificities of this institute with emphasis on changes in the New Civil Procedure Code. In addition to the literature, the study covers the field research conducted at the Legal Practice Center of Unijuí - "Escritório Modelo" – and at the Criminal Institute of Ijuí to check whether this arrest mode is an effective measure that prevents the alimony debt and ensures the right to life of the creditor, predicted in the list of fundamental rights of the Constitution of the Federative Republic of Brazil (CF/88). The results and conclusions aim to demonstrate that civil prison is a measure that envision to curb the alimony debt as well as it, also, evinces that the lack of resources is a decisive factor when it comes to maintenance debts.

Keywords: Alimony Obligation. Debt. Maitenance execution. Civil prison. "Escritório Modelo". Criminal Institute of Ijuí.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ... 12

1.1 Alimentos: aspectos conceituais, históricos e legais ... 12

1.2 Alimentos e sua classificação ... 26

1.3 Consequências do não adimplemento da verba alimentar ... 29

2 REPERCUSSÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NA PRISÃO CIVIL ... 33

2.1 A prisão civil por dívida alimentar: contexto histórico e a (in) constitucionalidade do instituto ... 33

2.2 Prisão civil do devedor de alimentos no Novo Código Civil ... 38

2.3 Dados da pesquisa de campo realizada no Escritório Modelo da Unijuí e no Instituto Penal de Ijuí com a perspectiva de análise do instituto na realidade local .. 45

CONCLUSÃO ... 57

REFERÊNCIAS ... 60

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: Coordenadora e Advogados do Núcleo de Prática Jurídica e Assistencial da Unijuí ... 65

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: Gestor Instituto Penal de Ijuí ... 68

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: apenados Instituto Penal de Ijuí ... 71

APÊNDICE D – Termo de Confidencialidade ... 74

APÊNDICE E – Entrevista semiestruturada do Núcleo de Prática Jurídica e Assistencial da Unijuí ... 75

APÊNDICE F – Entrevista semiestruturada do Instituto Penal de Ijuí ... 76

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INTRODUÇÃO

O trabalho de conclusão do curso de graduação em Direito da Unijuí intitulado “As repercussões práticas da prisão civil e as inovações procedimentais trazidas pelo Novo Código de Processo Civil” propõe-se a examinar a prisão civil por dívida alimentar, e, sobretudo, verificar se é uma medida eficaz que visa coibir o inadimplemento alimentar.

Até a recepção do Pacto de São José da Costa Rica, em 1992, o ordenamento jurídico brasileiro permitia a prisão civil do devedor (inadimplente) de obrigação alimentar e do depositário infiel. Após, porém, a prisão civil é admitida somente nos casos decorrentes de dívida alimentar, de acordo com o art. 7º, item 7, do referido instrumento. Portanto, a prisão civil por dívida alimentar constitui a única possibilidade de prisão no âmbito civil, de forma que coercitivamente obriga o inadimplente de dívida alimentar a efetivar o pagamento do valor devido a título de alimentos para afastar a punição.

Com isso, propõe o trabalho em apreço a compreensão deste meio de coerção pessoal, bem como a análise de sua aplicabilidade no atual contexto jurídico, com abordagem das alterações advindas a partir do Novo Código de Processo Civil. Ademais, compõe finalidades específicas desse trabalho a análise de informações coletadas a partir de pesquisa de campo realizada no Núcleo de Prática Jurídica da Unijuí e Instituto Penal de Ijuí.

Inicialmente, serão abordados os principais aspectos da prestação alimentar, examinando, igualmente, a origem e historicidade dos alimentos, vez que

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necessários à sobrevivência daqueles que não possuem condições de obtê-los por conta própria; acrescendo ainda, as espécies de alimentos existentes na estrutura jurídica e na legislação brasileira.

Na sequência, o segundo capítulo apresenta o contexto histórico da prisão civil, bem como a sua (in) constitucionalidade e ainda, os aspectos legais sob a ótica do Novo CPC. De mais a mais, será abordada, por fim, a pesquisa de campo realizada, com o fito de analisar a efetividade da prisão civil a partir das informações coletadas.

A metodologia utilizada para a realização da pesquisa é descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa. No tocante à pesquisa de campo, em específico, utilizou-se a técnica de pesquisa de documentação direta intensiva e extensiva, que por sua vez, consiste em contribuir para a formação de uma análise crítica das questões que a englobam, apresentando como benefício a observação dos fatos e fenômenos, exatamente como ocorrem na realidade local, a coleta e a compilação das informações referentes à prisão civil e finalmente, a análise e interpretação das informações.

Os instrumentos aplicados nos participantes da pesquisa consistem em entrevistas semiestruturadas e questionários, sendo coletada a assinatura dos participantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Ainda, as informações obtidas são conduzidas com total privacidade e confidencialidade, sendo garantido o anonimato e sigilo das mesmas através de adequada codificação dos instrumentos de coleta de dados.

No que tange à pesquisa de campo, cumpre considerar que os dados ficarão com as responsáveis pela pesquisa, Petra Cristina Fiorin Fracaro (pesquisadora) e Francieli Formentini (orientadora) por um prazo de cinco anos e, após este período, serão incinerados/excluídos. Ainda, importa aduzir que as informações apanhadas são cuidadas com ponderação, respeitada a Resolução nº 466/2012 do Conselho de Saúde.

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O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Unijuí, o qual aprovou o presente estudo, tal como autorizado pela Direção da casa prisional e pela Coordenação do Núcleo de Prática Jurídica da Unijuí. Os métodos aplicados e a própria pesquisa não acarretam risco aos participantes, além da não incidência de encargo ou bonificação financeira.

Ademais, por seu turno, o trabalho implica em averiguar como vem se dando as prisões civis no âmbito local, buscando evidenciar as reais causas da sua aplicabilidade e se, na atualidade, vem sendo uma medida com eficácia para coibir o descumprimento da obrigação alimentar.

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1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Antes de dar início à discussão relacionada especificamente à prisão civil, é preciso tecer alguns comentários no tocante à obrigação alimentar, a qual é instituída pelo Direito de Família no âmbito jurídico e trata dos alimentos devidos aos indivíduos que não possuem recursos de provê-los por si, tendo por desígnio principal a garantia de sobrevivência do alimentando. Assim, esse primeiro capítulo versará sobre os aspectos históricos e legais dos alimentos, as espécies de alimentos e as consequências do não pagamento do encargo alimentar, vez que constituem base fundamental desse arcabouço, como se verá adiante.

1.1 Alimentos: aspectos conceituais, históricos e legais

Os alimentos são cuidados de forma específica eis que, na grande maioria, derivam da relação familiar. Além disso, estão interligados com o direito à vida e são devidos àqueles que não possuem condições para prover seu sustento, necessitando de auxílio para sobreviver. O tratamento especial a essa matéria é justificado pela sobreposição do direito à vida ao direito à liberdade, sendo que a sobrevivência do alimentando deve ser garantida (DIAS, 2005).

