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CAPÍTULO 3. GESTÃO DA QUALIDADE

3.3 Considerações da pesquisadora

Diante da literatura exposta anteriormente, algumas questões na administração pública merecem atenção com relação à implementação de programas de qualidade. Algumas dessas questões são a burocracia, a inexperiência na adoção de programas de qualidade, a falta de incentivos e benefícios aos servidores, falta de padrões de atendimento ao cliente, a interferência política externa à organização, o autoritarismo centralizado, paternalismo, apego às regras e rotinas, supervalorização da hierarquia, aversão ao empreendedorismo , a descontinuidade da gestão, a resistência e falta de comprometimento, inclusive da alta administração, quanto à implantação de programas de qualidade. Tais fatores impedem a orientação da instituição para o atendimento das necessidades dos cidadãos ou para a eficácia e efetividade de suas ações.

Com relação a essa problemática, surge a idéia de que os projetos para mudanças e intervenções nas Instituições Públicas, deveriam abordar aspectos estruturais, normativos e enfocar os servidores com sensibilizações e mecanismos que assegurem a continuidade dos projetos

Autores (RANDIM e COFFEE, 1993; BRASIL, 1997) reconhecem que a simples transposição das diretrizes e ações adotadas de qualidade pelo setor privado para o setor público não funcionam e que existe a necessidade de elaboração de Programas Públicos que orientam as instituições Públicas na minimização de seus problemas. As Instituições Públicas, por sua vez, devem estar dispostas a conhecer e implementar tais programas.

As organizações públicas ganhadoras de Prêmios da Qualidade se diferenciam quanto ao estilo da liderança transformacional, às formas de comunicação, à inovação, ao apoio da gerência, à supervisão da qualidade e à eficácia da equipe (LIAN, 2001).

Lewis e Smith (1994) identificaram que a filosofia, os valores e as normas refletidas nos sistemas de qualidade são apropriados na educação superior. Muitos governos, em especial no exterior, entenderam que o controle acadêmico tradicional é inadequado para os desafios atuais e que há uma necessidade de uma melhor garantia da qualidade. Foi evidenciado que a aplicação de programas de qualidade no contexto da educação superior tem tido impacto na administração, ensino e pesquisa das Universidades. Comentou-se que com os órgãos de certificação, o conceito de internacionalização e competitividade nas instituições de educação superior tem alcançado novas dimensões.

Contemplou-se que a qualidade das IES se estabelece com a combinação de critérios científicos de avaliação e participação de atores acadêmicos e sociais.Foi evidenciado que o

primeiro requisito para a qualidade na Universidade é o saber ensinar. Entretanto, o saber executar a sua atividade fim não basta; a capacidade de saber gerenciar é essencial. Não adianta saber ensinar se não houver a capacidade de definir prioridades, organizar os recursos, conduzir e avaliar as atividades.

No Brasil existe o Programa de Qualidade GESPÚBLICA, baseado no Modelo de Excelência em Gestão e adaptado à realidade das Instituições Públicas, que poderia ser aplicado nas IES a fim de contribuir para a melhoria da gestão. Então surge a indagação: por que não utilizar esse modelo nas Instituições Públicas de Ensino Superior? Vale lembrar que a pesquisadora não encontrou trabalhos científicos que demonstrassem a aplicação de Programas de Qualidade, em especial o GESPÚBLICA, em Universidades Públicas. Sabe-se, entretanto, que a USP está num processo inicial de implementação e que os resultados serão visualizados num médio e longo prazos conforme o documento editado em seu portal, na internet, intitulado “Início do Programa GESPÚBLICA USP: 2006-2007”.

É notório que para a implementação de um programa como esse, algumas características são importantes como o apoio da alta gerência; a comunicação clara da visão a todos da organização; um sistema aberto de comunicação com a gerência; o envolvimento dos servidores nos programas; trabalho em grupo; empowerment; avaliações e melhorias contínuas; reconhecimentos das contribuições individuais e em grupo dos servidores com o programa; sistema aberto a críticas, sugestões e reações dos servidores com relação à implantação da qualidade.

Nesse ponto faz-se necessária a exposição de como a Universidade de São Paulo tem lidado com as características abordadas acima no que tange ao apoio da alta reitoria e a comunicação da visão.

A reitora da USP, Profa. Dra. Suely Vilela, reuniu os diretores de Unidade, chefes de Departamento, presidentes de comissões acadêmicas e assistentes de direção e promoveu uma discussão para abertura para a implementação do GESPÚBLICA (USP, 2007). Nesse discurso ela declarou que o maior desafio da administração pública é o gerencial e que essa capacidade será tanto mais exigida quanto menos recursos estiverem disponíveis. Ela reconhece a importância da aplicação de um programa de qualidade e acredita que a sua utilização conduz ao aumento da credibilidade, da agilidade nas atividades, além da redução e otimização dos recursos. Ela também ressaltou a importância de uma avaliação continuada na Universidade (o que é contemplado no programa). Segue um trecho do seu discurso às partes interessadas da USP:

“....Por estar certa da sua importância, ofereço o apoio necessário para que o Programa seja bem-sucedido e para que possamos colher resultados efetivos a fim de que nossa Universidade tenha a sua liderança acadêmica efetivamente ampliada. Quero que o legado de nossa gestão seja provocar mudança substancial na cultura organizacional, o que é um grande desafio, implementando o Modelo de Excelência em Gestão Universitária. Este é um desafio, a longo prazo, que requer o envolvimento de todos.”

Percebe-se nesse discurso o empenho da reitora em apoiar o programa, bem como envolver os servidores e, ao mesmo tempo, reconhecer a importância da contribuição individual para o sucesso do mesmo. Esse foi o passo inicial para uma jornada rumo à Excelência. Entretanto, ainda é cedo para contemplar os seus resultados.

Esta foi a primeira Universidade Pública, no caso estadual, a aderir ao Programa. Fica então um questionamento quanto as Universidades Federais: o que as mesmas têm feito em relação à busca da qualidade?

Nesse trabalho, a autora pretende explorar o Programa GESPÚBLICA junto às Universidades Federais. Pretende, também, ressaltar que a qualidade, na Instituição Publica, especificamente na de Ensino, depende da melhoria na gestão, da gestão focada em resultados, da melhoria da qualidade dos serviços prestados e o respeito ao cidadão.

Entretanto, não basta a existência de um Programa específico para as organizações públicas no Brasil. As Universidades precisam estar dispostas a conhecer e utilizar Programas como esse para que possam melhorar sua gestão e se manter competitivas num mundo globalizado.

CAPÍTULO 4 – DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE