• Nenhum resultado encontrado

 

4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado nos dados apresentados nesta dissertação, observamos que o capítulo 2 apresentou a prevalência de lesões musculoesqueléticas relacionadas à corrida (LMRC) nos últimos 12 meses de 61,8%, o que representa a maioria dos corredores apresentando lesão no último ano e contradiz os dados de alguns estudos que apresentaram uma prevalência de LMRC com taxas entre 25%1, 2 e 46%3, 4. O capítulo 3, por sua vez, apresentou a incidência de LMRC com uma taxa de 27%, reforçando as informações de alguns estudos que apresentam uma incidência geral de lesões musculoesqueléticas relacionadas à corrida (LMRC) com valores entre 19,4% e 92,4%5, 6. Estes dados podem ser considerados preocupantes

para os corredores e que merecem atenção por parte dos profissionais de saúde que se dedicam à prevenção de lesões na corrida, evidenciando a necessidade de implantação de estratégias de prevenção dessas lesões.

Entre as características de alinhamento anatômico dos MMII, o capítulo 2 apresentou a discrepância entre ângulos Q (com os dados categorizados) como a característica de alinhamento anatômico que se associou com a história pregressa de lesões musculoesqueléticas entre os corredores, corroborando os resultados de alguns autores7 que também encontraram associação desta variável de alinhamento dos MMII com lesões em corredores cross-country. O capítulo 3, por sua vez, apresentou que nenhuma das características de alinhamento avaliadas se associou com as LMRC apresentadas pelos corredores participantes durante as 12 semanas de acompanhamento propostas no estudo, o que contradiz alguns dados apontados pela literatura, os quais apresentam a discrepância de comprimento dos membros inferiores (MMII)8, as alterações de ângulo Q7, 9 e a discrepância entre ângulos Q7 como fatores de risco de lesões musculoesqueléticas em corredores, mas, em contrapartida, também corrobora outros autores10, 11 que não encontraram associações entre as alterações de alinhamento anatômico estudadas e as lesões musculoesqueléticas relacionadas à corrida. Tal achado pode ser decorrente do limitado período de acompanhamento deste estudo, o qual pode ter sido insuficiente para o registro de algumas lesões que poderiam revelar associação com algum desses fatores (alinhamento anatômico) classificados como não modificáveis12, 13, o

 

mais longo, a fim de mensurar e avaliar com mais exatidão a influência destas características anatômicas sobre as lesões relacionadas à corrida.

As tendinopatias são frequentemente reportadas7, 10, 12 como um dos tipos de lesão mais referidos entre os corredores, fato que corrobora os resultados encontrados nos capítulos 2 e 3 desta dissertação que verificaram a prevalência e incidência de lesões musculoesqueléticas dos seus participantes e encontrou as tendinopatias como o tipo de lesão mais frequente entre os corredores junto com as lesões musculares. Embora estes achados se contraponham ao que é descrito pela literatura, que expõem que as tendinopatias são mais incidentes que as lesões musculares, a proporção de lesão muscular encontrada pode ser explicada pela definição de LMRC utilizada neste estudo, pois se o corredor apresentasse uma dor muscular tardia e reportasse que esta foi a causa dele ter deixado de realizar pelo menos um treino de corrida, esta era classificada como lesão muscular, fato que pode ter superestimado a incidência de lesões musculares nos participantes deste estudo.

Outro achado desta dissertação, e apresentado no capítulo 2, foi que o joelho se apresentou como a região anatômica mais acometida pelas LMRC, o que corrobora os dados de vários outros estudos que indicam o joelho como a região anatômica mais acometida entre os corredores3, 5, 12, 14-16. Já o capítulo 3 apresentou a perna seguida do joelho como as regiões anatômicas mais acometidas pelas lesões na corrida, provavelmente devido as lesões musculares terem sido uma das principais lesões encontradas neste estudo e alguns dos principais grupos musculares envolvidos com a execução da corrida estarem localizados na perna, como também devido às forças de impacto incidentes sobre os membros inferiores no momento da corrida. Essas mesmas características de lesões relatadas e região anatômica mais acometida pelas lesões musculoesqueléticas também foram encontradas entre os corredores com discrepância de ângulos Q superior a 3º (capítulo 2), e entendemos que estas frequências possam ser decorrentes da sobrecarga local aplicada sobre os tecidos moles que compõem o complexo articular do joelho.

De acordo com as informações apresentadas por esta dissertação, bem como nos estudos que abordam as lesões musculoesqueléticas relacionadas à corrida7-10, 12, entende-se a necessidade de estudos de acompanhamento mais longo e que

 

tenham por objetivo esclarecer qual a influência das características de alinhamento anatômico dos membros inferiores sobre as lesões em corredores e que utilizem medidas de avaliação que padronizem características como posicionamento plantar para a avaliação do ângulo Q, uma vez que mudanças deste posicionamento podem influenciar o resultado final.

Também fica exposta a necessidade do estabelecimento de uma definição padronizada para as lesões musculoesqueléticas da corrida, a fim de possibilitar análises comparativas entre as taxas de incidência e prevalência de lesões em corredores. Outra necessidade urgente na literatura atual, após o esclarecimento sobre qual a influência das características de alinhamento anatômico dos membros inferiores sobre as LMRC, é a avaliação da influência da utilização dos “tênis especiais de corrida” sobre o surgimento de lesões musculoesqueléticas relacionadas à corrida, com o objetivo de esclarecer a real eficácia destes dispositivos na prevenção destas lesões, visto que até o momento não há evidências que suportem a utilização desses calçados para evitar lesões em corredores17, 18.

