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Considerações acerca dos fundos de arte

IV – O CASO DO ART INVEST – FEIF

DADOS DA PARTICIPAÇÃO DO ART INVEST NO “THE FINE ART FUND I” Data

IV.6 Considerações acerca dos fundos de arte

Consultado o “Prospecto e Regulamento de Gestão do ART INVEST – FEIF” a informação prestada é, em certos aspectos, fundamental, suficiente e clara mas noutros é omissa, genericamente e de forma resumida temos as seguintes linhas gerais:

 Não garante o capital investido;

 Está sujeito a risco cambial, entre outros;

 O activo principal (cerca de 60% do FEIF) está aplicado num Fundo não regulado nem supervisionado ou cotado (The Fine Art Fund Limited Partnership);

 Não é negociado em bolsa;

 A compra de obras de arte recai por inteiro sobre os Participantes, deixando a Sociedade gestora de ter qualquer responsabilidade, o que representa um risco financeiro, podendo até comprar-se obras menores ou até mesmo falsas;

 Os avaliadores não são instituições, no sentido mais formal do termo, mas antes duas sociedades de “marchands” e uma pessoa em nome próprio, não se sabendo através do Prospecto dos respectivos “curricula” e honorários cobrados;

 As comissões são, bastante elevadas, em termos relativos, embora em valores absolutos o não sejam;

 Não permite cancelar posições a não ser no fim do período (10 anos) sobre as quais o BANIF cobra mais comissões, não é ilícito mas deficiente, o que se afigura que a CMVM não deveria ter autorizado;

 Uma análise documental não encontra referências da existência de ”loan notes”, apenas as genuínas UP.

O FEIF é composto essencialmente por dois grandes núcleos, temos: uma participação no “The Fine Art Fund I”, com 18.169,5106 unidades de participação, com a cotação de US$68,908169 (desconhece-se com que base é estabelecida esta cotação se o FAF não está registao nem cotado), que corresponde ao investimento total de €931.360,35 e temos também um conjunto de 18 obras de arte (foi vendida uma obra em 2011, como foi referido anteriormente), rubrica de outros activos, no valor de €1.014.643,8, conforme os mapas que se apresentaram, reportados a Fevereiro de 2012. De notar que em diferentes mapas relativos à mesma data, os valores apresentam algumas pequenas diferenças.

Encontramos aqui várias questões, entre elas há uma muito relevante que se prende com as responsabilidades extra-patrimoniais, são variações cambiais entre o dólar e o euro de menos €1.208.465,19, à data de Fevereiro de 2012, implicando a diminuição do "capital" do fundo, quando da liquidação das unidades de participação, em 31/01/2014, se não for estabelecido em Assembleia de Investidores um período adicional de mais três anos.

Este valor não é fixo, esta questão deve-se à paridade entre as duas moedas em causa, tem de ser tomada em consideração o diferencial entre a cotação na data da aquisição da participação no “The Art Fine Art Fund I”, registado em Delaware nos EUA, e à data da extinção do Art Fund em 31/01/2014. A manter-se a tendência de depreciação do dólar americano face ao euro, que se pretendia serem moedas com paridade mais ou menos equivalentes quando se adoptou o euro por um conjumto de 27 países da União Europeia, num período de dez anos verificar-se-á uma depreciação a ser suportada muito significa, estamos perante uma menos valia cambial fortíssima.

Face à análise que foi feita a uma grande variedade de documentos, que se prendem com as normas, a constituição e a gestão de fundos em geral e de fundos de arte em particular, várias questões relevantes se colocam:

 Um fundo composto por objectos denominados de obras de arte, difere muito pouco de outro fundo qualquer baseado noutro produto;

 O modelo de um fundo de arte é muito simples, segue a generalidade dos instrumentos financeiros comercializados: o cliente/investidor confia à entidade que comercializa o fundo uma determinada quantia em dinheiro, destinada a comprar títulos de participação, que são dívida (Loan Note – título cambiário) emitida por um veículo de investimento, no presente caso tendo por base a existência de uma colecção de objectos de arte e/ou participações em outros fundos de arte;