O ser humano precisa viver com dignidade, a qual é um valor básico garantido pelo Estado, conforme se verifica no artigo 1ª, inciso III, da Constituição Federal de 1988. O princípio da dignidade da pessoa humana está relacionado com as mínimas condições de existência: direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, entre outros.

Nessa acepção, Maria Berenice Dias (2009) destaca que o ser humano é detentor de direitos fundamentais e dentre eles está o de sobreviver, sendo o Estado responsável em garantir a vida. Assim, o direito alimentar surge para preservar a dignidade humana.

No tocante à conceituação dos alimentos, não há explícita definição no Código Civil Brasileiro, tampouco na Lei de Alimentos, sendo necessário explorar os aspectos conceituais a partir da análise doutrinária. Consoante a isso, Carlos

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Roberto Gonçalves (2011, p.161) define os alimentos como “prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Tem por finalidade fornecer a um parente, cônjuge ou companheiro o necessário à sua subsistência”. Assim, é um instituto que abarca não só o simples dever alimentar e o mero valor prestado a quem necessita como também todos os fatores necessários para o sustento do alimentando que carece de moradia, educação, vestimentas, assistência médica e odontológica; enfim, o essencial para que possa viver dignamente.

Não obstante, Pontes de Miranda apud Spengler (2002, p.20) complementa que:

A palavra alimento, conforme a melhor concepção técnica, e conseguinte-mente, podada de conotações vulgares, possui o sentido amplo de compreender tudo quanto for imprescindível ao sustento, à habitação, ao vestuário, ao tratamento de enfermidades e às despesas de criação e educação.

Em relação à definição dos alimentos, Paulo Lôbo (2011, p.372), por sua vez, leciona que:

Alimentos, em direito de família, tem o significado de valores, bens ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco (direito parental), quando ela própria não pode prover, com seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença.

Destarte, os alimentos estão interligados com o direito à vida, sendo correspondentes àqueles que não possuem capacidade para obtê-los por conta própria. É preciso ressaltar que a obrigação alimentar é uma “contribuição periódica assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem, como necessário à sua manutenção” (CAHALI, 2009, p.16).

Os alimentos são essenciais à sobrevivência de quem não tem condições para provê-los e devem ser fixados, assim como dispõe o artigo 1694 do Código Civil atual, “na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”, possibilitando ao alimentando viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender à sua educação, observando o binômio necessidade versus possibilidade.

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Nos tempos mais remotos o homem, normalmente, exercia o poder familiar e era o administrador da relação conjugal, sendo o responsável pelo sustento e manutenção da família. Em caso de dissolução do vínculo matrimonial era sua a obrigação de prestar alimentos à esposa e filhos. Assim, a obrigação alimentar oriunda do casamento estava inserida dentre as obrigações do homem, face à sua condição de provedor.

O homem desempenhava a função de manter a família, tanto na constância do casamento quanto a partir do término deste. À vista disso, Maria Berenice Dias (2009, p.455) elucida:

Em um primeiro momento, o poder familiar- com o nome de pátrio poder- era exercido pelo homem. Era a cabeça do casal, o chefe da sociedade conjugal. Assim, era dele a obrigação de prover o sustento da família, o que se convertia em obrigação alimentar quando do rompimento do casamento.

Observa-se, contudo, a modificação da obrigação alimentar de acordo com os novos arranjos familiares, os quais fogem do perfil tradicional de homem e mulher vinculados pelo casamento e rodeados de filhos. Nos dias atuais a realidade é outra, pois as famílias estão se constituindo de acordo com padrões diferenciados dos tradicionais, distantes do modelo clássico, sendo formadas por relações homoafetivas, monoparentais, informais e recompostas. Portanto, as mudanças nas relações familiares ocasionaram transformações na estrutura social, rompendo-se os moldes convencionais (DIAS, 2009).

Nessa conjuntura, compreende mencionar que o reconhecimento do casamento homoafetivo e da união homoafetiva como entidades de cunho familiar oportunizam também, sem qualquer distinção, a pretensão dos alimentos.

Reputados os novos parâmetros familiares existentes, não se pode deixar de mencionar a historicidade que está por trás das relações de família e como era tratada a questão obrigacional dos alimentos nas compilações mais antigas.

Em 1977, a Lei do Divórcio dispôs a responsabilidade do dever alimentar a ambos os consortes; todavia, o cônjuge que ocasionasse a separação era quem

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deveria pagar os alimentos ao seu parceiro. A esse respeito Maria Berenice Dias (2009, p.456) aduz que “o culpado pela separação não tinha direito de pleitear alimentos, pretensão assegurada exclusivamente a quem não havia dado causa ao fim do matrimônio”. Assim, somente o cônjuge considerado inocente tinha o direito de receber a pensão alimentícia, devendo o autor da ação comprovar a culpa ou inocência do réu, sendo que a averiguação do motivo que acarretou o rompimento da relação conjugal deveria estar envolvido na respectiva demanda.

Com o advento das leis que regulamentaram a união estável (Lei nº 8.971/1994 e Lei nº 9.278/1996), o pagamento do crédito alimentar não se determinava a partir da forma que se dava o rompimento do relacionamento, sendo que a jurisprudência entendia que isso afrontava o princípio da isonomia por haver laço afetivo tanto no casamento como na união estável (DIAS, 2009).

O Código Civil de 1916 regulamentou a obrigação alimentar com ênfase na responsabilidade dos cônjuges com o fim do casamento. Nesse sentido, Cahali (2009, p.46) aduz:

O Código Civil de 1916 cuidou da obrigação alimentar familiar como efeito jurídico do casamento, inserindo-a entre os deveres dos cônjuges sob a forma de “mútua assistência” (artigo 231, III), ou de “sustento, guarda e educação dos filhos” (artigo 231, IV); ou fazendo competir ao marido, como chefe da sociedade conjugal, “prover a manutenção da família” (artigo 233, IV); ou como decorrência das relações de parentesco (artigos 396 a 405).

O Código Civil de 2002, atualmente em vigor, não trata os alimentos de uma forma clara, uma vez que deixa de diferenciar a origem da obrigação. No entendimento de Maria Berenice Dias (2009, p.457), o Código de 2002 “não distingue a origem da obrigação, se decorrente do poder familiar, do parentesco ou do rompimento do casamento ou da união estável”. Portanto, as especificidades do encargo alimentar são corroboradas pela natureza jurídica do instituto, a qual é constituída a partir de um elo jurídico ou de parentesco.

