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CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PROBLEMA DE PESQUISA

No documento Download/Open (páginas 48-52)

Ao nos aproximarmos do objeto da pesquisa, ou seja, a Unimep, optamos por buscar explicação e compreensão da construção de sua identidade a partir do processo e movimento de formulação da sua Política Acadêmica, a qual, atualmente, corresponde ao PPI da Universidade.

A Política Acadêmica pode ser compreendida como um processo e movimento, fruto de um longo, contínuo e coletivo percurso de amadurecimento da comunidade acadêmica unimepiana, nas suas práticas cotidianas, numa dada conjuntura interna e externa. Podemos dizer que a Política Acadêmica emana desde a fundação dos cursos superiores do IEP até a formação e reconhecimento da Universidade, perpassando pelos diversos Seminários Pedagógicos nos anos 70 e 80, culminando nos Fóruns de Política e Avaliação Acadêmicas dos anos 1990, 1991 e 1992, liderados pelo Conselho de Coordenação de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). O resultado culminou na aprovação do documento final, pelo Conselho Universitário (Consun), em 24 de abril de 1992, tendo sido homologado posteriormente pelo Conselho Diretor da mantenedora, em 22 de agosto de 1992.

Na sua historicidade e concretude a Universidade não é neutra, mas calcada numa postura política e ética, expressa em suas declarações, que apontam para um projeto político o seu devir e sua utopia. Como afirma Severino:

Todo projeto educacional será necessariamente um projeto político e não há como evitá-lo. A educação, como qualquer outra atividade humana, não é um processo neutro. Considerá-la assim é reforçar posições político-ideológicas consolidadas. O educador precisa então entender-se como membro de uma sociedade envolvida num processo histórico (SEVERINO, 1986, p. XIV).

Então, o movimento acadêmico-administrativo da Unimep, expresso em sua Política Acadêmica, carrega em si uma proposta de sociedade que deve ser problematizada e analisada no contexto dos processos históricos em que foi gerada. A Universidade, por meio de suas lideranças (que compreendem desde a sua instituidora, a Igreja Metodista, sua mantenedora, o Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista – IEP, seu Conselho Diretor e Direção Geral, sua equipe de Reitoria e a comunidade acadêmica, composta de professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos), fez suas opções político-ideológicas no processo de construção e definição de sua identidade. Portanto, não há neutralidade nesse processo. Escolhas foram feitas, mediatizadas por concepções políticas, ideológicas, teóricas, pedagógicas, históricas, etc.

As escolhas, na maioria das vezes, são fruto das tensões e disputas, debates dialéticos entre posições e concepções que, muitas vezes, são antagônicas dentro de um corpo social. Entretanto, a prevalência desta ou daquela postura, linha de ação, conduta, tem a ver com a hegemonia de determinado pensamento dentro da comunidade, grupo ou corpo social. Essas opções decisões tomadas podem ser aderentes ou contraditórias ao contexto político-social com o qual a Universidade se relaciona e interage. Não obstante, trata-se de um processo que não é portador de neutralidade, como adverte Severino (1986).

Ora a Universidade pode posicionar-se de forma aderente à ideologia vigente no contexto político-social, ora pode opor-se a essa ideologia, criticá-la e assumir uma posição contraideológica12. Isso depende de fatores que vão desde o perfil de formação de sua comunidade acadêmica, convicções político-sociais nela presentes, circunstâncias históricas do contexto em que está inserida ou a disposição de suas lideranças para assumirem esta ou aquela posição, assim como a condição para arcar com as consequências de tais posições.

É preciso considerar também que a política, assim como a educação, são atividades humanas. Os caminhos são escolhidos pelos homens e mulheres, pela comunidade humana – e, no caso da Universidade, por sua comunidade – mediatizados pela opção por determinadas

concepções filosóficas, visões de mundo e convicções de projeto de sociedade. Nesse sentido, no debate das ideias, estratégias, sonhos e utopias é que se estabelecem as posições políticas e ideológicas de um corpo social – no nosso caso, da Unimep e de sua Política Acadêmica.

As leituras desenvolvidas acerca da história da Unimep, antes da elaboração do nosso projeto de pesquisa, permitiram-nos reconhecer e concluir preliminarmente que a Unimep, em sua trajetória, passou por diferentes etapas, relacionadas aos diversos períodos de seu desenvolvimento. No próprio texto da Política Acadêmica, o capítulo que trata da história da sua construção constata algumas dessas etapas (UNIMEP, 1992, p.16-19). Acrescentamos a identificação de outras etapas à luz dos estudos já existentes e das nossas observações no decorrer das pesquisas.

Por enquanto, basta-nos registrar essa constatação e com ela a percepção de que a Universidade (por seus atores) assumiu, explícita ou implicitamente, opções de posicionamento em relação ao contexto político-social, ao projeto educacional e à proposta de sociedade que trazia imanente no seu pensamento e prática.

Ao analisar então a história da Unimep e essas diferentes etapas pelas quais passou, até a construção e início da implantação de sua Política Acadêmica, podemos perceber e supor uma transição  de um momento de postura ideológica conformada ao status quo do processo socioeconômico, político e educacional brasileiro para outro momento no qual irrompe uma conduta de ruptura, a qual podemos chamar de contraideológica , seguindo Severino (1986, p. XVII). Esse processo está bem documentado em trabalhos como os de Fleuri (1988), Silva Júnior (1992) e Netto (1994). Essa conduta de ruptura, portanto, resultou numa síntese rica e complexa que, em nossa compreensão, é a proposta de um projeto de Universidade e de sociedade baseado na ética e na utopia da “construção da cidadania enquanto patrimônio da sociedade civil”, como seu objetivo mais elevado enquanto instituição universitária.

