• Nenhum resultado encontrado

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o término deste trabalho, algumas considerações finais são importantes. O objetivo principal deste estudo foi identificar, na lírica de Augusto dos Anjos, elementos da lírica moderna que surgiu no Brasil, sobretudo no movimento de 22, após sua produção poética publicada que data entre 1900 e 1914.

Observo, na pesquisa bibliográfica, que a tendência mais comum da crítica literária a respeito do poeta Augusto dos Anjos é superficial, na maioria das vezes, laudatória. Em outras, procura-se celebrar suas virtudes para justificar sua linguagem cientificista e seu aparente “mau gosto” pelas coisas banais, sem levar em conta que esta linguagem é parte constituinte de sua poesia e não apenas algo a parte que possa ser justificada.

Acredito que este tipo aparente de leitura da obra poética do EU não traz alguma significação ou avanço como formulação poética na pesquisa do processo literário brasileiro. Por isto, acredito que nossa pesquisa seja importante, no sentido que considera todos os aspectos desta lírica, inclusive os excluídos por alguns críticos e que se justificam no decorrer do estudo através da lírica moderna, exposta nos estudos de Hugo Friedrich e de outros estudiosos.

Augusto dos Anjos tramava os instrumentos de sua expressão poética em uma época que o parnasianismo e o simbolismo eram duas tendências atuantes na poesia brasileira. Os dois influenciaram na sua formação, como evidenciei no primeiro texto do capítulo II, A

formalidade na lírica de Augusto dos Anjos; porém, nem tudo se explica nesta formalidade,

sendo isto de fácil compreensão se observarmos e compararmos a sua visão de mundo com a dos parnasianos e simbolistas.

Enquanto os poetas de sua época expressavam sua visão de mundo de forma acadêmica e literária, como um trabalho objetivo e exterior ao homem, A.A expressava sua visão de mundo pela linguagem (GULLAR, 2011, p.22), que poderia ser confundida com o próprio aparelho da fala:

Chega em seguida às cordas da laringe, Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra No molambo da língua paralítica!

Para Gullar (2011, p.30) a poesia de Augusto dos Anjos é fruto da descoberta dolorosa do mundo real, do encontro com uma realidade que a literatura, a filosofia e a religião já não podiam ocultar. Nasce de seu gênio poético, do seu temperamento especial, mas, também, de fatores sociais e culturais que a determinam.

Quando cito a comparação feita por Gullar, de trechos do poeta parnasiano Alberto de Oliveira e de Augusto dos Anjos, fica claro que o primeiro poeta, ao tentar exprimir sua experiência preso a concepção da forma literária, na qual foi formado a “literalização” da experiência, traduz e reduz tudo a uma linguagem acadêmica. Já em Augusto, a ruptura com esta linguagem é visível e provocativa.

Referente à análise dos cinco poemas no texto A modernidade na lírica de

Augusto dos Anjos, onde identifiquei neles elementos da lírica moderna através da teoria de

Hugo Friedrich, principalmente, a lírica intelectualizada; poderia ter ampliado a pesquisa para toda obra de Augusto, inclusive nos poemas longos que se distinguem bastante das composições parnasianas e simbolistas, pela sua liberdade de expressão nas formas.

Friso aqui que esta pesquisa tinha como intuito mostrar que Augusto dos Anjos foi um dos pioneiros da lírica moderna no Brasil, porém, tal objetivo pressupõe uma pesquisa mais avançada não somente de toda sua obra poética, mas também um estudo comparativo com o poeta Sousândrade (1832-1902), também conhecido pela crítica por suas composições modernas.

Embora o tipo de relação poética feita no terceiro capítulo entre Augusto dos Anjos e Edgar Allan Poe não tenha sido o foco principal desse estudo, é importante destacar esses níveis talvez “inconscientes” de influência que tratei no texto como intertextualidade, pois percebo elementos comuns entre os dois poemas e que poderiam ser estendidos para outros poemas que mantém uma forte semelhança como em “O Deus-Verme e solitário” de AA e “The ConquerorWorm e Alone”, de Poe.

O capítulo último apenas apontou a possibilidade de um estudo intertextual de Literatura Comparada entre as obras dos dois autores por julgar importante registrar a possibilidade, ainda que não plenamente desenvolvida, já que a intertextualidade é um aspecto importante da construção moderna da poesia de Augusto dos Anjos, apesar de entender que isto renderia outro trabalho. Enfim, deixei no trabalho por ter chegado a este ponto, mesmo não tendo tempo de desenvolver plenamente.

56

Poderia ainda ter incluído no trabalho a aproximação quase unânime dos críticos literários entre Baudelaire e Augusto, porém, em função do formato da pesquisa, nem tudo pode ser explorado e por isso não se encontra finalizada.

De fato, é necessário que se percorra um longo caminho para se reconhecer e compreender a lírica moderna e o poeta moderno. Precisa na realidade daqueles “óculos cerebrais” de que Maurice Barres falava ironicamente quando criticava Mallarmé, pois, tal lírica, nada mais tem a ver com a poesia romântica. Ela se comunica estranhamente, num jogo abstrato de sensações e tensões.

Concluo, até este ponto, que não é somente no abandono das formas fixas ou na mudança temática que fazem a poesia, ou um poeta moderno, mas fundamentalmente “o trabalho objetivo do poeta sobre a linguagem visando exprimir a complexidade desse mundo concreto e dinâmico” (GULLAR, 2001).

É desta forma que identifico Augusto dos Anjos; de forma contraditória. Esse poeta, tão incompreensível em seu tempo, ganha a cada dia novos leitores, admiradores e estudiosos e sua obra perpassa sua época e transcende o tempo que viveu na terra.

Documentos relacionados