É fundamental tratar a respeito da natureza jurídica da obrigação alimentar, eis que visa complementar o entendimento da questão. Salienta-se que a obrigação alimentar não está fundada apenas no Direito de Família, podendo também estar

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associada ao cometimento de ato ilícito, imposição contratual ou estar designada em testamento.

Nesse prisma, Spengler (2002, p.33) acrescenta que a obrigação alimentar é “imposta àqueles a quem a lei determina que prestem o necessário para manutenção de outro, seja por imposição legal, contratual ou em função de algum delito cometido”.

Na esfera do Direito de Família, a obrigação de natureza alimentar se constitui no pressuposto de haver um vínculo jurídico. Por essa razão, Gonçalves (2011, p.161) menciona que “a obrigação alimentar também decorre da lei, mas é fundada no parentesco (art. 1.694), ficando circunscrita aos ascendentes, descendentes e colaterais até o segundo grau, com reciprocidade.”

Os alimentos possuem propriedades em sua natureza jurídica, as quais os classificam como personalíssimo, irrenunciável, transmissível ou intransmissível, impenhorável, imprescritível e irrepetível, sendo analisadas a seguir.

Uma das características mais importantes consiste na obrigação alimentar ser um direito personalíssimo, posto que os alimentos são destinados ao alimentando e não há possibilidade de transferência da titularidade a ninguém. Outra relevante característica é a irrenunciabilidade que, de acordo com o art. 1.707 do Código Civil, impede a renúncia ao direito de alimentos.

A respeito da transmissibilidade ou intransmissibilidade dos alimentos é imperioso mencionar que em consideração com o texto do art. 1.700 do Código Civil e com o art. 23 da Lei do Divórcio, a obrigação alimentar é transmitida aos herdeiros do devedor, consagrando assim, a transmissibilidade dos alimentos. No tocante a isso, Maria Berenice Dias (2015) frisa que para ser configurada a transmissibilidade não é necessário que antes da morte do de cujus já haja obrigação alimentar fixada judicialmente ou em acordo extrajudicial. Porém, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é diverso. Vejamos:

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. ESPÓLIO. OBRIGAÇÃO DE PAGAR ALIMENTOS. CERCEAMENTO DE DEFESA. SÚMULA 83/STJ. HONORÁRIOS. 1. O destinatário final das provas produzidas é o juiz, a quem cabe avaliar quanto à sua suficiência e necessidade, em consonância com o disposto no parte final do artigo 130 do CPC. É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que compete às instâncias ordinárias exercer juízo acerca das provas produzidas, haja vista sua proximidade com as circunstâncias fáticas da causa, cujo reexame é vedado em âmbito de Especial, a teor do enunciado 7 da Súmula/STJ. 2. A obrigação de prestar

alimentos só se transmite ao espólio quando já constituída antes da

morte do alimentante. Precedentes. 3. Esta Corte admite

excepcionalmente a revisão dos honorários pelo critério da equidade quando o valor arbitrado destoa da razoabilidade, revelando-se irrisório ou exagerado, o que não se verifica no presente caso. 4. Agravo Regimental improvido.

Ademais, não ocorre a transmissão de encargo alimentar quando o cônjuge sobrevivente requerer alimentos dos filhos do falecido, sendo estes nascidos de casamento precedente. Diante dessa possibilidade, não há como admitir-se a transmissão de encargo alimentar, ocorrendo apenas à transmissibilidade do débito alimentar, ou seja, as prestações que venceram e não foram pagas até a data do falecimento do alimentante (DIAS, 2015).

A impenhorabilidade dos alimentos nada mais é do que a impossibilidade de penhorar pensão alimentícia, visto que a verba alimentar é destinada à manutenção do alimentando, com base no art. 833, § 2º do Código de Processo Civil em vigor. Outra característica importante é a sua imprescritibilidade, pois os alimentos podem ser cobrados a qualquer tempo; porém, as prestações vencidas possuem o prazo prescricional de dois anos a partir da data do vencimento, com fulcro no artigo 202 do Código Civil.

Uma das características mais destacadas é a irrepetibilidade, que consiste no impedimento de repetição dos alimentos, ou seja, tem por intuito evitar a sua restituição quando houver comprovação futura de que não eram devidos. Somente é admitida a devolução quando houver má-fé comprovada ou postura maliciosa do devedor (DIAS, 2009).

Além da classificação da natureza jurídica da obrigação alimentar, os alimentos abrangem outras searas do direito privado, o que permite identificar que nem sempre o dever de prestar alimentos está relacionado com o vínculo familiar,

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eis que podem ser solicitados em casos de indenização por ato ilícito, assim como o disposto no artigo 533 do Novo Código de Processo Civil. A partir disso, analisar-se-á primeiramente os alimentos decorrentes de laço familiar, e posteriormente, os que derivam do ato ilícito.

Assim como exposto anteriormente, os alimentos são devidos àqueles que não possuem condições de provê-los e para a satisfação de suas necessidades. Por meio disso, entende-se que o indivíduo que hoje requer os alimentos, amanhã poderá pleiteá-los se não mais obtiver recursos próprios para sua manutenção, estando expressamente clara a reciprocidade da obrigação alimentar. Nesse sentido, Spengler (2002, p.44) lembra:

Importante é verificar que, devido à reciprocidade da prestação de alimentos, que é uma de duas características, eles são devidos de forma tal que quem fica obrigado a prestá-los também pode requerê-los, desde que existentes os pressupostos intrínsecos da obrigação alimentar.

Denomina-se alimentando aquele que postula alimentos, ou seja, o credor da obrigação alimentar e sujeito ativo da relação processual; e alimentante, aquele a quem cabe pagar os alimentos, o devedor, que é o sujeito passivo da mesma relação.

Cumpre salientar que o pagamento dos alimentos é amparado pelos artigos 1º, inciso III, e 227 da Constituição Federal de 1988, a partir dos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar. O princípio da dignidade da pessoa humana tem respaldo na Magna Carta de 1988, a qual prevê proteções individuais que são garantidas pelo Estado Democrático de Direito. Para complementar o entendimento quanto à relação da dignidade da pessoa humana com o dever alimentar, Sarlet (2011, p.73) entende:

Por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humano mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida.

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A dignidade da pessoa humana põe a salvo o direito de todos viverem em situação digna. Por meio disso, o princípio constitucional e a obrigação alimentar relacionam-se, sendo possível a conexão destes quando o alimentante presta alimentos para o alimentando, garantindo uma condição digna de vida para o mesmo.

Ponderado o importante princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, há de se falar sobre o princípio da solidariedade familiar. A Constituição Federal de 1988, em eu artigo 227, dispõe que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, com absoluta prioridade, a convivência familiar das crianças e dos adolescentes”. De acordo com o texto constitucional, o princípio da solidariedade familiar torna-se evidente na obrigação alimentar.