Diante desse processo, propusemos cinco perguntas preliminares, epistemologicamente entrelaçadas, que nos conduzem ao problema da pesquisa. No encontro com os dados nos indagamos:

1) Como se deu e o que significou o processo e movimento de construção da Política Acadêmica da Unimep?

2) Qual a concepção ou as concepções de Universidade que podem ser identificadas na Política Acadêmica?

3) Por que a definição da Política Acadêmica é vista como a institucionalização da Unimep?

4) Como a Política Acadêmica dialoga com a natureza da Unimep, Universidade privada, confessional, com espírito público e comunitário?

5) E, por fim, quais contribuições trouxeram ou trazem a historiografia da Unimep e suas experiências concretizadas na Política Acadêmica para a reflexão e o avanço da Universidade brasileira?

Essas perguntas nos colocaram diante do problema fundamental, sintetizado na busca pelo significado e sentido da Política Acadêmica na construção da identidade da Unimep e o que ela (a Política) propõe ser à Universidade.

Constitui-se um desafio epistemológico e operacional desenvolver a pesquisa a respeito da Universidade, considerando que o autor está inserido no ambiente da própria Universidade e tem uma relação de pertencimento e participação com a Unimep, pelo menos nos últimos dezessete anos. Esse “envolvimento” ou “implicação” com o objeto impõem-nos algumas consequências sobre as quais devemos manter constante reflexão e tomada de decisões, tanto devido à necessidade de evitar-se ao máximo a subjetividade quanto na questão ética de se evitar a exposição assuntos reservados ou sigilosos que compõem o acervo de conhecimento pessoal do objeto pelo pesquisador. Esse limite entre a relação pessoal e a relação objetivada da pesquisa precisa estar muito clara no decorrer do processo. Por outro lado, não se pode negar que esse pertencimento resulta também num nível de compromisso, interesse profundo e motivação (motiva a ação) na pesquisa.

Sant’Ana (2010), discutindo “A implicação do pesquisador na pesquisa interacionista na escola”, considera que:

A discussão sobre as relações entre o pesquisador e o seu objeto de pesquisa é um tema recorrente no campo do conhecimento nomeado como científico. Hoje é amplamente aceito que nenhuma área do conhecimento pode escapar das dificuldades produzidas pela subjetividade do investigador, pois este, ao escolher o objeto de sua investigação, já traz consigo a influência do seu contexto de inserção, de seus grupos de referência, de suas preferências intelectuais do momento e de suas idiossincrasias (SANT’ANA, 2010, p. 372).

Por outro lado, Santaella (2006) reconhece que “os temas [de investigação] têm tudo a ver com a história de vida e, especialmente, com a história intelectual do pesquisador [...] um tema é algo que nos fisga, para o qual nos sentimos atraídos sem saber bem por quê” (SANTAELLA, 2006, p. 158). Ou seja, um tema revela sempre um interesse do pesquisador e, nesse sentido, não é uma escolha portadora de neutralidade, mas pautada em razões que podem guardar relação com “uma história de vida, de experiências profissionais, intelectuais, construídas mediante caminhos próprios, dos valores e escolhas que nos definem” (SANTAELLA, 2006, p.164).

Por fim, empregamos também, neste trabalho, de forma exploratória, o método de pesquisa da Grounded Theory. Sobre esse método, Kathy Charmaz assevera que:

[...] somos parte do mundo o qual estudamos e dos dados aos quais coletamos. Nós

construímos as nossas teorias fundamentadas por meio dos nossos envolvimentos e

das nossas interações com as pessoas, as perspectivas e as práticas de pesquisa, tanto passadas como presentes (CHARMAZ, 2009, p. 24-25).

Mas, voltando às nossas perguntas, para procurar respondê-las, partimos dos dados de pesquisa (que nesse caso são documentos do arquivo do processo de construção e implantação da Política Acadêmica da Unimep e entrevistas com sujeitos protagonistas do processo). Reconhecemos que tais dados estão impregnados da historicidade e do sentido atribuído pela comunidade acadêmica que participou daquele movimento  sentido à própria Universidade, à Política Acadêmica e ao seu papel (influenciada e influenciando o contexto político, socioeconômico e educacional do seu tempo).

Assim, procuramos, com a análise dos dados encontrar um sentido e significado que sintetize, explique e ofereça uma compreensão do movimento da Unimep e de sua Política Acadêmica. Porém, essa busca prescinde da consideração pelas circunstâncias históricas, como reconhece o próprio texto introdutório da Política Acadêmica, quando expressa que:

É dentro da historicidade da UNIMEP que deve ser compreendida a Política Acadêmica, com suas categorias, que constituirá o norte do movimento político- administrativo até que os agentes históricos produzam novas condições para mudanças. Ou seja, a Política Acadêmica traz as características de seu tempo e a intencionalidade daqueles que, no processo de sua construção estiveram envolvidos (UNIMEP, 1992, p. 19).

Portanto, partir da historicidade enraizada nos dados contribuiu com a explicação e compreensão do processo e do movimento. E, considerando que a Política Acadêmica da Unimep se constitui em “processo e movimento”, como temos mencionado, torna-se adequado empregar os postulados da pesquisa qualitativa por meio do método e das técnicas de investigação da Grounded Theory, que, podemos dizer, é também um modo de pesquisa em movimento, com constantes idas e voltas aos dados, de onde se buscará formular a teoria explicativa e compreensiva do fenômeno estudado. Sobre essa metodologia, método e técnicas, abordamos mais adiante nos capítulos seguintes.

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