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Consequências trazidas pela web na recolha de informação pelos jornalistas

imprensa regional

2. As fontes de informação na web 0 1 Reconversão tecnológica

2.1.3. Consequências trazidas pela web na recolha de informação pelos jornalistas

É perante esta realidade que as empresas jornalísticas têm de abrir horizontes a novas estratégias na forma de fazer jornalismo, isto é, ter em conta estas evoluções tecnológicas e procurar fazer produtos noticiosos que se adaptem. Com estes novos meios os cidadãos têm uma relação ainda mais próxima com os órgãos de informação, isto é, com a viabilidade de comunicação entre jornalista e público ou utilizador é óbvio que a interatividade entre ambos tenderá a ser muito maior. E como foi referido anteriormente, as caixas de comentários nas

webpages dos jornais e os emails, normalmente, disponibilizados junto de cada peça

jornalística, permitem que os utilizadores possam contactar mais facilmente o jornalista, logo existe uma maior proximidade entre ambos, característica esta que já estava bem presente ao longo do tempo no jornalismo regional, por exemplo, em que a proximidade já era, de certa forma, física antes de ser virtual. Mas ambas são exemplo de proximidade entre jornalista e

4 O estudo em particular está focado na forma como os utilizadores de redes sociais lidam com as

notícias, neste caso, nos EUA. Disponível em: http://www.pewresearch.org/fact-tank/2014/09/24/how- social-media-is-reshaping-news/

5 Pew Research Center é um instituto de pesquisa independente localizado em Washington (EUA) que se

foca em questões como a política, os média, a religião e até a tecnologia. É um instituto sem fins lucrativos, funcionando através de donativos.

público. Proximidade, essa, que agora também passa a superar barreiras geográficas, como defende Pavlik (2001, p. 130):

“Newspapers and most other news media have traditionally communities bounded by geographic (i.e., local, with some national), political, or cultural borders. The Internet is transforming this traditional bounded media model. More than five thousand news sites created by traditional news providers are available to anyone anywhere in the world with a computer and Internet access.”

Assim, Hélder Bastos (2000, p. 74) também refere que “a realidade diária do modelo muitos- para-muitos significa que o jornalista tem agora uma chance de realmente conhecer e interagir com a sua audiência que vão muito para além das cartas ao editor”. O autor também defende que “esta interacção mais próxima deverá idealmente conduzir a um melhor conhecimento da audiência, e a uma escrita e reportagem que reflicta mais de perto os valores e interesses dos leitores”.

Também Canavilhas (2004, p. 4) defende que a “avalanche informativa, o aumento da velocidade noticiosa e as novas formas de contactar os agentes da notícia são apenas algumas das alterações sofridas pelo jornalismo em consequência do aparecimento da Internet”. Assim, os consumidores passam a ter um papel muito mais ativo na prática do jornalismo. Exemplo prático disso são os emails criados por algumas das estações televisivas portuguesas que recebem informações vinda dos cidadãos, de acontecimentos passíveis de serem notícia. É de facto extremamente necessário entender que não basta copiar os conteúdos jornalísticos entre plataformas, mas sim transformá-lo num produto específico destinado ao ciberespaço, como defende Jorge Pedro Sousa (2002)6: “(…) os jornais constataram que não bastava estar na

Rede para terem vantagens competitivas – era preciso fabricarem um produto específico para a Internet”.

Assim, o jornalismo está perante muitos desafios, e um deles está centrado na busca, processamento de informação e a sua consequente difusão. Cada vez mais a Internet é utilizada como fonte de informação, pois é através desta ferramenta que o jornalista estabelece contacto com algumas das suas fontes.

“Muitos jornais recorrem agora à pesquisa no ciberespaço para simplesmente se inteirarem do que mais foi escrito sobre o assunto a tratar, além de utilizarem rotineiramente a pesquisa online para verificação de factos e detecção de especialistas para as estórias em progressão”.

