• Nenhum resultado encontrado

Considerações de Craig Roberts sobre o lugar de Centering em uma teoria geral de

No documento TATIANA DE OLIVEIRA PETRY (páginas 52-57)

5.2 EXTENSÕES PROPOSTAS E PESQUISAS RELACIONADAS À CENTERING

5.2.4 Considerações de Craig Roberts sobre o lugar de Centering em uma teoria geral de

A questão da resolução de anáforas vêm sendo trabalhada sob diferentes enfoques. Analisando Centering, Roberts, em [Roberts 98] ressalta que:

Centering pressupõe algum tipo de localidade entre enunciados; • oferece princípios para caracterização dos modelos preferidos de uso

de pronomes;

• a localidade pressuposta, normalmente, vem sendo trabalhada focalizando sobre enunciados adjacentes.

Todavia, segundo Roberts:

apesar de Centering considerar adjacência entre enunciados, ela não é sempre necessária em relações anafóricas;

já que a aplicabilidade dos princípios de Centering pressupõe localidade, a produção de hipóteses testáveis exige a caracterização da natureza e dimensões dessa localidade explicitamente;

• na teoria da estrutura do discurso de Grosz e Sidner (Seção 4.3.1), a localidade de enunciados é definida em termos de limites de segmentos de discurso;

Para Roberts, contudo, há restrições lógicas, que não são trabalhadas na teoria de Centering ou na teoria de discurso de Grosz e Sidner, e que são necessárias para caracterizar quando a anáfora é possível. Cita que tais restrições ocorrem sendo importantes na formulação de uma teoria geral para resolução de anáforas.

44

5.3

Considerações

Neste capítulo apresentou-se a teoria de Centering e investigações conduzidas por diferentes pesquisadores com respeito à mesma. Resumidamente,

Centering estabelece para enunciados a existência de um Cb (Backward-Looking Center), um Cp (Próximo centro preferencial) e um conjunto Cf (Forward-Looking Centers). Estabelece também um conjunto de transições possíveis entre enunciados,

com uma ordem de preferência entre elas.

O conjunto Cf, deve ter suas entidades ordenadas segundo critérios de saliência. Para a língua inglesa, o critério mais usado têm sido o da função gramatical. Cote, contudo, defende que este é um fator que pode variar, dependendo da língua trabalhada e, mesmo para o inglês ele argumenta que uma estrutura conceitual lexical poderia oferecer melhores resultados. É possível, todavia, haver combinação de fatores na avaliação da saliência das entidades em um enunciado. Como argumento para o uso da função gramatical, o que têm sido alegado é que colocar alguma entidade na posição de sujeito, equivale a dar mais saliência a esta entidade no estado atencional.

Ainda, Kameyama, tendo conduzido estudos de caso, afirma a necessidade de estender o modelo para tratamento de casos intra-sentenciais e de sentenças complexas.

No capítulo a seguir, discute-se mais detalhadamente (mesmo que com a retomada de alguns conceitos já introduzidos) a apropriação dos fundamentos teóricos de Centering para uso na resolução de pronomes, com ênfase particular à questão da orientação a corpus.

Diferentes pesquisadores, como por exemplo Sidner, em [Sidner 83], Brennan et al., em [Brennan 87] e Grosz et al., em [Grosz 95], vêm apontando o fato de segmentos de discurso exibirem coerência local, e que o grau de coerência entre os enunciados de um segmento pode variar. A teoria de Centering [Grosz 95] busca descrever tal fenômeno e, para isto, propõe uma estrutura que relaciona três elementos básicos:

- o foco de atenção;

- a escolha de expressões de referenciação por participantes de um discurso; e

- a coerência exibida por um segmento de discurso.

Do ponto de vista estrutural, um segmento de discurso é composto por enunciados, que são as unidades sobre as quais a teoria trabalha. Para estas unidades, a teoria introduz o conceito de “centros”. Do ponto de vista técnico, os “centros” de um enunciado podem ser de dois tipos (ver seção 5.1.2): Backward-Looking Center (Cb) e

Forward-Looking Centers (Cf).

Três diferentes tipos de relações podem existir entre enunciados: center

continuation, center retaining e center shifting, com a prioridade entre transições

definida como: Continuing>Retaining>Shifting. A prioridade descreve a preferência de movimentos de centros em termos de coerência.

Brennan et al., em [Brennan 87], propõem um refinamento para a transição center shifting, levando em conta as possibilidades de o Cb e o Cp de um enunciado E serem iguais ou não. Walker et al., em [Walker 98], acrescentam a notação Cb(Ei-1) = [?] para os casos onde não existe Cb(Ei-1) e sumarizam as transições

46

propostas em [Brennan 87] conforme a tabela 7. Esta sumarização leva a quatro transições (a saber, CONTINUE, RETAIN, SMOOTH-SHIFT e ROUGH-SHIFT), que nos fornecem a mobilidade da idéia de centro.