A partir disso, Flávio Tartuce (2015, p.417) aduz que “os alimentos familiares representam uma das principais efetivações do princípio da solidariedade, sendo essa a própria concepção da categoria jurídica”.

Dessa forma, o princípio da solidariedade familiar é presente no direito de família, mais especificamente no âmbito da obrigação alimentar. Porém, há entendimentos diversos sobre o assunto, sendo imperioso mencionar a posição de Cahali (2009, p.119) que aduz que “a obrigação alimentar não é solidária”.

Abordados os dois princípios constitucionais presentes no direito de família e o entendimento doutrinário acerca da sua evidência no âmbito alimentar, a seguir, analisar-se-á a quem está incumbido o dever de prestar os alimentos decorrentes de vínculo familiar.

Após atingir a maioridade, por vezes, o indivíduo ainda não possui condições de se manter sozinho, necessitando de auxílio financeiro para alimentação, estudo, vestuário, lazer, assistência médica e odontológica, determinando a lei, neste caso, quem terá a obrigação de prestar os alimentos devidos. Diante disso, Spengler (2002, p.19) reforça que “enquanto perdurar a incapacidade ou a reduzida capacidade para obtê-los sozinho, são obrigações daqueles a quem, através de um dispositivo legal, é determinada a prestação de tal verba alimentar”.

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Necessário se faz definir quem deve prestar os alimentos decorrentes de vínculo familiar. No tocante a isso Spengler (2002) alude que estes são devidos: pelos ascendentes em primeiro grau, ou seja, os pais; na falta ou incapacidade dos pais, outros ascendentes; na falta ou impossibilidade dos ascendentes, os descendentes; na falta de descendentes, os irmãos e pelo cônjuge. Compete lembrar, ainda, que àquele obrigado a prestar alimentos, em momento oportuno, também poderá exigi-los.

Os alimentos familiares podem ser em decorrência da obrigação dos pais, da obrigação dos avós, da obrigação dos irmãos, tios, sobrinhos e primos, da obrigação em virtude do casamento e a obrigação em favor do idoso. Essas obrigações oriundas de um elo de sangue ou afinidade serão abordadas a seguir.

Tendo em vista o disposto na primeira parte do artigo 229 da Magna Carta de 1988, “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores”; a obrigação dos pais se subdivide em obrigação de sustentar e obrigação de prestar alimentos. A primeira é oriunda da convivência do pai e filho diariamente, ou seja, moram sob o mesmo teto. Já a segunda ocorre quando o genitor deixa de ser o guardião, o que enseja o dever de prestar alimentos (DIAS, 2009).

Além disso, os alimentos são devidos desde a concepção até que o alimentando possua condições adequadas para seu sustento. A obrigação alimentar surge mesmo antes do nascimento, surgindo então os alimentos devidos ao nascituro, e em decorrência da proteção a este, os alimentos gravídicos. O nascituro tem o seu direito resguardado pelo Código Civil de 2002, porém a Lei de Alimentos exige que seja provado o parentesco para que inicie a obrigação de prestar alimentos, sendo então quase impossível se obter tal antes do nascimento.

Há também o direito da gestante buscar alimentos durante sua gestação, concedido pela Lei nº 11.804/2008 (Lei dos Alimentos Gravídicos), permitindo então a concessão de alimentos antes do nascimento, necessitando apenas de indícios de paternidade. Após o nascimento, a obrigação é convertida a favor do filho e os valores poderão ser modificados considerando a necessidade do filho e possibilidade do alimentante.

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A obrigação alimentar estende-se aos ascendentes, permitindo que os avôs prestem alimentos aos netos. Isso ocorre quando o ascendente em primeiro lugar não consegue suportar a obrigação alimentar, seja por impossibilidade financeira ou outro motivo. Nesses casos, os avós podem ser responsabilizados pelo pagamento de alimentos aos netos, no entanto, para que isso ocorra é necessário o ajuizamento de ação de alimento em face dos avós, não sendo possível, incluir os avós no polo passivo da ação de execução de alimentos, pois não se pode atribuir “a terceiro o pagamento de dívida alheia” (DIAS, 2009, p.482).

Há também a possibilidade da obrigação alimentar ser estendida aos parentes, de acordo com o Código Civil de 2002, sendo possível o entendimento de que os irmãos, os tios, os sobrinhos e os primos podem requerer alimentos uns aos outros. Dessa forma, destaca-se que o dever de prestar alimentos é recíproco e é reconhecido a todos os parentes, seja em linha reta ou colateral. A lei permite que os parentes prestem alimentos, porém não especifica a sua decorrência. Assim, a obrigação alimentar não deriva somente do parentesco por consanguinidade, havendo a possibilidade de parentesco por afinidade, como é o caso do casamento e a união estável.

Em decorrência da separação, divórcio ou anulação de casamento, nasce a obrigação de prestar alimentos entre os cônjuges, pouco visualizado no caso concreto, sendo constante nas decisões a preponderância do dever alimentar quando um dos cônjuges não possui condições financeiras propícias para seu sustento, poucas oportunidades de trabalho ou, ainda, filhos pequenos que exigem amamentação e cuidado. Beraldo (2012, p.37) elucida que “não se pode transformar o casamento num negócio lucrativo”, visto que a função principal da pensão alimentícia é assegurar a sobrevivência até a inserção no mercado laboral, estando em conformidade com os artigos 1.566, III c/c 1.694, ambos do Código Civil.

Como afirmado anteriormente, a obrigação alimentar é oriunda do casamento e/ou da união estável, sendo importante ressaltar que no passado o homem era o responsável pelo sustento da família, ficando sob sua custódia todos que dela faziam parte. Ao passar dos tempos, a responsabilidade do pai de família foi se

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perdendo, visto que as mulheres se inseriram no sistema laboral e acabaram por firmar sua contribuição diante das famílias.

Diante desse contexto, tanto a mulher ou companheira quanto o marido ou companheiro podem pleitear alimentos, sendo fixados de acordo com a necessidade de quem está requerendo e da possibilidade de quem irá prestar, ou seja, “na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (artigo 1.694, §1º do CC /2002). Além disso, a obrigação alimentar entre cônjuges preceitua que os alimentos sejam fixados em acordo com a situação social, mantendo o ex-cônjuge no mesmo estado social anterior; todavia, não se admite a valoração extrapolada.

Ainda quanto à fixação dos alimentos, a incidência da proporcionalidade ou razoabilidade denota, de um lado, a dignidade humana e de outro, o não enriquecimento sem causa, necessitando chegar a um valor justo para ambas as partes. Nessa perspectiva, o Novo Código de Processo Civil adotou de forma expressa a técnica de ponderação, que conforme o artigo 489 da legislação referida, estabelece que “no caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão” (TARTUCE, 2015, p.426).

Formidável mencionar que depois de rescindido o casamento ou a união estável é possível o ex-genro requerer alimentos do ex-sogro e vice e versa. Sobre essas hipóteses, Maria Berenice Dias (2009, p.486) acrescenta:

Assim, dissolvido o casamento ou a união estável, possível é tanto o ex-sogro pedir alimentos ao ex-genro, como este pedir a àquele. Isso tanto se a relação foi de casamento ou união estável. Não dispondo o ex-cônjuge ou ex-companheiro de condições de alcançar alimentos a quem saiu do relacionamento sem meios de prover o próprio sustento, os primeiros convocados são os parentes consanguíneos e os que mantem o vinculo de parentesco civil, por adoção ou vinculo socioafetivo. Na ausência ou precariedade de condições desses de prestar alimentos, cabe socorrer-se dos parentes cujo vínculo permaneceu mesmo depois de solvido o elo afetivo: ex-sogro, ex-genro. Ainda que a responsabilidade seja subsidiária e complementar, não se pode negar que existe. Quem estiver destituído dos recursos necessários à própria subsistência não pode ser abandonado à própria sorte. Ao menos, em circunstâncias excepcionais, quando não houver parentes consanguíneos ou civis, ou restar evidenciado que eles

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não dispõem de recursos para auxiliar, cabe apelas ao vinculo por afinidade.

Flávio Tartuce (2015) destaca que a jurisprudência trata a obrigação de prestar alimentos entre cônjuges como uma atitude excepcional. Diante disso, o cônjuge que não conseguir inserção no mercado de trabalho poderá requerer do outro os alimentos, mas encerrar-se-á a obrigação no momento em que ocorrer a recolocação em atividade profissional, ficando nítido o disposto no artigo 1695 do Código Civil que aduz: “são devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”, confirmando assim, o binômio alimentar – necessidade versus possibilidade.

Para corroborar o afirmado, vejamos a tese consolidada em 2008, pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça:

A alimentanda não apenas apresenta plenas condições de inserção no mercado de trabalho como também efetivamente exerce atividade laboral, e mais, caracterizada essa atividade como potencialmente apta a mantê-la com o mesmo status social que anteriormente gozava, ou ainda alavancá-la a patamares superiores, deve ser julgado procedente o pedido de exoneração deduzido pelo alimentante. (Recurso especial nº 933.355).

Tendo em vista o entendimento do Tribunal Superior e o disposto em Lei, o ex-cônjuge que possuir condições de inserir-se em atividade laboral tem afastada a possibilidade de prestação alimentícia. Portanto, os alimentos decorrentes de casamento ou união estável são devidos ao cônjuge que não possuir oportunidades de trabalho, sendo adequado durante o período em que este estiver buscando sua inserção no mercado.

Tratada a obrigação alimentar correspondente aos cônjuges que pode recair tanto aos homens quanto às mulheres, será versado a seguir sobre a obrigação de prestar alimentos aos idosos, de acordo com a disposição contida na Magna Carta e no Estatuto do Idoso.

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A proteção ao idoso já consolidada pela Constituição Federal torna-se mais efetiva com o advento do Estatuto do Idoso em 2013. As pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos gozam do amparo da família, da sociedade e do Estado. Assim, quando idosos e não possuintes de recursos, os pais também podem requerer alimentos dos filhos, confirmando a reciprocidade da prestação alimentícia. Primeiramente o dever de prestar alimentos é da família, ou seja, cônjuges, companheiros, parentes, irmãos, tios, sobrinhos e primos; caso estes não possuam condições financeiras, caberá ao Poder Público o sustento do idoso.

Como visto anteriormente, os alimentos familiares são os decorrentes de vínculo de sangue, todavia não são somente estes que possuem respaldo na lei processual. Os alimentos indenizatórios decorrentes de ato ilícito também são possíveis. Os alimentos indenizatórios ou reparatórios são pagos quando ocorrer um falecimento em virtude de algum ato ilícito, sendo devidos aos dependentes deste. O Código Civil dispõe possibilidades de obrigação alimentar indenizatória, por exemplo, o previsto no artigo 948, inciso II, que estabelece o homicídio e o artigo 950 que trata da lesão que inabilitou a vítima para o trabalho; ambos mencionam hipóteses de ato ilícito que ensejam pensão alimentícia.

O CPC de 1973 permitia o pagamento de alimentos resultante de ato ilícito, tratando dessa matéria no artigo 475-Q. O Novo Diploma Processual Civil mantém a mesma possibilidade, apontando em seu artigo 533 e parágrafos a seguinte disposição:

Artigo 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. § 1o O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por

direitos reais sobre imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.

§ 2o O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do

exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.

§ 3o Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte

requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação. § 4o A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o

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§ 5o Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital,

cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.

A nova disposição processual consolidou o que estava mencionado no Código anterior. Tartuce (2015, p. 419) comenta as complementações trazidas pelo dispositivo, acentuando que:

De toda sorte, destaca-se que o novo tratamento do capital de reserva, como patrimônio de afetação, para os devidos fins de vinculação pagamento do quantum debeatur. Merecem aplausos também a manutenção da viabilidade de pagamento desses valores em salários mínimos, sem qualquer afronta ao que consta do artigo 7º, inciso IV da CF/1988, bem como a possibilidade de modificação ou extinção do pagamento se ocorrer a alteração das circunstâncias.

Consoante aos alimentos decorrentes de ato ilícito, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é que não caberá prisão civil. Vejamos julgado que reforça a afirmação:

HABEAS CORPUS. ALIMENTOS DEVIDOS EM RAZÃO DE ATO

ILÍCITO. PRISÃO CIVIL. ILEGALIDADE. 1. Segundo a pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é

ilegal a prisão civil decretada por descumprimento de obrigação alimentar

em caso de pensão devida em razão de ato ilícito. 2. Ordem concedida.

Portanto, quanto à possibilidade de prisão civil do devedor de alimentos indenizatórios, o Novo Código de Processo Civil mantém-se omisso, abrindo margem para futuras discussões na doutrina acerca do advento do novo dispositivo. Com a recente entrada em vigor do diploma legal, não se encontra posições formadas se possível ou não a prisão civil do inadimplente de obrigação alimentar proveniente de ato ilícito. Por meio disso, conveniente adotar a forma de como os Tribunais Superiores se posicionam diante de tal assunto.

Em maio de 2016, o STJ editou o Informativo de Jurisprudência nº 582, o qual dispõe a respeito da decisão da corte sobre a validade do acordo de alimentos, permitindo assim, a dispensa da participação do advogado do alimentante, sendo suficiente a presença do Ministério Público e do juiz.