Hélder Bastos (2000, p. 74) Também os emails são ferramentas importantes na procura de informação para os jornalistas poderem trabalhar, pois é uma das ferramentas mais utilizadas para se poderem identificar

6 A falta de indicação de página deve-se ao facto de o artigo em questão estar numa página web sem

“potenciais fontes para notícias, recolher informação dessas fontes e verificar a exactidão da informação obtida” (Bastos, 2000, p. 77).

Para além disso, o ciberespaço também permite que jornalistas de um mesmo órgão de comunicação que estejam separados por distância física, possam comunicar entre si, tornando a redação num sítio que já não é apenas físico, mas também virtual.

Assim, os jornalistas utilizam o ciberespaço também para procurarem fontes de informação que lhes possam enriquecer o trabalho. Todavia, o problema pode surgir quando se percebe que a Internet traz aos jornalistas um número indeterminado de fontes e informações, que muitas vezes podem não ter o valor de verdade procurado no jornalismo. Neste sentido, o jornalista tem de trabalhar arduamente para conseguir provar a veracidade dos fatos transmitidos através desta rede. Isto é:

“A abundância de informação, incluindo a informação disponibilizada por meios concorrentes, e de fontes na Internet coloca ainda ao jornalista o problema da avaliação da fonte, no que respeita ao interesse, veracidade e importância da informação e credibilidade da própria fonte, num quadro de grande concorrência.”

Jorge Pedro Sousa (2002)

É este cenário que proporciona aos jornalistas a preocupação em criar diferentes técnicas de pesquisa e de apuração de informação adequadas a esta nova realidade. Pois a “estrutura descentralizada do ciberespaço complica o trabalho de apuração dos jornalistas nas redes devido à multiplicação das fontes sem tradição especializada no tratamento de notícias, espalhadas agora em escala mundial” (Elias Machado, 2003, p. 4).

A abundância informativa coloca ao jornalista a difícil tarefa de conseguir avaliar corretamente e em pouco tempo (devido à velocidade da informação de hoje em dia) as suas fontes. Ou seja: “abundância de fontes de informação é um dos factores que incentivará o processo de especialização jornalística. Só um jornalista crescentemente especializado e capaz de fazer análise e associar ideias e informações poderá mover-se num cenário de super-abundância de recursos informativos”.

Jorge Pedro Sousa (2002) Assim, o jornalista deve conseguir aplicar ao jornalismo online as mesmas técnicas de verificação da informação utilizadas no jornalismo tradicional, dos meios de comunicação como a imprensa, rádio e televisão. Todavia não se pode descurar que neste ambiente informativo de imensa rapidez é, claramente, difícil para o jornalista conseguir fazer esse trabalho num reduzido espaço de tempo, e por isso a especialização pode ser a solução, como foi referido anteriormente. Um jornalista especializado lidará, ao longo do seu percurso, quase sempre com as mesmas fontes, que ao terem uma relação duradoura com o jornalista lhe poderão transmitir confiança.

Ward e Hansen (1993, citados por Bastos, 2000, p. 84) foram dois autores que estudaram o aparecimento deste novo tipo de fontes de informação associadas ao mundo digital, e defenderam que estas novas fontes potenciais “exigem novas aptidões de pesquisa” e desta forma propuseram um modelo que determina o trabalho jornalístico em cinco níveis: a análise

da questão (delimitar qual a informação que se pretende); os possíveis contribuintes (dividindo

as fontes de informação em três tipos, como as fontes formais, institucionais e fontes de bases de dados, onde incluem as fontes online); as entrevistas (debater a informação encontrada); a

seleção e síntese (depois da seleção de informação, transformá-la num produto final já com

informação adicional) e o desenvolvimento da mensagem (a produção de um produto pronto ser publicado).

Todavia, e apesar de todas as transformações a que se tem assistido na tentativa de dar maior crédito às fontes de informação online, o estigma da pouca credibilidade poderá manter-se, conforme defende Pavlik (2001, p. 127) porque: “online journalism and the Internet are in their relative infancy, however, many news consumers are still unsure of the credibility of online source”. Portanto, pode dizer-se que cabe ao jornalista proceder sempre à verificação da informação, para não transmitir insegurança ao público quanto às fontes de informação.