 Pensando na constituição do fundo de arte encontramos o portefólio de obras de arte e participações em outros fundos de arte, de que se desconhece a constituição, estando-se perante uma rede cruzada muito pouco visível para os investidores que adquirem as unidades de participação. É um pouco uma questão de “fé” pois acredita-se que estamos perante uma instituição financeira que tem procedimentos considerados sérios e está a comercializar um bom produto financeiro;

 As Contas semestrais não esclarecem se houve, ou não, lugar a avaliação do património, por quem e em que data, bem com que base tal é feito e em que se baseia. Estes dados deveriam constar do inventário;

 O actual contexto de incerteza, contribui para que o futuro destes fundos e do retorno dos montantes investidos sejam de difícil recuperação, acrescendo que a gestão não foi cuidadosa, apesar de constantemente se referirem figuras de cartazes, como gestores, que mais não são, a nosso ver, que vendedores de ilusões e sonhos, por vezes levados ao limite de uma gestão de alto risco;

 No que se refere a despesas do fundo, gastos gerais incluindo a sua gestão, são percentualmente consideráveis e certos, o mesmo não acontecendo com a rendibilidade que é incerta e muito oscilante podendo até ser negativa;

 Se considerarmos uma comparação com os fundos baseados em acções ou em obrigações ou em produtos estruturados (opções e futuros), a problemática do risco do investimento é semelhante, já que as oscilações do valor de uma obra de arte são função do encontro no mercado da oferta e da procura, podendo até não existir procura e portanto não se efectuando a transacção por falta de comprador.

Uma acção depende de uma cotação em bolsa, estabelecida em função de um conjunto de variáveis económicas e do desempenho da empresa, com oscilações de valores que poderão ser significativas, onde se deve considerar a à falência e a retirada de bolsa, sistema que é em tudo semelhante.

No que se refere às obrigações, que se pensava serem títulos mais estáveis, trata-se de empréstimos obrigacionistas, também apresentam risco que pode ser bastante elevado, são empréstimos concedidos às empresas, à banca ou até mesmo aos estados. Recentemente em Portugal o BPP faliu num processo controlado e a grande parte das aplicações de retorno garantido, num montante total de cerca de 1.250 milhões de euros, estavam aplicados na sua maioria em obrigações da banca internacional e dos estados soberanos que em regra são utilizadas para fazer face ao financiamento de grandes obras públicas de infraestruturas (autoestradas, portos, aeroportos, via férrea), mostraram a sua fragilidade no actual contexto. Se pensarmos em produtos estruturados então a situação ainda é mais complexa, o mundo dos futuros e outros produtos é algo extremamente irregular no seu valor;

 Face ao que foi já referido e a muito que se poderia acrescentar, considera-se que é um tipo de investimento que não deve fazer parte da aplicação de economias provenientes de poupança. Aproxima-se um pouco de um jogo de casino, com um elevado nível de risco.

A ideia, de lançar este fundo de arte, tal como a de um de conteúdos televisivos que parece que nunca foi concretizado, pensa-se que foi do Dr. Artur da Silva Fernandes, que conseguiu juntar 24 Participantes no Fundo, o que é um número de certo modo sugestivo.

Nesta operação verificou-se existir interesses pessoais, uma vez que o “The Fine Art Fund Group” tinha e ainda tem no seu “Board” o Dr. Artur da Silva Fernandes, que também presidiu à Sociedade Gestora do FEIF, o que a nosso ver representa uma acumulação de funções que se pode considerar não aconselhável e levanta dúvidas.

A partir de Março de 2012, face a mudanças verificadas na Administração do BANIF, nomeadamente na holding, o Dr. Artur Manuel da Silva Fernandes deixa a Presidência, da Comissão Executiva e do Conselho de Administração do BANIF Investiment Bank, não pertencendo mesmo aos quadros da organização. Em Assembleia de Accionistas de 22 de Março de 2012, foi aprovada a nomeação dos Membros do Conselho de Administração para o

triénio 2012-2014 123. Mantém-se em funções o Sr. Dr. Raúl Manuel Nunes da Costa Simões Marques.