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Por fim, o Superior Tribunal de Justiça, na pesquisa pronta do mês de junho, estando entre os temas elencados a impossibilidade de compensação dos valores arbitrados judicialmente com as parcelas pagas in natura, ou seja, parcelas pagas diretamente para o alimentando. Nesse sentido, apreciamos julgamento recente desse Tribunal que corrobora a afirmação:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544, CPC) - AGRAVO DE INSTRUMENTONA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AORECLAMO, MANTIDA A INADMISSÃO DO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DO EXECUTADO.1. "A jurisprudência desta Corte está sedimentada no sentido de quefixadaa prestação alimentícia, incumbe ao devedor cumprir a obrigação na forma determinada pela sentença, não sendo possívelcompensar os alimentos arbitrados em pecúnia com parcelas pagas innatura.” (cf. AgRg no REsp 1257779/MG, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,QUARTA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe 12/11/2014).2. A ausência de demonstração de como se deu a alegada violação aosdispositivos legais arrolados nas razões do reclamo inviabiliza acompreensão da controvérsia e, por sua vez, caracteriza adeficiência na fundamentação do recurso especial no particular, atraindo a incidência da Súmula 284 do STF. Agravo regimental desprovido.

Visto os aspectos conceituais, históricos e legais que constituem a obrigação alimentar, é essencial abordar as suas espécies, eis que fundamentais para o entendimento da execução de alimentos, como se observará na próxima seção.

1.2 Alimentos e sua classificação

No que diz respeito aos alimentos, a doutrina utiliza diversos critérios para classificá-los. Fundamentalmente, segundo Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhardt (2014) utiliza-se a classificação de naturais e civis; definitivos, provisionais e provisórios; e legítimos, voluntários e indenizativos.

Os alimentos naturais são aqueles imprescindíveis à vida, ou seja, aqueles indispensáveis para a sobrevivência humana, como por exemplo a alimentação, a moradia, a saúde, o vestuário, entre outros. Já os alimentos civis são aqueles motivados em virtude das necessidades do alimentando e de acordo com as condições do alimentante. Essa diferenciação foi perdendo a sua aplicabilidade, uma vez que os naturais se tornaram incompatíveis com a ideia de os alimentos estarem relacionados à condição social de um indivíduo (MARINONI; ARENHARDT, 2014).

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Quanto aos definitivos, os autores destacam que esses alimentos são concedidos mediante sentença em ação de alimentos ou fixados em acordo homologado judicial ou extrajudicialmente. Por fim, salientam que os alimentos provisórios são os concedidos provisoriamente, de acordo com o disposto no art. 4º da Lei de Alimentos: “Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita”. Os últimos conceituados constituem formas de tutela antecipada, com a distinção de que os provisionais apenas exigem a análise dos elementos essenciais para a concessão da antecipação de tutela, de acordo com o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, enquanto os provisórios necessitam de prova prévia de parentesco ou da obrigação alimentar para a sua concessão (MARINONI; ARENHARDT, 2014).

Nesse contexto, Maria Berenice Dias (2015) assevera que os alimentos tornam-se definitivos com o transito em julgado da sentença que dispõe a sua fixação e podem, a qualquer tempo, ser submetidos à revisão. A autora aduz, ainda, que os alimentos provisórios e provisionais são pertencentes à categoria dos alimentos antecipados, sendo que são deferidos pelo juiz sob forma liminar e antes da sentença.

Os alimentos provisórios referem-se à tutela antecipada de cunho satisfatório e, nesse viés, não necessitam de pedido na ação de alimentos para garantir sua concessão, sendo que são estabelecidos liminarmente na demanda. Ainda, o deferimento dos alimentos provisórios pode ocorrer tanto na ação de alimentos como nas revisionais ou exoneratórias (DIAS, 2015).

Há a possibilidade de requerimento dos alimentos provisórios na ação de divórcio ajuizada pelo ex-cônjuge, conforme a Lei 5.478 (Lei de Alimentos) que dispõe:

Art. 4º: Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge, casado pelo regime da comunhão universal de bens, o juiz determinará igualmente que seja entregue ao

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credor, mensalmente, parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor.

Já os alimentos provisionais, segundo entendimento de Dias (2015), são classificados como tutela cautelar e podem ser requeridos como medida preparatória à proposição da demanda de divórcio, anulação de casamento, reconhecimento de união estável e investigatória de paternidade. A Lei Maria da Penha1 autoriza, a título

de medida protetiva de urgência, o deferimento dos alimentos provisórios ou provisionais; estes últimos garantem o exercício do acesso à justiça.

O artigo 852 do Código de Processo Civil de 1973 regulava o pedido de alimentos provisionais; no entanto, hoje o pedido destes alimentos observa-se artigo 301 no Novo Código de Processo Civil, o qual dispõe sob a tutela de urgência de natureza cautelar.

Marcela Maria Furst (2015), em artigo sobre a ação de alimentos e o Novo Código Processual, leciona que os alimentos provisionais são os outorgados em medida cautelar, preparatória ou incidental, de ação de reconhecimento e dissolução de união estável, divórcio, nulidade ou anulabilidade de casamento ou de alimentos, dependendo da verificação das condições essenciais a toda medida cautelar, conforme disposto no Código de Processo Civil em vigor.

Os alimentos legítimos decorrem da lei, “são aqueles que se devem por direito de sangue, por um vínculo de parentesco ou relação de natureza familiar ou em decorrência do matrimônio” (CAHALI, 2009, p.20). Os voluntários são aqueles provenientes de algum negócio jurídico, “se constituem em decorrência de uma declaração de vontade, inter vivos ou mortis causa” (CAHALI, 2009, p.20). Já os alimentos indenizativos, segundo Cahali (2009), se originam de ato ilícito. Marinoni e Arenhardt (2014, p.386) acrescentam que:

Diz-se com frequência que os alimentos indenizativos não possuem verdadeira natureza alimentar, não se lhes aplicando, por conseguinte, o regime de técnicas processuais típico das prestações alimentícias. Com efeito, afirma-se comumente que estes alimentos possuem mecanismo próprio de proteção judicial, consistente no primitivo artigo 602 do CPC (hoje substituído pelo artigo 533-Q), de modo que dispensaria os

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instrumentos coercitivos e substitutivos previstos para a execução dos alimentos legítimos.

Diante disso, as espécies de alimentos proporcionam uma compreensão mais clara da obrigação alimentar, de modo que demonstram as classificações que produzem as reais consequências no âmbito processual. Assim, serão ponderadas na próxima seção as consequências do não adimplemento da obrigação alimentar, bem como as formas de execução permitidas pelo sistema processual.

1.3 Consequências do não adimplemento da verba alimentar

O não adimplemento da obrigação alimentar acarreta risco à sobrevivência do alimentando e, para garantir o pagamento da verba alimentícia, o sistema processual adotou medidas que auxiliam na satisfação do crédito devido a este, admitindo, assim, meios de execução. A execução de alimentos, com a alteração do Código de Processo Civil, apresentou mudanças significativas quando do não adimplemento de prestação alimentícia.

