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Considerações anatómicas

No documento Análise da Marcha na Artroplastia da Anca (páginas 79-83)

2.6 Anatomia e biomecânica da anca

2.6.1 Considerações anatómicas

O conhecimento das características anatómicas e a análise da articulação da anca permite-nos dizer que estamos perante um sistema biomecânico bastante complexo. A região pélvica corresponde a uma área do corpo humano que está conectada ao tronco e aos membros inferiores e da qual faz parte a articulação da anca.

Kapandji (2000) descreve a cintura pélvica como sendo a base do tronco, formada por duas importantes estruturas ósseas designadas por ossos ilíacos (com três componentes, ílio, ísquio e púbis) e pelo sacro, constituído por cinco vértebras sagradas.

As duas articulações sacro-ilíacas, do tipo sinovial contêm um suporte ligamentar fibrocartilaginoso e potente que fazem a união entre o sacro e cada um dos ossos ilíacos. Embora as duas articulações sacro-ilíacas sejam reforçadas por ligamentos muito fortes ocorrem movimentos na articulação. Uma terceira articulação cartilaginosa com fibrocartilagem denominada sínfise púbica, faz a união dos ossos ilíacos anteriormente (Kapandji, 2000). Esta articulação é firmemente suportada por um ligamento púbico que tem o seu trajecto ao longo das partes anterior, posterior e superior da articulação. O movimento nesta articulação é muito limitado, mantendo uma conexão firme entre o osso direito e esquerdo da coxa (Hamill e Knutzen, 1999).

no suporte do peso do corpo, serve como local de inserção de numerosos músculos, contribui significativamente para manter o equilíbrio e a postura em pé, é responsável pelo posicionamento da articulação da anca, possibilitando movimentos eficazes do membro inferior. É de realçar, que a cintura pélvica é a única estrutura não articulada que permite rotações nos três planos de movimento (Hamill e Knutzen, 1999).

Deste modo, a cintura pélvica precisa de ser orientada para facilitar os movimentos de rotação do fémur de forma a posicionar a região acetabular na direcção do movimento desejado (Figura 11). A inclinação anterior favorece a extensão da anca, a inclinação posterior aumenta a flexão da anca e a inclinação lateral facilita os movimentos heterolaterais do fémur. De salientar que o movimento da cintura pélvica também acompanha determinados movimentos da coluna lombar (Kapandji, 2000).

Figura 11: Movimento da cintura pélvica, que posiciona a articulação da anca para uma adequada movimentação do fémur (Hall, 2000).

De todas as articulações do corpo humano, a articulação da anca tem sido alvo de contínuas investigações por biomecânicos, nomeadamente os estudos das artroplastias da anca. De facto a articulação da anca é o pivot sobre o qual o corpo humano se equilibra, de forma particular na marcha (Palastanga et al., 2000).

conjunto com o joelho e o tornozelo, tem a função de suporte do corpo humano na posição erecta. Considerada importante unidade funcional primária para as actividades de andar, correr, subir, escalar ou sentar (Kapandji, 2000) e usada forçosamente na actividade de chutar (Hamill e Knutzen, 1999).

Convencionalmente, a articulação da anca classifica-se como uma das mais típicas enartroses, em que as suas superfícies articulares são esféricas. É por intermédio desta articulação que se unem a cintura pélvica e o membro inferior. Tem a particularidade de permitir o movimento em todas as direcções do espaço, possui três graus de liberdade, e consequentemente movimento em três eixos, sendo denominada de triaxial. De todas as articulações do corpo, a articulação da anca é a mais difícil de ser luxada (Kapandji, 2000; Hamill e Knutzen, 1999).

A estabilidade dinâmica da articulação é sustentada por fortes estruturas activas e passivas, nomeadamente importantes grupos musculares, bom suporte capsular e potentes estruturas ligamentares: ligamento ílio-femural superior, ligamento ílio-femural inferior e ligamento pubo - femural na região anterior, ligamento ísquio-femural na região posterior e os ligamentos intra capsulares: ligamento transverso e ligamento redondo (Hall, 2000). Estes elementos fortalecem a cápsula articular e são os principais contribuintes para uma variedade de movimentos, conferindo à anca igualmente mobilidade ampla, regular e progressiva na locomoção (Dant et al., 1992) e nas actividades desportivas (Massada, 2001). Como a função das estruturas ligamentares, é estabilizar, controlar e limitar o movimento articular, qualquer lesão a nível de ligamentos influi na mobilidade da articulação.

Devido à sua configuração anatómica e à sua localização é considerada uma articulação muito estável para sustentação do peso do corpo, contudo, é igualmente móvel demonstrando um grau de mobilidade compatível com uma ampla variedade de actividades locomotoras (Palastanga et al., 2000). Assim nesta perspectiva considera-se que o equilíbrio do corpo humano se organiza a partir das articulações coxo-fémurais.

Os movimentos permitidos à anca descritos com referência ao fémur incluem a flexão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal, rotação interna e externa no plano transversal e circundução, que combina os movimentos referidos acima (Kapandji, 2000; Hamill e Knutzen, 1999).

Contribuem para estes movimentos, a superfície articular côncava do acetábulo na pélvis formado pela fusão dos ossos ilíacos (ílio, ísquio e púbis), a cabeça esférica do fémur, de 40 a 50 mm de diâmetro, que está em união com o grande e pequeno trocanteres e com a diáfise do fémur por um segmento ósseo designado colo fémural, que mede aproximadamente 5 cm de comprimento (Figura 12). Este projecta-se anteriormente, medialmente e superiormente, formando com o eixo da diáfise do fémur um ângulo obtuso (Kapandji, 2000; Pina, 1995; Kisner e Colby, 1992).

Figura 12: Vista anterior da pélvis (adaptado de Netter, 1998).

A cartilagem articular recobre as duas superfícies articulares, sendo a cartilagem no acetábulo mais espessa na periferia contribuindo para a estabilidade da articulação.

Os elementos articulares da anca têm na sua constituição grandes quantidades de osso esponjoso e trabecular que facilitam a distribuição das forças absorvidas pela articulação, conferindo-lhe elasticidade, isto é, a articulação

tem a capacidade de ser deformada sem sofrer danos estruturais (Hamill e Knutzen, 1999). A deformação do osso tem um efeito importante ao proteger a cartilagem articular subjacente de cargas impulsivas.

As extremidades da articulação da anca são protegidas por cartilagem de tecido liso, resistente e protector que actua como amortecedor de choques confere resistência e actua como redutor do atrito. As articulações também possuem um revestimento (membrana sinovial) que as envolve, formando uma cápsula articular. As células do tecido sinovial produzem um líquido transparente (líquido sinovial) que preenche a cápsula, reduzindo ainda mais o atrito e facilitando o movimento. As superfícies articulares são mantidas pelos tecidos moles e pelos ligamentos que envolvem a articulação (Turek, 1991).

No documento Análise da Marcha na Artroplastia da Anca (páginas 79-83)

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