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Considerações finais: a disciplina Psicologia da Educação como possível expressão do compromisso ético e político da Psicologia Escolar

Diante de tais proposições, consideramos que as contribuições da Psicologia Escolar para a formação de professores devem estar alicerçadas no compromisso ético e político, já defendido no campo da Psicologia Escolar em uma perspectiva crítica, com a luta pela transformação social, pela qualidade da Educação pública com uma finalidade emancipatória e pela humanização das relações e práticas escolares que configuram o contexto escolar.

Esse compromisso ético e político abrange a denúncia da exploração e da desigualdade social que estão na base do modo de produção capitalista e do sistema educacional brasileiro – regido pelo secular descaso do Estado em investir no ensino público de qualidade (PATTO, 2015) –, bem como de mecanismos de exclusão, opressão e humilhação subjacentes ao modo de produção em que impera o estranhamento e, portanto, a desumanização do homem, que atravessam o cotidiano, as práticas e relações escolares. Envolve, ainda, o questionamento da patologização, estigmatização, do reducionismo e da desumanização que atravessam o cotidiano escolar.

Defendemos, portanto, a proposição de que a disciplina Psicologia da Educação pode e deve ser uma expressão das contribuições da Psicologia Escolar alicerçadas neste compromisso ético e político e, portanto, consistir em um possível instrumento de reflexão para que futuros educadores, como protagonistas nas relações que constituem e são constituídas na vida diária escolar, busquem não reproduzir o reducionismo e o preconceito socialmente difundidos e cientificamente legitimados, com os quais nós, profissionais da Educação e da Psicologia, não podemos compactuar.

Por fim, em relação às políticas públicas educacionais, enfatizamos que no campo da Psicologia Escolar temos as Referências Técnicas para a Atuação de psicólogas(os) na Educação Básica, elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia, em parceria com os Conselhos Regionais de Psicologia e com o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CFP, 2019), em que esse compromisso ético e político é endossado e rege os princípios de tal atuação. Políticas públicas educacionais que preconizam diretrizes do ensino de Psicologia para cursos de Pedagogia e demais Licenciaturas também poderiam estar alinhadas a esse salto qualitativo, de modo a situar esse compromisso ético como uma das bases da contribuição da Psicologia para a formação de professores.

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Capítulo 4