Quanto à matéria referente aos alimentos, a Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015 (Novo CPC) apresentou muitas inovações, sendo as principais relativas ao cumprimento de sentença e execução dos alimentos. O artigo 1.072, inciso V do Novo Código de Processo Civil revogou de forma expressa os artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos, os quais tratavam da execução alimentar (TARTUCE, 2015).

Assim, se faz necessário abordar como se versava a execução alimentar antes da revogação dos artigos da referida Lei de Alimentos pela lei que alterou o Estatuto Processual. Nesse contexto, Wambier (2008) divide a execução alimentar em quatro formas, sendo elas: desconto em folha de pagamento, cobrança em alugueis ou outros rendimentos do devedor, expropriação de bens do devedor e prisão civil.

A execução de alimentos, contudo, era estabelecida a partir da sequência atribuída pelos artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68), sendo utilizados inicialmente os meios mais brandos (desconto em folha ou cobrança em

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aluguéis ou outros rendimentos) e, no caso de insucesso, os mais rigorosos (prisão ou expropriação).

A execução por meio do desconto em folha ocorre quando o devedor de obrigação alimentar possui emprego e salário fixo, sendo que a verba alimentar será descontada diretamente da folha de pagamento do alimentante. Não sendo possível a cobrança dos alimentos pelo desconto em folha poderá ser a cobrança em aluguéis ou em outros rendimentos do devedor. Essas modalidades, de acordo com a prática, são consideradas eficazes, pois permitem que o alimente tenha a salvo o direito ao recebimento de prestação alimentícia (MARINONI; ARENHARDT, 2014).

O Novo Diploma Processual admite a ocorrência do desconto em folha da prestação alimentícia, desde que o executado seja funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, nos termos no artigo 912.

Outra modalidade é a execução por quantia certa (expropriação) para assegurar o cumprimento da obrigação alimentar; porém, é uma alternativa demorada, ocasionando poucas ocorrências. A execução por quantia certa é solicitada quando o devedor não realiza o pagamento do débito alimentar, em algumas situações até mesmo após cumprir a prisão. Ao credor que optar por essa modalidade de execução será constituída a penhora de bens do devedor (GONÇALVES, 2011).

Outra possibilidade de execução dos alimentos é a que resulta na prisão civil do executado quando este não efetuar o pagamento do débito alimentar no prazo fixado em lei. Salienta-se que a prisão tem caráter exclusivamente coercitivo, buscando, tão somente, o pagamento do débito alimentar. É admitida pela Constituição Federal de 1988 e está mantida no Novo CPC, assim como se verá no próximo capítulo deste trabalho, o qual é destinado propriamente para o assunto.

Destarte, o sistema processual trata os alimentos de forma diferenciada, pois são necessários à sobrevivência, além de sempre buscar o adimplemento da

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obrigação alimentar. Considerando isso, o novo Código de Processo Civil possui ampliações relevantes no que tange a execução de alimentos.

Do exposto, importante inserção ao novo diploma processual é a possibilidade de protesto, a fim de objetivar o efetivo cumprimento da obrigação e proporcionar preocupação ao devedor, uma vez que seu nome ficará negativado nos cadastros de inadimplentes. Antes mesmo da decretação da prisão civil, sejam alimentos provisórios ou definitivos, o juiz designará o protesto. Cabe salientar que para o protesto das decisões de cunho alimentício não será necessário o trânsito em julgado, o qual pode ser determinado de ofício pelo juiz. Será possível, ainda, o desconto de até 50% dos vencimentos líquidos, tratando-se de assalariados ou aposentados (DELLORE, 2015).

Dessa forma, importa sublinhar, que a possibilidade do desconto de 50% incide quando o débito objeto da execução é parcelado, sendo descontado dos rendimentos do alimentante contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse os 50% de seus ganhos líquidos, conforme o artigo 529, §3º do Novo Código Processual.

O novo Código de Processo Civil, em questão de procedimento, inovou na execução alimentar, viabilizando outras formas executórias, as quais observam se o título é judicial ou extrajudicial, além do tempo do débito. O texto legal em vigência admite o cumprimento de sentença, sob pena de prisão, disposto nos artigos 528 a 533; o cumprimento de sentença, sob pena de penhora, conforme os artigos 523 e 528, § 8º; execução de alimentos, fundada em título executivo extrajudicial, sob pena de prisão, regida pelos artigos 911 e 912; execução de alimentos, fundada em título executivo extrajudicial sob pena de penhora, de acordo com o artigo 913.

Ainda, o Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 532, dispõe sobre o abandono material, o qual, por conseguinte, ressalva que certificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz precisará dar ciência ao Ministério Público dos vestígios da prática do crime de abandono material, sendo tipificado como crime contra a assistência familiar conforme o Código Penal aduz em seu artigo 244. Vejamos o dispositivo:

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Artigo 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Parágrafo único – Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.

Nesse sentido, as mudanças introduzidas no sistema processual com a alteração do Código de Processo Civil buscam a satisfação do credor com a maior efetividade possível e demonstram a cautela do legislador nas modernizações da matéria alimentar que, sem sombra de dúvidas, é de grande valia para o sistema processual.

Destarte, abordada a obrigação alimentar, bem como os conceitos históricos, legais e espécies de alimentos, além das eventuais consequências do não adimplemento e adoções pelo Novo Código de Processo Civil, analisar-se-á, no capítulo posterior, a prisão civil por dívida alimentar com ênfase aos aspectos teóricos e práticos.

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2 REPERCUSSÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NA PRISÃO CIVIL

Neste capítulo será aludida a prisão civil, a qual é uma forma coercitiva que visa, única e exclusivamente, o adimplemento da obrigação alimentar. A abordagem será suscitada em três tópicos: a (in) constitucionalidade que versará sobre a possibilidade da prisão civil partindo do pressuposto constitucional, a seguir a prisão civil do devedor de alimentos e suas especificidades de acordo com o Novo Código de Processo Civil e, por fim, averiguar-se-á, também, as informações angariadas a partir da pesquisa de campo, a qual foi realizada a fim de identificar a prisão civil como forma eficaz para coibir o inadimplemento alimentar e assegurar ao alimentado a devida prestação alimentar.

2.1 A prisão civil por dívida alimentar: contexto histórico e a (in) constitucionalidade do instituto

A prisão civil possui natureza meramente coercitiva, ocorrendo a sua admissão no sistema processual brasileiro. Nessa perspectiva, imprescindível se faz verificar o surgimento do instituto, bem como as primeiras aparições deste nas compilações legais e a sua existência no direito comparado. E, a partir disso, abordar a prisão e as suas especificidades à luz das novas disposições.