Cb(Ei) = Cb(Ei-1)

ou Cb(Ei-1)=[?]

Cb(Ei) ≠ Cb(Ei-1)

Cb(Ei) = Cp(Ei) CONTINUE SMOOTH-SHIFT

Cb(Ei) ≠ Cp(Ei) RETAIN ROUGH-SHIFT

Tabela 7: Transições de Centering [Walker 98]

O segmento 1 a seguir, ilustra as transições de centro, de acordo com a sumarização da tabela 7, que inclui o refinamento da transição SHIFT.

Segmento de discurso 1 (obtido em [Brennan 87])12:

E1: %UHQQDPGLULJHXP$OID5RPHR

E2: (ODGLULJHPXLWRUiSLGR (OD %UHQQDQ

E3:)ULHGPDQFRPSHWHFRPHODQRVILQVGHVHPDQD HOD %UHQQDQ

 E4: (ODIUHTHQWHPHQWHDGHUURWD (OD )ULHGPDQD %UHQQDQ

Análise do Segmento: Trata-se de um exemplo construído, que ilustra as transições CONTINUE, RETAIN e SMOOTH-SHIFT. Brennan et al., utilizam este exemplo para justificar a inclusão do refinamento da transição SHIFT. Ressaltam que ela é importante para dar conta da vinculação de pronomes, em enunciados como E4.

No que se refere a este segmento, Cb, Cf e transições são ilustradas a seguir.

E1: Cb = [?]; Cf = [Brennan, Alfa-Romeo]; Transição = inexistente

E2: Cb= [Brennan]; Cf =[Brennan]; Transição = CONTINUE

E3: Cb = [Brennan]; Cf =[Friedman, Brennan, fins-de-semana]; Transição = RETAIN

E4: Cb = [Friedman]; Cf =[Friedman, Brennan]; Transição = SMOOTH-SHIFT

12

Segmento de discurso 2 (extraído de um texto de um corpus descritivo avaliado): E1: 2VEUDQFRVVmRPXLWRPDXV E2: (OHVPDWDUDPPXLWRVGRVQRVVRVFRPHVSLQJDUGDV (OHV RVEUDQFRV E3:6HYLHUHPjDOGHLD  RVEUDQFRV E4PDWHRVFRPDERUGXQD RV RVEUDQFRV E5: HOHVVmRPXLWRSHULJRVRV HOHV RVEUDQFRV

Análise do segmento: trata-se aqui de um segmento onde se destacam várias transições CONTINUE. Observe que o centro de cada enunciado Cb (a entidade “os brancos”), permanece constante.

E1: Cb = [?]; Cf = [os brancos]; Transição = inexistente

E2: Cb= [os brancos]; Cf=[os brancos, muitos dos nossos, espingardas]

13; Transição = CONTINUE

E3: Cb = [os brancos]; Cf =[os brancos, a aldeia]; Transição = CONTINUE

E4: Cb = [os brancos]; Cf =[os brancos, a borduna]; Transição = CONTINUE

E5: Cb = [os brancos]; Cf =[os brancos]; Transição = CONTINUE

No segmento 2, o reconhecimento do centro “Cb” de um enunciado é bastante elucidativo. Critérios da teoria de Centering podem ser aplicados durante o processamento deste segmento de discurso. Primeiro, a entidade “os brancos” é introduzida no enunciado E1 na posição de sujeito – sendo, pela ordem de classificação

sugerida para o conjunto Cf (sujeito>objeto), um forte candidato a pronominalização no enunciado seguinte. É o que ocorre no enunciado E2, onde a entidade “os brancos” é

retomada por meio da forma pronominal “eles”. “Eles” está na posição de sujeito, o que é uma indicação de que esta entidade continuará em foco. É o que de fato ocorre no próximo enunciado, onde a entidade “os brancos” é retomada sendo recuperável pela

13

O centro preferencial (Cp) é o elemento mais altamente classificado do conjunto Cf. Na representação que adotamos, o Cp é o elemento listado primeiro, no conjunto ordenado Cf. Para a classificação das entidades no Cf adotamos o critério: sujeito>objeto>outros, sendo que, para os sintagmas nominais classificados como “outros”, adotamos a ordem seqüencial em que aparecem no enunciado.

48

desinência do verbo14, também na posição de sujeito indicando uma intenção de continuidade. No enunciado E4, existe apenas um pronome que pode estabelecer uma

ligação com o enunciado anterior (o pronome “os” em “mate-os”) que retoma “os brancos”. No enunciado E5, “ele” é o único pronome, e se refere ao Cb do enunciado

anterior, ou seja, retoma novamente “os brancos”.

Uma análise preliminar já nos indica que a idéia de centro, para a língua portuguesa, também é interessante na resolução de sujeitos recuperáveis pela desinência do verbo como em E3, no segmento 2.

No documento TATIANA DE OLIVEIRA PETRY (páginas 52-57)