Por fim, sugerimos também a realização de estudos controlados aleatorizados que proponham estratégias de prevenção e meçam o efeito destas intervenções propostas, visto que até o momento da conclusão desta dissertação não foi identificada nenhuma estratégia eficaz e com alto nível de evidência para a prevenção dessas lesões18.

Dessa forma e diante do aumento expressivo do número de praticantes de corrida, e da quantidade de fisioterapeutas que trabalham com assessorias de corridas, entendemos que o conhecimento das características de alinhamento anatômico de corredores recreacionais por parte dos fisioterapeutas é de grande valia para os profissionais que atuam na área da fisioterapia esportiva, visto que os resultados desse estudo auxiliarão fisioterapeutas e treinadores a elucidarem algumas dúvidas sobre a associação entre alterações do alinhamento anatômico e o surgimento de lesões musculoesqueléticas em corredores recreacionais sendo que os fisioterapeutas são considerados um dos principais profissionais que atuam na promoção da atividade física19, 20.

 

4.2 REFERÊNCIAS

1. Yamato TP, Saragiotto BT, Lopes AD. Prevalência de dor em corredores de rua no momento em que precede o inicio da prova. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 2011;33(2).

2. Lopes AD, Costa LO, Saragiotto BT, Yamato TP, Adami F, Verhagen E. Musculoskeletal pain is prevalent among recreational runners who are about to compete: an observational study of 1049 runners. J Physiother. 2011;57(3):179-82. 3. McKean KA, Manson NA, Stanish WD. Musculoskeletal injury in the masters runners. Clin J Sport Med. 2006;16(2):149-54.

4. Pazin J, Duarte MFS, Poeta LS, Gomes MA. Corredores de rua: características demográficas, treinamento e prevalência de lesões. Rev bras cineantropom desempenho hum 2008;10(3):277-82.

5. Van Gent RN, Siem D, Van Middelkoop M, Van Os AG, Bierma-Zeinstra SM, Koes BW. Incidence and determinants of lower extremity running injuries in long distance runners: a systematic review. Br J Sports Med. 2007;41(8):469-80.

6. Van Middelkoop M, Kolkman J, Van Ochten J, Bierma-Zeinstra SM, Koes B. Prevalence and incidence of lower extremity injuries in male marathon runners. Scand J Med Sci Sports. 2008;18(2):140-4.

7. Rauh MJ, Koepsell TD, Rivara FP, Rice SG, Margherita AJ. Quadriceps angle and risk of injury among high school cross-country runners. J Orthop Sports Phys Ther. 2007;37(12):725-33.

8. Wen DY, Puffer JC, Schmalzried TP. Injuries in runners: a prospective study of alignment. Clin J Sport Med. 1998;8(3):187-94.

9. Rauh MJ, Koepsell TD, Rivara FP, Margherita AJ, Rice SG. Epidemiology of musculoskeletal injuries among high school cross-country runners. Am J Epidemiol. 2006;163(2):151-9.

10. Pileggi P, Gualano B, Souza M, Caparbo VF, Pereira RMR, Pinto ALS, et al. Incidência e fatores de risco de lesões osteomioarticulares em corredores: um estudo de coorte prospectivo. Rev bras educ fís esporte. 2010;24 no.4(4):453-62. 11. Raissi GR, Cherati AD, Mansoori KD, Razi MD. The relationship between lower extremity alignment and Medial Tibial Stress Syndrome among non- professional athletes. Sports Med Arthrosc Rehabil Ther Technol. 2009;1(1):11.

 

12. Lun V, Meeuwisse WH, Stergiou P, Stefanyshyn D. Relation between running injury and static lower limb alignment in recreational runners. Br J Sports Med. 2004;38(5):576-80.

13. Willems TM, Witvrouw E, Delbaere K, Mahieu N, De Bourdeaudhuij I, De Clercq D. Intrinsic risk factors for inversion ankle sprains in male subjects: a prospective study. Am J Sports Med. 2005;33(3):415-23.

14. Fallon KE. Musculoskeletal injuries in the ultramarathon: the 1990 Westfield Sydney to Melbourne run. Br J Sports Med. 1996;30(4):319-23.

15. Taunton JE, Ryan MB, Clement DB, McKenzie DC, Lloyd-Smith DR, Zumbo BD. A retrospective case-control analysis of 2002 running injuries. Br J Sports Med. 2002;36(2):95-101.

16. Buist I, Bredeweg SW, van Mechelen W, Lemmink KA, Pepping GJ, Diercks RL. No effect of a graded training program on the number of running-related injuries in novice runners: a randomized controlled trial. Am J Sports Med. 2008;36(1):33-9. 17. Richards CE, Magin PJ, Callister R. Is your prescription of distance running shoes evidence-based? Br J Sports Med. 2009;43(3):159-62.

18. Yeung SS, Yeung EW, Gillespie LD. Interventions for preventing lower limb soft-tissue running injuries. Cochrane Database Syst Rev. 2011;(7):CD001256.

19. Verhagen E, Engbers L. The physical therapist's role in physical activity promotion. Br J Sports Med. 2009;43(2):99-101.

20. Shirley D, van der Ploeg HP, Bauman AE. Physical activity promotion in the physical therapy setting: perspectives from practitioners and students. Phys Ther. 2010;90(9):1311-22.

 

Documentos relacionados