A prisão civil teve seu primeiro destaque no Código de Hamurabi, em 1694 a.C., e previa que o devedor seria morto a pancadas ou a maus-tratos, além da escravidão da sua mulher e de seus filhos para o pagamento do débito. Em seguida, o Direito Indiano introduziu a prisão civil no Código de Manu, no qual a dívida era equiparada a crime de furto e admitia-se o emprego de violência contra o devedor, como o sequestro, o acorrentamento e a escravidão de sua mulher, filhos e animais (CARVALHO, 2012)

Carvalho (2012) lembra que a Lei de Drácon, em 621 antes de Cristo, regulamentava que o não pagamento do débito acarretava a propriedade do devedor ao credor, além da possibilidade deste o matar. O Direito Romano, por meio da Lei das XII Tábuas, permitia que o devedor trabalhasse para o credor; porém, com as alterações após o surgimento da Lex Poetelia Papira, o devedor não mais podia

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responder por suas dívidas com o seu corpo, somente com o patrimônio. Com as Institutas de Gaio, contudo, o direito do credor sobre o devedor foi novamente autorizado no Direito Romano.

Na Idade Média, até o pagamento da dívida, o devedor era mantido em cárcere pelo credor, retornando os meios violentos com o Feudalismo. Na França, os bens pagavam as dívidas, e não a vida. Já na Idade Moderna, a prisão civil foi instituída na França em 1563, amortecida por Luiz XIV, em 1667, e abolida com a revolução de 1789. O Código Napoleônico a incluiu em 1804 e a restringiu em casos raros, afastando o débito alimentar (CARVALHO, 2012).

Oportuno destacar que entre os séculos XVII e XVIII, denominados “Séculos das Luzes”, houve uma contribuição essencial do movimento iluminista para a extinção da prisão civil, a qual era utilizada como medida coercitiva para a efetivação de obrigações contratuais na maioria dos países da Europa (BEZERRA, 2009).

No Brasil, o direito era regido pelas Ordenações Filipinas e o instituto da prisão civil estava regulamentado quando se tratava de depositário infiel e do autor que deixava de pagar custas. Com a independência do país, o Código Criminal do Império, em 1830, revogou as referidas ordenações e foi motivo de controvérsias, sendo que os entendimentos da época tratavam a prisão do depositário infiel como legal, sem caráter penal. O Código Comercial, de 1850, tratava da prisão civil em seu texto e, logo após, a aprovação da Consolidação das Leis Civis em 1858 trouxe a prisão civil como disposta nas Ordenações Filipinas (CARVALHO, 2012).

A primeira legislação brasileira a tratar do instituto foi o Código Civil, em 1916, que condicionava a prisão civil ao depositário infiel; entretanto, as origens históricas do instituto não param por aí. Destaca-se, também, que a positivação da prisão civil no texto constitucional ocorreu apenas a partir de 1937, já estando incluído o responsável por inadimplemento alimentar, sendo que anteriormente era vedado tal instituto. Promulgada a CF/88, manteve-se a previsão da prisão civil nos dois casos: depositário infiel e responsável por inadimplemento de obrigação alimentar (CARVALHO, 2012).

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Convém verificar a prisão civil no direito comparado. Na Itália, não há possibilidade de prisão nos casos de inadimplemento de verba alimentar; contudo, o não pagamento enseja crime de violação das obrigações de assistência familiar, punido com multa e reclusão de um ano. Na França, os débitos de natureza alimentar são tratados similarmente com o Direito Italiano, prevendo a impossibilidade de prisão civil; no entanto, caracteriza a conduta de abandono de família quando não efetivado o pagamento de duas prestações alimentícias. Em 1869, a Rainha Vitória aboliu a prisão civil na Inglaterra, conservando apenas na hipótese de insolvência fraudulenta. A Argentina, em 1872 também eliminou a possibilidade, mantendo nos casos de falência e insolvência civil resultantes de dolo ou fraude por parte do devedor. Por fim, nos Estados Unidos a prisão civil por débito alimentar depende de cada estado federado, eis que cada um elabora suas leis. É admitida em alguns desses estados, especialmente para os casos de filhos de pais separados que estão sob a guarda materna (BEZERRA, 2009).

A prisão civil é vedada na estrutura jurídica brasileira; porém, encontram-se duas hipóteses aceitas que possuem respaldo na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88). Nesse contexto, a prisão civil somente é admitida nos casos excepcionados em lei, assim como dispõe o artigo 5º, inciso LXVII da Magna Carta:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. (grifo do autor)

Desse modo, o texto constitucional prevê apenas duas possibilidades de prisão civil por dívida, quando decorrente de não adimplemento da obrigação alimentar e/ ou do depositário infiel.

No entanto, na década de 90, o ordenamento jurídico brasileiro recepcionou, pelo Decreto 678/1992, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, denominado como Pacto de São José da Costa Rica, o qual consiste em um Tratado Internacional celebrado em 1967 pelos integrantes da Organização dos Estados

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Americanos (OEA), com o objetivo de incorporar os direitos econômicos, sociais e educacionais de cada cidadão. Em que pese isso, o Tratado Internacional não permite em seu bojo a prisão civil; contudo, reserva a possibilidade de prisão nos casos decorrentes de inadimplemento alimentar, conforme o artigo 7º, item nº 7, que dispõe: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”. Nesse verte, a prisão civil não recai ao depositário infiel, ocasionando um conflito entre a Constituição da República Federativa do Brasil e o Pacto de São José da Costa Rica.

Por derradeiro, para driblar as discussões em relação da norma que deverá ser observada, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 25, determinando que não é lícita a prisão de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. Assim, não mais se aplica a sanção civil ao depositário infiel, mantendo a determinação prevista pelo Tratado Internacional.

A prisão civil regulamentada pela Constituição Federal de 1988, assim como referido, admite-se exclusivamente quando decorrente de dívida, especificadamente nos casos de inadimplemento voluntário e inescusável de compromisso alimentar, sendo, contudo, afastada a possibilidade da prisão do depositário infiel. Nesse viés, destacam-se os fundamentos explanados pelo Supremo Tribunal Federal, em julgamento de habeas corpus, demonstrando a inadmissibilidade da prisão civil do depositário infiel:

DIREITO PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁRIO INFIEL. PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. ALTERAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. A matéria em julgamento neste habeas corpus envolve a temática da (in) admissibilidade da prisão civil do depositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro no período posterior ao ingresso do Pacto de São José da Costa Rica no direito nacional. 2. Há o caráter especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (art. 11) e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7°, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses diplomas internacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação. 3. Na atualidade a única hipótese de prisão civil,no Direito brasileiro, é a do devedor de alimentos. O art. 5°, §2°, da

Referências

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